D. M. Panton (1870-1955)
“Lançando sobre ele toda a vossa ansiedade, porque ele tem cuidado de vós” (1 Pe 5.7).
Nós precisamos refletir por um momento acerca daquilo que devemos lançar sobre Deus. Há um cuidado, uma devoção prudente ao dever, que Deus colocou sob nossa responsabilidade. Por exemplo, Paulo diz: “Procurem aplicar-se às boas obras …” (Tt 3.8). Spurgeon o expressou assim: “Existe o cuidado de amá-lo e servi-lo melhor; o cuidado de entender a sua palavra; o cuidado de pregá-la; o cuidado de experimentar sua companhia; o cuidado de andar com Deus”.
Mas a palavra “cuidado” usada no texto de 1 Pedro tem um significado totalmente diferente no grego. Ela significa preocupação apreensiva, uma mente distraída e perturbada. Uma das versões em inglês traduz a palavra “ansiedade” como um cuidado que cresceu e formou um câncer.
Uma versão francesa diz: “descarregue seu cuidado sobre Deus”. Imagine um carrinho de carvão sendo descarregado. O homem remove um pequeno pino de ferro, e o carro está equilibrado nos seus eixos de tal forma que, com uma leve pressão na parte traseira, ele se inclina e a carga inteira desliza para o chão. É exatamente assim que precisamos descarregar nossas mais pavorosas ansiedades sobre Deus.
Devemos lançar nada menos do que toda nossa preocupação sobre Deus – não apenas algumas ansiedades ou somente as maiores, mas todas elas. Muitas de nossas ansiedades são pessoais. Algumas são ligadas a outras pessoas. Uma classe muito importante de cuidados diz respeito ao nosso futuro espiritual. Pode ser em razão de uma saúde destruída, circunstâncias financeiras desfavoráveis, ansiedade nos negócios, o futuro dos nossos filhos em um mundo cada vez mais sombrio, nossos rapazes que estão distantes na linha de frente da batalha, nossa posição diante de perseguição no presente ou da perspectiva de perseguição iminente.
Não devemos lançar fora as nossas preocupações, como o mundo faz, afogando-as na devassidão e no pecado, mas devemos lançá-las diante de Deus, num imenso ato de fé gloriosa.
Alguém precisa carregar essas preocupações. Se eu tentar carregá-las sozinho, serei esmagado e morto, ao passo que, se Deus já tirou a nossa maior carga, o peso do pecado – que foi colocado sobre Cristo na cruz – poderá existir alguma outra carga que ele não consegue retirar das nossas costas?
Dr. F. B. Meyer descreveu essa verdade de maneira linda: “Ele pode fender rochas, abrir o mar, destrancar os tesouros do ar e retirar o que desejar das reservas da terra. Se ele ordenar, as aves trarão carne e os peixes, moedas. Ele levanta as ilhas como se fossem poeira; portanto, como é fácil para ele tomar suas cargas por maiores que sejam”.
Então agora vem a tremenda ordem. Sua força extraordinária se manifesta se simplesmente usarmos outra palavra: “Descarregando toda sua ansiedade sobre Deus”. O crente ansioso, convencido do poder infinito, da imensa sabedoria e do amor sem limites do seu Pai Celestial, decide deixar tudo aquilo que o preocupa e, portanto, tudo que o torna ansioso – nas mãos misericordiosas que estão moldando todo o seu destino. Devemos nos proibir de sentir ansiedade lançando nossa vida toda no amor de Deus.
“…Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize” (Jo 14.27).
Proteção de Deus
O apóstolo Paulo, em uma passagem bem paralela, nos diz exatamente como vamos lançar nossa ansiedade sobre Deus. “Não andeis ansiosos de coisa alguma; em tudo, porém, sejam conhecidas, diante de Deus, as vossas petições, pela oração e pela súplica, com ações de graças. E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará (protegerá, será uma fortaleza) o vosso coração e a vossa mente” – nos quais estão as nossas ansiedades – “em Cristo Jesus” (Fp 4.6-7).
A oração é o ato de dizer para Deus qual é a nossa preocupação e, então, a fé se levanta, despreocupada, e se afasta deixando toda ansiedade aos pés do Senhor. Foi assim que Ezequias levou a carta de ameaça de Senaqueribe e abriu-a diante de Deus no Templo e, depois, deixou o Templo em paz. Assim como um velho comentarista resume a palavra de Paulo: “Não andeis ansiosos por nada; esteja em constante oração por tudo e seja grato por qualquer bênção que receber”.
O apóstolo Paulo apresenta um argumento poderoso, e somente um, para nos convencer sobre o nosso prazeroso dever: “porque ele cuida”. Se Deus cuida de nós, é evidente que, com ele, nossas ansiedades estão nas melhores e mais seguras mãos, e infinitamente mais seguras do que se estivessem nas nossas. “Lançando sobre ele toda a vossa ansiedade, porque ele” – não está ansioso, porque Deus não pode ficar ansioso, mas – “tem cuidado de vós”; supervisiona e provê, em seu zelo amoroso.
Na crise da Reforma, Lutero dizia a Melanchthon: “Cantemos Salmos 46 e deixe que façam o seu pior! ‘Deus é o nosso refúgio e fortaleza, socorro bem presente nas tribulações. Portanto, não temeremos ainda que a terra se transtorne e os montes se abalem no seio dos mares’” (vv 1-2).
Nossa fé está senda provada no fogo; e, como o ourives, o cuidado de Deus é pelo ouro, não pelo fogo.
Deus cuida de você pessoalmente
Além disso, o argumento para nos estimular a colocar nossos fardos em Deus é intensamente pessoal. “Porque ele tem cuidado de vós.” Nosso Senhor usa o mesmo argumento: “Por isso, vos digo: não andeis ansiosos pela vossa vida, quanto ao que haveis de comer ou beber; nem pelo vosso corpo, quanto ao que haveis de vestir… porque vosso Pai celestial sabe que necessitais de todas elas” (Mt 6.25,32). Cristo disse isso tanto para você e para mim, quanto também a todos os santos de todos os tempos: porque Deus se importa comigo, ele tirará das minhas costas toda a minha ansiedade.
Veja nos versículos abaixo quão primorosamente o cuidado de Deus é revelado! “Conheço todas as aves dos montes, e são meus todos os animais que pululam no campo” (Sl 50.11). “Os leõezinhos rugem pela presa e buscam de Deus o sustento” (Sl 104.21). “Não se vendem dois pardais por um asse? E nenhum deles cairá em terra sem o consentimento de vosso Pai… Não temais, pois! Bem mais valeis vós do que muitos pardais” (Mt 10.29,31). “Confia os teus cuidados ao SENHOR, e ele te susterá; jamais permitirá que o justo seja abalado…” (Sl 55.22).
Uma resposta
Que palavra de conforto. Confirmar mais em Deus e menos em si mesmo, este é um dos exercícios diários que devemos praticar.
Obrigado.