Ruth Walker (1917-2008)
Depoimentos dos seis filhos de uma mulher que viveu com sacrifício e abnegação em função de sua família.
Katharine
O que mais me marcou com relação à vida de minha mãe foi a fidelidade sem vacilar no seu amor por Deus e por meu pai e seu amor incondicional por cada um de nós. Em cada aniversário, ela escrevia uma carta especial com muita percepção, resumindo nossa vida naquele ano e expressando seu amor e fé para o próximo ano. Ela sempre foi guerreira na oração e sempre demonstrou interesse pelas pessoas. Mantinha amizades através dos anos.
Seu talento em escrever poesias (e prosa) também foi notável. Ela conseguia escrever sobre coisas muito profundas, espirituais, sentimentos e, também, fazer poesias sobre o gato do vizinho ou um passarinho que visitava sua janela. As pessoas também ganhavam poesias – ora humorísticas, ora bem apropriadas a cada uma.
Mãe é sempre mãe – não importa a idade de seus filhos –, e seu valor e influência nunca cessam de existir mesmo quando já está habitando no lar celestial.
Robert
Mamãe foi para mim um exemplo de paixão, integridade, submissão, disposição para sempre aprender e ser moldada por Deus. Transparência ao extremo, humildade, capacidade de perdoar, sede insaciável de Deus e de sua santidade. Seu desejo de ser útil aos outros durou até o fim de sua vida (90 anos de idade).
Ela foi minha mentora e incentivadora nos dons e caminhos do Espírito Santo. Sua sensibilidade ao mover do Espírito Santo era notável, e as palavras proféticas que vieram por meio dela marcaram nossa história. Eu só apreciei melhor seu dom poético depois de sua partida. Suas expressões eloquentes das lutas e vitórias em sua alma durante os períodos de deserto me edificaram muito. Sua transparência de revelar o que realmente sentia foi uma grande lição de vida.
Christopher
A característica mais marcante da minha mãe na nossa família e da influência que exerceu sobre nós – por mais paradoxal que pareça – foi o fato de que ela não aparecia muito. Meu pai, de temperamento forte, convicções firmes, sempre presente no lar, na vida dos filhos e na direção da família, ofuscava a presença e, muitas vezes, as opiniões dela. Lembro-me, mais de uma vez, de pessoas que conheciam nossa família só por ouvir falar e que perguntavam: “E sua mãe, como ela é? Nunca ouvimos falar dela!”
Por isso, sua influência foi ainda mais surpreendente. Um aspecto que demorei um tempo para perceber, para compreender o verdadeiro efeito que teve sobre todos nós, foi o fato de que nunca ouvimos da parte dela uma palavra de contenda, briga ou insatisfação com relação ao meu pai; nunca vimos sequer um olhar ou atitude negativa. Isso nos trouxe um ambiente de harmonia, de valor incalculável, e ajudou tremendamente na formação do nosso caráter e na construção de uma família unida.
Mas não foi somente dessa forma que ela nos influenciou! Ela participou ativamente da nossa educação, lendo para nós quando éramos bem crianças (todos aprendemos a ler em casa, antes de ir para escola, só pela influência da leitura e dos livros) e ensinando gramática em inglês e literatura quando éramos maiores. Sua vida de oração, seu amor pela Palavra, sua disposição sempre bem-humorada e otimista, sua mansidão, compreensão, capacidade de ouvir, lealdade e empatia nos marcaram constantemente nos anos de formação e depois de nos tornarmos adultos.
Ela tinha um interesse especial por cada um dos netos, fazia questão de conversar com cada um nas oportunidades de que dispunha. E suas cartinhas, decoradas com desenhos feitos com canetas coloridas, que recebíamos nos aniversários e, às vezes, em outras ocasiões, eram sempre um tesouro incalculável de análises do ano que findara, do nosso progresso espiritual e de exortações amorosas e inspiradas.
Harold
Coisas que me vêm à mente instantaneamente quando penso em minha mãe:
– ela sempre cantava hinos enquanto fazia o serviço da casa, especialmente quando lavava a louça (hinos que eram cantados nas campanhas de Billy Graham, que têm conteúdo maravilhoso e que transmitem uma viva esperança da volta de Cristo e da vida eterna);
– ela sempre tinha ideias de coisas interessantes que poderíamos fazer quando éramos crianças e estávamos enfadados da vida;
– ela amava trabalhar no jardim, e uma imagem muito vívida que tenho dela é agachada no meio das flores arrancando mato ou em pé, com uma enxada na mão, limpando o suor do rosto;
– ela lia a Bíblia conosco, nos incentivava e cobrava a memorização de passagens bíblicas (uma ocasião inesquecível foi quando orou comigo até eu receber o batismo no Espírito Santo com menos de 7 anos de idade);
– apesar de muitas vezes errar a mão na cozinha (como no tempero da comida!), ela tinha muita criatividade para inventar pratos novos, e lembro-me com saudade das baciadas de mamão ou banana cozidas com rapadura!
Peter
Acho que o impacto maior que minha mãe teve na minha vida foi na área espiritual. Ela sempre tirava tempo para ler a Bíblia e orar comigo e meu irmão mais novo, o caçula, Thomas. O dia mais marcante, que perdura até hoje, foi a tarde em que ela ficou orando comigo até eu receber o batismo com o Espírito Santo. Acredito que eu tinha 7 ou 8 anos na época. Foi uma experiência maravilhosa, e não há como mensurar como seria minha vida hoje sem essa experiência e sem o dom de línguas que faz parte do meu dia a dia.
Outra coisa que não consigo mensurar são as orações que ela levantava ao Pai em favor de mim e de meus irmãos. Era uma mulher de oração e intercessão, e isso me impactou de uma forma visível (vendo-a orar) e invisível (só na eternidade saberei do que Deus me livrou como resultado dessas orações).
No plano natural, não posso deixar de mencionar o fato de que foi ela quem me ensinou a ler (em inglês) e, muito além disso, a escrever corretamente (ortografia), a valorizar poesia e literatura e a conhecer outros aspectos da língua inglesa em geral. Levando em consideração que hoje meu sustento provém do meu domínio de inglês, posso dizer que nisso, também, minha mãe teve um impacto profundo.
Thomas
Minha mãe era uma pessoa maravilhosa que tinha uma característica, dentre outras, de ser uma pessoa extremamente otimista, bem oposta ao temperamento do meu pai. Isto trazia um equilíbrio à nossa família e uma perspectiva diferente. Minha mãe sempre procurava e conseguia ver o aspecto positivo em cada pessoa e em cada situação. Ela estava sempre crendo, orando e declarando o melhor. Uma das imagens que guardo é ela falando em línguas enquanto orava em todo momento, especialmente quando as coisas não estavam boas. Creio eu que a fé que ela tinha, suas declarações proféticas e mais a intercessão incessante que fazia foram fundamentais para assegurar o propósito de Deus para a nossa familia.
Outra lembrança que guardo é de um dia quando perguntei (eu era muito novo na época) como seria o céu. Ela respondeu de uma forma muito simples: “O céu é o conjunto de todas as coisas boas daqui da Terra, sem as coisas ruins!”
Respostas de 4
Precioso!
Eu me lembro da irmã Ruth com muito carinho, ela irradiava a vida com Deus no seu olhar. Uma vez conversou comigo sobre a cruz, o sofrimento e eu não entendi na ocasião; ela falou-me da dor de Maria ao ver seu filho desempenhar a sua missão. Eu não queria saber de sofrimento devido a minha imaturidade, mas suas palavras ficaram gravadas profundamente em minha memória. Quando eu amadureci e vieram os desertos da vida, pude valorizar a lição que imprimiu em meu coração. Nunca mais busquei a alegria e a felicidade como alvo primordial em minha vida,mas descobri que a dor e a cruz estão carregados de benefícios que nos aproximam de Deus mais do que qualquer outra coisa neste mundo e por isso aprendi a acolher tanto a alegria quanto a tristeza como experiências naturais que temos que vivenciar, retirando delas o melhor que pudermos para nos edificar. Grande lição aprendi com ela, que tornou minha vida mais rica e espiritualmente mais sábia.
Meu Deus! eu mais do que ninguém conheci e convivi com essa serva tão meiga com as palavras e o trato com todos, mas o seu sorriso… era encorajador! Acreditem, uma lembrança que guardo dela era dirigindo aquele fusca, naquela época, ha 33 anos atrás aquilo foi o máximo para mim, rsrs ou pedalando uma bicicleta por causa dos seus muitos anos vividos com sabedoria, claro. Saudades profundas de ambos, pois não poderia deixar de fazer menção do meu querido amigo John Walker. E só para constar a toda família, tenho comigo guardado o caderninho de lembrança do meu casamento. Abraços afetuosos a todos da família Walker.
Lembro como se fosse ontem, quando cheguei na casa dela em Jundiaí. Ela recebeu um monte de adolescentes maltrapilhos com um sorriso no rosto que a fazia parecer muito mais jovem e fez nos sentirmos em casa. Orou conosco, deixando transparecer um esperança na nossa geração tão forte que constrangeu a todos. Não tem como não sentir um nó na garganta ao lembrar desse doce de gente que era apaixonada por Deus.