Transformar o filho num dos maiores neurocirurgiões do mundo foi o legado da anônima Sonya Carson.
Por: Luiz e Lia Montanini
Quando criança, em Detroit, EUA, ele era o ¨orelhudo¨ e ganhava todas as disputas nas quais o incluíam, a contragosto, como importante candidato a mais burro da classe. Nas provas, não era incomum tirar zero, especialmente em matemática.
Hoje, o doutor Benjamin Carson é reconhecido mundialmente como um dos maiores neurocirurgiões do mundo, especializado em separação encefálica de siameses. Criador de procedimentos cirúrgicos inovadores, é diretor do Departamento de Neurocirurgia Pediátrica do famoso Hospital Johns Hopkins, em Baltimore, palestrante internacional e foi reconhecido por toda a nação americana ao receber, em 2008, do presidente George W. Bush, a Medalha Presidencial da Liberdade.
Mas o que aconteceu na vida desse menino que resultou em tamanha transformação quando adulto? Veja e descubra neste depoimento extraído e adaptado do livro A Grande Visão, lançado há alguns anos no Brasil pela Editora Vida:
Quando criança, era preguiçoso e apontado como burro pelos colegas. Tentava agir como se isso não tivesse nenhuma importância. Mas não era verdade, aquilo me incomodava bastante.
Minha pobre mãe ficava arrasada. Lá estava uma mulher, abandonada pelo marido, com três anos de escola primária, que trabalhava em dois ou três empregos como doméstica, limpando a casa dos outros, e sabia que a vida não tinha muito para lhe oferecer. E ela estava vendo o meu irmão e eu seguirmos pelo mesmo caminho.
Ela não sabia o que fazer. Então orou, pedindo a Deus para lhe dar sabedoria. Deus lhe deu – embora eu e meu irmão não achássemos isso assim tão sábio: desligar a televisão. Dali para frente, ela nos deixaria escolher dois ou três programas para assistir durante a semana. Em todo aquele tempo livre, deveríamos retirar dois livros por semana da Biblioteca Pública de Detroit, fazer um resumo por escrito e entregá-lo a ela. Ela não sabia ler, mas nós não tínhamos consciência disso.
Fiquei muito descontente com essas novas regras. Todos os meus amigos ficavam lá fora se divertindo. Lembro-me de que as amigas de minha mãe disseram: “Você não pode forçar os meninos a ficar dentro de casa lendo. As crianças precisam sair para brincar e desenvolver os músculos. Quando eles ficarem mais velhos, vão odiá-la. Eles serão os ‘maricas’ da turma. Você não pode fazer isso!”. Mas ela o fez.
Para ela, os estudos eram a nossa salvação. “Digam o que quiserem, mas meus filhos vão ser algo na vida. Eles serão independentes e aprenderão a amar os outros. E em qualquer coisa que decidirem fazer, eles serão os melhores do mundo!”
Ela tinha grandes planos para Curtis e para mim e sempre nos lembrava disso. Podíamos viver na pobreza, mas ela nos convenceu de que isso era apenas uma situação passageira. Ela observava a vida e os hábitos de gente rica e famosa cuja casa ela ia limpar todo dia. “Eles não são nada diferentes de nós”, ela insistia. “Tudo o que eles podem fazer, vocês também podem. E melhor!”
Hoje, quando conto essa história, as pessoas me perguntam: “Como a sua mãe conseguiu fazê-los ler aqueles livros? Não consigo fazer meus filhos ler, nem desligar a TV ou o videogame”.
Então, digo-lhes: “Bom, naquela época, eram os pais que mandavam na casa. Eles não tinham de pedir permissão aos filhos”. Parece que esse conceito é novidade para muita gente hoje em dia.
De qualquer forma, comecei a ler. E o lado bom era que minha mãe não determinava o que nós tínhamos de ler. Eu adorava animais e então li todos os livros sobre animais que a biblioteca pública tinha. E quando esgotei o assunto, passei para as plantas. Quando esgotei este, passei para as pedras porque morávamos numa parte decadente da cidade perto do trilho do trem. E o que há perto do trilho senão pedras? Enchia caixas de pedras que juntava e levava para casa para depois encontrá-las no meu livro de geologia. Eu as estudei até conseguir identificar praticamente todas, dizer como elas tinham-se formado e de onde tinham vindo.
Meses se passaram. Eu estava na quinta série e ainda era o orelhudo da classe. Ninguém sabia sobre o meu projeto de leitura.
Um dia, o professor de Ciências entrou na classe e mostrou uma pedra negra enorme e brilhante. Ele perguntou: “Será que alguém sabe me dizer o que é isso?”
Lembrem-se de que eu nunca havia levantado o braço para nada nem respondido a nenhuma pergunta. Por isso, achei que um dos melhores alunos fosse levantar o braço. Nada. Daí, esperei que um dos burros o fizesse. Quando vi que ninguém se manifestaria, pensei: Essa é a minha grande chance. Então, levantei a mão, e todo mundo virou para me olhar. Alguns colegas riram e cochicharam: “Olhe lá, o Carson levantou a mão. Essa vai ser boa!”
Eu respondi: “É uma pedra obsidiana”. E o silêncio tomou conta da classe. Porque parecia estar certo, mas ninguém tinha certeza. Assim, o pessoal não sabia se devia rir ou ficar impressionado.
Finalmente, o professor quebrou o silêncio e disse: “Está certo! É uma obsidiana”.
Prossegui explicando: “A obsidiana é formada pela erupção vulcânica. A lava jorra, e, quando atinge a água, ocorre um processo de super-resfriamento. Os elementos se aglutinam, o ar é expulso, a superfície é recoberta por uma camada vítrea e…”
De repente, percebi que todo mundo estava olhando para mim com cara de espanto. Eles não conseguiam acreditar que toda aquela informação geológica estava saindo da boca de um orelhudo como eu. Mas, sinceramente, talvez a pessoa mais impressionada da sala fosse eu mesmo, porque naquele momento me ocorreu que eu não era nenhum orelhudo.
Um ano mais tarde, Ben Carson foi o melhor aluno da classe. E continuou sua trajetória de sucesso, parte dela descrita no início deste texto. Escreveu livros. Existem três em português. Além da Editora Vida, responsável por publicar o livro A Grande Visão, que deu origem ao filme Mãos Talentosas, estrelado por Cuba Gooding Jr., a Casa Publicadora Brasileira publicou sua biografia, intitulada Ben Carson, e o livro Sonhe Alto.
A mãe de Ben Carson é falecida e praticamente anônima. Não encontramos nem sequer uma foto dela (nem mesmo um retrato antigo). Mas digite o nome de Ben ou Benjamin Carson no Google e, na carreira extensa e vitoriosa do filho, você verá o legado de Sonya Carson.
Sempre que posso em meus discursos, falo com admiração da grande influência de minha mãe. E devo concordar com as incontáveis pessoas que já vieram me procurar depois para me dizer: “Você tem sorte de ter uma mãe como essa”.
Elas estão certas! Eu não teria chegado aonde cheguei se não fosse pela influência e pelo exemplo de minha mãe de como superar as adversidades. Ben Carson
Luiz e Lia Montanini são pastores de uma comunidade em Valinhos, SP. São pais de Rafaela (23), Daniel (21) e Rebeca (19). Luiz Montanini faz parte do Conselho Editorial da revista Impacto.