Por: Richard Owen Roberts
Nos dias de Jonathan Edwards, a poderosa presença de Cristo através do Espírito Santo trouxe vida nova, pureza, e amor para a igreja da América do Norte. Foi uma de muitas ocorrências semelhantes, em diversas épocas da história. Geralmente são chamadas de avivamentos, despertamentos espirituais, ou renovações.
Seja qual for o nome, a poderosa obra do Espírito Santo traz nova santidade e pureza. O Espírito também traz cura e reconciliação a relacionamentos quebrados. Deus claramente está presente e operando ativamente com surpreendente graça. Um despertamento espiritual nasce de uma nova paixão por oração, e se mantém através de fervoroso compromisso com Deus em oração.
Em 1904 e 1905, depois de muita oração, uma grande obra de Deus tomou conta do País de Gales na Grã-Bretanha. Durante este tempo, uma reunião de oração estava continuando noite adentro, quando um operário das minas, endurecido e sem temor de Deus, voltava do trabalho às quatro horas da manhã. Vendo a luz acesa na capela, resolveu dar uma olhada. Assim que abriu a porta, ficou totalmente inundado por um senso da presença de Deus.
Para surpresa própria e dos outros também, ele exclamou: “Ah, Deus está aqui!” Com medo tanto de entrar, como de sair, permaneceu ali na porta, enquanto o Espírito de Deus começou a derreter seu coração e operar salvação no seu coração endurecido.
Este avivamento deu frutos que continuaram por muitos anos nas vidas transformadas de muitos indivíduos. Com o passar do tempo, porém, a vida das igrejas como um todo foi caindo nos velhos caminhos de incredulidade e egoísmo. Hoje as igrejas localizadas nesta região precisam de uma outra visitação, um outro despertamento do Senhor.
Será que tem de ser assim? O Senhor Jesus Cristo deseja meramente fazer uma visita na sua igreja? A igreja somente precisa de uma nova visitação de Deus quando os tempos em que vive causam desespero e os lares estão quebrados? Certamente que não!
Cristo Obviamente Deveria Habitar no Nosso Meio
Nosso Salvador, o Senhor Jesus, sabe que sua presença e ativa liderança são absolutamente essenciais à vida espiritual de nossos lares e igrejas. Ele deseja tornar-se um residente permanente, ou ter um “visto permanente” no nosso meio. Ele prometeu que estaria no meio de até dois ou três que se reunissem no seu nome (Mt 18.19-20).
A assembléia de cristãos tem o propósito de ser uma habitação para Deus na terra. Lemos sobre isto em Efésios 2.18-22. Depois de declarar que todos os crentes têm acesso a Deus em oração por um só Espírito, Paulo explica que somos “a família de Deus” (v. 19). O apóstolo também declara que nossas vidas são “juntamente edificadas para morada de Deus no Espírito”( v.22). Paulo orou para que “Cristo habite pela fé nos vossos corações” (Ef 3.17), ou seja, que ele pudesse vir de mudança, e fazer seu lar permanente dentro de nós.
Cristo estava no meio das sete igrejas (Ap 1.12-20). Ele as comandava ativamente. Elogiou-as pelas suas boas qualidades, e também apontava seus pecados. Conclamou-as para se arrependerem de seus pecados como igrejas, ou enfrentar as conseqüências (cap. 2-3).
Mesmo no Velho Testamento, Deus estava presente entre seu povo. Ele dirigia e tomava conta deles de uma forma especial. Encontrava-se com a congregação de Israel no tabernáculo. Habitava no meio deles, e governava sobre eles como seu Deus (Êx 25.22; 29.42-46). Fazia sua presença manifesta através da coluna de nuvem de dia, e da coluna de fogo à noite. Sua glória cobria o tabernáculo e o enchia (Êx 40.34-38).
O templo era conhecido como a habitação de Deus nos séculos posteriores, e serviu como um lugar especial para reunir-se para oração. Ele proclamou: “A minha casa será chamada casa de oração para todos os povos” (Is 56.7).
A presença de Deus no meio de seu povo destacava-o como aqueles que eram unidos com ele, e mui amados. Como tais, usufruíam da sua especial proteção e cuidado. Desobediência e idolatria faziam com que Deus se retirasse temporariamente do acampamento (Êx 32.1-8; 33.1-10). Moisés fez uma forte súplica para que Deus mantivesse sua moradia no meio deles. Para ele, a ausência contínua ou prolongada de Deus seria um convite para desastre. A presença de Deus fazia a diferença entre Israel e as nações pagãs (Êx 33.15,16).
A presença de Cristo, igualmente, é essencial para a vida da igreja. Quando ele se afasta de uma congregação, esta morre. Infelizmente, a igreja morta nem nota sua ausência. É como alguém certa vez declarou: “Se o Espírito Santo deixasse a igreja, ninguém notaria porque tudo transcorre tão bem sem ele”.
Em Laodicéia, Cristo estava do lado de fora da igreja. Ele estendeu um convite final para se arrepender de seus pecados, ou senão vomitaria a congregação da sua boca (Ap 3.14-22). Deus anseia por habitar eternamente entre seu povo, quando seus pecados e apostasias nunca mais causarão seu afastamento (Ap 21.3).
Sentir a presença especial de Cristo no nosso meio, como também dar-lhe as boas vindas, deveriam ser os ingredientes essenciais do nosso ministério na igreja. A tendência é esperar até que a igreja caia em necessidade espiritual desesperada, antes de acordarmos para honrar a presença do Senhor.
A igreja hoje precisa tomar um propósito sincero de buscar a Deus com ardor, assim como Daniel fez um propósito de não se contaminar, comendo a carne do rei (Dn 1.8). Precisamos tomar uma posição, perguntando a nós mesmos se queremos Cristo entre nós. Se quisermos, precisamos dar-lhe total liberdade no nosso meio, a todo tempo, sempre. Precisamos desesperadamente nos unir para amar, confiar, e obedecê-lo, pois ele é nossa vida. Sem ele, nossos lares e igrejas são espiritualmente mortos.
Alguns Exemplos
Alguns pastores puderam levar suas igrejas a experimentar constantemente a presença de Cristo. Por exemplo, o Pastor C. John Miller, da Igreja Presbiteriana New Life, na Pensilvânia, EUA, conduzia reuniões de oração onde Cristo claramente estava presente e liderava ativamente. Como a reunião era eletrificante, a freqüência crescia. Quando não cabiam mais no porão, se mudaram para o auditório. Os perdidos eram constantemente alcançados em resposta à oração. Muitas vezes os novos convertidos já começavam a vir para a reunião de oração. As vidas dos crentes eram maravilhosamente transformadas.
Porém, dez anos antes disso, este mesmo pastor servira em outra igreja, e assistira impotente enquanto o culto de oração de lá passava pelas agonias finais da morte até se acabar totalmente. Após reflexão, concluiu que fora ele próprio o responsável disso. Sua grande autoconfiança o levara a acreditar que sua pregação e empenho no trabalho eram plenamente suficientes para alcançar o sucesso. Conseqüentemente, deixara a oração e a obra ativa do Espírito Santo para um segundo plano, ou nem isso.
Mas ao iniciar a Igreja Presbiteriana New Life, já compreendera a importância crucial da reunião de oração. Aprendera a depender completamente do Senhor em oração em cada aspecto do seu ministério. E levou sua igreja a praticar a mesma dependência. No livro que escreveu posteriormente sobre sua experiência, ele conta como orou por esta reunião de oração, e a viu crescer e tornar-se o instrumento dinâmico que deu à luz a uma igreja viva sob a liderança poderosa e ativa do Senhor Jesus. Com o Senhor no comando, a igreja cresceu de um grupinho num lar para mais de seiscentas pessoas. Além disso, fundou mais duas igrejas na região.
Adoniram Judson Gordon, um dos grandes homens de Deus na história da América do Norte, também iniciou sua busca numa igreja morta. Como pó, havia uma camada de morte cobrindo toda a Igreja Batista da Rua Clarendon em Boston. Era a congregação da alta sociedade, onde os banqueiros e a elite da cidade se reuniam. Um espírito secular, mundano, dominava quase cada aspecto da sua vida. As famílias mais ricas pagavam aluguel para ter direito aos bancos (assentos) principais da igreja. Cantores de ópera, sem experiência com Deus, eram contratados para fazer apresentações, e a música tinha o mesmo nível de vida espiritual que dos próprios cantores.
Um diácono teve a ousadia de imprimir um folheto convidando: “Todos estão bem-vindos”. Ele foi repreendido por um ancião que afirmou: “Você pode acabar trazendo o tipo errado de pessoa para cá”. É claro que todos sabiam qual era o “tipo certo” de pessoa para trazer.
O coração do Pastor Gordon passou por profunda angústia, lamentando continuamente a condição espiritual da sua igreja. Manter a aparência “correta” de um pastor ficou cada vez mais pesado, levando-o ao ponto de desespero. Ele sabia que o povo precisava se arrepender e voltar a Cristo. Assim, passava mais tempo preparando seus sermões. Entretanto, houve mais desapontamento, pois poucos, ou talvez ninguém, se convertia, mesmo com a pregação que levara uma semana inteira de profunda preparação.
Dava até para colocar sua reunião de oração na coluna de falecimentos do jornal local. Ele pensava: “Se conseguisse apenas ajuntar o povo para orar”. Mas, apesar de tudo que tentou, pouquíssimos freqüentavam a reunião. Desses poucos, ninguém jamais se levantou para derramar o coração diante de Deus em favor da lamentável condição espiritual da igreja.
Nesta mesma época, a administração (conselho) da igreja começou a perder sua coesão. Surgiu uma forte oposição entre alguns dos oficiais da igreja. O Pastor Gordon foi obrigado a dedicar muito tempo e energia para conseguir que “os membros votassem como deveriam”. Ele esperava que certos membros o ajudassem, mas estes passaram a ser seus oponentes. Enfrentando um enorme desânimo, noites sem dormir, e vida sob pressão, fez uma visita ao médico que receitou descanso absoluto e total como a única solução.
Enquanto lutava para continuar neste ministério em solo “rochoso”, o pastor adormeceu certo sábado à noite, durante sua preparação do sermão. Teve então um sonho incomum. Ele estava em pé no púlpito, pronto para pregar para um auditório cheio, quando um estranho entrou na igreja. O estranho passou lentamente pelo corredor da esquerda, procurando por alguém que lhe cedesse um espaço no seu banco alugado. Quando estava a mais da metade do caminho para a frente da igreja, um homem ofereceu-lhe um lugar, e ele o aceitou em silêncio. Os olhos de Gordon cravaram-se no visitante. Perguntava para si mesmo: “Quem será este estranho?” E determinou consigo mesmo descobrir.
Após o sermão, o estranho saiu quietinho com a multidão. O pastor perguntou ao homem que cedera o lugar para ele: “Você pode me dizer quem era aquele estranho que sentou ao seu lado?”
De um modo bem casual, o homem respondeu: “Mas, você não conhece aquele homem? É Jesus de Nazaré.” Vendo a grande consternação do pastor, o homem lhe assegurou: “Ah, não se preocupe. Ele esteve aqui hoje, e sem dúvida voltará outras vezes.”
Gordon ficou inundado com uma onda indescritível de emoção e auto-análise. Afinal, o próprio Senhor Jesus esteve aqui hoje ouvindo meu sermão! E ficava perguntando a si mesmo: “O que eu disse? Será que estava pregando sobre algum tema popular a fim de cativar os ouvidos do público?” Com um suspiro de alívio, lembrou que pregara sobre Cristo.
Mas depois sua consciência o argüiu: “Mas em que espírito preguei? Será que foi no espírito de quem sabe que foi crucificado ele mesmo com Cristo? Ou o pregador conseguiu se exaltar ao mesmo tempo que aparentemente estava exaltando a Cristo?”
Pela primeira vez na sua vida, Gordon ficou eletrificado com a verdade de que o próprio Cristo de fato viera à igreja! O pastor nunca mais poderia se importar com o que as pessoas pensassem sobre sua pregação ou sobre sua igreja. Pensou: “Se eu pudesse tão-somente saber que Jesus não ficou descontente, que não deixaria de voltar por ter ficado entristecido com algo que viu ou ouviu!”
Todas as prioridades do Pastor Gordon foram alteradas. Sua vida e ministério nunca mais seriam os mesmos. Ele caiu aos pés do seu Senhor em adoração, e entregou a administração da igreja para ele. O pastor depois ensinou o conselho da igreja e a congregação a deixar o Espírito Santo comandar as coisas ativamente em favor de Jesus.
“Eu não atribuo qualquer importância especial a sonhos, e nunca atribuí,” o pastor escreveu posteriormente. “Reconheço que foi apenas um sonho; entretanto, confesso que a impressão deste sonho foi tão forte, que mesmo sem querer, minha memória a traz de volta vez após vez, como se este fato realmente tivesse acontecido no meu ministério.”
Acreditar que Jesus vem mesmo aos cultos e está disposto a tomar controle transformou a Igreja Batista da Rua Clarendon. O povo de fato deixou Jesus tomar conta. Durante um período de oito anos, a presença e a liderança de Jesus tornaram-se seu ponto central. O pastor e os líderes genuinamente buscavam ao Senhor em oração, e a igreja foi maravilhosamente transformada.
O pastor substituiu os cantores de ópera sem vida espiritual por cânticos animados na congregação. Nova vida entrou na igreja, e os membros espiritualmente mortos que se recusavam a se arrepender foram saindo por si mesmos. O Senhor enviou um ardente ganhador de almas, e este foi usado para levantar outros evangelistas na igreja e para alcançar muitas pessoas.
Cristo transformou o ministério do Pastor Gordon, e fez da igreja uma poderosa luz que permaneceu por muitos anos. A igreja literalmente passou da morte para a vida. Aconteceu quando o pastor ensinou seu povo a realidade de deixar Cristo entrar no meio deles pelo Espírito Santo, e ativamente tomar controle. Jesus está pronto a se estabelecer e fazer sua morada com qualquer casal, grupo pequeno, ou igreja, onde os cristãos abrem seus corações em comum acordo para orar e recebê-lo.
Extraído de The Power of Praying Together (O Poder de Orar Juntos), de Oliver W. Price. Copyright 1999. Usado com Permissão.