Por: Roger Ellsworth
Este é o quarto artigo numa série de mensagens sobre Isaías 63 e 64.
“Sais ao encontro daquele que com alegria pratica justiça, daqueles que se lembram de ti nos teus caminhos; eis que te iraste, porque pecamos; por muito tempo temos pecado e havemos de ser salvos?” (Isaías 64.5).
Há toda espécie de encontros ou reuniões. Alguns são calorosos e amigáveis, outros são tensos e hostis. Alguns são doces e rápidos, outros são compridos e chatos. Alguns produzem um retorno rico e compensador, outros são uma perda de tempo.
Quando temos um encontro do tipo proveitoso, temos prazer de estar na companhia daquelas pessoas; aprendemos mais sobre os outros, e mais sobre nós mesmos; somos encorajados e fortalecidos. Companheirismo, compreensão, conforto – estes são os frutos de uma boa reunião.
Nosso texto fala sobre o melhor tipo de encontro que alguém jamais possa ter – um encontro com o próprio Deus. E o que significa encontrar-se com Deus? É deleitar-se naquelas mesmas coisas que procuramos em qualquer bom encontro, e muito mais! É companheirismo, compreensão, e conforto, que saciam o mais profundo do nosso ser.
Podemos fazer desta nossa necessidade de encontrar-nos com Deus um outro argumento para persuadi-lo a descer e nos visitar. É como se tentássemos persuadir um amigo ou parente afastado a voltar a nos ver, marcando um encontro com esta pessoa em determinado lugar. Assim, façamos uma decisão de buscar um encontro com Deus.
Se quisermos nos encontrar com Deus, devemos entender que algumas condições estão incluídas, e devemos nos determinar a cumprir com essas condições. Isaías as expõe claramente. Primeiro, ele estabelece:
1. A Exigência da Justiça
Duas coisas estão envolvidas no cumprimento desta exigência. Primeiro, devemos nos alegrar na justiça; depois, devemos praticá-la. Antes de podermos fazer um ou outro, precisamos compreender o que é. Justiça é simplesmente retidão. É conformidade com a lei, a mente, e a vontade de Deus.
Nada desliga as pessoas mais rápido do que falar sobre justiça. Em primeiro lugar, nossa sociedade zomba da idéia de que exista de fato o certo e o errado. A nossa geração acredita que certo e errado não podem ser definidos. É uma questão de cada indivíduo decidir por si mesmo. O que é certo para um pode não o ser para outro. Este é o pensamento moderno.
Mas mesmo que concordemos que exista algo que se chama justiça, poucos estão preparados para aceitar a idéia de se alegrarem na justiça. Os cristãos acreditam que é possível definir o certo e o errado, mas quantos podem dizer que de fato se regozijam na justiça?
Pense em Davi, por exemplo. Este era um homem que se regozijava na justiça. Ele diz no Salmo 119.14: “Mais me regozijo com o caminho dos teus testemunhos do que com todas as riquezas”. E depois no mesmo Salmo: “Amo os teus mandamentos mais do que o ouro, mais do que o ouro refinado. Por isso, tenho por, em tudo, retos os teus preceitos todos e aborreço todo caminho de falsidade” (vv. 127, 128).
Por que temos geralmente tanta dificuldade em dizer estas mesmas coisas? Por que esta linguagem nos faz sentir desconfortáveis? Por que relutamos contra colocar as leis de Deus acima das riquezas do mundo, como fazia Davi? Por que hesitamos em dizer que aborrecemos a “todo caminho de falsidade”?
A resposta é que ainda abrigamos um conceito básico muito errado sobre Deus e suas leis. Persistimos em desconfiar de Deus. Continuamos achando que Deus quer estragar nossa alegria, privar-nos de prazer. Nunca conseguimos aceitar o fato básico de que os mandamentos de Deus são benéficos e bons. Não foram designados para roubar-nos da nossa alegria, mas para garanti-la para nós. Você pode se ressentir dos mandamentos de Deus e se rebelar contra eles, e sofrerá as terríveis conseqüências de que Deus queria lhe poupar. Alguém disse com muita razão que não se pode quebrar os Dez Mandamentos; só se pode quebrar a si mesmo quando se opõe a eles!
A única maneira de superar nossa desconfiança de Deus a fim de realmente nos alegrar na justiça e de também praticá-la, é amar ao Senhor. O apóstolo João faz esta ligação na sua primeira epístola: “Porque este é o amor de Deus: que guardemos os seus mandamentos; ora, os seus mandamentos não são penosos” (1 Jo 5.3).
Mas os cristãos já não amam a Deus? Sim, mas não com amor perfeito. Nosso amor pode definhar a ponto que nem parece que amamos ao Senhor. A queixa de Jesus contra a igreja de Éfeso foi que haviam deixado seu primeiro amor (Ap 2.5). Ainda tinham uma espécie de amor, mas não era o amor fervoroso, apaixonado, que tinham no princípio.
Portanto, há uma espécie de progressão para cumprirmos esta exigência de justiça. Antes de podermos praticar justiça, precisamos nos alegrar nela; mas antes de podermos nos alegrar na justiça, precisamos amar ao Senhor que a requer. A pergunta agora é: Como podemos chegar ao ponto de amar ao Senhor como devemos? Isto nos leva à segunda exigência que Isaías nos mostra para podermos nos encontrar com Deus. Podemos chamá-la:
2. A Exigência da Lembrança
Isaías disse a Deus: “Sais ao encontro… daqueles que se lembram de ti nos teus caminhos”. Vamos pensar sobre esta palavra “lembrar”. Sugere um certo esforço da nossa parte. Se quisermos nos encontrar com o Senhor, e deleitar-nos na sua presença, será resultado de uma busca diligente da nossa parte.
Alexandre MacLaren escreveu: “Há tantas coisas dentro de nós que nos afastam, os deveres, as alegrias, e as tristezas da vida insistem tanto em ocupar lugar no nosso coração e pensamento, que sem dúvida, se não tomarmos uma decisão firme de continuamente abrir um espaço nesta tumultuada e barulhenta praça pública, de modo a olhar por cima e além da multidão alvoroçada, e contemplar os cumes nevados das montanhas, nunca os veremos, ainda que sejam visíveis de qualquer ponto daquele local. A menos que procuremos nos lembrar, certamente nos esqueceremos.”
Notou aquelas palavras “decisão firme”, e “continuamente”? São a chave para se lembrar e assim aprofundar seu amor pelo Senhor. Isto pode ser uma surpresa para você, pois geralmente não associamos o lembrar com a idéia de esforço. Achamos que é algo que simplesmente nos acontece. Não nos sentimos responsáveis por desenvolver a memória. Nos desculpamos dizendo apenas: “Tenho uma terrível memória”.
Pense novamente das palavras de Jesus à igreja em Éfeso. Depois de declarar-lhes que deixaram seu primeiro amor, ele diz: “Lembra-te, pois, de onde caíste, arrepende-te e volta à prática das primeiras obras” (Ap 2.5). Claramente, Jesus considerava que a memória era responsabilidade deles.
Mas não devemos parar aqui. Devemos continuar para notar o que é que deve ser lembrado. Isaías diz que devemos lembrar de Deus nos seus “caminhos”. Este não é um convite para sentar e especular sobre a natureza de Deus. Estas palavras presumem que já tenhamos conhecimento de Deus, e que Deus já tenha trabalhado em nossas vidas. Todo filho de Deus tem marcas do Senhor no seu passado, às quais ele pode voltar de tempos em tempos. Se você tem anseio de se encontrar com Deus hoje, e sente dificuldade em achá-lo, volte àqueles tempos em que o encontrou no passado. Volte, e dê uma olhada em sua biografia espiritual.
Isto me faz pensar em Jacó. Seu primeiro encontro com Deus foi num lugar chamado Betel. Lá ele aprendeu que era possível ter comunhão com o Senhor. Teve uma visão do céu aberto e de uma escada que descia até a terra. Claramente, Deus quis lhe mostrar que o céu estava aberto para ele. Ele podia viver em comunhão com o Senhor. Fez um voto lá mesmo de viver para este Deus que se fez presente.
Os anos se passaram, e Jacó se envolveu em muitas coisas sórdidas. Finalmente, Deus lhe disse: “Levanta-te, sobe a Betel e habita ali; faze ali um altar ao Deus que te apareceu quando fugias da presença de Esaú, teu irmão” (Gn 35.1).
Se você conhece o Senhor como seu Salvador, existe um Betel no seu passado. Volte para lá na sua mente. Reviva aquele momento quando primeiro encontrou o Senhor, e deixe aquele momento abrir o canal entre você e Deus. Aqueça-se no amor que sentiu pelo Senhor naquela época, até que o canal seja desentupido de todo o lixo acumulado ali.
Se você não está realmente andando com Deus, não é porque ele foi embora. Ele está andando onde sempre andou – nos caminhos da justiça. Você pode ir ao seu encontro hoje, alegrando-se na justiça, e praticando-a, e refletindo sobre a doçura da comunhão que já teve com ele no passado.
Medite nestas palavras solenes: “O Senhor está convosco, enquanto vós estais com ele; se o buscardes, ele se deixará achar; porém, se o deixardes, vos deixará” (2 Cr 15.2).
Esta série continua no próximo número.