Por: Keith Daniel
Editado de uma mensagem dada na Conferência “Clamor de Coração por Avivamento em Lancaster, Pensilvânia, EUA, em maio de 1998. Keith Daniel é um evangelista com Africa Evangelistic Band na África do Sul.
Texto: Mateus 5, 6 e 7.
Se alguém me perguntasse o que o Senhor Jesus diria para a igreja no mundo ocidental hoje, eu diria sem hesitação estas palavras: “Vós sois o sal da terra, mas…” e aqui creio que Ele choraria… “mas se o sal se tornar insípido, com que se há de salgar? Para nada mais serve senão para ser lançado fora e pisado pelos homens” (Mt 5.13).
Será possível que a igreja de Jesus Cristo pudesse chegar ao ponto de Cristo dizer: “Minha igreja para nada serve, senão para ser lançada fora e pisada pelos homens”? Um dos maiores teólogos na história da igreja disse que a interpretação mais correta deste versículo seria assim: “Vós sois o sal da terra, mas se o sal perder seu sabor” – se vocês perderem sua eficácia, sua realidade vital, seu impacto – “o que então há de acontecer com o mundo?” Vocês são a proteção do mundo, igreja de Jesus Cristo, que tornam o mundo possível de ser habitado. E no entanto, vocês mesmos estão chegando ao ponto de serem expelidos pelo mundo, e sua religião será considerada sem valor porque estão perdendo sua realidade vital.
A Igreja de Cristo no Ocidente e no mundo inteiro está numa crise, por não ter mais eficácia em impedir o avanço da corrupção. Se fôssemos o que deveríamos ser diante de Deus, os pecadores não se manifestariam tão descaradamente; derreteriam-se com corações condenados antes de ao menos cochichar, muito menos bradar, as coisas que hoje clamam a plenos pulmões. Se estivéssemos certos na nossa realidade com Deus, se fôssemos eficazes como Deus gostaria que fôssemos, o pecado não poderia avançar.
Não culpo os políticos, embora chore sobre eles. Não culpo Hollywood, apesar de angustiar-me por haver um lugar tão usado por Satanás para conduzir tantos ao inferno. De fato, culpo a igreja de Jesus Cristo. Talvez isto lhe seja um choque, mas realmente culpo a igreja.
Passos para o Avivamento
No Sermão da Montanha, Jesus Cristo nos mostra os passos que levam ao avivamento – a uma realidade vital com Deus, onde seremos tão eficazes que o mundo será afetado e as pessoas darão as costas para o pecado. “Bem- aventurados…” Ele disse. Esta alegria e paz que Deus dá são incomparáveis; mas só vêm quando tomamos determinados passos.
O primeiro passo é: “Bem-aventurados os pobres de espírito” (Mateus 5.3). Isto significa quebrantamento. Como é que os pobres de espírito, os que choram, e os mansos podem ser bem-aventurados? É porque Deus diz: “Para esta pessoa eu olho”. Os olhos de Deus passam por cima dos milhares que andam e pulam e cantam louvores a Deus, mas não sentem os anseios nem o clamor do coração de Deus. Deus vê milhões de pessoas que adoram, não em verdade, mas para serem vistas pelos homens. Ele olha para elas com profundo desalento.
Deus olha mesmo é para os quebrantados de espírito, e para os contritos de coração, aqueles que como Jesus estão quebrantados e choram. Deus precisa quebrantar-nos até que fiquemos despojados de orgulho, sem confiança em nós mesmos. O primeiro passo, então, que podemos tomar para o avivamento é nos tornarmos quebrantados como indivíduos e como igreja ou corpo coletivo. Então choraremos, lamentaremos, e teremos verdadeira contrição.
Mas não é muito bem-aventurado permanecer aí. Precisamos tomar o próximo passo. “Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos.” Ser “farto” significa ser satisfeito. Se você encontrar um homem no deserto que tem fome e sede, e der-lhe um milhão de dólares, esse homem não ficará satisfeito. Somente será satisfeito se lhe der algo para matar sua sede. Nada lhe satisfará até que Deus o fizer justo. Se você tiver fome e sede, então será feita uma pessoa justa. Você receberá a única coisa que pode matar esta sede, que tirará esta fome, e assim se satisfará.
Estamos falando de justiça transmitida por Deus, não justiça imputada por Ele. Existe uma grande diferença. O contexto aqui não se refere de modo algum à justiça imputada, aquela em que num instante de fé no sangue de Cristo, Deus me declara justo. Não é nada que fiz de mim mesmo; apenas coloquei minha fé no sangue de Cristo. “Aquele que não trabalha, mas crê naquele que justifica o ímpio, a sua fé lhe é imputada como justiça” (Rm 4.5). Apenas um momento de fé, e tem-se a justiça imputada.
Aqui em Mateus 5, refere-se à justiça transmitida. A justiça de Deus é vista na minha vida quando Ele me faz justo. Será que temos fome e sede de sermos feitos justos por Deus?
Quando Deus nos faz justos de fato, sabe o que vai acontecer com a igreja? A primeira coisa que vejo é que teremos uma capacidade surpreendente de perdoar, para que possamos ser perdoados (Mt 5.7). Também como resultado da justiça de Deus, seremos puros de coração (verso 8).
Depois vejo que haverá paz entre o povo de Deus – seremos pacificadores (verso 9). Terei a capacidade de ir ao meu pior inimigo, abraçá-lo, cair de joelhos, e implorá-lo a ficar em paz, não importa o que isto me custa. Quando Deus nos vê usando de misericórdia e sendo pacificadores, a perseguição virá de repente. “Bem-aventurados os que sofrem perseguição por causa da justiça” (verso 10). Não seremos perseguidos por causa de justiça imputada, mas se recebermos a justiça transmitida (justiça de fato), seremos perseguidos. “Todos os que desejam viver piamente em Cristo Jesus padecerão perseguições”, Deus diz (2 Tm 3.12). “Todos!” Não podemos escapar porque somos o sal da terra.
Uma vida justa condena outros no lar e no trabalho. Os inimigos do cristão podem ser da sua própria casa quando ele/ela se levanta para viver uma vida justa e santa. Os outros vêem as boas obras e sentem-se incomodados.
Não importa que sejamos perseguidos, porque os perseguidores no fim também vão se converter, pois seus corações ficarão compungidos. Somos o sal da terra. Os outros que estão perto de nós não sentirão mais paz de continuar com seu pecado. Não terão mais prazer no pecado por causa do contato com a justiça de Deus em nós. No início perseguirão, mas depois se aproximarão. Verão as boas obras. Somos a luz do mundo. Estamos mostrando o caminho. Os homens vêem as boas obras e se aproximam para glorificar nosso Pai que está no céu.
Cumprindo a Lei
Como resultado da justiça de Deus implantada em nós, passamos a cumprir a lei em nossas vidas. Descobrimos que Jesus não veio para destruir a lei, mas para cumpri-la em nós. Muitas pessoas dizem que não estão mais debaixo da lei, mas da graça. Embora seja bíblico isto, freqüentemente quem argumenta assim acaba em desgraça!
Cristo disse: “Não vim para destruir a lei, mas para cumpri-la – em você!” É através da justiça de Deus implantada pela Sua graça e misericórdia em e através de mim. Não é por rígida disciplina, mas por Ele escrever Sua lei no meu coração, e assim pelo Espírito Santo, espontaneamente vivo dentro do Seu padrão. Não é porque memorizo os mandamentos: “Não farás… ” ou por ordenar a mim mesmo: “Não faça isso…” Não, eu não faço o que é proibido, não por causa do meu grande esforço, mas porque tenho a justiça de Deus implantada no meu interior. É a liberdade de Deus. A liberdade da lei em Cristo Jesus é uma liberdade impressionante, não um jugo da lei.
Em cada circunstância, aparece espontaneamente o fruto do Espírito. Não importa se a situação é difícil, a lei é cumprida mesmo se você não a memorizou. Foi escrita no seu coração por Deus. Caso ainda pense que Cristo veio revogar a lei, deixe-me dizer-lhe que o padrão no Novo Testamento é dez vezes mais alto que no Velho! E ainda assim é possível vivê-lo!
Cristo nos diz o seguinte: “Vocês conhecem o mandamento ‘Não matarás’; mas agora existe um novo padrão, que é possível praticar: não tenham mais ira. Quem odeia seu irmão é um assassino aos meus olhos. Não quero que tenham mais ira injustificada”. A ira que pode manifestar-se na nossa vida deve ser uma indignação justa, de tal forma que todos que nos olham possam ver sem sombra de dúvida que nada mais é que uma reação santa àquilo que ofende a Deus. Na hora da maior ofensa contra nós, teremos a reação de Cristo, causada somente por indignação justa. Isto condena outros corações, mas não nos condena.
A justiça implantada por Deus nos dá a capacidade de largar tudo que estamos fazendo, inclusive na Sua obra, no momento em que descobrimos que alguém tem algo contra nós, a fim de acertar a situação. Sentimos no nosso íntimo que não adianta distribuir folhetos, dar dízimos, ou fazer algo por Deus, pois Deus não o receberá se não sairmos imediatamente para nos acertarmos com aquela pessoa. Só depois é que poderemos voltar e oferecer algo a Deus.
Esta justiça implantada dá aos homens a capacidade de não olhar para mulheres com lascívia. A sua esposa é a única que você vê ou que deseja. Podemos ser santos pela graça de Deus. É uma justiça que produz pureza de vida e pensamento, e até mesmo pureza no que os olhos contemplam. Jamais nos separaríamos do nosso cônjuge para procurar outra pessoa melhor, ou para satisfazer a nós mesmos, como ainda ocorre muito dentro da própria igreja. Quando o avivamento vem, a igreja vive a mensagem, e tem o direito de anunciá-la, ao invés de escrever volumes e volumes para explicar por que não conseguimos atingir o padrão, ou de procurar psicólogos para tratar das nossas falhas. Não, Deus mesmo trata com nossas falhas, e sabe como nos mudar.
Quando encontramos a justiça de Deus, não precisamos jurar. O nosso “sim” já é suficiente. Quem olhar para nós e vir a nossa integridade, não exigirá mais do que isso.
Se formos realmente o sal da terra, a justiça de Deus nos capacitará a virar a outra face. Você já viu alguém fazer isso? Mexa com a teologia de alguém, e veja se ele vira a outra face! Muitas vezes, a forma como defendemos nossos pontos de vista é pecado para Deus.
Uma vez vi alguém ferir meu pai por causa da justiça de Deus na sua vida. Antes que alguém pudesse agir para defendê-lo, ou impedir aquele homem, meu pai fez algo que paralisou todos que estavam na sala. Sem levar em conta o que o homem lhe fazia na sua ira, meu pai simplesmente olhou para ele e disse com tanta sinceridade e realidade: “Eu te amo”. Ele virou a outra face. O homem se derreteu e se desmanchou no chão. Você sabe o que é experimentar o amor de Deus a ponto de abençoar seus inimigos e fazer o bem a eles?
Como alguém o pode continuar odiando se você só lhe faz bem? Que bem tem feito ao seu inimigo para ganhá-lo? Ore por ele. Volte a ele. Ame-o. Abençoe-o. Dê-lhe a outra face. Isto é possível como resultado da justiça de Deus transmitida à igreja de Jesus Cristo.
Encontramos aqui também a capacidade de praticar a justiça sem ser visto pelos homens. Sabemos o que é não deixar nossa mão esquerda saber o que faz nossa mão direita? Quantos de nós agimos como os hipócritas? Se nos certificamos que todos fiquem sabendo o que fizemos ou o que oferecemos, não teremos nenhum “obrigado” de Deus. Nossa oferta será recebida pelos homens, mas não por Deus. Nem sempre é possível fazer as coisas em sigilo absoluto, mas devemos fazer o máximo para que ninguém fique sabendo.
Quando oramos, não sejamos como os hipócritas. Eles adoram orar em pé, onde as pessoas possam ouvi-los e comentar: “0 que homem/mulher de oração! Que guerreiro espiritual!” Como Jesus nos ensinou a distinguir entre o hipócrita e o verdadeiro discípulo de Cristo? Foi assim: “Mas tu, quando orares, entra no teu aposento, e, fechando a tua porta, ora a teu Pai que está em secreto. E teu Pai, que vê secretamente…” (Mt 6.6).
O que nosso Pai vê em nós? Às vezes, não faltamos às reuniões que os homens esperam que estejamos, mas perdemos nosso encontro com Deus! Seria terrível para nós, se faltássemos ao culto de domingo, ou se perdêssemos a reunião de oração. As pessoas comentariam: “Ele é uma coluna na igreja. O que aconteceu?” Mas a reunião secreta com Deus pode ser omitida por qualquer motivo. Deus nos diz: “Você quer saber se é hipócrita ou não? Você falta à reunião que ninguém vê?”
Sou um guerreiro de oração quando estou sozinho de madrugada? Oro sozinho do mesmo modo que oro quando outros estão ouvindo? Não tenho direito de orar por almas perdidas numa reunião de oração se não o faço de joelhos sozinho, quando ninguém sabe, gemendo diante de Deus. Tenho o direito de ser um guerreiro de oração diante dos outros somente se agonizo em oração sozinho diante de Deus. De outra forma, sou hipócrita.
A justiça implantada por Deus elimina a hipocrisia. Então, nossas orações, ao invés de não ter resposta, farão o céu descer quando estamos orando juntos, pois somos genuínos, e não estamos exalando hipocrisia. Nossas orações serão uma fragrância de perfume subindo a Deus.
A justiça que vem de Deus nos impede de acumular tesouros na terra. Não ficaremos ansiosos quanto ao amanhã. A Bíblia diz: “Não ande preocupado”. Não acumule tesouros nesta terra. Não é aqui que você vai passar a eternidade. Ajunte tesouros no céu. Quantas Bíblias você poderia ter doado nos anos em que confessou a Jesus como Salvador, ao invés de gastar em seu conforto e prazer? Não invista toda sua vida no material. Não entre em trevas através do materialismo.
Você não pode ser materialista e servir a Deus, ó igreja. Não é que Deus deseje uma vida miserável para nós. Se Deus sabe que você é confiável, Ele pode até abençoá-lo materialmente. Deus não tem prazer em reter as coisas de nós, mas Ele quer saber se estamos usando nossos recursos para seu reino, e se estas coisas nos impedem de ser o que Ele planejou para nós.
Quando estivermos certos com Deus, ficaremos atônitos de ver como as coisas perdem seu valor ou atração para nós. Perdemos interesse nestas coisas. Temos fome e sede das coisas materiais para nos saciar, ou temos fome e sede de justiça? Temos fome e sede para nossa sensualidade ser satisfeita? Se tivermos, nunca ficaremos satisfeitos. Temos fome e sede da estima dos outros? Quando recebermos toda sua estima por causa do que damos e fazemos, e de todos os nossos sacrifícios, e todo o mundo souber e vir tudo isso, nós mesmos não experimentaremos satisfação alguma. Não teremos nenhuma realização de coração, nem aquela alegria profunda e indizível, cheia de glória. Nunca conheceremos o que Deus poderia nos dar. Seremos pobres e miseráveis espiritualmente, apesar de usar o nome de Cristo.
Nada poderá nos satisfazer enquanto não encontrarmos a justiça de Deus. “Buscai primeiro o seu reino e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas” (Mt 6.33). Isto é, o que você precisa para ser feliz, não o que você quer.
Como Receber
Como recebemos esta justiça implantada por Deus? Da mesma forma como recebemos a justiça imputada pela fé. Primeiro há uma sede, um anseio, um quebrantamento, uma busca – mas precisa chegar este momento em que pela fé dizemos: “Deus, não vou te largar enquanto não me abençoares, não importa o quanto me custar. Coloco a minha confiança em ti, Deus, assim como depositei minha confiança para que a tua justiça fosse imputada para mim pelo sangue de Jesus. Tenho fome, tenho sede, anseio, e pela fé rogo-te que o sangue passe e torne a passar pela minha vida, através dela por inteiro.”
Andrew Murray disse que o Espírito Santo habita na vida de todo aquele que é nascido de novo, mas ser cheio do Espírito Santo significa que Ele nos controla. Ele somente pode controlar a pessoa que se entregar de forma absoluta a Deus em todas as áreas, dizendo: “Não te largarei a menos que tomes conta por completo na minha vida. Faze a tua vontade, Deus, faze a tua vontade!”
Murray diz que quando Deus o enche, quando recebe a sua entrega incondicional, e passa a controlar todo o seu ser, então em todas as circunstâncias da sua vida, espontaneamente, indiferente das dificuldades que se lhe apresentem, aparecerá o fruto do Espírito, a vida de Cristo. Cristo será visto por seu inimigo enquanto o perseguir. Cristo aparecerá através da sua vida para quem olhar para você, mesmo que o estiver combatendo. E serão atraídos a Deus, porque não conseguem lutar contra este tipo de vida.
Se nosso coração não nos condena, então temos confiança para com Deus. Deus nos honrará porque tivemos fome e sede com quebrantamento, e pela mesma fé pela qual nos declarou justos legalmente diante de Deus, Ele também nos tornará justos de fato, enchendo-nos com o Espírito Santo. E o fruto do Espírito traz esta justiça implantada para minha vida, e passo a ser o sal da terra.
Se Deus está lhe dizendo: “Filho, quero sua vida no altar, quero você quebrantado, quero você para mim, e para mim somente”, então clame: “Preciso ser autêntico e real com Deus! Não sou o sal da terra, não estou trazendo vidas a Cristo! Minhas orações não estão sendo respondidas, e é porque preciso da justiça implantada por Deus na minha vida, escrita no meu coração! Não posso alcançar isto na minha própria força…”
Se você precisa fazer isso, clame por Deus. Confesse seus pecados; diga-lhe que está quebrantado. Confie nele para purificá-lo totalmente pelo seu sangue. Diga-lhe que está se entregando incondicionalmente, que não O largará enquanto não passar a controlar sua vida e fazer a sua vontade. Peça-lhe para enchê-lo com o Espírito Santo, a tomar conta da sua vida, não importa o quanto custar. Diga-lhe que não aceitará nada menos do que o padrão da sua Palavra, uma vida santificada na prática, vivida até diante dos seus piores inimigos. Fale com Deus que deseja ser um guerreiro de oração, e ter um coração que não o condena, porque Cristo vive de fato através da sua vida.