21 de dezembro de 2024

Ler é sagrado!

Onde Estão os Profetas?

Por: Harold Walker

Naqueles dias, a palavra do Senhor era mui rara; as visões não eram freqüentes (1 Sm 3.1)

Eis que vêm dias, diz o Senhor Deus, em que enviarei fome sobre a terra, não de pão, nem sede de água, mas de ouvir as palavras do Senhor. Andarão de mar a mar e do Norte até o Oriente; correrão por toda parte, procurando a palavra do Senhor, e não a acharão (Am 8.11,12).

Não vemos mais as nossas insígnias, não há mais profeta; nem há entre nós alguém que saiba até quando isto durará. Até quando, ó Deus, o adversário afrontará? (Sl 74.9,10).

Depois disto, ouvi a voz do Senhor, que dizia: A quem enviarei, e quem há de ir por nós?(Is 6.8).

Vivemos dias confusos. Por um lado, a igreja está eufórica em muitas regiões do mundo devido às altas taxas de crescimento numérico e ainda encontra-se sob os efeitos do maior derramamento do Espírito Santo na história, ocorrido durante o século passado. Por outro lado, em toda parte o povo de Deus anda confuso, insatisfeito, faminto. Apesar das visões serem freqüentes, a palavra do Senhor é mui rara.

Em qualquer ambiente evangélico – seja encontros, conferências, seminários, programas de televisão ou rádio, revistas, livros ou igrejas – o barulho das opiniões e modismos discordantes é ensurdecedor. Um grita de cá: “Achei a resposta, a solução!” e outro responde de lá: “Não está certo, isto é heresia. Sou eu que tenho a resposta adequada!” No meio desta verdadeira Babel de vozes estridentes e convencidas, onde está a voz do Senhor? Onde está o som certo da trombeta que unirá o povo de Deus em um só exército disciplinado e convicto do seu objetivo?

Durante a história houve épocas em que Deus não queria falar, pois o seu plano estava passando por fases quando não faria sentido o que ele tinha para dizer. Exemplos: O período de mais de quatrocentos anos entre o fim de Gênesis e o início de Êxodo, quando o povo de Israel estava se multiplicando no Egito; e o período interbíblico, também de uns quatrocentos anos, entre Malaquias e Mateus.

Não podemos, entretanto, alegar este motivo para o silêncio profético de hoje, pois vivemos os últimos dias antes da volta de Jesus, quando o ministério profético deve atingir seu auge. Assim como foi impossível chegar-se a Jesus na Primeira Vinda sem passar pela personagem rude e ameaçadora de João Batista, é impossível achar referências à Segunda Vinda sem encontrar uma forte ênfase na restauração do ministério profético (Ml 3.1-3; 4.5,6; Mt 17.11; At 3.21; Ap 11.3-13).

Silêncio Profético

Estou plenamente consciente de que muitos não concordarão de que haja um silêncio profético hoje, portanto quero apresentar aqui algumas razões desta minha convicção:

1 – O ministério primordial do profeta é chamar o povo de Deus de volta à lei de Deus, à santidade de Deus. Ao contrário do que muitos pensam hoje, a graça de Jesus Cristo não veio para abolir a lei mas, sim, para cumpri-la (Mt 5.17; Rm 3.31). A primeira palavra do evangelho é “Arrependei-vos!” Infelizmente, a vasta maioria dos membros de igrejas evangélicas hoje nem sabem o que significa isto! O evangelho que é pregado hoje não focaliza o pecado, a ira de Deus contra o pecado e a necessidade de santidade para encontrar-se com o Deus vivo. As pessoas não entram na igreja confessando seus pecados publicamente, entendendo o quanto seu estilo de vida é abominável a Deus e o quanto o ofenderam durante toda a sua vida. Por isto, não é de se admirar que o pecado anda solto dentro da igreja. Quando existe alguma ênfase sobre santidade, normalmente aparece sob a forma de algum tipo barato de legalismo que a torna inválida aos olhos de Deus e do mundo observador. Onde está a poderosa palavra do Senhor que “é mais cortante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até ao ponto de dividir alma e espírito, juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e propósitos do coração” (Hb 4.12)?  Onde está o evangelho “profético” que leva os ouvintes até o mais profundo desespero do inferno antes de mostrar-lhes as inefáveis dimensões do amor de Deus demonstrado na cruz do Calvário?

2 – O fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal contaminou a humanidade desde os dias do Éden, mas hoje está chegando ao ponto de saturação, até mesmo dentro da igreja. O racionalismo, o relativismo, a ética situacional, a psicologia moderna e o humanismo têm envenenado nossas famílias, escolas, seminários, igrejas e sociedade. Ninguém tem coragem de dizer: “Isto é errado e ponto final”. Estamos imersos num caldo grosso e morno de “talvez”, “pode ser”, “eu acho” e “por um lado… mas por outro lado”. Ninguém diz: “Assim diz o Senhor!” e se diz, normalmente é alguém que não esteve no concílio do Senhor e não está autorizado por ele a falar. Cambaleamos como igreja entre os extremos do legalismo e da libertinagem e não há uma clara e convincente voz profética que traga convicção de pecado, arrependimento e correspondência viva a Deus num andar diário de santidade e alegria no Espírito.

3 – Uma das características mais marcantes de uma genuína palavra do Senhor é que traz unanimidade àqueles que têm corações sinceros diante de Deus. Nos dias de Samuel, mesmo enquanto ele ainda era menino, “todo o Israel, desde Dã até Berseba, conheceu que Samuel estava confirmado como profeta do Senhor” (1 Sm 3.20). Por quê?  Porque “o Senhor era com ele, e nenhuma de todas as suas palavras deixou cair em terra” (1 Sm 3.19). Hoje temos muitos preciosos servos do Senhor que trazem palavras sólidas e confiáveis, mas falta-lhes este aval de Deus, esta assinatura conclusiva, esta autenticação genuína. O resultado é que cada grupo ou igreja só ouve sua própria seleção de fontes confiáveis e o povo de Deus continua confuso e dividido. Onde está a palavra profética de nossos dias que encontrará ressonância nos corações de todos aqueles que são sinceros diante de Deus, independente de suas origens eclesiásticas ou tendências teológicas? É claro que todo profeta do Senhor encontrará forte resistência e até perseguição no meio do próprio povo de Deus, mas sempre haverá uma certa confirmação e unanimidade nos corações de todos aqueles que realmente buscam ao Senhor. O que causa estranheza é que ninguém pára para observar isto, para cair de joelhos diante do Senhor e procurar a causa desta falta de confirmação e autenticação divina.

4 – Deus tem opiniões bem fortes e claras sobre os acontecimentos mundiais, em todos os níveis, e sempre usou os profetas para expressá-las. (Veja as profecias de Isaías, Ezequiel, Jeremias e os outros profetas acerca dos reinos do mundo de sua época: Egito, Tiro, Assíria e Babilônia). Certamente, hoje, à medida que a humanidade caminha velozmente para a consumação da história, Deus tem coisas para dizer às nações e aos seus governos. Entretanto, hoje, quando servos do Senhor começam a pontificar sobre os acontecimentos atuais, vemos muita confusão e engano. Muitas vezes, as influências culturais e nacionais entram mais na composição destas supostas “palavras proféticas” do que qualquer verdadeira inspiração do Espírito Santo. De fato, Deus quer usar sua igreja para falar não só aos governos deste mundo, mas também aos principados e potestades nos lugares celestiais (Ef 3.10; 6.12). Porém, antes que isto possa acontecer, o juízo precisa começar pela casa de Deus (Ez 9.6;1 Pe 4.17). Os “profetas” de hoje estão pulando esta etapa vital e, por isto, suas palavras não são confirmadas por Deus. Antes de sermos porta-vozes de Deus para o mundo, precisamos passar pelo fogo purificador de Deus como igreja. Não temos direito de dirigir palavras fortes de Deus para o mundo sem primeiro passarmos, nós mesmos, pelo juízo destas palavras.

Portanto, por estes e por outros motivos, creio que estamos atravessando um período de silêncio profético e isto me incomoda. Não é hora para isto. Deus quer falar, mas onde estão seus porta-vozes? Não adianta clamar como Eliseu: “Onde está o Senhor, Deus de Elias?” (2 Rs 2.14). Acho que seria mais apropriado gritar: “Onde estão os Elias do Senhor Deus?”!

Quem se candidata para esta vocação hoje? Quem quer dizer como Isaías: “Eis-me aqui, envia-me a mim”? (Is 6.8) Quem quer chegar-se ao anjo, como o apóstolo João, e tomar o livrinho da sua mão e comê-lo e ficar com o estômago amargo? (Ap 10.8-11) Quem quer assumir esta vocação de tempo integral e ser consumido pelas dores e paixões do próprio Deus?

A Palavra Profética no Contexto do Corpo

Além de encontrar candidatos, porém, há outro fator indispensável para a manifestação da palavra profética genuína em nossos dias. Se estamos esperando o surgimento de profetas no estilo do Velho Testamento que chegam dizendo: “Assim diz o Senhor” e depois se recolhem ao deserto para ouvir de Deus sozinhos, certamente seremos desapontados ou até enganados por falsos profetas. Quem pensa que a palavra de Deus hoje virá em forma de profecias que não podem ser julgadas, ou de pregações que não podem ser questionadas, ou de qualquer outra forma exclusivamente mística e sobrenatural, está se abrindo para enganos e perigos. Precisamos entender que hoje Deus fala na sua casa, na igreja, no contexto coletivo do seu Corpo.

A vinda de Elias hoje será diferente da vinda de João Batista. O ministério profético dos últimos dias agirá de forma diferente dos profetas que vieram antes da primeira vinda de Jesus. Antigamente, Deus falava aos pais pelos profetas; hoje nos fala pelo Filho (Hb 1.1,2). Mas como ele nos fala pelo Filho? Através da atuação do Espírito no contexto do Corpo. Jesus disse: “Porque onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, aí estou no meio deles” (Mt 18.20). E também disse: “Eis que eu estou convosco todos os dias até a consumação dos séculos” (Mt 28.20).

A palavra profética que restaurará a lei de Deus e o governo de Deus nas famílias e nas igrejas, a santificação em nossas vidas e o juízo de Deus sobre o mundo não virá de super-homens ou indivíduos isolados, mas do meio de pessoas que estão experimentando a comunhão do Espírito e alinhando suas vidas com a palavra que está surgindo neste contexto. Esta realidade viva de Jesus falar no meio de dois ou três no contexto de comunhão foi perdida durante a apostasia da igreja (juntamente com muitas outras verdades preciosas que a igreja em Atos experimentava). Muita coisa já foi restaurada, mas esta essência da igreja que vai ativar a palavra profética para os nossos dias ainda permanece encoberta.

Infelizmente, a última etapa de restauração, que deveria ter contribuído para isto mais do que todas as outras anteriores, acabou tornando-se em um dos maiores obstáculos! Refiro-me à restauração do batismo e dons do Espírito Santo que ocorreu no século passado e que deu origem aos movimentos Pentecostal e Carismático. O Espírito Santo é a base desta koinonia ou comunhão do Espírito entre dois ou três. Mas, ao invés de permitir que ele faça isto entre nós, ficamos envaidecidos com o poder e o impacto do exercício dos dons e usamos a unção do Espírito para construir “reinos” humanos, divididos uns dos outros. Além disto, temos nos apropriado indevidamente da glória que pertence só a Deus, assumindo títulos e posições eclesiásticas que tornam cada vez mais difícil alcançar a verdadeira unidade e comunhão no Espírito.

Torna-se necessária, então, uma palavra profética para despertar a igreja atual da sua sonolência e comodismo religioso. O fermento de orgulho e vaidade humanos precisa ser revelado e sua nojeira exposta para que a igreja se enxergue como Deus a enxerga. Isto fará com que sinta sua pobreza e miséria espirituais e clame ao Senhor pela restauração da essência da igreja, que é a comunhão verdadeira; pois é justamente ali que o Senhor começará novamente a falar e a se expressar na terra.

Praticando o Vertical e o Horizontal na Busca da Palavra Profética

Portanto, se quisermos participar do ministério profético prometido por Deus para os últimos dias, precisamos não só colocar nossas vidas à inteira disposição de Deus, para encarnarmos seus sonhos e planos, mas também procurar outros irmãos com o mesmo chamamento, com os quais possamos conferir, nos abrir, e desenvolver esta afinidade no Espírito, para que, assim, Deus tenha espaço para nos falar numa base coletiva. Feito isto, ainda não é o bastante!

À medida que ouvimos de Deus em conjunto e, em seguida, praticamos e anunciamos o que ouvimos, precisamos entrar em sintonia com o que Deus está falando com outros conjuntos de irmãos em outros lugares. Se é um só General que está falando, a prova de que realmente estamos recebendo nossas instruções dele, e não de nossas próprias imaginações enganosas, é que começaremos a andar em sintonia com todos os outros pelotões e unidades do mesmo exército. Ele certamente dará instruções distintas para cada unidade, dependendo da sua função e localização estratégicas, mas o objetivo central será o mesmo, nossas ações complementarão umas às outras e não serão mutuamente exclusivas ou destrutivas. “Fogo amigo” só acontece quando há uma falha nas comunicações.

Conclusão

Estamos vivendo em tempos quando está para acontecer a maior manifestação profética de toda a história. Tudo que Deus falou pela boca dos seus profetas desde o princípio exige uma confirmação e consumação antes que Jesus volte. Convém que os céus o retenham até que isto aconteça (At 3.21).

Entretanto, vivemos um profundo silêncio profético. Há muitas visões, revelações e supostas palavras proféticas, mas os frutos de uma verdadeira palavra profética estão faltando. Não há um som certo no toque da trombeta e ninguém está se preparando para a batalha de forma adequada. A casa de Deus está muito contaminada e precisando urgentemente do fogo do juízo de Deus.

Podemos concluir, portanto, que a hora agora é de chorar e gemer pela situação da igreja e clamar a Deus para acelerar a preparação dos seus profetas e liberar uma palavra profética genuína e poderosa para os nossos dias. Também devemos convocar outros para fazer o mesmo. Se este clamor começar, espalhar-se e se tornar cada vez mais forte e insistente, o Senhor se revelará a nós, nos convidará a entrar em seu concílio e ouvir da sua boca a palavra, e nos passará pelo fogo da sua presença para nos purificar de toda impureza. Isto não acontecerá somente num nível individual, mas no contexto coletivo. Somente então, ele nos autorizará a sair para a igreja e o mundo com uma palavra que realmente expressa o seu coração e desejos para este tremendo final da história do mundo!

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