Por: Henri Nouwen
As partes mais honrosas no corpo não são a cabeça ou as mãos, que controlam e conduzem. As partes mais importantes são as menos apresentáveis. Esse é o mistério da Igreja. Como povo chamado a sair da opressão para a liberdade, devemos reconhecer que são os mais fracos entre nós — o ancião, as criancinhas, os deficientes, os mentalmente incapazes, o faminto e o doente — os que formam o centro real. Paulo diz: “e os que consideramos menos dignos de honra, são os que mais honramos” (1 Co 12.23).
A igreja como o povo de Deus só poderá, de fato, encarnar o Cristo vivo no meio de nós quando o pobre permanecer a parte mais valiosa. Cuidar do pobre é, portanto, muito mais que caridade cristã. É a essência de ser o corpo de Cristo.
Centrar-nos nos Pobres
Como toda organização humana, a igreja corre constante perigo de corrupção. Tão logo o poder e as riquezas cheguem a ela, a manipulação, a exploração, o mau uso da influência e a corrupção aberta se acercam.
Como prevenir a corrupção na igreja? A resposta é clara: centrando-nos nos pobres. Os pobres fazem com que a igreja seja fiel à sua vocação. Quando deixa de ser uma igreja para os pobres, a igreja perde sua identidade espiritual. É tomada por discórdias, ciúmes, jogos de poder e mesquinhez. Paulo diz: “Mas Deus compôs o corpo dando mais honra ao que dela é desprovido, a fim de que não haja divisão no corpo, mas os membros tenham cuidado comum uns pelos outros” (1 Co 12.24,25). Essa é a verdadeira visão. Os pobres são dados à igreja de forma que ela, como o corpo de Cristo, possa ser e permanecer um lugar de preocupação mútua, amor e paz.
Quem São os Pobres?
Os pobres são o centro da igreja. Mas quem são eles? Em princípio, poderíamos pensar em pessoas que não são como nós: pessoas que moram em favelas, que recebem sopa para pobres, que dormem nas ruas, que vivem em prisões, hospitais de doentes mentais e lares de idosos. Mas os pobres podem estar mais perto. Podem estar em nossas próprias famílias, igrejas, ou locais de trabalho. Mais perto ainda, os pobres podem ser nós mesmos, quando nos sentimos mal-amados, rejeitados, ignorados ou vítimas de abuso.
É justamente quando vemos e experimentamos a pobreza — seja longe, perto, seja em nossos próprios corações — que precisamos nos tornar a igreja; ou seja, dar as mãos como irmãos e irmãs, confessar nossas próprias fraquezas e necessidades, perdoar uns aos outros, curar as feridas uns dos outros e nos reunir em torno da mesa de Jesus para a partilha do pão. Assim, como os pobres, nós reconhecemos Jesus, que se fez pobre para nós.
Tornar-nos a Igreja dos Pobres
Quando afirmamos nossa própria pobreza e a unimos à pobreza de nossos irmãos e irmãs, tornamo-nos a igreja dos pobres. A dor e a alegria devem ser compartilhadas. Como um só corpo, vivenciamos profundamente tanto as agonias quanto as alegrias uns dos outros. Como Paulo disse: “Se um membro sofre, todos os membros participam do seu sofrimento; se um membro é glorificado, todos os membros participam da sua alegria” (1 Co 12.26).
Muitas vezes, talvez preferíssemos não ser parte do corpo, pois essa participação nos faz sentir a dor do outro muito intensamente. Ao amar os outros em profundidade, sentimos sua dor profundamente. Entretanto, a alegria está escondida na dor. Quando compartilhamos a dor, também compartilhamos a alegria.
Ministério de Cura e Reconciliação
Como a igreja testemunha Cristo no mundo? Antes de mais nada, dando visibilidade ao amor de Jesus pelos pobres e fracos. Num mundo com fome de cura, perdão, reconciliação e, acima de tudo, amor incondicional, a igreja deve atenuar essa fome por meio de seu ministério. Onde quer que alimentemos o faminto, vistamos o nu, visitemos o solitário, escutemos os que são rejeitados, e tragamos unidade e paz aos que estão divididos, proclamamos o Cristo vivo, falando sobre ele ou não.
Em tudo o que fazemos e onde quer que formos, é importante permanecer em Nome de Jesus, que nos enviou. Fora de seu Nome, nosso ministério perderá sua energia divina.
Extraído do livro “Pão Para o Caminho” de Henri Nouwen, Edições Loyola.
Para pedir este livro, ligue: (19) 3462.9893.