Por: Jim Cymbala
O artigo a seguir foi adaptado de uma mensagem dada na conferência “Heart-Cry for Revival” (Clamor do Coração por Avivamento) em abril de 2004 em Asheville, Carolina do Norte, EUA.
A segunda carta aos coríntios é uma epístola em que Paulo defende seu ministério apostólico. No capítulo 3, ele diz estas palavras: “Ele nos capacitou para sermos ministros de uma nova aliança, não da letra, mas do Espírito” (v.6). Podemos deduzir dessas palavras que é possível não sermos capacitados para ministrar a nova aliança ou, ainda, sermos ministros de uma aliança errada.
Na incrível passagem a seguir, Paulo diz que o que Deus escreveu numa pedra e entregou a Moisés representou um ministério que, apesar da glória que o acompanhou, era um ministério de morte. Aquilo que Deus proclamou à viva voz no Monte Sinai e que o povo jurou obedecer – Paulo chamou de ministério de morte. Agora, porém, o texto diz que fomos capacitados para sermos ministros de uma nova aliança, não da letra, mas do Espírito que vivifica.
Como exemplo dos frutos desse ministério da nova aliança, vamos pensar no que aconteceu na cidade de Tessalônica. Os estudiosos não sabem dizer, com certeza, quanto tempo Paulo e sua equipe permaneceram lá, mas provavelmente foi menos que seis meses. É simplesmente impressionante o que Deus fez ali sem as Escrituras do Novo Testamento, sem aparelhagem de som, sem templos e sem qualquer estrutura física.
Leia 1 Tessalonicenses 1.4-10 e tire suas próprias conclusões. “…nosso evangelho não chegou até vós tão-somente em palavra, mas sobretudo em poder, no Espírito Santo e em plena convicção… Com efeito, vos tornastes imitadores nossos e do Senhor, tendo recebido a palavra, posto que em meio de muita tribulação, com alegria do Espírito Santo, de sorte que vos tornastes o modelo para todos os crentes na Macedônia e na Acaia… Por toda parte se divulgou a vossa fé… a tal ponto de não termos necessidade de acrescentar coisa alguma…”
No Novo Testamento, quase não se encontra referência a avivamento. É preciso interpretar e analisar para ver como se encaixa a idéia de avivamento. Os termos avivar ou avivamento são mais encontrados no Velho Testamento. Por exemplo: “Aviva a tua obra, ó Senhor, no decorrer dos anos” (Hc 3.2).
Havia homens e mulheres no Velho Testamento que se encontravam com Deus e eram usados por ele para trazer reformas e uma volta à verdadeira adoração. Entretanto, logo tudo voltava a uma mera forma exterior (Is 29.13). A lei não tinha poder para transformar corações. Os profetas falavam de um dia em que Deus faria uma nova aliança com seu povo (Jr 31.31), uma aliança melhor (Hb 8.6). O Velho Testamento é caracterizado por Moisés e pela lei. O Novo Testamento é caracterizado por Jesus Cristo e pela mensagem da graça. Hoje, não vivemos mais na aliança do Velho Testamento.
Avivamento no Sentido do Novo Testamento
Dentro do conceito de reforma e avivamento no Velho Testamento, o melhor que conseguiam era fazer novos votos de obediência, os quais logo eram quebrados. No Novo Testamento, não estamos mais debaixo da dispensação da lei. Estamos na dispensação da graça. Vivemos na época do Espírito Santo. Vivemos no período profetizado pelo profeta Joel, mas que nunca foi experimentado no Velho Testamento. Vivemos sob o ministério de profetas, pastores, mestres e evangelistas, o que naquela época não conheciam. Eles tinham reis, o sacerdócio de Arão, o templo e sacrifícios diários de animais. Vivemos numa era muito superior. Vivemos na era de Jesus e do Espírito derramado.
No lugar de votos de obediência, o Novo Testamento enfatiza mais uma vida cheia do Espírito, produzindo fruto. Mais do que a exortação para obedecer, a ordem é: “Abra sua vida para o meu Espírito, para que ele produza fruto por seu intermédio”. Não somos nós, mas Cristo operando em nós pelo Espírito.
É por isso que Efésios 5.18 é tão importante. Traduzido literalmente, seria: “Continue enchendo-se constantemente do Espírito”. Por quê? Porque, como disse Samuel Chadwick certa vez, “o cristianismo é impossível sem o Espírito Santo”. Podemos dar a lei ao povo, podemos adverti-lo sobre o inferno, podemos discipular pessoas até a volta de Jesus, mas nada acontecerá a menos que haja a bênção e o sopro do Espírito Santo sobre o que estamos fazendo.
Somente o Espírito Santo pode nos tornar semelhantes a Jesus. Somente o Espírito Santo operando dentro de mim poderá mudar esta pessoa antipática dentro de mim chamada Jim Cymbala. Com você é o mesmo caso.
O Novo Testamento, portanto, enfatiza a necessidade de estar cheio do Espírito Santo. Isso significa que nem todos os cristãos estão cheios do Espírito. Do contrário, Paulo não daria essa ordem que é muito forte na língua grega: “Enchei-vos do Espírito”, ou “Vá enchendo-se continuamente do Espírito”.
Nossas igrejas estão cheias do Espírito Santo? Cada um de nós está continuamente buscando se encher do Espírito? Lembre-se do que Jesus disse: “Pelo fruto se conhece a árvore”. Isso vale para pessoas, mas também para igrejas e ministérios. Portanto, indiferentemente do que uma pessoa ou igreja afirma a respeito de si mesma, se não houver fruto em alguma medida, sabemos que o Espírito de Deus não está operando ali. Alguma coisa está errada.
Veja por exemplo este texto em Atos 13.52: “Os discípulos, porém, transbordavam de alegria e do Espírito Santo”. Pense nisso! O Espírito Santo é a terceira pessoa da divindade! Eles estavam cheios de Deus. Será que ao menos arranhamos o significado dessa frase? Cheios de Deus!
Imagine o que significa ser cheio do Espírito Santo – não tentando viver para Deus, mas cheio de Deus! Não é nós fazendo alguma coisa. O que, afinal, eu sozinho poderia fazer? Porém eu, cheio de Deus – aí é outra coisa!
Agora, no sentido coletivo, como isso funciona? De acordo com 2 Coríntios 3, deveria ser assim: “Vocês são cartas escritas por Cristo, cartas que ele mesmo enviou, não escritas com tinta. Vocês não foram programados como quem sofre lavagem cerebral. O Espírito Santo foi quem escreveu nos seus corações. Vocês são novas criaturas por meio do nosso ministério”.
Paulo não está se gabando. Está desafiando os crentes de Corinto e a nós até hoje. “Por meio do nosso ministério, Deus escreveu nos seus corações.” É isso que eu desejo. Não é o que você também almeja – que Deus escreva nos corações das pessoas, não com tinta, mas com o Espírito do Deus vivo? Deus nos capacitou para sermos ministros da nova aliança, não da letra, mas do Espírito que dá vida. Como em 1 Ts 1.5: “não… somente em palavra, mas sobretudo em poder, no Espírito Santo e em plena convicção”.
Catarina Booth, por volta de 1890, disse: “Palavras de fogo! É isso que estou procurando. Viajo por toda parte e ouço oratória, ouço pregações engenhosas. Contudo, estou procurando por algo que venha incendiar meu coração como aconteceu com os homens no caminho para Emaús” (Lc 24.32).
Isso aconteceu em Tessalônica. Os judeus eram contra os apóstolos e a nova igreja, e as autoridades romanas em geral também o eram. Mesmo assim, Paulo fundou uma igreja em poucos meses porque o evangelho veio não só em palavra, mas em poder, no Espírito Santo e com grande convicção. Não tinham nenhuma das vantagens modernas que temos hoje.
O Que Significa Ministério da Nova Aliança
O elemento que falta para o ministério da nova aliança é a vida cheia do Espírito. Paulo não se envergonhava do evangelho de Jesus Cristo (Rm 1.16). Ele pregava a lei para trazer convicção, mas logo acrescentava o bálsamo do evangelho, pois a lei sozinha mata. Pode trazer convicção, mas deixa as pessoas prostradas em miséria e fraqueza. Seu método era ser guiado pelo Espírito Santo.
É melhor buscar a Deus sobre o que pregar no domingo do que seguir um plano mecânico de pregação. Só Deus sabe do que a congregação precisa. Só Deus sabe que plano o diabo está armando para derrotar sua igreja. Deus pode lhe dar uma mensagem antes do inimigo desferir o seu golpe. Então, faça seu planejamento, mas seja guiado pelo Espírito.
Porém, além da mensagem do evangelho e da metodologia de ser guiado pelo Espírito, o elemento da eficácia de Paulo que nos falta hoje inclui a verdadeira motivação. Paulo disse à igreja em Tessalônica, uma igreja que tinha apenas alguns judeus no meio de uma maioria gentia: “…nos tornamos dóceis entre vós, qual ama que acaricia os próprios filhos” (1 Ts 2.7). A figura usada é de uma mãe tomando seu bebê e amamentando-o no peito. Em seguida, Paulo diz algo que tenho visto em pouquíssimos ministros em toda minha vida: era que ele e seus companheiros estavam determinados a amar tanto os tessalonicenses que estavam dispostos a dar-lhes não só o evangelho, mas a própria vida (1 Ts 2.8).
Paulo lembrou-lhes que trabalharam noite e dia entre eles, sem receber coisa alguma em troca; não que não tivessem direito de receber, mas por amor estavam dispostos a caminhar a segunda milha. Fico pensando em como deve ter sido ouvir as pregações de Paulo. Ele não só tinha verdade e não só estava sendo dirigido e ungido pelo Espírito Santo, mas era também profundamente tomado pelo amor ágape do Espírito de Deus, que o impelia com sua paixão. Era isso que ele sentia, não com relação às pessoas com quem foi criado, mas para com pessoas totalmente pagãs. O amor levou Jesus a ser amigo de pecadores. A maioria dos pastores nunca teria coragem de admitir que um pecador é seu amigo.
As pessoas precisam de amor. Paulo estava dizendo mais ou menos isso: “Eu cuidei de vocês com ternura. Eu queria tanto ir vê-los, mas Satanás me impediu. Mas no dia de Cristo, qual será minha alegria, minha coroa, meu galardão? Não são vocês? Estou enfrentando todo tipo de problema aqui em Corinto, mas agora que recebi boas notícias de vocês, posso viver, posso sentir alegria”. É exatamente como uma mãe falando com seus filhos.
Depois perguntamos por que não temos os resultados de Paulo. Estudamos sua mensagem, concordamos superficialmente com a necessidade de ser cheios do Espírito, mas ignoramos este cordão umbilical, este vínculo de amor com o povo que o ouvia, o qual somente Deus poderia dar. Isso só acontece quando o Espírito Santo nos faz ver as pessoas e sentir sobre elas da maneira que Deus vê e sente. Quando temos isso, pregamos e oramos com paixão. Quando você está apaixonado por alguém e sente desespero, você consegue tocar no seu coração.
Lembro-me de quando, anos atrás, minha filha mais velha, Chrissy, estava longe do Senhor. Minha esposa e eu estávamos com lágrimas jorrando dos olhos. Você acha que alguém precisava me exortar para orar por ela? Alguém precisou me dizer: “Jim, fale com ela!” Com lágrimas nos olhos, eu implorava: “Chrissy, não faça isso!” Paulo sentia isso com relação a todos. Oh, como tenho orado antes de ir para o púlpito agora. “Sim, Deus, preciso da tua unção; sim, eu preciso de ti para pregar a verdade, mas ó Deus, ajuda-me a sentir sobre as pessoas como tu sentes. Ajuda-me a ver as pessoas como tu as vês, porque do contrário virarei as costas diante do que vejo nelas!”
Que Tipo de Igreja Nós Somos?
Que absurdo pensar que podemos pregar o evangelho com sucesso, indiferentemente do tipo de doutrina que temos, ou se temos ou não o Espírito e o amor do evangelho! Talvez pensemos que é algo meramente mecânico – é só falar a Palavra e a Palavra faz efeito. Não! Existe um cordão umbilical. O resultado tem muito a ver com o mensageiro. Uma boa definição de pregação é “verdade transmitida através de personalidade”. Paulo não estava somente transmitindo a verdade; estava se comunicando com eles por meio de um coração cheio de misericórdia, compaixão, amor e lágrimas.
Quantos pastores você conhece que diriam: “Eu não só quero pregar para você; estou disposto a morrer por você, se for preciso”? Não descarte isso como emocionalismo – é a Bíblia. Ninguém precisou dizer para Jesus que era hora de chorar sobre Jerusalém. Ele chorou sobre a cidade que o rejeitara. “Ó Jerusalém, Jerusalém…” Isso não é algo que se ensina; só vem quando o Espírito Santo me governa nas áreas em que preciso ser governado. Mas não alcançaremos resultados simplesmente repetindo o evangelho como papagaios, sem o Espírito do evangelho.
Você não acha que essa é parte da razão por que as reuniões de oração são tão mortas? É hipocrisia falar com Deus sobre responder às orações quando não oramos. Para alguns, é simplesmente uma questão da nossa cultura de igreja falar sobre Deus responder às orações. Quantas igrejas que você conhece tiram uma noite importante da semana, com toda a liderança presente, para dizer: “Estamos aqui para clamar a Deus”? Há um tempo para ensinar, um tempo para adorar, um tempo para o coral cantar, um tempo para evangelizar. Mas se não orarmos, o que vai acontecer em todas essas atividades?
E como você vai levar as pessoas a orarem se não se importam com ninguém? Oração intercessória significa que você sente por outra pessoa. Já observei isto: é tão difícil levar as pessoas a orar pelos outros; no entanto, basta que a filha entre numa encrenca, basta que o filho tenha um problema sério, e logo você verá lágrimas em abundância. Por quê? Porque todos nós temos amor pelo filho e pela filha, pela mãe e pelo irmão. Sem amor, não dá para levar as pessoas à oração. Pode dizer-lhes que precisam orar, que é necessário adquirir as disciplinas espirituais – mas não vai adiantar nada.
Quero ir mais um passo adiante. O que dizer do escândalo das igrejas que ficam de portas fechadas, que não abrem suas portas agressivamente a todos? Quantos pastores ou ministros, quando estão orando no sábado à noite (como se espera!) em favor da mensagem que vão pregar no domingo e em favor do culto – quantos você acredita possam estar orando algo assim, com sinceridade do coração: “Querido Jesus, eu sei que tu morreste em favor de todas pessoas da minha cidade. Sei que sofreste, sangraste e morreste em favor de todo ser humano que estiver passando perto do nosso santuário na hora do culto. Então, Jesus, peço que amanhã no teu nome, pelo poder do Espírito, que o Senhor os faça entrar – sejam de qualquer raça, sejam sem-tetos ou pobres. Faze-os entrar. Nós os amaremos. Seremos a tua mão estendida a eles. Cuidaremos deles. Abençoá-los-emos. Choraremos por eles. Envia-os para nós, ó Deus, em nome de Jesus.”
Tenho conversado com pastores bem-conhecidos sobre isso, e eles me dizem: “Se eu colocar em prática o que você está dizendo, Jim, metade da minha igreja vai levantar-se e ir embora”. Que tipo de igreja você tem? As pessoas para as quais Jesus morreu entram e seu povo vai levantar-se e sair? Você pode dizer que lhes ensina a Bíblia, que são fiéis para vir aos cultos e que servem ao Corpo. Mas não amam os outros seres humanos pelos quais Cristo morreu? Isso é cristianismo?
Não, isso é um grande pecado! A pornografia derruba seus milhares. A falta de oração, falta de leitura da Bíblia, fanatismo, emocionalismo – sou contra tudo isso. Mas Deus é amor. Os anjos devem chorar por causa da nossa falta de amor. Eles sabem que Cristo morreu em favor de toda a humanidade, no entanto, as igrejas cristãs são menos integradas que o mundo. Na cidade de Nova Iorque, as pessoas usam cocaína, assistem a jogos no estádio, convivem em ambientes culturais – tudo com gente de outras raças.
Não vamos dizer: “É uma questão cultural”. Temos de entender que é falta de amor. Falamos sobre Deus vir para o nosso meio. Por que ele viria para o nosso meio? Por que ele viria se as pessoas pelas quais ele morreu não são bem-vindas? O Espírito Santo teria de negar sua própria natureza de amor.
“Não Tenho Tempo Para Você!”
Já fui repreendido muitas vezes pelo Senhor por causa disso que estou dizendo aqui. Não está sendo fácil aprender. Vou contar uma das ocasiões em que Deus me corrigiu. Era um domingo de páscoa, alguns anos atrás. Uma garota do coral, regido por minha esposa Carol, deu seu testemunho no intervalo dos cânticos. Ela tinha um testemunho realmente impressionante de como fora alcançada pelo Senhor num profundo lamaçal de pecado. Depois preguei o evangelho. Algumas pessoas vieram à frente tomar sua decisão. Naquela época, estávamos fazendo três cultos aos domingos, cada um com duração de duas horas.
No final daquele dia, eu estava tão cansado que simplesmente soltei minha gravata e fui sentar na borda da plataforma, com meus pés pendurados no ar. Os voluntários de oração estavam intercedendo pelas pessoas que haviam vindo para aceitar Jesus. Eu estava exausto até aos ossos. Naquele dia, as pessoas haviam formado filas do lado de fora para assistir ao culto. Centenas de pessoas tiveram de ir embora por falta de espaço.
De repente, olhei para o auditório e vi no corredor do meio um homem que aparentava ter uns cinqüenta anos, todo desgrenhado, extremamente sujo. Ele estava olhando para mim um tanto embaraçado, com uma expressão de quem queria falar comigo. Nós sempre recebemos pessoas sem-teto que entram para pedir dinheiro ou algum tipo de ajuda. Então pensei comigo mesmo (para vergonha minha): “Que jeito maravilhoso de terminar um domingo. Foi tão bom até aqui, tivemos um bom tempo de ministração, mas agora este sujeito provavelmente está aqui querendo dinheiro para encher a cara”.
Enquanto isso, ele foi se aproximando. Quando estava a menos de dois metros de distância, um mau cheiro tão forte me atingiu, como nunca havia sentido antes. Foi tão terrível que, quando ele estava mais perto, tive de inspirar olhando em outra direção, depois falar com ele, em seguida virar o rosto para inspirar novamente, porque não conseguia respirar olhando para ele.
Perguntei: “Como é seu nome?”
“Davi.”
“Quanto tempo está nas ruas?”
“Há seis anos.”
“Quantos anos tem?”
“Trinta e dois.” Parecia que tivesse cinqüenta – cabelos emaranhados, dentes da frente faltando, aspecto de beberrão, olhos vazios, levemente vidrados.
“Onde você dormiu essa noite, Davi?”
“Num caminhão abandonado.”
Sempre guardo no meu bolso alguns trocados. Comecei a enfiar a mão no bolso, pensando em pegar algum dinheiro. Nem vou chamar um obreiro, pensei. Estão todos ocupados orando com as pessoas. Geralmente não damos dinheiro para as pessoas. Levamo-las para comer alguma coisa. Mas agora… Tirei o dinheiro do bolso.
Davi colocou seu dedo na frente do meu nariz. Ele disse: “Não quero seu dinheiro. Quero este Jesus de quem aquela garota estava falando, de quem você falou. Porque não dá mais para mim, vou morrer nas ruas.”
Esqueci-me completamente de Davi e comecei a chorar por mim mesmo. Eu ia dar alguns dólares para alguém que Deus estava enviando para mim. Vê como é fácil? Eu podia até dar a desculpa de que estava cansado. Mas não existe desculpa. Eu não estava cheio do Espírito. Eu não estava vendo aquele homem como Deus o vê. Eu não estava sentindo o que Deus sente. Mas, a partir daí, como tudo isso mudou!
Davi estava ali parado, em pé diante de mim. Ele não sabia o que estava acontecendo. Eu estava suplicando a Deus: “Perdoa-me, Deus! Perdoa-me! Por favor, perdoa-me. Estou tão arrependido por te representar desta forma. Estou tão arrependido. Aqui estou com minha mensagem e meus pontos, e o Senhor manda alguém para mim e nem estou pronto para recebê-lo. Ó Deus!”
E, ali mesmo, Deus me batizou de novo com seu amor. Algo começou a acontecer comigo. De repente, comecei a chorar mais profundamente, e Davi começou a chorar porque podia sentir o que estava acontecendo em mim. Ele caiu contra meu peito enquanto ainda estava sentado ali. Caiu em cima da minha camisa branca e gravata, e eu coloquei meus braços em volta dele e ali choramos um em cima do outro. O perfume da pessoa de Cristo tornou-se um maravilhoso aroma.
Aqui está o que penso que o Senhor estava me dizendo naquele momento: “Se você e a Carol (minha esposa) não amam esse cheiro, não posso usá-los, porque foi por isso que os chamei a esse lugar onde estão. É para isso que estão aqui. Vocês estão aqui por causa desse cheiro. É lindo”.
Cristo mudou a vida de Davi. Com mais ou menos seis dias, foi desintoxicado no hospital. Tinha outra aparência. Ele começou a memorizar passagens incríveis das Escrituras. Arranjamos um lugar para ele morar. Demos um emprego para ele fazer manutenção na igreja e mandamos arrumar seus dentes.
Ele passou o dia de Ações de Graças, aquele ano, na minha casa. Ele também passou o Natal comigo. Quando estávamos trocando presentes, ele tirou um objeto pequeno e disse: “Isto é para você”. Era um lencinho branco. Era a única coisa que pôde comprar.
Um ano depois, pedi-lhe que desse seu testemunho. No instante em que pegou o microfone e começou a falar, pensei: “Este homem é um pregador”.
Na última páscoa, ajudei a ordenar Davi como pastor. Ele é pastor auxiliar de uma igreja em Nova Jersey. E eu estava tão próximo a lhe dizer aquele dia: “Aqui, tome isto; sou um pregador muito ocupado”. Podemos ficar tão cheios de nós mesmos.
Quem quer se unir a mim e dizer ao Senhor: “Eu preciso de um batismo daquele amor”? Deus nos deu esse exemplo. Ele é amor. Que Deus mude a maneira como pregamos e a maneira como oramos. Que ele mude nossas igrejas e nossas equipes. Que haja quebrantamento, ternura, amor, compaixão, misericórdia, paciência e longanimidade!
Jim Cymbala é pastor da igreja The Brooklyn Tabernacle em Brooklyn, cidade de Nova Iorque, EUA.