Por: Paul Billheimer
“Eles, pois, o venceram por causa do sangue do Cordeiro e por causa da palavra do testemunho que deram, e, mesmo em face da morte, não amaram a própria vida” (Ap 12.11).
Toda a humanidade está assediada por um exército de personalidades malignas chamadas demônios, que são responsáveis por grande parte dos desvios de conduta, complexidades, pressões espirituais, tensões e formas exacerbadas do mal que caracterizam nossa atual ordem social. A condição caída do homem e o pecado do coração humano não explicam, sozinhos, toda essa ruptura da ordem original planejada por Deus. Qualquer estratégia espiritual que ignora a presença e a atividade dessas forças ocultas será incapaz de oferecer uma solução adequada para os problemas que afligem a humanidade.
O método divino para vencer as forças de Satanás está claramente delineado no texto citado acima, do livro de Apocalipse. Todo o capítulo 12 descreve uma guerra no céu em que Satanás e os seus anjos são expulsos para a terra, ocasião em que passam a atacar os santos com ainda mais furor porque sabem que lhes resta pouco tempo. Os santos, porém, alcançam a vitória usando “o sangue do Cordeiro e a palavra do testemunho”. O “sangue do Cordeiro” é uma referência direta ao Calvário e à vitória ganha na cruz sobre o arquiinimigo de Deus e do homem.
Quem Entregou o Título a Satanás?
O homem foi criado originalmente para exercer autoridade (veja Gn 1.26 e Sl 8.6-8). Deus fez o homem à sua imagem e entregou a criação e o domínio da Terra em suas mãos. Porém, o homem e a mulher pecaram e quebraram sua aliança com Deus, afetando muito mais do que o relacionamento e a intimidade que tinham com Deus. Ao passarem por cima da ordem de Deus e aceitarem as propostas da serpente, estavam transferindo sua obediência para Satanás – entregando a ele numa bandeja o direito que Deus lhes dera de dominar sobre a Terra. Foi assim que Satanás tornou-se, legalmente, o “príncipe deste mundo” (Jo 16.11), “o príncipe da potestade do ar” (Ef 2.2) e o “deus deste século” (2 Co 4.4).
Surge logo a pergunta: Por que Deus não passou por cima do homem e tomou de volta, à força, o domínio da Terra para que não caísse nas mãos de Satanás? A resposta é que isso envolveria um princípio legal, um princípio da justiça divina. Deus cumpre seu lado do acordo mesmo quando a outra parte é infiel. Ele não pode ser injusto ou incoerente, seja com quem for.
Como foi o homem que transferiu o “título” do domínio da Terra para Satanás, a única forma de recuperá-lo legalmente para o homem seria através do próprio homem, o regente original da Terra. Mas onde se acharia um homem que pudesse recuperar o direito perdido? Pois quando quis ser independente, caindo na armadilha da serpente, o homem também tornou-se escravo do inimigo (Rm 6.16), incapaz de libertar a si mesmo.
Quem Poderia Ganhar o Título de Volta?
Seria preciso encontrar um homem sobre quem Satanás não tivesse nenhum direito ou controle, a fim de que pudesse restaurar a criação para sua posição original de lealdade e sujeição a Deus. Somente esse homem poderia anular o direito legal de Satanás à Terra.
É por isso que o Evangelho dá tanta importância ao fato de que Jesus Cristo veio como Filho de Deus (totalmente divino) e Filho do homem (totalmente humano). Por ser totalmente homem, porém totalmente sem pecado (Hb 4.15), ele pôde nos salvar totalmente (Hb 7.25); Satanás tentou de tudo, mas não conseguiu parte ou direito algum em sua vida (Jo 14.30).
O príncipe deste mundo, sabendo muito bem o que estava em jogo, usou todas as suas armas e todas as suas táticas contra Jesus, antes mesmo de ele nascer. O destino do mundo e da humanidade dependia do resultado dessa batalha. No longo conflito, desde Belém até o Calvário, na mais terrível batalha a ser disputada até então, o “filho da alva” caído (Is 14.12), o mais perfeito dos seres criados (Ez 28.12) reuniu toda a sua sutileza e poder para quebrar a lealdade deste segundo homem (um segundo começo da raça humana – 1 Co 15.47) para com seu Pai celestial.
Incessantemente, durante os anos em Nazaré, na tentação do deserto, durante seu ministério, no jardim do Getsêmani e diante da cruz, o objetivo de Satanás era induzir, seduzir, compelir Jesus a rebelar-se contra a vontade do Pai, pois conquistaria assim a obediência dele para si mesmo, exatamente como fizera com o primeiro homem.
A morte de Jesus, depois de sua vida vitoriosa, sem jamais ceder à tentação do inimigo em um detalhe mínimo sequer, não só frustrou a tentativa de Satanás de obter direito sobre o segundo homem, mas também cancelou todas as suas reivindicações sobre a Terra e a raça humana. Até então, Satanás havia usado o seu poder da morte sobre Adão e todos os seus descendentes por direito, em conseqüência do veredicto de Deus (o pecado gera a sentença de morte – Gn 2.17; Ez 18.4). Agora, porém, no seu afã de levar Jesus a negar sua relação de lealdade total ao Pai, Satanás o colocou na cruz e, com isso, matou uma pessoa inocente, sobre quem ele não tinha direito.
A lei de Deus é que quem mata uma pessoa inocente torna-se condenado à morte (Gn 9.6). Satanás matou uma pessoa inocente e com isso destruiu a si mesmo. É por isso que as Escrituras afirmam que Jesus destruiu aquele que tem o poder da morte (Satanás) através de sua própria morte (Hb 2.14; veja também Cl 2.15). Na tentação, Satanás se vangloriou a Jesus: “Dar-te-ei toda esta autoridade e a glória destes reinos, porque ela me foi entregue, e a dou a quem eu quiser” (Lc 4.6). Depois da cruz, porém, Jesus disse: “Toda a autoridade me foi dada no céu e na terra” (Mt 28.18). Satanás perdeu seu direito sobre a Terra; todas as suas reivindicações foram anuladas. Um homem passou na prova e retomou o direito original que Deus lhe dera de sujeitar toda a Terra ao seu domínio.
Onde Está Essa Vitória?
Se isso é verdade, por que Satanás continua a dominar este mundo, como se nada houvesse mudado? Por que, aparentemente, quase tudo está sob o seu controle? Por que não vemos mais evidências da vitória definitiva que Jesus obteve na cruz?
A resposta é que, legalmente, Satanás foi totalmente derrotado no Calvário. Entretanto, em qualquer transação legal, como, por exemplo, na aprovação de uma lei ou na sentença de um juiz, é necessário que haja um órgão com poderes para executar ou fazer cumprir a lei. Do contrário, a lei torna-se uma letra morta. Se o juiz expedir uma ordem de prisão, alguém precisa encontrar o réu e trazê-lo em algemas para a cadeia. Senão, a ordem, ainda que tenha partido da autoridade máxima, fica sem valor.
Jesus não deixou a sua obra incompleta quando venceu Satanás. Não faltou nenhuma área ou direito para ser conquistado. Entretanto, a autoridade e a responsabilidade para fazer valer a vitória da cruz sobre Satanás e seus exércitos foram delegadas à igreja, quando Jesus deu as chaves do reino a Pedro (Mt 16.18.19) e aos discípulos (Mt 18.18-20; Lc 10.17,19). Antes de subir aos céus, em Mateus 28.18, ele afirmou que recebera toda autoridade “nos céus e na terra” e a entregou, implicitamente, aos discípulos ao comissioná-los no grande “Ide” (veja também Jo 20.21).
Portanto, se Satanás está agindo sem restrições, isso não significa que a vitória de Cristo na cruz foi inválida. Apenas significa que a agência designada para executar sua vitória está falhando. A tática do inimigo tem sido enganar e iludir o povo de Deus a respeito da verdadeira posição de autoridade que lhe foi dada em Cristo.
Satanás tem conseguido fazer uma lavagem cerebral para convencer a igreja de que ele tem praticamente o mesmo nível de poder que Deus tem, quando na verdade ele não tem nem poder nem direito legal. Ele sabe que tão logo a igreja reconheça plenamente a extensão da derrota que Jesus lhe impôs na cruz e comece a utilizar a autoridade que foi delegada a ela, suas chances serão absolutamente anuladas. É por isso que ele luta, com todos os meios possíveis, para manter o povo de Deus na ignorância, a fim de impedi-lo de conhecer e utilizar as chaves que estão à sua disposição.
“Eis que vos dou poder para pisar serpentes e escorpiões, e toda a força do inimigo…” (Lc 10.19). “… iluminados os olhos do vosso coração, para saberdes… a suprema grandeza do seu poder… o qual exerceu ele em Cristo… fazendo-o sentar… acima de todo principado, e potestade, e poder, e domínio, e de todo nome que se possa referir não só no presente século, mas também no vindouro. E pôs todas as coisas debaixo dos seus pés e, para ser o cabeça sobre todas as coisas, o deu à igreja…” (Ef 1.18-23).
Extraído e adaptado do livro “Behold I Give Unto You Power” (Eis que vos dou poder), de Paul Billheimer (1899-1984). As mensagens que serviram de base para este livro em inglês foram dadas na emissora de rádio “Trinity Broadcasting Network” em 1952.
Respostas de 2
Que palavra abençoada esta sobre a autoridade da Igreja do Senhor Jesus Cristo! Realmente muitos não tem exercido a autoridade que os cabe como filhos de Deus e acabam sendo envergonhados por aquele a quem deviam sujeitar e dominar pelo poder do Nome de Jesus. Deus os abençoe em Nome do Senhor Jesus Cristo.
Mensagem maravilhosa,edificante e de muito conhecimento.Gloria a Deus