Por: Robert Louis Cole
“Cria em mim, ó Deus, um coração puro, e renova dentro em mim um espírito inabalável.” (Sl 51.10)
“Tenho um problema”, disse a jovem senhora, um pouco envergonhada. Era o fechamento de uma reunião de oração no horário de almoço, promovida por um grande ministério na Costa Leste. Eu acabara de concluir um breve estudo bíblico e de encerrar a reunião, quando fui puxado de lado para uma oração particular.
– Qual é o problema? – perguntei.
– Eu tenho um problema – repetia ela.
– Sim. – Respondi, pensando se ela havia me escutado direito.
– Em que exatamente podemos concordar em oração?
Sua face se contraiu e lágrimas brotaram de seus olhos. – Não sei exatamente – desabafou, mordendo os lábios -, mas tenho um problema sério.
Tentei ser firme sem ser duro demais.
– Nosso Deus é um Deus de coisas específicas, não de generalidades – disse-lhe. – ficaria feliz em orar com você, mas preciso saber a natureza de seu problema de modo a orar especificamente. Ninguém mais saberá, apenas eu e você.
– Bom, na verdade, não sei qual é o meu problema – respondeu ela, como se estivesse bloqueada -, mas meu marido diz que eu tenho um problema -. Tentei novamente.
– O que seu marido diz ser o seu problema?
– Ele diz que eu não o entendo – disse ela, finalmente, agonizando a cada palavra.
– O que você não entende? – perguntei. De repente, a mulher começou a chorar convulsivamente, profundamente magoada.
– Meu marido deixa revistas ao lado de nossa cama – ela explicou, em meio a soluços. – Playboy e Penthouse, além de todas aquelas outras revistas de mulheres nuas. Ele diz que precisa primeiro olhar aquelas revistas para depois ter sexo comigo. Diz que precisa delas para se sentir estimulado.
Ela prolongou a última sentença, com lágrimas rolando por sua face.
– Já lhe disse que não precisava daquelas revistas, mas ele diz que eu não o entendo. Diz que, se eu realmente o amasse, eu entenderia por que ele precisa das revistas e, então, permitiria que ele tivesse mais revistas ainda.
– Qual a ocupação de seu marido? – perguntei eu.
– Ele é pastor de jovens.
Fiquei ali, boquiaberto, pensando no que acabara de ouvir. Estava ouvindo uma mulher me dizer que seu marido era um pastor de jovens que mantinha uma pilha de material pornográfico ao lado da cama!
– Seu marido pode ser um pastor de jovens, – disse-lhe -, mas também é um pornógrafo.
A cabeça da mulher se levantou em atenção. Foi como se eu a tivesse esmurrado diretamente no rosto. Ela jamais imaginou ouvir seu marido sendo descrito como alguém que gostava de pornografia, apesar de seu estilo de vida tê-lo transformado exatamente nisso.
Nestes tempos modernos nós não temos pecado: temos problemas. Transformamos o Evangelho em algo psicológico e, no meio do processo, eliminamos a palavra pecado de nosso vocabulário.
Mas eu tenho necessidades
Uma mulher veio a mim trazendo uma triste história. Seu marido a maltratou durante anos e, finalmente, a deixou, através de um divórcio litigioso. Membro de igreja, cristã confessa há vários anos, ela se viu só e desamparada.
Reagindo a seus sentimentos, ela saiu da cidade e passou um final de semana com um homem. Como ela mesma descreveu, ela possuía “necessidades biológicas”.
– Você tem consciência do que fez? – perguntei-lhe tão logo sentou-se em meu gabinete. A mulher foi pega de surpresa e colocou-se para trás.
– Por que, do que você está falando?
Seus olhos se arregalaram e sua face enrubesceu. Ofendeu-se por eu tê-la chamado de adúltera. Afinal, depois de ter cometido um adultério, ela era uma adúltera.
Para ela, aquilo não foi um pecado – apenas um problema, como disse.
Não falamos sobre pecado nos dias de hoje: falamos sobre problemas. A razão pela qual problemas são mais convenientes que pecados é que não precisamos fazer nada com os problemas. Se você apenas tem um problema, consegue simpatia, compreensão e ajuda profissional, somente para citar algumas coisas. Por outro lado, pecados requerem arrependimento, confissão e perdão.
Não é de estranhar que Freud queria se livrar da palavra pecado.
Resolvendo problemas biblicamente
No processo de reescrever a linguagem bíblica, fugimos da confrontação com nossos pecados. Mas, sem os enfrentar não fazemos nada com relação a eles. Todos os problemas da vida estão de algum modo relacionados ao pecado. Esta é a razão por que o homem precisa de um Salvador que o livre dos pecados como resposta a seus problemas. Deus sabia disso. Foi por isso que Jesus Cristo veio aqui para morrer por nossos pecados e ser a resposta para todos os nossos problemas.
A disciplina da igreja em nossos dias é relaxada, fraca ou inexistente. O apóstolo Paulo exigia disciplina. Se alguém se diz irmão – disse Paulo – e mantém um estilo de vida ou um padrão habitual de pecado, não mantenha amizade com ele – nem mesmo coma com ele. Sem relacionamentos.
“Mas agora vos escrevo que não vos associeis com alguém que, dizendo-se irmão, for impuro, ou avarento, ou idólatra, ou maldizente, ou beberrão, ou roubador; com esse tal nem ainda comais” (1 Co 5.11).
Ao contrário do que você ou qualquer outra pessoa possa pensar, este é um ato de amor e não de ódio.
Veja, os caminhos de Deus são tão altos quanto os céus estão acima da terra.
Paulo tinha a mente do Senhor quando escreveu estas palavras. Se uma pessoa que chama a si mesma de cristã continua em seu pecado sem punição e com todos os privilégios de outros membros, não terá nenhum incentivo para confrontar, confessar e afastar-se de seu pecado, além de contar com a aceitação de outros crentes.
Normalmente a pessoa que cometeu pecado admite que houve um problema, ou que ela simplesmente é uma desafortunada, mas vai chorar e reclamar quando se confrontar com a disciplina.
O lamento humano ocorre somente quando ficamos tristes por termos sido pegos. O lamento piedoso acontece no momento em que nos entristecemos pelo pecado que cometemos e quando queremos nos livrar dele.
Se Paulo vivesse em nossos dias, estaria condenando os humanistas seculares do tímido século XX, sitiando as fortalezas do pensamento moderno que têm tomado conta de nossa mente e nos cegado quanto à verdade. Realmente existem espíritos sedutores e doutrinas de demônios. Vemos tudo isso trabalhando em nosso mundo hoje. Somos levados a pensar que temos problemas em vez de pecado. Nossas doutrinas modernas, baseadas em vidas destituídas da vida de Deus, nos dizem: “Está tudo bem comigo e com você”, em vez de dizer: “Todos pecaram e carecem da glória de Deus…”.
Disciplina em ação
Fui tomar café com um pastor que estava cercado de problemas. Ele quase havia perdido sua igreja.
Os membros do coral sabiam, havia bastante tempo, que o ministro de música cometera atos de homossexualismo. Ele se envolveu a ponto de isto se tornar público.
Por muito tempo, ninguém disse nenhuma palavra sequer. Estavam todos esperando que alguma coisa acontecesse e uma mudança ocorresse. Por fim, o segredo vazou e chegou até ao pastor. Depois de muita oração e de uma busca diligente da verdade, chegou o momento em que o pastor e o ministro de música se encontraram para confrontar a questão. O ministro de música admitiu tudo.
– Você precisa decidir entre duas coisas – disse-lhe o pastor, de modo direto. – Deve arrepender-se ou renunciar. O ministro de música considerou as hipóteses e tomou sua decisão de modo muito bem pensado: não faria nem uma coisa nem outra. Em vez disso, começou a buscar apoio, primeiramente entre os membros do coro e, depois, entre a congregação.
Em pouco tempo, uma comissão de membros do coro pediu uma reunião com o pastor.
– Você não entende – disse o porta-voz. – Ele simplesmente tem um problema. Se nós o cercarmos de amor e compreensão, isto vai ajudá-lo e ele vai se livrar do problema.
– Sou eu quem não entende? – retrucou o pastor. – Se vocês o cercarem com amor e compreensão e se ele não tiver de se arrepender de seu pecado, então ele nunca conseguirá se livrar do problema.
As linhas de batalha estavam formadas. A comissão se espalhou pela igreja, ateando mais fogo ainda, arregimentando mais pessoas para ficarem contra o pastor piedoso a quem eles acusavam de não ser amoroso. O burburinho cresceu. Houve uma reunião tumultuada e, por intervenção divina, o pastor piedoso permaneceu.
O ministro de música saiu, levando consigo muitos simpatizantes. A igreja passou por momentos difíceis, mas Deus confirmou a posição piedosa daquele pastor. Hoje, a igreja está mais forte do que nos dias anteriores à crise. O próprio pastor é um homem mais forte.
Sabedoria humana versus sabedoria divina
A sabedoria humana debocha da verdade do Evangelho.
A diferença entre a sabedoria humana e a divina, especificamente com relação ao pecado, é que a sabedoria humana deseja encobri-lo. Adão tentou fazer isso no jardim. Primeiro, de modo simbólico, ao cobrir sua nudez. Depois, foi muito além disso, à medida que começou o processo de autojustificação, colocando a culpa de sua falta em Eva, de modo a encobrir seu próprio pecado.
Cubra-se – culpe outra pessoa.
Esta sabedoria falha continua a operar nos dias de hoje. O escândalo de Watergate tornou-se o clássico exemplo moderno de como acobertar alguma coisa. O enfraquecido mas resoluto pastor recusou-se a permitir que a sabedoria humana e o sentimentalismo se colocassem no caminho da justiça divina. Ele não permitiria que um pecado fosse encoberto e chamado de “um problema”.
A psicologia comportamental não tem nenhum livro-texto que seja adequado para lidar com o escopo do dilema humano. Deus escreveu o Livro sobre salvação dos pecados muito antes de a psicologia aparecer com a idéia de “resolução de problemas”.
Deus ordena obediência à sua palavra. Ele não admite coisas da moda quando estas violam a soberania de sua Palavra. Nossa atitude de não intervir não é simpática a Deus: é abominação a ele; e ele nos ordena – não nos convida, mas ordena – o arrependimento e a obediência.
A distância entre a sabedoria divina e a humana é astronomicamente grande. Em nossa sabedoria carnal reordenamos nosso sistema de valores de acordo com nossos desejos. O homem olha para sua tecnologia espacial, seus ternos Armani, um exemplar da Time e pensa que é sábio. Ele aprende e ensina uma filosofia que somente traz perguntas e nenhuma resposta. Associa-se a uma ciência que zomba da criação bíblica, ainda que não seja capaz de oferecer nada em troca, a não ser uma teoria sem comprovação sobre aquilo que ela crê ser a evolução.
“Quem entre vós é sábio e entendido?” é o que Tiago 3:13 nos pergunta incisivamente. O versículo seguinte continua: “Se, pelo contrário, tendes em vosso coração inveja amargurada e sentimento faccioso, nem vos glorieis disso, nem mintais contra a verdade”. Nosso mundo atormentado cheio de inveja, amargura e problemas – é o produto de nossa própria sabedoria mundana.
A sabedoria humana ensinou uma geração de líderes a crer que quanto maior o endividamento melhor será sua economia – uma filosofia que levou vários países à beira da ruína econômica. O sofisticado espírito da era moderna, baseado na sabedoria humana, traz discórdia, dor e, por fim, ruína.
É verdade que, desde o Éden, o homem não melhorou sua natureza. Ele pode ter mais conhecimento técnico, mas sua natureza continua a mesma. Dizer que a humanidade melhorou por causa da excelência técnica do homem é como dizer que um canibal está melhor porque usa garfo e faca.
“A sabedoria, porém, lá do alto”, conclui Tiago no versículo 17 do mesmo capitulo, “é, primeiramente, pura; depois, pacífica, indulgente, tratável, plena de misericórdia e de bons frutos, imparcial, sem fingimento”. Isto é sabedoria divina.
A sabedoria humana que nos manda sair para fazermos nossas coisas não é a sabedoria que vai nos levar à terra de Canaã. Você jamais poderá maximizar seu potencial até que tenha recebido a sabedoria de Deus.
Chame as coisas pelo nome
Os namorados que vivem juntos longe dos laços do matrimônio são fornicadores.
O adolescente desbocado é um zombador.
Deus não tem prazer em devaneios semânticos: ele fala a língua dos homens. As Escrituras colocam os pingos nos “is”: pecado é pecado.
Não haverá respostas inesperadas quando a “pessoa com problemas” se confrontar com uma eternidade sem Cristo. Os pecados serão Ievados a sério naquele momento – ainda que seja tarde demais. A “síndrome da Playboy” ou “necessidades biológicas”, assim como os “problemas” homossexuais não mais existirão.
Precisamos começar a enfrentar o pecado como homens.
Extraído do livro “Vitória sobre a Tentação”, Editora Mundo Cristão.
Uma resposta
Isso pertence ao livro “Homem ao Máximo” de Edwin Cule.