George Eldon Ladd (1911-1982)
É praticamente impossível falar sobre o progresso do pensamento escatológico no século 20 e ignorar o nome de George Ladd.
Durante a década de 1950 e 1960, praticamente todos os líderes e pensadores evangélicos que defendiam a inspiração das Escrituras e as verdades fundamentais da fé eram também dispensacionalistas convictos. Por outro lado, a maioria dos estudiosos e teólogos das renomadas universidades e seminários na América do Norte e Europa seguiam uma linha liberal de alta crítica que colocava em dúvida a autenticidade das Escrituras. Ladd enfrentou esse desafio trabalhando com raro brilhantismo e dedicação nos estudos acadêmicos e, ao mesmo tempo, defendendo com habilidade e coerência a revelação de Deus por meio da Palavra escrita.
Ladd acreditava que a Bíblia era capaz de resistir à alta crítica e que, para ser fiel às suas verdades, não era necessário ser ignorante ou anti-intelectual. Seu maior desejo era poder sentar-se à mesa, ao lado dos maiores teólogos e acadêmicos da época, para discutir de igual para igual essas questões (daí o título da biografia sobre a vida de Ladd por John D’Elia, A Place at the Table – Um lugar à mesa).
Embora tenha-se frustrado amargamente com a falta de reconhecimento por parte do mundo acadêmico, Ladd deixou uma marca muito grande, maior do que imaginava, no pensamento escatológico da época – e até hoje. Usando como tema central o estudo do Reino de Deus em toda a Bíblia, Ladd colocou em xeque a visão dispensacionalista de escatologia e mostrou suas incoerências fundamentais com a linha central do plano de Deus.
Poucas pessoas, especialmente no mundo moderno, têm conseguido aliar meticuloso e consistente estudo acadêmico com fé e revelação nas Escrituras. Os livros de George Ladd são uma rara prova de que isso é possível. Em cada tópico e passagem bíblica abordados, o leitor encontra objetividade, fidelidade aos métodos de pesquisa e lógica e, ao mesmo tempo, inspiração, luz e graça nas verdades reveladas.
Em português, foram publicados três livros: O Evangelho do Reino (Shedd Publicações), Apocalipse, Introdução e Comentário (Edições Vida Nova) e Teologia do Novo Testamento (Hagnos). Em inglês, há vários outros, com destaque especial para The Blessed Hope (A bendita esperança), Crucial Questions About the Kingdom of God (Perguntas cruciais sobre o Reino de Deus) e The Presence of the Future (A presença do futuro). Este último levou dez anos para ser redigido e foi a obra mais importante que escreveu.
Em O Evangelho do Reino, Ladd mostra o Reino como realidade presente, mas também como esperança escatológica. Dedica boa parte do conteúdo aos ensinamentos e parábolas de Jesus sobre esse tema central. E explica a relação entre Israel, a Igreja e o Reino. Embora seja um livro de estudo, tem linguagem acessível e é de fácil compreensão. É uma excelente demonstração de como uma visão clara do propósito de Deus na história forma o pensamento escatológico de maneira mais bíblica e equilibrada.
Seu comentário Apocalipse também é excelente; examina cada capítulo e versículo do livro, com objetividade e profundidade, sem ser cansativo nem tendencioso.
São leituras que não podem faltar a qualquer estudante sério desses assuntos na Bíblia.
Uma resposta
Há mais de 15 anos tive acesso ao pensamento de George Eldon Ladd e posso afirmar que, desde então, meu entendimento sobre a Revelação tem sido transformado diariamente. Sem dúvida alguma, Ladd é um dos maiores teólogos do século XX e merece todo o nosso respeito e admiração. Infelizmente, sua obra ainda não foi plenamente traduzida para o português, e pior do que isso, a parte que está traduzida ainda necessita ser descoberta pela Igreja brasileira. Tenho certeza que sua leitura será fundamental para o nosso amadurecimento e melhoria da compreensão da doutrina escatológica. Com Ladd, muitos textos bíblicos ganharam novo significado e inspirará nossa postura cristã diante do mundo.