Por Harold Walker
“Oh! Quão bom e quão suave é que os irmãos vivam em união! É como… o orvalho de Hermom, que desce sobre os montes de Sião; porque ali o Senhor ordenou a bênção, a vida para sempre” (Sl 133.1,3).
Recentemente, pude realizar um sonho de muitos anos: visitar Israel pela primeira vez! Pela graça do Senhor, passei perto de 40 dias lá, conhecendo o país inteiro, de norte a sul, e conversando com todo tipo de pessoa. Acredito que vou levar anos para digerir e interpretar tudo o que aprendi naqueles dias.
Uma das coisas que mais me impressionaram foi a importância da água na região. Com água, há vida – que se traduz em árvores, plantações viçosas, pássaros e cidades. Sem água, há somente deserto, aridez, esterilidade e morte. Penso que há muitas lições espirituais para aprendermos com essa parábola do mundo material. Acho que Deus tomou cuidado especial quando planejou a geologia e a geografia da Terra Santa para enfatizar as leis espirituais relacionadas à água. Aqui no Brasil, temos tanta água que não conseguimos entender muito bem o valor que ela tem. O Rio Jordão é menor, em volume de água, do que a maioria dos nossos córregos! Depois que voltei ao Brasil, demorei um pouco a me acostumar com tanto verde nas paisagens ao lado das estradas. Foi então que percebi o quanto a paisagem seca de Israel havia me afetado!
Um monte diferente
Permita-me, então, descrever resumidamente como funciona o suprimento de água em Israel. A maioria da água potável e de irrigação usada em todo o Israel e a Jordânia vem do Rio Jordão e do Mar da Galileia. Essa água, por sua vez, nasce aos pés do Monte Hermom. O Monte Hermom é o monte mais alto de Israel e fica no extremo norte do país. É composto quase por completo de pedra calcária, que é bastante porosa e permite a vazão da água que derrete das geleiras e da neve no cimo do morro até chegar aos pés do mesmo.
Essa característica é algo peculiar ao Monte Hermom, porque muitos outros montes em Israel são compostos de dois ou mais tipos de pedra. Normalmente, a pedra calcária só se encontra na parte de cima do monte, permitindo que se veja exatamente onde ela termina e começa um tipo de pedra menos porosa por causa da linha de vegetação mais verde e viçosa. A água que passa pela pedra calcária é obrigada a sair pelo lado da montanha precisamente no ponto onde começa a pedra menos permeável.
No caso do Monte Hermom, porém, a água não sai pelos lados da montanha, mas passa direto lá embaixo até sair nos pés dela. E sai tão gelada, limpa e transparente que dá gosto de ver. Só não dá para entrar nela a não ser que queira congelar-se! (Minha filha, Susana, entrou e sentiu isso “na pele”!) Israel possui vários parques nacionais na região aos pés do Monte Hermom. Estivemos em um deles, em Tel-Dã, e é um lugar lindíssimo, cheio de corredeiras, fontes e muito verde. É ali que começa a vida do país inteiro!
Essas fontes logo se ajuntam para formar o Rio Jordão, que entra no Lago Hulé e, depois, segue adiante em direção ao sul até chegar ao Mar da Galileia. Saindo de lá, continua correndo para o sul até sua desembocadura final no Mar Morto.
Por todo lugar onde você andar em Israel, se olhar ao redor, encontrará mangueiras pretas sobre o chão, a distâncias regulares umas das outras. É o famoso sistema israelense de irrigação por gotejamento, controlada por computador, que economiza a água ao máximo. A água vai gotejando perto das plantas na quantidade certa, levando junto os fertilizantes necessários. É planejado de tal forma que não chega nem a mais nem a menos do que a quantidade necessária para as plantas. Outra coisa que se vê por toda parte do país, ao lado das estradas, são pequenos cercados em volta das grandes tubulações, válvulas e torneiras usadas para controlar a distribuição da água em cada região.
Em virtude de tudo isso, hoje, muitas regiões desérticas já se transformaram em terras produtivas, permitindo que Israel, apesar do tamanho minúsculo e da aridez do clima, não tenha de importar alimentos, mas que seja, pelo contrário, um grande exportador de frutas de qualidade para várias partes do mundo. Outro fato interessante é que, por causa do reflorestamento em várias regiões do país, muitas aves, que até poucas décadas atrás não existiam no país, já voltaram e podem ser encontradas em abundância.
Extraindo lições espirituais
Várias aplicações importantes podem ser feitas com base nessa geografia da Terra Santa.
1. “Pois a terra na qual estais entrando para a possuirdes não é como a terra do Egito, de onde saístes, em que semeáveis a vossa semente, e a regáveis com o vosso pé, como a uma horta; mas a terra a que estais passando para a possuirdes é terra de montes e de vales; da chuva do céu bebe as águas; terra de que o Senhor teu Deus toma cuidado; os olhos do Senhor teu Deus estão sobre ela continuamente, desde o princípio até o fim do ano” (Dt 11.10-12). Moisés diz aqui que a Terra Prometida é diferente da terra do Egito, porque depende das chuvas e não da irrigação com águas do Rio Nilo. Isso ele apresenta como uma grande vantagem. Porém, há um detalhe importante: o povo passaria a depender diretamente da provisão e da chuva de Deus e não dos próprios esforços para tirar água do rio.
Conversando com alguns beduínos no deserto perto do Mar Morto, ficamos sabendo que, de acordo com suas tradições, passadas de pai para filho por muitas gerações, havia muito mais chuva e muito menos deserto antigamente na região. Por exemplo, contavam histórias sobre perder camelos no meio do capim alto, o que seria ridículo hoje, pois não há vegetação alguma por quilômetros a fio.
2. Moisés foi muito claro em mostrar o que aconteceria como bênção se o povo guardasse a lei: “O Senhor te abrirá o seu bom tesouro, o céu, para dar à tua terra a chuva no seu tempo…” (Dt 28.12). Ele também disse o que aconteceria como maldição caso não guardassem a aliança com o Senhor: “O céu que está sobre a tua cabeça será de bronze, e a terra que está debaixo de ti será de ferro. O Senhor dará por chuva à tua terra pó; do céu descerá sobre ti a poeira, até que sejas destruído” (Dt 28.23,24). A falta de chuva e a desertificação da terra são resultado do juízo de Deus!
3. É extremamente impactante comparar a água doce e maravilhosa do Mar da Galileia com a água venenosa do Mar Morto; ainda mais quando se pensa que têm a mesma origem (as fontes do Monte Hermom), e que a distância entre os dois lagos é tão pequena (em linha reta, apenas 107 km)! Por que há tanta diferença entre os dois? Simplesmente porque o Mar da Galileia tem entrada (o Rio Jordão) e saída (o mesmo Rio Jordão), e o Mar Morto só tem entrada (o Rio Jordão). (É impossível que haja saída, porque é o lugar mais baixo na face da Terra!) Como a água só sai do Mar Morto por evaporação, a cada ano que passa, a concentração de sais fica mais elevada. Hoje, há placas avisando os banhistas para não ingerirem a água nem permitirem que entre nos olhos para não terem de ser levados com urgência para um pronto-socorro! Que lição maravilhosa podemos aprender com isso! Não adianta só recebermos vida e bênçãos de Deus. Se não repassarmos continuamente essas dádivas para outros, nós nos tornaremos amargos e venenosos, mesmo que a qualidade das bênçãos que recebemos seja muito boa.
4. Apesar de as chuvas em todo o país serem vitais, não são muito abundantes mesmo em anos bons, razão pela qual é tão importante para as reservas do país que haja boa precipitação sobre o Monte Hermom. A vida e o bem-estar da região inteira (Israel, Jordânia e até a Síria) dependem disso. Não precisamos divagar procurando alguma lição espiritual misteriosa e profunda para interpretar esse fato, pois o Salmo 133, citado no início deste artigo, já explica o assunto claramente. Quando os irmãos vivem em união, ALI o Senhor ordena a bênção e a vida para sempre. A neve no cume do Hermom é a vida de união dos irmãos que gera vida para toda a nação.
Nosso desafio
Quantas vezes temos chorado diante do Senhor por causa da falta de unção, poder e autoridade na Igreja! Quantos de nós ficamos envergonhados por ver pessoas doentes física, psicológica ou espiritualmente não receberem a cura! Quando lemos os Evangelhos e vemos a autoridade e o poder que Jesus tinha e que deu aos Doze quando os enviou, ansiamos que isso aconteça novamente! O próprio Jesus, ao orar em João 17, diz que a arma poderosa que fará o mundo conhecer que o Pai o enviou é o fato de seus discípulos serem “um em nós” (v. 21), “perfeitos em unidade” (v. 23).
Que Deus nos ajude a abandonar o maldito conformismo com essa situação doentia em que a igreja atual se encontra! Que deixemos de defender interpretações convenientes que nos tranquilizam dizendo que as coisas têm de ser assim mesmo! Que um santo inconformismo nasça em nosso coração e se alastre por toda a igreja fazendo com que um gemido como trovão suba aos céus e mexa com o coração de Deus! Que o zelo pela honra de Deus e a tristeza pela situação deplorável de sua casa nos consumam!
À medida que isso começar a acontecer, veremos que o caminho ordenado por Deus para que sua unção e autoridade sejam restauradas em sua Igreja na Terra é a VIDA DOS IRMÃOS EM UNIÃO. Não estamos falando de uma unidade política, calculada, planejada, articulada por homens. Todas as falsas bases de unidade precisam ser desfeitas – institucionais, doutrinárias, litúrgicas, ecumênicas, de antipatias ou simpatias naturais. Os muros visíveis e invisíveis entre nós, que foram derrubados na cruz do Calvário, mas ainda teimam em permanecer entre nós, precisam ser desmascarados e desmantelados em nossa mente e coração.
A vida dos irmãos em união a que nos referimos nada mais é do que a expressão genuína da própria vida de Deus. Deus deu a Cristo toda autoridade nos céus e na terra, e nós estamos EM CRISTO! Tudo aquilo de que o mundo precisa e de que Deus necessita para cumprir seu propósito eterno já foi dado a Cristo e, por conseguinte, a seu Corpo: a Igreja. À medida que descobrirmos a riqueza do tesouro que Deus escondeu nos nossos irmãos (“as riquezas da glória da sua herança nos santos” – Ef 1.18) e começarmos a usufruir dela na prática, por meio de relacionamentos interpessoais significativos, a autoridade e unção perdidas voltarão a aparecer! O orvalho sobre o Hermom voltará a descer e a gerar as fontes geladas e cristalinas que levarão vida para toda a Terra!
Uma resposta
Irmão, achei maravilhoso o texto. Estava a procura, pois queria saber mais sobre o Monte Hermom. Muito obrigado. Deus te abençoe em Cristo Jesus!
Donizetti