Por: S. D. Gordon
Jesus veio para este mundo numa tarefa missionária. Ele foi enviado pelo Pai, assim como, mais tarde, o seriam seus discípulos – e nós também. Com imensa reverência e admiração, observamos que o divino Jesus, nos dias de sua humanidade, entregou-se totalmente ao controle do Espírito Santo. O Espírito governava toda sua vida e suas atividades. Todos os seus ensinamentos, todas as suas ações foram sugeridos, dirigidos e comandados pelo Espírito. O poder que exercia em palavras e ações, quando curava, ressuscitava os mortos e exercia um admirável domínio de si mesmo – tudo isso era fruto do poder do Espírito Santo operando em e através da vida de Jesus.
No fim, antes de voltar ao Pai, ele disse: “Assim como o Pai me enviou, eu também vos envio” (Jo 20:21). Em seguida, soprou simbolicamente sobre eles e disse-lhes: “Recebei o Espírito Santo” (v. 22). Com isso, estava afirmando que devemos ser exatamente como ele, tanto na nossa total dependência do Espírito quanto na certeza do seu poder em nós.
A partir daí, esta tem sido a parceria eficaz para o serviço de Deus no mundo: o homem e o Espírito Santo; o Espírito Santo e o homem. Quando falamos da perspectiva do homem, dizemos: “o homem e o Espírito Santo”. Quando falamos da perspectiva divina, dizemos: “O Espírito Santo e o homem”. Os dois precisam andar juntos. Quando o homem não vai, o Espírito é impedido de falar com as pessoas. Ele fala, mas o plano da salvação através de Jesus não chega ao coração humano. Falta a boca humana para transmitir as palavras e contar a história divina. Isso o impede seriamente de realizar o seu trabalho.
Por outro lado, quando o homem vai sozinho sem o Espírito, isto é, sem submeter-se habitualmente ao seu controle, ele também enfrenta enormes empecilhos. É como se tivéssemos a madeira seca para a fogueira, mas faltasse o fogo. Não há calor, nada acontece. A lenha precisa do fogo, e o fogo precisa da lenha. Os dois andam juntos, são mutuamente essenciais.
Essa parceria é sobretudo válida no serviço mundial de ganhar almas para Cristo. Não há quem precise mais da presença do Espírito do que aquele que está procurando ganhar uma alma para Jesus, onde quer que esteja. Porém, se existe um ganhador de almas que precisa mais dessa presença do que qualquer outro, é aquele que vai testemunhar para povos não-cristãos. Em contrapartida, se existe alguém que pode contar com a presença do Espírito e do seu poder, sempre ao seu lado e operando através dele, é aquele que é enviado e que sai para cumprir a missão mundial de evangelização.
Tal pessoa estará em linha direta de obediência às ordens de Jesus. O próprio Espírito é enviado por Jesus e vem até nós em expressa obediência ao desejo dele. Os dois, o homem e o Espírito, funcionam como uma única pessoa, com um só propósito que os governa. Sendo assim, essa pessoa não terá dificuldades em depender do poder gracioso e irresistível do Espírito em tudo. Ela será triplamente abençoada, pois aprendeu a depender de seu parceiro invisível, que é a verdadeira chave do sucesso espiritual.
O Poder que Nunca Falha
É preciso lembrar a nós mesmos, a todo tempo, de que não estamos na dependência de uma organização ou de um método, nem de nosso talento pessoal ou do treinamento que recebemos, mas do Espírito Santo – que pode, em sua soberania, agir através dessas coisas, mas não deseja que confiemos nelas. Quanto mais organizada a pessoa, quanto melhores forem os métodos usados, quanto melhor for seu dom pessoal e quanto mais bem desenvolvidas forem suas habilidades, tanto mais haverá à disposição do Espírito para o seu uso. O que precisa ser lembrado e gravado em nosso interior até que se transforme num verdadeiro instinto é isto: O poder vem exclusivamente do Espírito, mas só pode se manifestar através de nós. Não vem sem ele, e não vem sem nós; precisa dos dois juntos. Porém, a parte dele é sempre a parte maior e mais importante – pois é a que consegue produzir algo poderoso e verdadeiro.
Na obra de evangelização, o Espírito Santo tem um duplo trabalho a realizar: acompanhar aqueles que vão anunciar e tocar nos corações daqueles que vão ouvir. Naqueles que vão anunciar, ele tem a tarefa de desenvolver o caráter de Jesus. Ele abre a Palavra, fazendo com que o significado se torne muito claro. Ele desperta a mente para que esta funcione com todo o seu potencial. Guia as decisões, sugerindo, dirigindo e controlando os pensamentos, e guia as ações, na nossa forma de lidar com as pessoas. Ele nos guia em coisas que podem em si mesmas ser pequenas, mas das quais dependem muitas outras.
Em muitas ocasiões, no momento em que estamos passando por uma determinada situação, nem temos consciência de como o Espírito está nos dirigindo. Depois, porém, passamos a perceber como ele agiu, com primor e destreza, com seu toque raro e quase imperceptível, coordenando as circunstâncias e nos guiando no meio delas. Quando estamos sob forte pressão no meio do trabalho, um pouco debilitados e em dúvida, ele introduz uma simples e rápida sugestão em nosso pensamento, algo que dá uma luz para sair do aperto e alcançar o objetivo desejado. Ele age através de nós e através do que estamos fazendo, concedendo-nos poder que não teríamos sem ele. Enquanto você está conversando ou fazendo uma pregação, seja num momento formal ou informal, com uma só pessoa ou com uma multidão, ele está operando através de suas palavras.
Mas ele também age sobre as pessoas a quem nos enviou. Ele abre portas, aquelas portas das circunstâncias que estavam totalmente fechadas, com cadeados de ferro, contra nós. Ele abre as portas ainda mais fechadas e mais difíceis de serem abertas, que são as da resistência humana. Ele inclina as pessoas a nos favorecerem pessoalmente e a se interessarem pela nossa mensagem. Sob o seu toque, nossa mensagem se torna uma chama ardente, que queima, perturba, amolece, dissolve e remodela completamente o homem interior daqueles que a recebem.
Parece que é próprio de nossa natureza fazer planos e depender desses planos. O planejamento é muito importante, e não queremos diminuir seu papel ou planejar menos, necessariamente. O que queremos é aprender a depender mais, no meio do nosso planejamento, da discreta, silenciosa, mas irresistível ação do Espírito Santo.
Pleno Poder para Ganhar Almas
Ter pleno poder em nossas vidas depende de três coisas. Existe uma trindade de serviços, que é ao mesmo tempo divina e humana. Ter resultados completos depende totalmente do funcionamento dessa trindade. O bom ganhador de almas precisa crer radicalmente nela.
Em primeiro lugar, antes de qualquer outro elemento, vem a mensagem. É preciso ter um claro entendimento do Evangelho. Essa é a mensagem do ganhador de almas. Essa é sua arma, e ele a usa de maneira bem direta para aproximar-se de alguém e sitiar o seu coração. É uma mensagem simples, mas muitas vezes só é compreendida parcialmente por aqueles que a anunciam.
A mensagem precisa ser entendida clara e completamente por aquele que deseja ter poder para ganhar almas. A mensagem parte da base do ensinamento claro e sem rodeios a respeito do pecado e das terríveis conseqüências que resultam quando o pecado não é tratado; segue mostrando o maravilhoso amor de Deus, demonstrado em seu último grau no sacrifício de Jesus na cruz por causa do nosso pecado; no passo seguinte, ensina a necessidade de romper totalmente com o pecado e de render-se sem reservas a Jesus, como Salvador e Mestre; mostra depois o trabalho do Espírito Santo em nosso coração; e, finalmente, revela o ápice da obra de Deus no homem, que é qualificá-lo para servir o Mestre no meio da humanidade. Essa mensagem simples precisa ser apreendida clara e completamente. É o primeiro grande elemento essencial da trindade de serviços.
O segundo elemento, que deve acompanhar o primeiro, é a pessoa que encarna a mensagem em si mesma. Não basta conhecer a história do Evangelho, nem mesmo contá-la. Ela precisa ser vivida. A melhor forma de transmiti-la é através da pessoa que se torna uma ilustração viva da verdade que está pregando. Com toda certeza, ela pode estar consciente de que não a está ilustrando como deveria. Na verdade, uma pessoa sincera e séria com Deus nunca terá a impressão que está ilustrando bem sua mensagem. Essa será sua tendência; no entanto, ao mesmo tempo, ela terá uma tendência maior ainda a não se preocupar com esse aspecto enquanto está procurando ganhar vidas para Jesus. Ela se envolverá completamente com Jesus e com a missão de levar outros a conhecê-lo.
Se a vida de alguém não exemplificar a verdade que está anunciando, suas ações e atitudes, ao mesmo tempo em que está falando, contrariarão as palavras e as esvaziarão do poder que deveria acompanhá-las. Aqueles que estão ouvindo podem não conhecer a vida de quem está falando, se encarna a mensagem pregada ou não. Mesmo assim, a vida que é autêntica e condizente impregnará o pregador e, conseqüentemente, suas palavras de força e poder. A mensagem, portanto, reveste-se da qualidade de vida da pessoa que a anuncia. As palavras de uma pessoa são chamas de fogo; de outra, em contraste, caem no vazio sem efeito. Os ouvintes percebem a diferença, embora geralmente não saibam explicar o porquê.
Todas as vezes que procuramos transmitir a Palavra para plantar a semente no coração dos outros, seja numa classe de estudo bíblico, num grupo pequeno, numa pregação evangelística ou de ensino, dentro ou fora da igreja, numa conversa informal ou ao escrever uma carta, existe algo sutil que sai de nós, como se fosse uma atmosfera ou ambiente, que afeta o poder da mensagem que estamos transmitindo. Pode ser o toque de uma labareda de fogo, que faz a verdade arder no coração do ouvinte. Mas pode ser também um vento gélido e úmido, que arrefece e apaga o calor inerente à verdade do Evangelho. Portanto, a pessoa que transmite é o segundo elemento, tão importante quanto a mensagem.
O Espírito Santo Está Acima de Tudo
Finalmente, há o terceiro elemento, muito mais importante do que a mensagem da pessoa ou do que a mensagem e a pessoa juntas. É o seguinte: o Espírito Santo governando a pessoa que encarna a mensagem. Quando digo “governando”, quero dizer que a pessoa rendeu-se totalmente ao controle do Espírito. E, além disso, que a pessoa cultiva a presença do Espírito.
É absolutamente necessário cultivar, em todo o tempo, a presença e a amizade do Espírito Santo, assim como cultivamos as amizades terrenas. Precisamos passar tempo, regularmente, a sós com o Livro de Deus, a Bíblia. Não se trata apenas de estudar a Bíblia para ficar informado de seu conteúdo. É uma questão de meditar profundamente sobre suas verdades, uma abertura silenciosa e persistente do nosso interior à influência penetrante, estimulante e iluminadora desse Livro incomparável. O Espírito Santo fala através de suas páginas.
No entanto, muitos daqueles que se dedicam ao estudo sistemático e aprofundado da Bíblia não conseguem ir além das palavras impressas. Não conhecem nem encontram a Pessoa que falou estas palavras antes de serem escritas e que ainda fala através delas.
Além do tempo dedicado à leitura da Bíblia, é preciso abrir toda nossa vida aos toques do Espírito e sujeitá-la à sua direção. Ele nos guia através de nossos pensamentos e, às vezes, nos guia de forma soberana quando os nossos pensamentos, por alguma razão, não subiram suficientemente à sua presença para que ele nos guie através deles. Samuel pensou que o irmão mais velho de Davi era o escolhido de Deus. Entretanto, o Espírito falou no seu aguçado ouvido espiritual: “Não”. Seu pensamento não fora afiado o suficiente para servir de canal à orientação do Espírito. Porém, ele havia aprendido a submeter seus pensamentos a uma instância mais alta (1 Sm 16.1-13).
Certa vez, Paulo pensou que seria uma boa idéia partir para o oriente com a equipe para pregar na Bitínia, e até tentaram sair naquela direção. Mas o Espírito deixou claro que seu plano era ir na direção contrária – para o ocidente. Se, naquela ocasião, o espírito de Paulo estivesse bem sintonizado com o Espírito Santo, ele nem teria começado a viajar na direção errada. Mesmo assim, ele foi muito mais sábio do que a maioria de nós, pois abandonou prontamente seus planos bem elaborados e agiu de acordo com as instruções do Espírito (At 16.6-10).
Quanto mais afiados forem nossos processos mentais, quanto mais bem informados formos, quanto mais equilibrado for nosso juízo – tanto melhor o Espírito nos revelará seus planos através desse canal natural, se o deixarmos aberto a ele. Mas há algo que está muito acima dos nossos poderes intelectuais. É a percepção do nosso espírito. Não é a mente que está no topo; há um andar acima, onde vive o espírito, que está acima de tudo.
Algumas pessoas de grande capacidade, muito bem preparadas e consagradas a Deus, enfrentam constantes obstáculos em sua vida cristã porque insistem em viver no andar da mente. Todas as suas decisões são tomadas naquele andar e não são submetidas à aprovação de cima. E o Espírito Santo, que é o comandante-em-chefe de todas as forças nesta missão, não consegue usar essas pessoas como gostaria.
Falta-lhes aquele ouvido interior afinado, que é desenvolvido no espaço silencioso diante de Deus, que poderia elevá-las a um nível superior, a um serviço mais alto e mais amplo. Porém, elas continuam a caminhar fiel e ineficazmente no andar inferior. É claro que o Espírito pode usá-las e, de fato, as usa, contudo nunca em plenitude. É o Espírito de Deus, no controle total sobre a pessoa que encarna a mensagem, que é a chave – pois somente dessa forma haverá plenitude de poder em serviço agradável a Deus.
Não é a sagacidade da mente, nem a erudição ou a quantidade de conhecimentos, nem a capacidade perspicaz e equilibrada do juízo, mas o Espírito de Deus agindo através dessas coisas e, às vezes, atuando em um nível acima daquele que essas faculdades conseguem alcançar. A mensagem, clara e completa; a pessoa que a encarna; e o Espírito Santo, que possui e governa a pessoa que vive a mensagem – eis a trindade única através da qual fluem as torrentes de água viva.
Uma Oração
Bendito Espírito Santo, sopro de Deus e sopro da minha vida, ajuda-me a conceder-te plena liberdade dentro de mim, de modo que minha vida seja graciosa e abundante e que Jesus flua livre e completamente através de mim – para alcançar a imensa multidão faminta.
Uma resposta
Glória a Deus! Que mensagem rica de conteúdo e inspiradora!