22 de dezembro de 2024

Ler é sagrado!

O Grau Máximo de Amor

Charles H. Spurgeon

“Como o Pai me amou, também eu vos amei; permanecei no meu amor” (Jo 15.9).

Creiamos inquestionavelmente que Jesus nos ama. Mas não apenas isso, que ele nos ama com amor infinito.  Para confirmar tal convicção em meio a toda hesitação e levar nosso coração a contemplar a grandeza de seu afeto, ele faz um paralelo do seu amor ao mais extraordinário que existe. Ele não procura semelhanças entre os amores do mundo, mas no maior amor do universo, e diz: “Assim como o Pai me amou, também eu vos amei”.

Nosso Senhor quer que coloquemos seu amor por nós na mesma categoria do amor do Pai por ele! Devemos estar tão confiantes de um quanto do outro. Que certeza maravilhosa nos é transmitida por esse sinal! O Pai contempla o Filho com amor sem limites, com quem ele tem uma união de essência, já que são um só Deus. Tão certo como o amor que flui dessa íntima e profunda união, Jesus ama igualmente as pessoas que convidou para estar sempre com ele em união matrimonial. Pense nisso e deixe que a confiança nesse amor se torne ainda mais segura!

Ele nos escolheu por amor

Veja o curso e a prova do amor do nosso Redentor! Ele nos escolheu por amor. A razão da sua escolha foi amor. Lembra como ele descreve sua escolha em Deuteronômio?  “Porque tu és povo santo ao Senhor, teu Deus; o Senhor, teu Deus, te escolheu, para que lhe fosses o seu povo próprio, de todos os povos que há sobre a terra. Não vos teve o Senhor afeição, nem vos escolheu porque fôsseis mais numerosos do que qualquer povo, pois éreis o menor de todos os povos, mas porque o Senhor vos amava” (Dt 7.6-8).

Caro cristão, Jesus o amou antes da fundação do mundo, simplesmente porque ele o amou! Ele o amou para que pudesse manifestar esse amor por você. Ele o amou para que você pudesse se conformar à sua imagem e para que ele fosse o primogênito entre muitos irmãos. Seu desejo era que pudéssemos ter a sua natureza e caráter e desfrutar do amor de seu Pai, aproximando-nos cada vez mais dele em crescente comunhão e afeto! Vejam que o amor é a sua própria causa (motivação), desgastando-se e, com grande eficácia, realizando seus propósitos graciosos, cada um dos quais é tão cheio de amor quanto o amor que o projetou!

Ele se tornou homem

Tendo assim nos escolhido por amor, foi tão grande esse amor que nosso Senhor se tornou homem por amor a nós. “Pois ele, subsistindo em forma de Deus, não julgou como usurpação o ser igual a Deus” (Fp 2.6); ele se tornou homem para que pudesse realizar seus propósitos de amor para conosco. Está escrito: “Eis por que deixará o homem a seu pai e a sua mãe e se unirá à sua mulher, e se tornarão os dois uma só carne” (Ef 5.31).

Isso tem seu maior exemplo em Cristo, que deixou seu pai para se tornar uma só carne com sua Igreja. Ele assumiu nossa natureza para que pudesse realizar algo e sofrer por nós, o que, de outra forma, não aconteceria. Ao tomar sobre si a nossa natureza, ele estabeleceu uma união mais próxima e uma comunhão mais doce com sua amada Igreja, o que não poderia ter existido de outra forma. Se ele nunca tivesse se tornado o bebê de Belém e o homem de Nazaré, como poderia ter sido semelhante em todos os pontos aos seus irmãos?  Pense na infinita grandeza de amor que trouxe o Senhor da Glória do mais alto céu para se tornar o homem de dores, por amor a nós!

Ele morreu por nós

Tendo se tornado homem por nós, lembremos que Jesus morreu por causa do amor. “Ninguém tem maior amor do que este: de dar alguém a própria vida em favor dos seus amigos” (Jo 15.13). Essa entrega da vida no caso de nosso Senhor foi especialmente uma prova de amor, pois morreu voluntariamente. Não havia necessidade (por culpa ou pecado) para que ele morresse, como há no caso de todos nós.

Além disso, sua morte se deu em meio a dor, vergonha e abandono, o que a tornou peculiarmente amarga. A Cruz é para nós a mais alta prova do infinito amor do nosso Salvador por nós. Ele teve de morrer como um criminoso, entre dois ladrões, absolutamente sem amigos, objeto de ridicularização por todos a fim de levar nossos pecados em seu próprio corpo.

Tudo isso nos faz dizer: “Pois também Cristo morreu, uma única vez, pelos pecados, o justo pelos injustos, para conduzir-vos a Deus” (1 Pe 3.18). Fomos atraídos a ele pelo amor. Um texto bem conhecido em Jeremias diz assim: “De longe o Senhor lhe apareceu, dizendo: Com amor eterno eu te amei; por isso, com benignidade te atraí” (Jr 31.3).

Os frutos do seu amor

Faltar-me-ia tempo para abordar todos os frutos do amor de Cristo. Por amor ele lhe perdoou! Você já se esqueceu como ele apagou suas iniquidades por meio de sua mão de amor? Por amor, alimentou-o dia após dia com o melhor alimento espiritual. “Também, nele, estais aperfeiçoados” (Cl 2.10). Todas as suas necessidades foram supridas pelo seu amor: calçados para sua peregrinação, armadura para guerra, força para o trabalho, descanso para o cansaço, conforto para a tristeza. Nenhum bem nos é recusado por causa do seu amor! Você tem uma satisfação interior em Cristo que o mundo jamais poderia oferecer.

Além disso, ele o guiou em segurança até hoje na sua jornada pelo deserto. Em estradas escuras e tortuosas, ele esteve perto de você. Sua vara e seu cajado o confortaram. Você não se desviou, não porque não houvesse em você a tendência de desgarrar-se, mas porque o grande Pastor o manteve em seus caminhos. Quantas vezes ele o socorreu e livrou! Sua graça o ajudou em sua fraqueza, iluminou sua escuridão, acalmou seus medos, renovou sua esperança e, acima de tudo, o preservou do pecado! Certamente, a bondade e a misericórdia iluminaram todos os dias de nossas vidas!

Certamente, mais do que pais ou filhos, maridos ou esposas, ou mesmo o amigo mais fiel, Jesus ama aqueles que foram comprados por seu sangue! Ó minha alma, ele o ama! Seja sempre arrebatada com seu amor.

No entanto, não devo encerrar essa lista antes de lembrá-lo que você está agora, neste momento, em união com ele. Você foi fixado e cimentado nele como uma pedra é assentada sobre o alicerce. Você também foi ligado a ele por uma união viva, amorosa e duradoura, assim como uma noiva se une ao seu noivo. Hoje, nos propósitos de Deus, você se tornou um com seu Cabeça e líder da aliança. Deus tratou Jesus como se tivesse cometido o seu pecado, e agora trata você como se tivesse praticado a justiça dele! Nos propósitos de Deus, você está totalmente coberto pelo Senhor Jesus Cristo e entrelaçado com ele. Isso é amor! O futuro de Jesus será o seu futuro! Você estará com ele onde quer que ele esteja.

Ó amado filho de Deus, você que o ama está unido com ele em uma perfeita e indestrutível união! Quem “poderá separar-nos do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor” (Rm 8.39). Essa eterna unidade é a certeza tanto de graça como de glória para nós. Também estamos a caminho do banquete do casamento, portanto devemos manter nossas lâmpadas acesas. Conforte-se com a esperança divina de alegria eterna. Seu amor que veio para nós do céu para a terra nos levará da terra para o céu! O coração não pode conceber o que o amor reservou para aqueles que ele escolheu.

Pessoal e imensurável

O Senhor Jesus Cristo ama cada indivíduo de seu povo como se fosse o único. O coração de Cristo se envolve por inteiro com cada um de nós! Tampouco perdemos algo pelo fato que ele pertence a tantos milhões! Não, nós ganhamos por ele pertencer a tantos irmãos e irmãs, pois encontramos nossa felicidade repetida na felicidade de todos aqueles que Jesus ama tanto quanto a nós!

É um amor, na verdade, imensurável, sem qualquer limite ou fronteira. Jesus ama sem limites. Ele ama até o fim com um amor infinito. Só podemos tomar consciência de uma parte limitada desse amor, mas o amor em si mesmo não tem limites. Nesse oceano não há litoral nem fundo. Jesus ama de forma onipotente, eterna e infinita!

O impacto do amor de Cristo

O amor de Cristo quando recebido no coração age como um remédio universal. Cristo é o remédio para todas as enfermidades, mas ele é muito mais que isso. Ele cura e preenche! Ele preenche e embeleza! Ele embeleza e assegura! Ele assegura e aperfeiçoa! Seu amor opera maravilhas nas pessoas. Quando se crê no amor de Cristo e o sente no coração, isso traz um profundo senso de humildade. O orgulho sai quando o terno amor entra; a carne morre pelo poder desse amor que alimenta o espírito. Posso sentir orgulho quando meu Amado me revela esse amor que transcende o entendimento?  Impossível! Não, eu me sinto pronto para desaparecer quando vejo sua glória; “a minha alma se derreteu quando, antes, ele me falou” (Ct 5.6). O amor de Cristo é uma torrente tal que, quando inunda a alma, leva todo o ego embora.

O amor também tem o poder de derreter resistência, dureza, insensibilidade. O martelo da lei arrebenta, mas o coração, quando quebrado assim, é apenas uma pedra partida, em que cada pedaço continua sendo pedra. Quando o amor de Jesus realiza sua obra, ele nos derrete, transformando pedra em carne. Quão terno é o coração de Jesus que nos toca com suas mãos traspassadas!

O amor de Jesus tem um poder purificador e santificador. Para eliminar o amor ao pecado, viva no amor de Cristo! Aquele a quem Cristo ama odeia o pecado. Começamos espontaneamente a dizer dentro de nós mesmos: do que devo abrir mão por Cristo? O que devo fazer por Cristo? O amor de Jesus derramado na alma tem um sabor santificante, perfumando o coração com santidade. Seu amor é como um fogo em madeira odorífera: consome o pecado e dá uma fragrância de virtude. Nenhuma fornalha jamais purifica nosso coração como o amor de Jesus que queima como brasas de zimbro [espécie de árvore cujos frutos são muito utilizados para fins medicinais]. O caminho do amor é o caminho à perfeição. Um coração enamorado pela santidade de Jesus será muito enciumado de qualquer atitude ou ação pecaminosa que lhe cause tristeza.

A doce sensação do amor de Cristo também nos fortalece. O amor é forte como a morte e nos capacita com firmeza para os deveres da vida. Os soldados de Cristo nunca recuam! Se você perguntar o segredo da sua coragem, descobrirá que é o amor de Jesus por eles. Não podem deixar de ser ousados por amor a ele!

Também é a chave que nos torna ternos para os outros e compassivos por esse mundo pobre e arruinado. Se você quiser amar as pessoas de verdade, aprenda como Cristo o amou. Você amará até o mais desprezível por amor a ele. Se quiser ter olhos que chorem sobre a cidade onde vive, veja como Jesus chorou por você. Se você quiser ser sempre pronto para ajudar os necessitados e socorrer os aflitos, mantenha-se ao lado de seu Senhor gentil, terno e compassivo e, ao sentir seu amor por você, sentirá compaixão pelos outros.

É esse amor que também inflama os homens com um verdadeiro zelo por Deus e pelo bem dos homens. Poucos sabem o que é ser zeloso, mas alguns santos são colunas de fogo desde a manhã até a noite. O amor de Jesus é o fogo celestial que os mantém inflamados!

Esse amor também enche de deleite os crentes. Ele me ama! Que pensamento jubiloso! Tal segurança cria um paraíso mesmo para quem está numa prisão e um céu mesmo sob fortes tensões!

Permaneça em seu amor

Deixe o amor de Cristo ser seu ambiente habitual – que amor e vida sejam a mesma coisa para você! É impossível ter um foco exagerado no amor de Cristo! Mergulhe-se nele! Seja inundado por ele até que possa dizer: “já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim” (Gl 2.20).

E quando você estiver imerso neste amor, permaneça nele. Cristo não o ama hoje para o lançar fora amanhã. Será que sua fé pode ser inconstante quando a fidelidade dele é tão imutável? Como pode ser que hoje você esteja tão feliz no Senhor, e amanhã tão desesperançoso? Certamente se ficarmos perto de tal fogo, estaremos sempre aquecidos! Permaneça no seu amor!

Subir cada vez mais e nos santificar cada vez mais será sempre o nosso alvo! Mantenhamos firme aquilo que já alcançamos e busquemos a graça de avançar para novos patamares. Não era isso que nosso Senhor quis expressar quando disse: “permanecei no meu amor”? (Jo 15.9). “Ó”, diria alguém, “mas você nos deu uma tarefa difícil”. Não, eu lhes propus um privilégio agradável, mas admito que vocês não o alcançarão por seu próprio poder e por vocês mesmos. Mas eu não estou falando com vocês como são em si mesmos! Estou falando com vocês como estão em Cristo e, como estão em Cristo, todo poder lhes é dado! Exerçam esse poder!

Meu Amado é meu e eu sou dele. E até que o dia se rompa e as sombras fujam, minha alma se banqueteará no seu amor, alegrando-se e regozijando-se nele!

– Adaptado de um sermão.

Charles H. Spurgeon (1834-1892) foi um ministro batista em Londres conhecido como o “Príncipe dos Pregadores”.

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