19 de junho de 2025

Ler é sagrado!

Deus Trabalha com o Quebrantado

C.H. Mackintosh (1820–1896)

Não existe campo de estudo mais frutífero do que o que se abre diante de nós quando examinamos a história de como Deus lidou com os imperfeitos seres humanos. É repleta de instruções e grande aprendizagem a serem aplicadas na nossa experiência. Um grande objetivo de Deus em tratar com as pessoas é produzir verdadeiro quebrantamento e humildade – para nos livrar de toda falsa justificação, nos esvaziar de toda autoconfiança e nos ensinar a depender inteiramente de Cristo.

Todos precisam passar pelo que pode ser chamado de processo de despojamento e esvaziamento. Para alguns, esse processo precede o novo nascimento; para outros, ocorre depois. Muitos chegam a Cristo depois que a alma é duramente arada e após dolorosas disciplinas de coração e consciência – disciplinas que se estendem por anos, muitas vezes durante toda a vida. Outros, ao contrário, precisam de relativamente pouca disciplina de alma. Estes assimilam rapidamente as boas novas do perdão de pecados por meio da morte expiatória de Cristo e imediatamente encontram a felicidade. Mas o despojamento e esvaziamento vem depois e, em muitos casos, fazem a alma vacilar nos fundamentos de sua fé e chegam muito perto de duvidar de sua conversão.

Isso é muito doloroso, mas muito necessário. O fato é que, cedo ou tarde, o “eu” precisa ser examinado e julgado. Se isso não ocorrer por meio da comunhão com Deus, acabará sendo necessário passar por experiências amargas em fracassos e quedas. “Que nenhum mortal se glorie na presença de Deus” (1 Co 1.29); e devemos aprender que somos totalmente impotentes em todos os aspectos, a fim de podermos experimentar a doçura e o conforto da verdade: que Cristo se torna para nós da parte de Deus sabedoria, justiça, santificação e redenção. Deus só pode usar vasos quebrados. Lembremo-nos disso.

Esta é uma verdade solene e necessária: “Porque assim diz o Alto e o Sublime, que habita na eternidade e cujo nome é santo: Habito num lugar alto e santo, e também com o contrito e humilde de espírito, para vivificar o espírito dos humildes e o coração dos contritos”. Mais adiante ele diz: “Assim diz o SENHOR: O céu é o meu trono, e a terra é o estrado dos meus pés. Que casa edificaríeis para mim? Qual é o lugar do meu descanso? A minha mão fez todas essas coisas, e assim todas elas vieram a existir, diz o SENHOR. Mas darei atenção a este: ao humilde e contrito de espírito, que treme diante da minha palavra” (Is 57.15; 66.1-2)

A necessidade de quebrantamento

Essas palavras são apropriadas a todos nós. Uma grande carência nestes dias é o quebrantamento de espírito. Noventa por cento de nossos problemas e dificuldades originam-se exatamente pela falta dessa qualidade. É maravilhoso ver como tudo flui e funciona bem – na família, na congregação, nas coisas práticas do cotidiano, quando o “eu” é subjugado e levado à cruz. Tantas coisas que certamente seriam obstáculos impossíveis para o nosso coração nem chegam a nos incomodar quando estamos num verdadeiro estado de humilde contrição. Somos capazes de suportar repreensão e insulto, não ligamos para o desprezo ou injúria, ignoramos nossos caprichos, preferências e preconceitos; cedemos a outros quando princípios importantes não estão envolvidos, estamos prontos para toda boa obra, demonstramos grande cordialidade em nosso trato e uma flexibilidade em nossas tendências de julgar e criticar os outros.

Tudo isso adorna a doutrina de nosso Deus e Salvador e atrai as pessoas à verdade. Infelizmente, em geral o contrário acontece conosco. Exibimos um temperamento severo, inflexível; reivindicamos nossos direitos; resguardamos nossos interesses; corremos atrás daquilo que traz lucro para nós mesmos; sustentamos nossas ideias. Tudo isso prova, claramente, que o “eu” não está sendo corrigido nem julgado na presença de Deus.

Mas reiteramos – e com ênfase: Deus só pode usar o quebrantado. Ele nos ama demais para nos deixar endurecidos e indomáveis. Por isso ele achou por bem nos conduzir por toda sorte de disciplina: a fim de nos levar a um estado em que poderá nos usar para sua glória. A vontade precisa ser quebrantada; a autoconfiança, autocomplacência e presunção devem ser cortadas pela raiz. Deus usa os cenários e as circunstâncias pelas quais teremos de passar, e as pessoas com as quais convivemos no dia a dia, para disciplinar o coração e moldar nossa vontade. Além disso, ele tratará diretamente conosco a fim de produzir grandes resultados práticos.

A glória divina resulta de rigorosa peneiração

Tudo isso aparece com grande clareza no livro de Jó, e acrescenta charme e um maravilhoso atrativo a suas páginas. Fica bastante evidente que Jó precisava de um rigoroso processo de peneiração. Caso contrário, tenha certeza de que nosso gracioso e amoroso Deus não teria permitido que ele passasse por aquilo.  Não foi à toa que Deus permitiu que Satanás afligisse seu querido servo. Podemos afirmar, com grande convicção, que nada além de estrita necessidade levaria o Senhor a adotar essa linha de ação.

Deus amava Jó com um amor perfeito; mas seu amor era sábio e fiel – um amor capaz de levar tudo em consideração e, olhando abaixo da superfície, enxergar as raízes morais no coração de seu servo – raízes que Jó nunca vira e, portanto, nunca corrigira. Que privilégio lidar com um Deus assim! Estar nas mãos daquele que fará de tudo para subjugar o que for contrário a si mesmo e para revelar, em nós, sua bendita imagem!

Mas, amado leitor, não há algo profundamente interessante no fato de que Deus pode usar até mesmo Satanás como instrumento na disciplina de seu povo? Além do patriarca Jó, é possível verificar isso no caso do apóstolo Pedro; ele precisou ser purificado, e Satanás já estava acostumado com essa tarefa. “Simão, Simão, Satanás vos pediu para peneirá-los como trigo” (Lc 22.31). Nesse caso, também houve uma rigorosa necessidade. Havia uma profunda raiz no coração de Pedro que precisava ser alcançada – a raiz da autoconfiança, e seu fiel Senhor sabia que era imprescindível que ele passasse por um processo muito severo e doloroso para que a raiz ficasse exposta e corrigida.

Satanás teve permissão, portanto, para agir em sua vida, para que ele nunca mais voltasse a confiar em seu próprio coração, mas que andasse com moderação em todos os seus dias. Deus está determinado a usar vasos quebrados, seja um patriarca ou um apóstolo. Todos devemos amadurecer e ser moldados a fim de que a glória divina resplandeça com esplendor cada vez maior.

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