Por Harold Walker
“Agora, pois, ó Israel, que é que o Senhor teu Deus requer de ti, senão que temas o Senhor teu Deus, que andes em todos os seus caminhos, e o ames, e sirvas ao Senhor teu Deus de todo o teu coração e de toda a tua alma…” (Dt 10.12)
“Pois não falei a vossos pais no dia em que os tirei da terra do Egito, nem lhes ordenei coisa alguma acerca de holocaustos ou sacrifícios. Mas isto lhes ordenei: Dai ouvidos à minha voz… Mas não ouviram, nem inclinaram os seus ouvidos…” (Jr 7.22-24).
Desde que criou o homem à sua imagem, Deus definiu duas verdades que seriam inerentes à sua essência: por um lado, ele seria o ápice da criação como representante do Criador do Universo e, por outro, teria de depender totalmente do próprio Deus para conseguir exercer essa função primordial de sua existência. Um fato o exalta, o outro o humilha. Ao mesmo tempo em que ele é o procurador de Deus para todo o restante da criação, sem contato contínuo e vivo com Deus ele não consegue fazer nada de valor!
O drama da humanidade, então, gira em torno deste conflito: o homem, desde que atendeu à tentação da serpente de tentar ser como Deus, comendo da árvore do conhecimento do bem e do mal, quer produzir alguma coisa para provar seu valor e reforçar sua identidade. Deus, em contrapartida, só quer que o homem desista de todos esses esforços inúteis e volte à missão inicial de focar toda a atenção no Criador, vivendo a partir dessa única fonte de vida e inspiração.
Deus só pede tudo!
Na passagem acima, Moisés argumenta apaixonadamente com o povo de Israel dizendo: “Que é que o Senhor requer de ti?” Deus não quer nosso esforço, nosso trabalho, nossas boas obras. Ele quer nossa atenção ininterrupta e irrestrita a uma só coisa – ELE MESMO! “Que temas ao Senhor… que andes em todos os seus caminhos e o ames e sirvas ao Senhor… de todo o teu coração e de toda a tua alma”. Que é que o Senhor pede de nós? Tudo! Todo o coração e toda a alma, todo o nosso amor e todo o nosso temor!
Será que isso não é pedir demais? Será que não é uma carga muito pesada? De acordo com a lógica de Moisés, é uma tremenda barganha! Ele usa a expressão de um bom vendedor: Que é que o Senhor pede? Quanto custa esse produto? Uma mixaria! Uma ninharia! Mas como nosso TUDO pode ser avaliado tão baixo assim? Por dois motivos: primeiro, porque deveria ser extremamente fácil amar a Deus de todo o coração já que ele nos criou para isso! Qualquer outra atitude seria desvirtuar nosso propósito natural. Assim como o peixe nasce nadando, o homem deveria nascer amando a Deus! O segundo motivo de ser um negócio tremendamente vantajoso é a desproporção entre o produto e o pagamento: somos chamados a dar tudo do nosso nada para recebermos em troca todos os recursos do Dono do Universo! E ele não pede que façamos alguma tarefa árdua e ingrata – apenas que o amemos e o temamos de todo o coração.
Se o Espírito abrir seu entendimento, você perceberá que esse clamor divino por nossa atenção atravessa toda a História e toda a Bíblia. “Filho meu, dá-me o teu coração…” (Pr 23.26). “Ouve-me, povo meu, e eu te admoestarei; ó Israel, se me escutasses!” (Sl 81.8). “Oxalá me escutasse o meu povo!” (Sl 81.13). “Amarás, pois, ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu entendimento e de todas as tuas forças” (Mc 12.30). “Aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para as vossas almas” (Mt 11.29). Tragicamente, o homem tenta dar qualquer coisa a Deus, menos isso. Esse é o tema central do romance entre Deus e a humanidade.
Jesus e Buda – soluções diferentes para o mesmo problema
Cada um de nós, ao entrar neste mundo, recebe certa quantidade de força física, força mental, força psíquica, força emocional, força de vontade. Deus não cobrará de nós algo que não nos deu. O grande diferencial, no último dia, não será nossa produção, mas a maneira como aplicamos essa força limitada que recebemos. Podemos aplicar toda nossa força em um alvo errado ou em um alvo certo. Aí, é fácil saber como será o desfecho.
A maior tragédia de nossos dias, porém, não é essa. Nosso maior inimigo, hoje, é a dispersão da atenção, a perda de foco, o escoamento vagaroso mas incessante de nossas forças vitais em múltiplas direções. Dessa forma, mesmo que tenhamos bons objetivos e maravilhosas propostas, nosso saldo final será próximo a zero.
É por esse motivo que Jesus nos alerta: “Não vos inquieteis!” Em outras palavras: “Não vos preocupeis!” ou, ainda, “Não vos distraiais!” (Mt 6.31). O seu conselho é que não demos atenção às muitas coisas (à lista de “todas estas coisas”), mas que busquemos uma coisa só: O SEU REINO E A SUA JUSTIÇA. Se fizermos isso, “todas estas coisas” nos serão acrescentadas (Mt 6.33).
A ênfase de muitas religiões orientais, em especial do budismo, é eliminar totalmente as preocupações com a vida material. Dizem que Gautama Buda sentou-se debaixo de uma árvore e pôs-se a meditar sobre a causa de todo o sofrimento. Chegou à conclusão de que os desejos são a fonte de todo o sofrimento da humanidade e que, consequentemente, se o homem conseguisse acabar com todos os seus desejos, daria fim ao sofrimento. Chamou esse estado de não ter desejo de nirvana e o estabeleceu como alvo máximo para todos os seus seguidores.
Como vimos acima, Jesus tem outra orientação. Apesar de concordar que a fonte do sofrimento seja nosso apego e desejo por coisas e experiências palpáveis, ele não diz que a solução é acabar com o desejo, o querer, a vontade. Pelo contrário, ensina-nos a pegar todo o nosso querer, anseio e vontade fragmentados e reuni-los em torno de uma coisa só – Deus e sua vontade! A solução não é deixar de querer – na verdade, devemos aumentar o querer, só que não mais por múltiplas coisas sem valor permanente, mas pelo ÚNICO no Universo que tem valor intrínseco.
Três fatores para dar fruto
Em sua grande parábola sobre o semeador, Jesus ressalta três fatores decisivos para que haja um resultado positivo em nossa vida: a semente, a terra e a exclusividade. Sem a semente, a terra pode ser boa ou ruim; não haverá fruto algum. Mas, se a semente for boa, entrará o segundo fator fundamental: a terra. Se a terra for dura, a semente nem chegará a germinar. Se a terra tiver uma camada fina apenas, a semente germinará, mas não vingará.
Porém, mesmo que a terra seja boa, pode ser que não dê fruto! Como pode acontecer isso? Semente boa e terra boa não garantem uma boa colheita? De acordo com Jesus e qualquer agricultor, a resposta é NÃO! Por quê? Porque existem espinhos e ervas daninhas. Apesar de a terra ser boa, a semente não frutifica porque a força da terra é roubada por outras plantas. Jesus diz que as ervas daninhas são “os cuidados deste mundo e a sedução das riquezas” (Mt 13.22) – em outras palavras, AS DISTRAÇÕES. Para ter uma boa colheita, para que nossa vida termine com um saldo positivo, é preciso haver boa semente, boa terra e EXCLUSIVIDADE.
E isso nos leva a uma ação prática, constante e indispensável para uma boa colheita: dizer NÃO, todo dia, para muitos convites, oportunidades, propostas e tentações. Na agricultura, chamam isso de capinar a lavoura. Quanto melhor a terra, maior a presença de ervas daninhas e mais constante a necessidade de arrancá-las. Quanto mais inteligentes, talentosos, jovens e habilidosos nós formos, mais precisaremos aprender a dizer NÃO! Do contrário, correremos o perigo de dedicar-nos a Deus só quando nos restarem as sobras – quando estivermos velhos, fracos e sem força, quando não houver tantas demandas sobre nosso tempo. É claro que Deus quer nossa dedicação nessa época também, porque ele quer TUDO, mas devemos dar-lhe não só nossos últimos anos, mas também as primícias, o melhor, o mais precioso de tudo o que ele investiu em nós quando nos criou.
Mesmo a terra boa que consegue produzir fruto é classificada, por Jesus, de várias formas: ela pode produzir a 30%, a 60% ou a 100%. Isso significa que a Palavra e o Espírito de Deus que recebemos têm imenso potencial, mas o fruto que produzirão em nossa vida depende da proporção e da intensidade de atenção que lhes foi dedicada. Quantos minutos, horas, dias e até anos de nossa vida são desperdiçados por não ouvirmos a voz de Deus? Consequentemente, perdemos oportunidades preciosas que Deus poderia ter usado para gerar fruto! Que porcentagem de produtividade você gostaria de oferecer a Deus?
Há um exemplo no Velho Testamento e outro no Novo que ressaltam a importância de se fugir das distrações para obter bom êxito em uma missão. Quando Eliseu mandou Geazi para ressuscitar o filho da sunamita, ele lhe deu as seguintes instruções: “Cinge os teus lombos, toma o meu bordão na mão, e vai. Se encontrares alguém, não o saúdes; e se alguém te saudar, não lhe respondas…” (2 Rs 4.29). Ao enviar os setenta discípulos de dois em dois para preparar seu caminho, Jesus disse-lhes: “Não leveis bolsa, nem alforge, nem alparcas; e a ninguém saudeis pelo caminho” (Lc 10.4). A ideia, em ambos os casos, é a importância de se ter foco, atenção total no alvo para desempenhar, com sucesso, uma missão encomendada por Deus. Até mesmo uma saudação pode servir de distração e fazer vazar a unção.
Terminando, faríamos bem em refletir sobre as exortações de Paulo para Timóteo:
“Até que eu vá, aplica-te à leitura, à exortação, e ao ensino. Não negligencies o dom que há em ti… Ocupa-te destas coisas, dedica-te inteiramente a elas, para que o teu progresso seja manifesto a todos. Tem cuidado de ti mesmo e do teu ensino; persevera nestas coisas; porque, fazendo isto, te salvarás, tanto a ti mesmo como aos que te ouvem” (1 Tm 4.13-16).
Oremos usando as palavras desta linda música de Aline Barros:
Sonda-me, Senhor, e me conhece, quebranta o meu coração
Transforma-me conforme a tua palavra
E enche-me até que em mim se ache só a ti
Então, usa-me, Senhor, usa-me
Refrão
Como um farol que brilha à noite
Como ponte sobre as águas
Como abrigo no deserto
Como flecha que acerta o alvo
Eu quero ser usado, da maneira que te agrade
Em qualquer hora e em qualquer lugar, eis aqui a minha vida
Usa-me, Senhor, usa-me
Sonda-me, Senhor, e me conhece, quebranta o meu coração
Transforma-me conforme a tua palavra
E enche-me até que em mim se ache só a ti
Então, usa-me, Senhor, usa-me
Refrão
Sonda-me, quebranta-me
Transforma-me, enche-me e usa-me, Senhor.
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Por Luiz Montanini
Eu preferi a distração. E só Deus sabe o que eu perdi…
Tive uma experiência triste e vergonhosa recentemente. Era sábado à noite, e haveria um jogo de futebol entre as seleções brasileira e argentina. No horário do jogo, eu comecei a subir os degraus da escada de minha casa para ligar a TV quando ouvi aquela voz inconfundível de Deus, em tom de convite: “Que tal você trocar esse jogo para ficar um tempo comigo?”
E parece que, em seguida, ouvi algo como: “Ao final, você terá gostado muito mais do que do futebol…”
Titubeei por alguns instantes, parado nos degraus, ensaiei uma desculpa inaudível qualquer, subi e liguei a televisão.
Que jogão; quem viu sabe. Foi um banho de futebol: 3 a 1 em los hermanos. Que maravilha.
Por uma ou duas vezes durante o jogo, eu me lembrei do convite recusado, mas um gol ou jogada benfeita levavam-me a esquecê-lo em seguida.
Apenas no dia seguinte foi que me dei conta do que eu havia perdido e percebi que o grande prejudicado fora eu mesmo. O prazer do lazer tinha sido efêmero e durara o tempo da partida. A minha recompensa não passara daquilo; 90 minutos. Mas, no íntimo, eu sabia que perdera muito mais do que tempo.
Literalmente, só Deus sabe o que poderia ter acontecido naquela hora e meia de intimidade com ele. Afinal, mal explicando, se viver um dia na presença do Senhor é melhor do que passar mil deles em qualquer outro local, uma horinha de comunhão com o Pai equivaleria, grosso modo e contas, a cerca de 42 dias de descanso e alegria no melhor resort do planeta – na falta de figura comparativa melhor.
Se eu não tivesse optado por trocar a distração pela comunhão, possivelmente em vez de agora usar este pequeno espaço para confessar e admitir meu pecado (pecado é errar o alvo, todos sabemos, e eu errei feio), eu estaria usando-o num texto cheio de unção, que viesse a tocar vidas por meio da Palavra de Deus jorrando como rios do coração; afinal, encontros com Deus são notórios – nossa face brilha, nossas palavras produzem vida, o inferno treme, novas estacas do Reino são fincadas, precedentes são abertos, enfim, a vida chega.
Mas eu preferi a distração. E agora só Deus sabe o que eu perdi.
Pedi perdão a Deus. Ele me perdoou como perdoa sempre. Mas eu fiquei envergonhado.
Então, pensei em contar-lhes esta triste história para que não se mirem nesse mau exemplo. Que estejamos mais com nosso Senhor não apenas quando quisermos, mas também quando ele nos quiser.
PS.: Lembro-me agora de que, hoje à noite, tem novo jogo do Brasil pelas Eliminatórias da Copa do Mundo… Ai ai ai, que Deus me ajude.
Respostas de 5
Varão, lhe digo uma coisa: assim como vc, muitos fazem ou fizeram o mesmo com os convites de Deus. Mas usarei as palavras do nosso irmão Paulo. Que “todas as coisas cooperam juntamente para o bem daqueles q amam à Deus…” Pude me vêr em sua experiência e ví qntas vezes fiz o msm. Mas saiba q o texto abordado pelo irmão, revelou-se em uma resposta de Deus q há tempos tenho procurado a cerca de um determinado assunto,- talvez, ele até tivesse falado antes mas, infelismente, não tive tempo para ouvi-lo- mas o fato é, q foi de grande valia é o seu testemunho e me edificou. Graça e paz a tds os leitores e aosautores tb é claro.
Fabiana. Acari-RJ
Fui muito edificado através desse texto e de um outro “Distração o mal do século.” Obrigado a toda Equipe de Impacto pela perseverança que tem tido de oferecer a nós leitores ao longo destes anos assuntos tão relevantes e de edificação para nossa época.
No amor de Cristo. O.L.J
Muito edificou a minha vida este texto, falou muito ao meu coração “Distração, o mal do século”. Quero agradecer a Equipe Impacto por esse tamanho aprendizado, com assuntos tão edificantes em Cristo Jesus.
Esse artigo foi como uma injeção de ânimo e uma palavra de correção para mim. Pois, quanto tempo eu posso estar perdendo com coisas infrutíferas ao invés de estar com o meu Pai, não me refiro há coisas pecaminosas e sim àquilo que nós é lícito fazer. Tempo de serviço à Deus não é tempo de intimidade com ele. Isso foi um aprendizado e esse testemunho foi a cereja do bolo. Agradeço ao autor por compartilhar suas palavras e entendimento conosco.
O que realmente me incomoda ao ler este artigo é ter que admitir que, o fato de buscarmos a presença de Deus, meditarmos em Sua palavra, esforçarmo-nos para refletir o brilho do Espirito Santo, entre outras atitudes que inflam o nosso ego, somos limitados e devemos reconhecer que as mesmas não são suficientes para garantir nossa imunidade conta as distrações que o mundo constantemente nos oferece.