22 de dezembro de 2024

Ler é sagrado!

O Papel Essencial da Família na Evangelização Mundial

Por: Rob Rienow

Estamos vivendo em tempos emocionantes para os seguidores de Jesus Cristo! O Espírito Santo está agindo em todo o mundo para levar as pessoas ao arrependimento e à fé no nosso Salvador ressurrecto e coroado. O Espírito está operando em regiões de abundância e em lugares de perseguição.

Regozijamo-nos quando recebemos notícias de avivamentos em várias partes do globo, e oramos para que estes se multipliquem muito mais. Porém, grandes quantidades de convertidos e de novas igrejas são apenas o princípio da expansão do Evangelho numa nação. Para que a fé se estabeleça, de fato, num lugar, é preciso que seja impulsionada não só por igrejas fundamentadas nas Escrituras, mas, também, por meio do ministério multigeracional da família cristã.

A Europa já caiu

Quinhentos anos atrás, avivamentos profundos se alastravam por toda a Europa. Nações inteiras foram remodeladas por crentes apaixonados que haviam se voltado às verdades fundamentais de sola scriptura, sola gratia, sola fide, solus Christus, soli Deo gloria (somente as Escrituras, somente a graça, somente a fé, somente Cristo e somente glória a Deus). Igrejas foram plantadas. Missionários foram enviados. O mundo nunca mais foi o mesmo.

Contudo, observe o estado espiritual da Europa hoje. De acordo com estimativas, apenas de um a dois por cento da população são nascidos de novo. Durante uma viagem missionária que minha família fez à França em 2008, conversamos com missionários lá sobre a condição espiritual da região. Expressaram grande preocupação sobre o crescimento do islamismo no país, contando como os muçulmanos radicais estavam enchendo a França, simplesmente por ter muitos filhos e criá-los para seguir Alá.

Perguntei: “E os pastores cristãos, estão encorajando os jovens crentes a buscar um casamento dentro do caminho do Senhor para criar filhos e discipulá-los para impactar o país para Jesus?”

Nunca me esquecerei da resposta: “Existem muito poucos jovens crentes para serem encorajados!”

Como isso pôde ter acontecido? Como um continente inteiro pôde passar de uma condição de vitalidade espiritual à de desolação espiritual? Embora vários fatores estejam envolvidos, a resposta final é simples. Os cristãos na Europa perderam o coração de seus filhos, geração após geração. Se não “discipularmos” nossos filhos e netos, o declínio espiritual será inevitável.

A América do Norte está caindo

A igreja na América do Norte está seguindo o mesmo caminho trágico. Desde o ano de 1900, a porcentagem de cristãos que realmente creem na Bíblia está em declínio.

Evangelismo e discipulado estão numa crise séria, e é uma crise geracional. Estamos perdendo mais dos nossos filhos para o mundo do que estamos ganhando adultos do mundo para a fé em Cristo. Como resultado, o número de verdadeiros cristãos está caindo.

Como isso pode estar acontecendo? Estamos na era das megaigrejas, megaprogramações, megaorçamentos, megaconferências e megatreinamentos de líderes. Temos livros cristãos, DVDs e cursos planejados para cada faixa etária sobre todos os assuntos imagináveis. Temos incontáveis eventos de evangelização, de serviços comunitários, retiros e viagens missionárias de curta duração. Estamos realizando mais obras do que em qualquer outra época, mas será que estamos formando mais discípulos do que antes? Estou convicto de que a resposta é “não”.

Quando avaliamos o ministério para jovens e crianças, somos obrigados a reconhecer que a “nova experiência” está fracassando. A “nova experiência” é fazer evangelismo e discipulado de crianças por faixa etária, cada qual à parte, dentro de um prédio institucional. Os pais levam seus filhos e os largam lá. Colocamos cada um numa sala diferente, de acordo com a idade, e os “discipulamos”. Em termos de História da Igreja, esse método realmente é algo novo.

De forma lenta, porém decidida, estamos abandonando o modelo bíblico de discipulado na família e delegando o treinamento espiritual de nossos filhos aos “profissionais” na igreja. Eu dirigi o ministério de acordo com esse modelo numa igreja grande durante mais de uma década. Uma das consequências não planejadas desse modelo ministerial que separa sistematicamente os filhos dos pais foi que os pais ficaram livres para se tornarem espiritualmente passivos em casa. Afinal, já tinham garantido que o filho ou a filha estivesse engajado num maravilhoso “grupo de jovens”.

Esse novo modelo é um desvio dramático do modelo da igreja primitiva e daquele que era aplicado na Reforma. Era uma prática comum para os líderes eclesiásticos no século 17 visitar regularmente o lar de cada família na igreja para verificar se os pais estavam ou não discipulando seus filhos por meio da prática regular do culto doméstico. Em 1647, um grupo de cristãos na Escócia publicou um Manual para Culto Doméstico, em que escreveram:

A assembleia requer que os ministros (pastores) façam uma pesquisa diligente para verificar se há no meio deles uma família ou mais de uma que estão negligenciando o dever do culto doméstico. Se acharem uma família nessa condição, o chefe da família será advertido em particular para que corrija sua falta; no caso de não a corrigir, ele será seriamente reprovado, com tristeza, pelo ministério; se, depois de tal repreensão, for constatado que ele ainda continua negligenciado o culto doméstico, que ele seja, por tal obstinação nessa ofensa, suspenso e barrado da participação na Ceia do Senhor, até que haja conserto e mudança na prática.

O culto doméstico era uma questão importante na disciplina da igreja. Por que essas igrejas o levavam tão a sério? Por que investiram tanto tempo, indo de casa em casa para encorajar a prática e garantir que realmente fosse realizado? O culto doméstico era uma prioridade máxima porque eles tinham paixão pela Grande Comissão. Sabiam que Deus disse claramente nas Escrituras que os pais e os avós devem tomar a iniciativa no treinamento espiritual de seus filhos e netos. Para eles, uma igreja não pode levar a Grande Comissão a sério sem levar o culto doméstico a sério.

Charles Spurgeon estava profundamente preocupado com as mudanças que estavam ocorrendo na cultura cristã durante o final do século 19. No artigo O Tipo de Avivamento Que Precisamos, ele escreveu:

Desejamos profundamente um avivamento de devoção familiar. A família cristã era o baluarte de piedade nos dias dos puritanos, mas, nestes tempos perversos de hoje, centenas de famílias que se chamam cristãs não fazem mais culto doméstico, não colocam limites nos filhos, não lhes oferecem instrução saudável nem disciplina. Como podemos esperar algum avanço do Reino do nosso Senhor quando seus próprios discípulos deixam de ensinar o Evangelho aos filhos? Ó cristãos, homens e mulheres, sejam cuidadosos e completos em tudo o que fazem, conhecem e ensinam! Treinem sua família no temor de Deus e sejam, vocês mesmos, “santos para o Senhor”. Assim serão firmes como rochas no meio das ondas de erro e impiedade que se levantam e se enfurecem ao nosso redor.

Precisamos desesperadamente dessa mensagem de Spurgeon hoje! Os homens e mulheres que são consagrados a Deus são cada vez mais requisitados pelas igrejas em crescimento, para se envolverem mais “no ministério”. Geralmente, envolver-se no “ministério” significa ser voluntário num programa da igreja. Spurgeon entendia que, para ver “algum avanço do Reino do nosso Senhor”, o ministério precisa começar em casa.

O Grande Mandamento

Em Mateus 22.35-36, Jesus foi confrontado com uma pergunta forte. Um líder religioso lhe perguntou: “Qual é o grande mandamento na lei?” Ele respondeu, citando de Deuteronômio 6.5: “Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento”. De acordo com Jesus, nada é mais importante do que conhecer a Deus e amá-lo. Mas o que devemos fazer com esse mandamento. Onde começamos? Como você poderá obedecer ao Grande Mandamento hoje? Nos versículos seguintes, Deus dá uma missão específica a todos aqueles que desejam amá-lo: “Estas palavras que hoje te ordeno estarão no teu coração; tu as inculcarás a teus filhos…” (Dt 6.6-7).

Aqui, encontramos a primeira tarefa para a comunidade da fé como resposta ao Grande Mandamento. Aqueles que amam a Deus são chamados, em primeiro lugar, a fazer tudo o que puderem para levar seus filhos a amá-lo ainda mais. No cerne do Grande Mandamento está o discipulado da família, sendo que os pais são os treinadores espirituais mais importantes dos filhos.

Mas como isso acontece? Como posso, sendo uma pessoa pecadora, passar fé e amor por Deus para meus filhos? Não existem fórmulas mágicas, porém Deus nos dá um ponto bem simples para começar no final do versículo 7: “… delas falarás [a respeito desses mandamentos] assentado em tua casa…”.

O que os pais podem fazer para começar? Falar sobre esse assunto! Especificamente, Deus chama os pais para reunir a família em casa para fazer o que os cristãos durante a História têm chamado de culto doméstico. O culto doméstico é o momento em que a família se reúne para orar, ler as Escrituras e buscar encorajamento espiritual.

Fala-se muito, hoje, sobre a importância de pequenos grupos de discipulado. Você já ouviu as frases da moda: “Precisamos viver uma vida em conjunto”; “Discipulado acontece no contexto de relacionamentos”; “Precisamos voltar à comunidade autêntica”.

Deus, também, ama os pequenos grupos de discipulado. Só que ele usa outro nome. Ele os chama de famílias. Ele quer que cada pessoa nasça no mais importante grupo de discipulado que existe: a família cristã. Deus criou a família para moldar nosso coração e o coração de nossos filhos com um profundo e duradouro amor por Cristo e sua Palavra.

Uma visão de ministério geracional

Em Salmo 78.1-7, vemos um quadro do tremendo impacto que as famílias podem ter para avançar o Reino de Deus:

Escutai, povo meu, a minha lei; prestai ouvidos às palavras da minha boca. Abrirei os lábios em parábolas e publicarei enigmas dos tempos antigos. O que ouvimos e aprendemos, o que nos contaram nossos pais, não o encobriremos a seus filhos; contaremos à vindoura geração os louvores do Senhor, e o seu poder, e as maravilhas que fez. Ele estabeleceu um testemunho em Jacó, e instituiu uma lei em Israel, e ordenou a nossos pais que os transmitissem a seus filhos, a fim de que a nova geração os conhecesse, filhos que ainda hão de nascer se levantassem e por sua vez os referissem aos seus descendentes; para que pusessem em Deus a sua confiança e não se esquecessem dos feitos de Deus, mas lhe observassem os mandamentos.

Que visão maravilhosa! Quero ser um pai assim. Quero contar aos meus filhos todas as obras admiráveis do Senhor para que eles contem aos filhos que ainda nem nasceram. No cerne do avanço do Evangelho está o chamado aos pais para inculcar no coração dos filhos o amor por Deus e por sua Palavra.

A igreja é lançada com uma visão multigeracional

Os discípulos compreenderam que o primeiro passo prático do Evangelho era incutir um amor por Deus no coração dos filhos. Em Atos 2, Deus fez o lançamento de sua igreja, e Pedro pregou um magnífico sermão evangelístico, que terminou assim: “Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para remissão dos vossos pecados, e recebereis o dom do Espírito Santo. Pois para vós outros é a promessa, para vossos filhos e para todos os que ainda estão longe, isto é, para quantos o Senhor, nosso Deus, chamar” (At 2.38-39).

Você, seus filhos e o mundo! Essa é a ação tríplice do Evangelho que encontramos de capa a capa nas Escrituras. Porém, já eliminamos, para todo efeito, a prioridade máxima da vida cristã, que é discipular os próprios filhos e membros da família, servindo e ministrando a eles. Como consequência disso, muitos bem-intencionados homens e mulheres cristãos estão dando tudo o que têm, de coração e alma, para dirigir programas na igreja e na comunidade, sendo que nunca se sentam para ler as Escrituras ou conversar sobre o Reino de Deus em casa com os próprios filhos.

Eu conheço esse tipo de cristão muito bem. Eu mesmo era assim. Eu entregava meu coração e alma ao ministério pastoral na igreja, enquanto minha esposa e meus filhos ficavam com a sobra. Estava vivendo uma vida superficial, fora do padrão bíblico e, mesmo assim, recebia elogios e reconhecimento por meu ministério público. Tenho conversado com muitos pastores e missionários que já “discipularam” centenas de pessoas, mas perderam os próprios filhos. Alguns até mesmo foram aconselhados: “Confie seus filhos ao Senhor! Você precisa focar no ministério”.

Em nenhum lugar nas Escrituras, Deus ordena os pais a abdicarem o treinamento espiritual dos filhos em favor de outros para poderem “focar no ministério”. Pelo contrário, Deus chama seu povo para começar o ministério do Reino em casa!

O chamado para os pais

O chamado de Deus para os pais está em Efésios 6.4: “E vós, pais, não provoqueis vossos filhos à ira, mas criai-os na disciplina e na admoestação do Senhor”. Deus diz que os pais não devem suscitar profunda ira no coração dos filhos, e já provê um remédio para que isso não aconteça. Crie os filhos no treinamento e na instrução do Senhor. Treinamento ou disciplina estão relacionados a exercício espiritual – práticas espirituais da fé cristã. Os pais devem orar com os filhos, servir e adorar com eles. Instrução se refere às palavras que os pais usam para transmitir conhecimento aos filhos. As palavras que o pai e o marido usam em casa para falar sobre coisas espirituais têm tremendo poder!

Você está ansioso para ver homens se levantando para exercer liderança na igreja com humildade, santidade e sã doutrina? Está ansioso para ver homens se levantando para impactar a comunidade e o mundo para Cristo? Então, chame-os, treine-os, equipe-os e os faça prestar contas se estão orando e estudando as Escrituras em particular e dirigindo o culto doméstico em sua casa. Se quisermos maximizar o impacto de um homem no mundo, primeiro devemos maximizar seu impacto em casa.

Discipulado da família, pastores e presbíteros

Um requisito para liderança espiritual na igreja local é ser líder espiritual eficaz no lar. Na igreja primitiva, se um homem era pai e desejava ser pastor ou presbítero, ele precisava demonstrar que estava pastoreando seus filhos antes de receber autorização para pastorear o corpo maior. “… e que governe bem a própria casa, criando os filhos sob disciplina, com todo o respeito (pois, se alguém não sabe governar a própria casa, como cuidará da igreja de Deus?)” (1 Tm 3.4-5).

Quando o texto se refere a governar bem sua própria família, isso não significa pagar as contas e cortar a grama. O contexto aqui é de liderança espiritual. Em outras palavras, se um homem não assumiu seu papel de encorajar o coração da esposa e dos filhos na fé, ele não está qualificado para o ofício de pastor ou presbítero na igreja.

Esse princípio é reiterado por Deus de forma ainda mais enfática em Tito 1.6, que acrescenta outras qualificações para homens que buscam o ofício de pastor ou presbítero: “alguém que seja irrepreensível, marido de uma só mulher, que tenha filhos crentes que não são acusados de dissolução, nem são insubordinados”.

Na minha experiência, tenho ouvido pouco ensinamento sobre esta frase: “que tenha filhos crentes”. Alguns entendem que isso se refere somente aos filhos que ainda estão em casa, de forma que ter filhos adultos que não andam nos caminhos do Senhor não desqualificaria a pessoa. Indiferentemente da interpretação aceita, esse é um texto muito forte que devemos levar a sério. Por que Deus afirmaria que um homem não pode ser pastor ou presbítero se seus filhos não são crentes? Eu creio que é porque o homem que tem filho ou filha ainda não convertido já tem uma tarefa muito grande à qual se dedicar: orar por aquele filho ou filha e ministrar a eles! Seu chamado para a Grande Comissão começa com as almas dos filhos que foram entregues aos seus cuidados.

Conclusão

Causa alguma admiração o fato de que o inimigo tem alvejado os relacionamentos dentro da família com tanta ferocidade? Isso não deveria causar surpresa alguma, já que as Escrituras ensinam que a vida espiritual da família está diretamente ligada à Grande Comissão e à tarefa de encher a Terra com adoradores de Cristo.

Extraído da edição de março/abril da publicação em inglês Mission Frontiers. Utilizado com permissão do autor.

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