Por Ezequiel Netto
No início dos anos 70, o jovem Cláudio Faria, recomendado pelo padre Eduardo Dougherty, um dos precursores da renovação carismática no Brasil, procurou o casal Offini e Elza Franco, ela católica e ele presbiteriano, para iniciarem estudos bíblicos em Barueri, grande São Paulo. Em pouco tempo, outros jovens de origem católica foram se agregando ao grupo de estudos, que crescia ao redor da mesa dos Francos.
A partir desse pequeno grupo, uma verdadeira revolução espiritual começa a atingir a vida desses poucos jovens. O comportamento deles ia mudando radicalmente. Os rapazes usavam cabelos cortados (em vez do estilo rock’n roll da época), não mais participavam das rodas de piadas imorais, tinham um comportamento bem acima da média da juventude na época. Dedicavam-se à leitura bíblica, desenvolviam uma vida intensa de oração e jejum. Nas missas, era comum a atitude de adoração, mãos levantadas e choro na presença de Deus. O jovem Pedro Arruda, de cuja boca se ouviam inúmeros palavrões, agora usava seus lábios para bendizer a Deus. Passou até mesmo a se antecipar nas tarefas domésticas e atendia ao pedido dos pais sem nenhuma reclamação. Como já era de se esperar, essas novas atitudes foram impactantes para seus familiares.
Os dons do Espírito fluíam com muito poder e graça. Todos eram batizados no Espírito Santo, e eram comuns as profecias e experiências de cura interior. Muitas pessoas foram libertas do poder demoníaco. O amor ao próximo também era uma marca na vida desses jovens.
Como o movimento carismático passou a ser bastante perseguido na igreja católica, esse pessoal também foi bastante atingido. A sra. Elza, que durante anos atuou com muito amor em sua paróquia em Barueri, passou a ser tratada com desprezo na cidade. Os jovens tiveram que escolher entre o ministério que exerciam na igreja e continuar com aquela loucura de buscar a Deus intensamente. E, mesmo destituídos de todos os cargos e impedidos de usar as dependências da igreja católica para as reuniões, continuaram a assistir às missas, em atitude de submissão ao padre Danilo e Dom Paulo Evaristo Arns. Mas isso só trouxe bons resultados para os jovens: passaram a se reunir dentro de carros, na casa de novos amigos evangélicos, armavam barracas na beira da estrada, usavam propriedades rurais. Uma característica peculiar desse rebanho tem sido a manifestação profética abundante quando se reúnem, o que pode ser percebido pelas inúmeras profecias citadas ao longo do livro. E Jesus sempre confirmando sua presença no meio deles com sinais e maravilhas (Mc 16.20).
A Igreja Presbiteriana Renovada de Osasco, tendo o sr. Franco como presbítero e um dos fundadores, apoiava bastante o grupo. Mas quando percebeu que os jovens atendidos pelo casal Franco não se tornariam presbiterianos, aumentando o rol de membros desta igreja, o sr. Franco começou a sofrer pressões por parte da igreja, o que culminou com o seu afastamento daquela que ajudou a edificar.
Mesmo com tantas perseguições, a família espiritual da sra. Elza e do sr. Franco não parava de crescer. Eles têm “filhos” em muitas cidades paulistas e, também, em outros estados do Brasil. Entre as qualidades em comum está o fato de se reunirem em casas, aspecto bastante destacado no livro, que ainda apresenta muitas razões para não transferirem sua vida de igreja para os templos.
Mas como podemos classificar esse povo, já que teve origens tanto católica quanto evangélica? Uns acham que são católicos. Outros já acham que são evangélicos. Alguns, pejorativamente, o criticam-nos, chamando-os de seita. Na realidade, como os integrantes gostam de se chamar, são apenas um Grupo. Um grupo de “cristãos reunidos pelo precioso sangue do Cordeiro, pessoas que estão buscando a santificação e lutando por apresentar Cristo ao mundo através de um comportamento que glorifique o nome do Pai. São chamados para uma atitude sacerdotal de ministério radical ao Senhor, baseados na santificação apaixonada pela vida em serviço ao Pai das Luzes, em todos os ambientes onde a vida acontece, sejam eles sacros ou seculares”. Como se isso fosse pouco…
A escrita é poética e o autor faz um relato bastante apaixonado da vida de seus pais espirituais e dos demais irmãos do Grupo. É leitura obrigatória para aqueles que apreciam a história da igreja, servindo também de bússola que mostra características, comportamentos e atitudes diante de um genuíno mover de Deus.
Uma resposta
Sensacional. Deus abençoe o irmão Ezequiel pela sua didática