21 de novembro de 2024

Ler é sagrado!

O Espírito Santo, Consolador

Octavius Winslow (1808 – 1878)

“Mas o Consolador, o Espírito Santo…” (Jo 14.26).

Há, no meio do povo de Deus, um lamentável esquecimento quanto ao caminho que Deus planejou para nossa jornada pelo mundo. Poucos se lembram que esse caminho é caracterizado por tribulação; longe de ser uma vereda fácil, suave e florida, ela costuma ser áspera, espinhosa e árdua.

Alguns cristãos estão esperando viver aqui na terra como se já estivessem no céu. Esquecem-se de que, ainda que haja uma dimensão de satisfação espiritual ao nosso alcance nesta vida, de natureza muito próxima à do sublime deleite que experimentaremos na vida glorificada, ainda não podemos viver plenamente nela. No presente, a Igreja ainda precisa passar pela fase de deserto, como peregrinos e forasteiros.

Com bondade, o Senhor nos advertiu: No mundo tereis tribulações” (Jo 16.33), e, também, o apóstolo: “Através de muitas tribulações, nos importa entrar no reino de Deus” (At 14.22). A aflição, em uma ou mais de suas muitas e variadas formas, faz parte da experiência de todo o povo do Senhor. Se ainda não a conhecemos, falta-nos a evidência da verdadeira filiação, porque o Pai “… corrige a quem ama e açoita a todo filho a quem recebe” (Hb 12.6).

Contudo, seja qual for a nossa aflição ou provação, o Espírito é o Consolador. E como ele consola o coração aflito?

Revelação do amor de Deus

O Espírito revela o amor do nosso Deus e Pai no meio da provação. Mostra ao discípulo que a tristeza de Deus, longe de ser resultado de ira, é fruto de amor e vem do coração de Deus para atrair-nos para mais perto de si mesmo. Ele está procurando descortinar-nos as profundezas de sua graça e ternura, pois ele “corrige a quem ama” (Hb 12.6). Quão imenso é o conforto que flui para um espírito ferido quando o amor – amor profundo, amor imutável, amor de aliança – é visto na mesma mão que nos feriu; quando se percebe que a aflição se origina da aliança, e que a aliança vem do coração de um Deus de aliança.

Revelação do propósito de Deus

O Espírito também consola revelando a finalidade da aflição que nos foi enviada. Ele convence o cristão de que a disciplina, embora dolorosa, é necessária; de que o mundo esteja, talvez, realizando incursões prejudiciais ao seu coração, ou de que o amor por coisas ou outras pessoas esteja, de alguma maneira, deixando Jesus de fora; de que alguma inclinação para o pecado esteja, talvez, crucificando Jesus de novo ou algum dever espiritual esteja em negligência.

O Consolador abre seus ouvidos para ouvir a voz daquele que ordenou o cajado na vida de cada uma de suas ovelhas. Ele discerne com precisão onde o Senhor feriu, por que fez soprar seu vento tempestuoso, por que permitiu rajadas violentas, por que infligiu tal sofrimento.

No processo, o Acã na vida do crente é descoberto, expulso e apedrejado. O coração, disciplinado, retorna de seus extravios e, ferido, sangrando e sofrendo, busca com mais empenho e paixão do que nunca seu Salvador que também já esteve ferido, sangrando e sofrendo.

Quem pode apreciar plenamente o consolo que nasce depois da aceitação da santa disciplina de aliança? A finalidade da provação enviada pode ter sido trazer à tona algum desvio ou frieza do coração, remover uma obstrução ao crescimento da graça ou tirar algum substituto que obscureceu a glória de Jesus e interrompeu suas visitas de amor ao coração. Quando o objetivo é alcançado, o coração exclamará: “Bendita disciplina que operou tamanho benefício; castigo gentil que corrigiu algo tão nocivo; doce remédio que gerou tanta saúde!”.

Revelação da compaixão de Cristo

Entretanto, é quando o Espírito desvenda a ternura e a compaixão de Jesus que seu consolo é mais efetivamente administrado ao coração provado, tentado e aflito. Ele testifica de Cristo de maneira especial quando revela a compaixão de sua humanidade.

Sem dúvida alguma, quando Jesus assumiu nossa natureza, um de seus maiores objetivos era obter maior afinidade com o estado de sofrimento do seu povo, para proporcionar-lhes consolo e apoio na sua dor. A grande finalidade da sua encarnação, com certeza, era cumprir a obediência aos preceitos da lei e pagar o preço de suas penalidades em nosso lugar. Porém, em conexão com esse alvo e como resultado dele, um canal foi aberto para liberar a efusão da ternura e da compaixão de que os santos de Deus tanto precisam e que agora estão à sua disposição.

Jesus é o irmão “que nasce na angústia” (Pv 17.17). “Por isso mesmo, convinha que, em todas as coisas, se tornasse semelhante aos irmãos, para ser misericordioso e fiel sumo sacerdote” (Hb 2.17). Porque não temos sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas; antes, foi ele tentado em todas as coisas, à nossa semelhança, mas sem pecado” (Hb 4.15).

Aqui está revelada a verdadeira e bendita fonte de consolação na hora e nas circunstâncias da dor. O povo de Deus é um povo provado – Jesus foi um Salvador provado. O povo de Deus é um povo aflito – Jesus bebeu até o fundo o amargo cálice de aflição. O povo de Deus é uma família sofredora – Jesus era um homem de dores e que sabe o que é padecer” (Is 53.3).

Ele se abaixou, colocando-se no mesmo nível e diante das mesmas circunstâncias que o seu povo enfrentava. Identificou-se completamente com eles. Tomou sobre si a humanidade autêntica, incluindo o sofrimento, e experimentou profundamente a dor e a angústia como homem. Com base nessa experiência, ele se tornou perfeitamente habilitado em todos os pontos para socorrer, sustentar e compadecer-se do seu povo aflito e sofrido, fosse qual fosse a causa de sua aflição e sofrimento.

É suficiente para nós saber que ele é osso dos nossos ossos e carne da nossa carne. É suficiente para nós saber que seu coração contém toda a ternura, a compaixão e a gentileza da nossa natureza, e que, também, está livre de toda e qualquer consequência da doença do pecado que possa enfraquecer, impedir ou embotar a sua sensibilidade. É suficiente para nós saber que a tristeza não era estranha ao seu coração aqui na Terra, que a aflição marcou profundamente a sua alma e que o sofrimento deixou cicatrizes em cada traço do seu semblante.

O que mais poderíamos exigir? O que mais poderíamos pedir? Nossa natureza? Ele a tomou. Nossas doenças? Ele as levou. Nossas tristezas? Ele as sentiu. Nossas cruzes? Ele as carregou. Nossos pecados? Ele os perdoou. Ele saiu à frente do seu povo sofredor, palmilhou o caminho e deixou as suas pegadas. Agora, ele não nos convida a andar em qualquer caminho, a suportar qualquer tristeza, a carregar qualquer fardo e a beber qualquer cálice que ele mesmo não tenha experimentado antes de nós.

É suficiente para Jesus que você seja um filho do sofrimento, que a tristeza seja o cálice amargo que está bebendo. Ele não perguntará nada além disso. Instantaneamente, uma corda começa a vibrar no coração dele em sintonia com aquela que está tocando no seu, quer seja uma música agradável, quer seja uma melancólica. Jamais nos esqueçamos: Jesus tem empatia tanto pelas alegrias quanto pelas tristezas e dores do seu povo. Ele se alegra com os que se alegram e chora com os que choram.

Mas, como é que Jesus faz isso?

Amizade com Jesus

Quando o crente sofre, a ternura de Jesus é provocada. Sua força sustentadora, sua graça santificadora e seu amor consolador são todos manifestos progressivamente na experiência do servo do Senhor enquanto passa pela fornalha. O Filho de Deus se coloca ao seu lado no meio das chamas. Jesus de Nazaré caminha junto com ele por cima das ondas. O coração de Cristo está com ele. Esse é o significado de empatia, de compaixão, de identificação, de comunhão. É isso que significa ser um com Cristo Jesus.

Portanto, querido leitor, qual é a sua tristeza? A mão da morte caiu sobre alguém? Um ente querido foi levado? Ele levou embora, com um golpe certeiro, o desejo dos seus olhos (Ez 24.16)? Foi seu pai, sua mãe, seu filho, seu amigo, alguém que representava toda a sua alegria terrena? Seu reservatório está quebrado? O vaso de barro está despedaçado? Secaram-se todos os seus riachos?

Jesus ainda é suficiente. Ele não se afastou de você e nunca, nunca se afastará. Entregue a ele o seu coração desolado, ferido e sangrando e apoie-se no coração dele, que também já esteve desolado, ferido e sangrando. Ele sabe exatamente como tratar um coração partido, como curar um espírito ferido e como confortar aqueles que choram.

Qual é a sua angústia? Está com falta de saúde? Tem perdido bens materiais? Os amigos se voltaram contra você? Está sendo provado por circunstâncias adversas? Está perdido, caminhando sem direção clara? As coisas estão se avolumando e escurecendo ao seu redor? Está sentindo a aproximação de períodos de provação ou angústia? Está andando na escuridão, sem nenhuma luz?

Simplesmente, vá para Jesus. Ele é a porta que sempre está aberta. É o amigo fiel, carinhoso e dedicado que sempre está por perto. É o irmão que nasceu para a sua adversidade. Sua graça e compaixão são mais do que suficientes para você. A vida que você foi chamado para viver é a vida de fé; a vida que depende dos sentidos naturais já não lhe serve mais. Agora, é preciso andar por fé e não por visão.

Este é, pois, o grande segredo de uma vida de fé: apoiar-se em Jesus diariamente, ir a ele em qualquer provação, colocar sobre ele todo e qualquer fardo, levar a enfermidade, a fraqueza e a cruz, quando aparecerem, simples e imediatamente para Jesus. Coloque Cristo diante de si como o exemplo a ser imitado, como a fonte onde pode se lavar, como o fundamento de sua construção, como o reservatório inesgotável de onde pode obter o que precisa, como o irmão e amigo, terno, amoroso e confiável, a quem você pode recorrer em todas as ocasiões e circunstâncias. Fazer isso diariamente é o que constitui uma vida de fé.

Ah, como desejamos ser capazes de dizer, como Paulo: “Estou crucificado com Cristo; logo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim; e esse viver que, agora, tenho na carne, vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e a si mesmo se entregou por mim” (Gl 2.20)!

Que vida santa e feliz! Que vida celestial, que não pertence a esta Terra! É a vida que Jesus mesmo viveu aqui, a vida que todos os patriarcas, profetas, apóstolos, mártires e homens justos viveram. É a vida que todo aquele que é nascido filho de Deus tem o chamamento e o privilégio de viver, enquanto for um forasteiro e peregrino na Terra.

Extraído de The Work of The Holy Spirit, Viewed Experimentally And Practically (A Obra do Espírito Santo, Vista de Maneira Experimental e Prática), por Octavius Winslow

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