Thomas à Kempis
Jesus possui muitos seguidores que amam seu reino celestial, mas bem poucos dispostos a carregar a sua cruz. Há muitos que desejam consolação, mas poucos que queiram suportar tribulação. É fácil achar quem deseje partilhar da sua mesa, mas difícil encontrar quem se disponha a fazer parte de sua abstinência.
Todos desejam regozijar-se com ele, poucos se dispõem a suportar algo por ele. Muitos o seguem até o partir do pão, poucos até o beber do cálice da sua paixão. Muitos reverenciam seus milagres, poucos seguem a ignomínia da sua cruz. Muitos amam Jesus desde que nenhuma adversidade lhes sobrevenha. Muitos o louvam e o bendizem enquanto recebem sua consolação.
Contudo, aqueles que amam a Jesus por causa dele mesmo, e não por algum conforto ou benefício recebido, o bendizem mesmo diante da tribulação e angústia de coração, assim como o fazem nos momentos da mais elevada consolação. Oh, como é poderoso o puro amor por Jesus, quando não é misturado com qualquer elemento de interesse ou amor próprio!
Não devem ser considerados mercenários aqueles que somente buscam conforto para si mesmos? Não se revelam como amantes de si mesmos e não de Cristo, quando sempre pensam no próprio lucro e vantagem? Onde se encontrará alguém que queira servir a Deus em troca de nada?
Prepare-se para suportar muitas adversidades e problemas nesta vida atribulada; pois assim será onde quer que esteja, e assim lhe sucederá, onde quer que se esconda. Não existe nenhum remédio ou meio de escapar de tribulação e angústia, mas somente de aprender a suportá-las.
Beba do cálice do Senhor com disposição de coração se desejar ser seu amigo e participar da sua vida. Quanto aos confortos, deixe-os ao encargo de Deus. Deixe que ele faça o que melhor lhe aprouver.
De sua parte, disponha-se a sofrer tribulações e considere-as como causa da maior consolação; pois os sofrimentos do tempo presente, mesmo que você pudesse sofrer todos sozinho, não seriam capazes de fazê-lo digno de receber a glória por vir.
Quando tivermos lido e pesquisado tudo, que seja esta a conclusão final: “Em meio a muitas tribulações nos é necessário entrar no reino de Deus” (At 14.22).
Extraído de A Imitação de Cristo de Thomas à Kempis (1380 – 1471). Este livro é considerado o primeiro devocionário cristão, e calcula-se que é o livro que foi traduzido em mais idiomas e lido por mais pessoas do que qualquer outro livro, com exceção da Bíblia.