O Espírito – autor da oração
Octavius Winslow (1808 –1878)
Muitas qualidades cativantes e ofícios variados são atribuídos ao Espírito na Palavra; nenhuma de suas funções, entretanto, é mais doce ou apropriada ao filho de Deus do que seu papel como Intercessor em seu próprio interior. Toda verdadeira oração é gerada e formulada pelo Espírito. Ele é quem produz a oração dentro da alma. Podemos confirmar essa verdade facilmente nas Escrituras:
“Também o Espírito, semelhantemente, nos assiste em nossa fraqueza; porque não sabemos orar como convém, mas o mesmo Espírito intercede por nós sobremaneira, com gemidos inexprimíveis. E aquele que sonda os corações sabe qual é a mente do Espírito, porque segundo a vontade de Deus é que ele intercede pelos santos” (Rm 8.26,27).
“Com toda oração e súplica, orando em todo tempo no Espírito…” (Ef 6.18).
“Vós, porém, amados, edificando-vos na vossa fé santíssima, orando no Espírito Santo…” (Jd 20).
Em primeiro lugar, é o Espírito que leva o coração à consciência de suas falhas. A condição caída do coração – sua pobreza, ignorância e enfermidade – é tamanha que não conseguimos reconhecer nossa verdadeira fraqueza e necessidade enquanto não formos ensinados pelo Espírito Santo. Isso é verdade mesmo após a conversão. Um precioso filho de Deus pode cair na condição da igreja de Laodiceia, que foi advertida com estas palavras: “Pois dizes: Estou rico e abastado e não preciso de coisa alguma, e nem sabes que tu és infeliz, sim, miserável, pobre, cego e nu” (Ap 3.17).
O cristão pode não conhecer sua verdadeira condição, sua necessidade crítica. Pode estar em andamento um processo oculto de declínio interior; o enfraquecimento de uma graça; a investida lenta mas eficaz de um inimigo espiritual; a preservação de coisas proibidas à semelhança de Acã; a alimentação de amargura ou outra raiz nociva que contamine a santidade. O mundo entrou e ocupou o espaço perdido. Uma alegria ou ocupação carnal tomou conta da mente e insensibilizou os afetos e os pensamentos, sem que o coração tenha se apercebido do prejuízo que sofreu.
Foi assim que muitos perderam o senso de adoção, perdão e aceitação – e as graças de fé, amor e humildade foram enfraquecidas até que a descrição dada a Efraim pôde ser aplicada de maneira verídica a eles: “Efraim se mistura com os povos e é um pão que não foi virado. Estrangeiros lhe comem a força, e ele não o sabe” (Os 7.8,9).
Mas como ele descobrirá se alguém não lhe ensinar? E quem seria esse mestre, senão o próprio Espírito? Assim como aconteceu no início da conversão, da mesma forma, em cada estágio sucessivo da experiência do crente, é o Espírito que mostra as falhas diárias, a necessidade espiritual, a condição agravante de enfermidade interior, o poder crescente do pecado e o aprofundamento da pobreza.
Não despreze essa parte importante da obra do Espírito. Que graça imensurável ter aquele que nos conhece totalmente e que pode nos fazer conhecer a nós mesmos! Ter alguém tão próximo como ele – no próprio interior – para detectar de modo tão fiel e amoroso a graça em declínio, o pulso enfraquecido, a decadência espiritual, para despertar sensibilidade e tristeza segundo Deus, e para conduzir o coração a confessar – é, sem dúvida, possuir uma das bênçãos mais valiosas. Honre o bendito Espírito, louve-o por sua obra, exalte sua fidelidade e amor e trate-o como seu Amigo mais querido e carinhoso.
Ele desperta o espírito adormecido de oração. O cristão tem uma tendência perpétua de esfriar-se ou desanimar-se em relação à oração. É necessário ter uma provisão igualmente constante de graça vinda do Autor de oração para poder se manter em vigor ou para restaurar o espírito de oração quando estiver em declínio. “E sobre a casa de Davi e sobre os habitantes de Jerusalém derramarei o espírito da graça e de súplicas…” (Zc 12.10).
Ele ensina o crente a suplicar pelo sangue expiatório de Cristo. Ele coloca este grande argumento irrefutável na boca do crente; quando o pecado lhe parece uma montanha imensa, quando a incredulidade ameaça sufocar a esperança e quando uma profunda sensação de indignidade o leva a permanecer bem distante da presença de Deus, nesta hora o Espírito se aproxima e abre seus olhos para a preciosa e encorajadora verdade do sangue de Jesus. Num instante, a montanha é nivelada, a incredulidade derrotada e o coração, sem mais restrição ou barreira, se aproxima de Deus – ou melhor, vai correndo para o seio do Pai.
Que visão maravilhosa do amor do Espírito, como Autor de oração! Quantas vezes a culpa nos faz andar cabisbaixos, a alma coberta com a vergonhosa sensação de miséria e indignidade! Essa percepção de destituição impede o crente de buscar ajuda, assim como a penúria, os trapos imundos e a repugnância do mendigo o fazem se afastar da porta onde poderia receber alívio. É precisamente nesta hora que o bendito Espírito, com toda a sua graça e ternura, vem e revela Jesus ao coração como aquele que preenche tudo e que oferece pleno e livre acesso e intimidade com Deus.
Ele tira o foco do “eu” e o coloca no sangue de Jesus que clama mais alto por misericórdia do que todos os pecados juntos poderiam clamar por condenação. Ele também traz a justiça de Cristo para revestir e cobrir o coração a ponto de nos tornar apresentáveis na presença do Rei dos reis, não apenas para ele nos aceitar, mas para sentir prazer e deleite em nós. Ao contemplar-nos assim lavados e vestidos, Deus nos acalma em seu amor e se regozija sobre nós com cânticos.
Tampouco devemos nos esquecer do entendimento que existe entre o Pai e o Espírito. “E aquele que sonda os corações sabe qual é a mente do Espírito, porque segundo a vontade de Deus é que ele intercede pelos santos” (Rm 8.27).
Há perfeito acordo e entendimento entre o Pai e o Espírito que intercede. Primeiro, o Pai, aquele que sonda os corações, conhecendo a mente do Espírito, compreende o desejo e a intenção do Espírito atuando no interior dos santos. Ele compreende os “gemidos inexprimíveis”. Ele consegue interpretar os suspiros, sim, ele lê o significado mais profundo de todos os seus desejos.
Como é precioso, além da concepção humana, o trono da graça! Quando o coração tão cheio e sobrecarregado faz com que a boca se emudeça e a linguagem é pobre demais para expressar os pensamentos, o Deus que sonda o nosso interior e conhece a mente do Espírito nos diz: “Nunca, filho meu, você orou como agora; nunca sua voz foi tão doce, tão forte, tão persuasiva; nunca foi tão eloquente como nesta hora em que meu Espírito fez intercessão por você com gemidos que não podiam ser expressos!”.
Sim, ele conhece a mente do Espírito. O desejo secreto por Jesus, o anseio para ser semelhante a ele, a lamentação interior sobre o poder do pecado que habita em nós, os primeiros suspiros do espírito contrito e humilde – tudo isso é conhecido por Deus.
“E aquele que sonda os corações sabe qual é a mente do Espírito.” Que isso o anime, caro leitor, quando você sente que não consegue orar em virtude da fraqueza da carne ou da profundidade do seu sentimento. Se o Espírito está intercedendo em você, seu Pai celeste conhece a mente do Espírito, e nenhum gemido ou suspiro escapará à sua observação.
Por fim, lembremo-nos que uma das partes essenciais e mais importantes da obra do Espírito como autor de oração é revelar Jesus como o mediador da oração. Não existe outro acesso a Deus senão por Jesus. Se a oração não honrar a pessoa de Cristo, o seu sangue, a sua justiça e a sua intercessão, não podemos esperar resposta alguma. O grande incentivo para nos aproximar de Deus é Jesus que está à sua destra. Jesus é a porta. Se for por meio dele, aquele que é mais pobre, mais vil e mais desprezível pode chegar ao trono da graça e pedir o que quiser.
O glorioso Advogado está no trono para apresentar a petição e suplicar por uma resposta favorável na base de seus próprios méritos expiatórios e infinitos. Venha, então, você que é pobre, você que está desconsolado, você que está em provação e aflito, você que está ferido, você que está necessitado. Venha ao trono de misericórdia, pois Jesus deseja apresentar sua petição e insistir em sua causa.
Não peça nada em seu próprio nome, mas peça tudo no nome de Jesus. “Pedi e recebereis, para que a vossa alegria seja completa” (Jo 16.24). O Pai poderia rejeitar você; mas o Filho dele, jamais.
“Tendo, pois, irmãos, intrepidez para entrar no Santo dos Santos, pelo sangue de Jesus, pelo novo e vivo caminho que ele nos consagrou pelo véu, isto é, pela sua carne, e tendo grande sacerdote sobre a casa de Deus, aproximemo-nos…” (Hb 10.19-22).
Respostas de 2
Amém. Aprendendo sempre!
Como o Pai rejeita e o Filho não? Deus escolhe e Jesus busca. Não entendi.