É Possível Alegrar-se nas Piores Circunstâncias?

J. Stuart Holden (1870-1934)

Ainda que a figueira não floresça, nem haja fruto nas videiras; ainda que o produto da oliveira falhe, e os campos não produzam mantimento; ainda que o rebanho seja exterminado do estábulo e não haja gado nos currais; mesmo assim, eu me alegrarei no SENHOR, exultarei no Deus da minha salvação. (Hc 3.17-18)

Pode haver algo mais irracional do que um chamado para se alegrar em tais condições? Parece irracional regozijar-se quando a situação parece a pior possível! Alegrar-se no Senhor quando chega a parecer que ele deixou de se importar com o povo?

Entretanto o próprio profeta sofria tanto quando os outros. Sua situação não era privilegiada, não andava banqueteando enquanto o povo passava fome. Sua fé estava sendo duramente testada: tudo o que em fé poderia fazer era perguntar a Deus quanto tempo mais ele permitiria que as coisas continuassem daquela forma.

Em busca de uma base para a fé

Veja, não era natural o profeta se alegrar ao passar por uma situação turbulenta – assim como não o é para nós hoje. Inicialmente, ele fez exatamente o contrário – discutiu com Deus. Ele se ressentia do fato de que, dentre todos os povos inimigos, justamente os caldeus, cujas crueldades eram notórias, seriam o instrumento escolhido por Deus para disciplinar seu povo.

A cura parecia tão absurdamente pior do que a doença que ele protestou com Deus. Ele não pensava que estivesse fazendo algo inapropriado. Na verdade, ele temeu a Deus como nunca, diante da tremenda demonstração de seu poder, mas sentiu que havia deixado de compreender o Senhor. Ele sentiu que precisava de uma resposta para sua pergunta, algo que estabelecesse uma sólida base de vida. Ele desejava servir a Deus e representá-lo. Se conseguisse, isso teria uma valor inestimável para ele e para a nação – mas diante daquela situação, será que seria capaz?

Essa profecia, portanto, é um registro de seu clamor. Ele literalmente se recusou a desistir da sua busca. Não havia nada de impessoal em sua oração, como tantas vezes há na nossa. A oração só tem significado para Deus quando ela significa tudo para a pessoa que a oferece. A oração só atinge as alturas quando vem das profundezas.

A oração só é eficaz quando é feita de coração para coração. É a linha reta que representa a menor distância entre dois pontos morais. A oração que ergueu Habacuque e, posteriormente, a nação, não foi uma declamação fria de palavras: partiu de uma atitude intencional e propositiva diante de Deus.

Habacuque colocou-se em sua torre de vigia e viu coisas aterrorizantes que já apareciam no horizonte e logo seriam vistas por todos. Diante disso, fitou o olhar mais adiante, para o poder de Deus que estava mais elevado, porém ofuscado pelas circunstâncias apavorantes. Em sua intensa angústia mental, ele diz com efeito: “Senhor, a menos que tu te reveles e expliques essa desconcertante confusão que caiu sobre nós, ninguém conseguirá manter a fé em ti”. Algo acontece quando uma pessoa ora assim.

Deus falou com ele; e depois das trevas veio a luz. O Senhor disse que lidaria com os caldeus depois que tivessem cumprido o seu propósito em Israel. Ele disse que o objetivo em tudo isso era a manifestação de sua própria glória. Ele garantiu a Habacuque que não deixara de se importar com seu povo.

Assim, Habacuque não apenas se tranquilizou, mas voltou a se sentir motivado e, diante do povo, declarou sua fé. Se ele não tivesse enfrentado os fatos, os fatos o teriam destruído. Ele encontrou Deus no âmago daquela situação e, depois disso, nada conseguiria assustá-lo.

As circunstâncias não apenas a matéria prima a partir da qual Deus molda o caráter, força e virtude. Nunca houve fé tão poderosa como a que aquele homem declarou. Depois de esgotar todas as metáforas para expressar o desastre que poderia acontecer a um povo, ele diz: “Mesmo assim, eu me alegrarei no Senhor diante de tudo isso”.

Parece tão irracional! Podemos entender o louvor de um homem que tenha sido generosamente abençoado por Deus, mas devemos prestar todo nosso respeito ao homem que não se queixa diante de circunstâncias como as de Habacuque. Para contextualizar o que se passava na época, vamos traduzir a situação para os dias de hoje. Em vez de rebanho e gado, use lucro; em vez de figueiras e oliveiras, pense em saldo credor; em vez da terminologia usada para pecuária, use expressões usadas no mundo dos negócios; para estábulos e currais, saldos bancários e títulos de ações; para a invasão dos caldeus, o caos e a crise mundial de hoje; depois de feita essa aplicação, veja onde você se encontra! “Ainda que o saldo bancário esteja devedor e as ações tenham caído, ainda que todo o lucro se torne prejuízo, ainda que eu acabe na extrema pobreza, mesmo assim, em me alegrarei no SENHOR!”

Você vai dizer que isso é impossível! Claro que sem ajuda sobrenatural, ele não teria conseguido, e tampouco nós. Habacuque aprendeu que, na vida, não podemos ser solistas. A vida é um dueto. Se for um solo, significa que haverá um trágico colapso quando se buscar alcançar as notas agudas ou a melodia das notas graves. Dueto significa que há harmonia – quando a vida humana está ligada ao propósito e poder divinos.

A experiência de Habacuque mostra que, se você estiver com Deus, o aparente prejuízo não significará perda para você; haverá força para suportar e prosseguir mesmo quando a situação parecer a pior possível.

Por isso, peço que você, à sua maneira, renove diretamente com Deus sua fé e seu conhecimento pessoal dele.