3 de novembro de 2024

Ler é sagrado!

Esclarecimento-Céus e Terra

Por Asher Intrater

Na última edição da Revista Impacto, publicamos um artigo com o título Céus e Terra no Plano de Deus. Surgiram duas dúvidas em relação a algumas afirmações que foram posteriormente esclarecidas pelo autor. Como se trata de assuntos não detalhados explicitamente nas Escrituras, algumas conclusões não podem ser afirmadas dogmaticamente. Entretanto, vale a pena considerar cuidadosamente o pensamento de quem tem passado horas a fio lendo e estudando a Palavra escrita e o plano de Deus.

1. Precedente Legal

“O fato de Abraão ter-se disposto a sacrificar Isaque deu a Deus a permissão de sacrificar o Filho dele” (Revista Impacto, edição 66, pág. 10).

Dúvida: Em que sentido a obediência de Abraão poderia dar permissão a Deus?

Como Deus é Todo-poderoso, ele não precisa da nossa ajuda ou permissão para fazer coisa alguma. Entretanto, ele faz todas as coisas de acordo com os princípios de integridade, aliança e delegação de autoridade. Ele criou o planeta e delegou o cuidado dele aos seres humanos (Gn 1.26-28; Sl 8.6; 115.16).

A partir do momento em que delegou a autoridade na Terra aos homens, Deus passou a respeitar sua própria decisão. É mais ou menos como o proprietário que aluga seu apartamento para alguém e precisa pedir licença ao inquilino antes de entrar no próprio imóvel.

Deus age dessa forma por amor. Ele criou o homem para estar em relacionamento com ele. É por isso que tem agido durante toda a história em cooperação com parceiros na Terra a fim de treiná-los para serem seus parceiros durante toda a eternidade.

Esse método é chamado de aliança. Deus não faz nada sem compartilhar suas intenções primeiro com seus parceiros, os profetas (Am 3.7; Gn 18.17). Todas suas ações na Terra são regidas pelo princípio de parceria de aliança e autoridade delegada. Ele poderia ter estabelecido princípios diferentes, mas escolheu esse caminho a fim de demonstrar sua própria sabedoria e graça (Ef 1.8; 2.7; 3.10).

Do ponto de vista da soberania divina, ele não precisa pedir permissão aos homens para fazer coisa alguma. Contudo, por ter escolhido o caminho de parceria de aliança e autoridade delegada, ele também limitou o que pode fazer nesta Terra.

É por isso que precisamos orar: “Faça-se a tua vontade, assim na terra como no céu” (Mt 6.10). Não é uma questão de Deus simplesmente realizar o que quer; ele precisa ser convidado, espera nossa oração para atender-nos. De acordo com Mateus 16.19 e 18.18,19, temos autoridade para ligar uma coisa na Terra, e ela será ligada no Céu.

Outra maneira de Deus receber essa “permissão” para agir na Terra é por meio da obediência que é fruto de um relacionamento de aliança. Muitos patriarcas e santos do Velho Testamento realizaram atos que foram semelhantes a certos aspectos da vida de Yeshua. Tais atos são considerados “sombras” ou “figuras” pelos teólogos. Isso é verdade; entretanto, foram muito mais do que meras figuras.

Quando duas pessoas são parceiras, os atos de uma são creditados à outra. Assim, a justiça de Yeshua é transferida a nós quando nos tornamos seus parceiros de aliança pela fé. A justiça foi praticada por ele; no entanto, é creditada à nossa conta.

O sistema também funciona no sentido oposto. Quando nós praticamos um ato, é considerado um ato conjunto, em parceria com Deus. Em algumas ocasiões, Deus “levava” a nação de Israel a encenar aspectos da vida de Yeshua, e vive-versa (Mt 2.15).

Assim sendo, se um ser humano, em aliança com Deus, praticar um ato de justiça, isso habilita Deus e dá-lhe permissão e precedente legal para agir de maneira correspondente. Como não havia possibilidade de uma única pessoa representar ou demonstrar todas as coisas que Yeshua teria de efetuar, Deus distribuiu os atos de salvação a muitos parceiros em períodos diferentes.

Dessa forma, pouco a pouco, ele foi acumulando uma série de “precedentes legais” por meio de seus parceiros de aliança, obtendo base de aliança para agir da mesma forma. Pelos nossos atos, podemos dar “base” para o diabo agir (Ef 4.27). Podemos, igualmente, dar “base” para Deus agir.

Aqueles que agiram pela fé não compreenderam todos os motivos de suas ações. Simplesmente, obedeceram. Deus não explicava. O plano era secreto. Cada herói da fé obedecia em um ou em vários aspectos do plano. Cada um representava uma peça do quebra-cabeça. Quando todas as peças correspondentes haviam sido completadas na Terra, Deus enviou seu Filho do Céu para reuni-las e realizar tudo o que os parceiros de aliança haviam feito individualmente.

Aqui estão alguns exemplos:

• Abraão oferecendo seu filho amado;
• Isaque se dispondo voluntariamente a ser sacrificado;
• Moisés se oferecendo para ser excluído do livro de Deus numa ação intercessória (Êx 32.32);
• Judá se oferecendo para receber o castigo do irmão no seu lugar (Gn 44.33);
• José sendo simbolicamente morto jogado numa cova e, posteriormente, elevado a governador do Egito (do mundo);
• Mordecai sendo simbolicamente enforcado numa estrutura de madeira e, depois, elevado à liderança do império (do mundo);
• Daniel sendo jogado na cova dos leões e, depois, elevado à liderança do império (do mundo);
• Jeremias sendo jogado numa masmorra e sofrendo rejeição;
• Jó, embora justo, sofrendo nas mãos do diabo;
• Jonas sendo levado ao inferno por três dias (Jn 2).

Yeshua também disse que não voltaria enquanto o povo de Jerusalém não o convidasse para voltar e reinar (Mt 23.37-39). No sentido absoluto, Deus não precisa de permissão, mas, por ele ter-se obrigado à parceria de aliança e autoridade delegada com o homem, ele espera até que tenha um convite verbal ou um ato de obediência que lhe dê precedente legal para agir de forma correspondente (“dai e dar-se-vos-á” – Lc 6.38).

2. O julgamento de Satanás

“Mas no terceiro dia, o poder de Deus entrou em Jesus, e ele ficou de pé. Agora era ele que estava dizendo: Eu o peguei, inimigo! Enganei-o! Você caiu na armadilha!”
Veja bem: esta foi a primeira vez em que Satanás fizera algo totalmente por conta própria, sem usar um ser humano. Ele sempre conseguiu agir como os chefes da Máfia, que a polícia não consegue pegar mesmo sabendo exatamente quem são. Como usam subordinados para fazer suas maldades, nunca são condenados, porque eles próprios não cometeram crime algum” (Revista Impacto, edição 66, pág. 12).

Dúvida: O que, exatamente, Satanás fez na morte de Jesus que o incriminou diretamente?

Na cruz, Yeshua concedeu perdão de pecados e, ao mesmo tempo, julgou o pecado. Quem se arrepende e volta-se à cruz de Yeshua encontra perdão e expiação. Não se requer nada além disso para obter salvação.

Yeshua julgou na cruz os pecados tanto de homens quanto de demônios. Por causa da crucificação, homens não arrependidos e anjos rebeldes receberão castigo eterno. Não há necessidade de mais nada para completar o julgamento. Pecadores, sejam homens, sejam anjos, receberão o mesmo castigo.

Entretanto, há um ato adicional do julgamento divino. O primeiro pecado foi iniciado por Satanás, não pelo homem (Gn 3; Jo 8.44). Consequentemente, a culpa dele é maior. Durante toda a história anterior à morte de Yeshua, não havia possibilidade de separar o pecado dos homens do pecado dos demônios, porque os demônios agiam por meio dos homens, e porque os homens cooperavam com os demônios.

Para que a justiça fosse perfeita, Deus procurou um meio de distinguir os dois. Isso foi realizado no período entre a crucificação e a ressurreição. Quando Yeshua morreu, seu corpo foi colocado numa sepultura, mas seu espírito e sua alma desceram ao inferno (Mt 12.40; At 2.24,31; Rm 10.7; Ef 4.9,10; 1 Pe 3.19).

Durante esse período, Satanás e os demônios caíram na armadilha de Deus, porque atacaram a Yeshua no inferno sem intermediários humanos. Em contraste a todos os outros que estavam no inferno, Yeshua não tinha pecado. A cruz era uma emboscada, uma operação “aguilhão” contra o diabo. Yeshua veio para destruir as obras do diabo (1 Jo 3.9).

Na cruz, embora sem pecado, Yeshua morreu como se fosse um pecador. O diabo pensou que havia ganhado. Os demônios celebraram e causaram sofrimento inimaginável a Yeshua no inferno. Porém, no terceiro dia, o poder de Deus entrou em Yeshua quebrando o poder da morte e do inferno, destruindo as forças de Satanás e levantando Yeshua para a vida eterna.

O primeiro nível do juízo foi efetuado na cruz contra todo pecado. Porém, há outro nível em que Satanás foi julgado. “…do juízo, porque o príncipe deste mundo já está julgado” (Jo 16.11). Para entender isso, precisamos de revelação do Espírito Santo (Jo 16.8,12,13).

Esse segundo nível de juízo foi efetuado quando Yeshua desceu ao inferno e ali sofreu temporariamente até sua ressurreição. Ali, ele “provou” o castigo que é devido a todos nós que pecamos. O castigo final para o pecado não é morte física, mas sofrimento no inferno. Yeshua provou a morte na cruz, mas experimentou o inferno também. Assim, ele não só concedeu perdão dos pecados, mas também destruiu as obras de Satanás.

O homem ou a mulher que persistentemente cooperar com Satanás receberá o mesmo castigo que ele, embora este não seja o desejo de Deus (Mt 25.41; Ap 20.10,15).

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