Por: Eliasaf de Assis
1-Pelo perdido
Andando em sintonia com o Espírito de Jesus Cristo, é impossível não ouvir três coisas. A primeira é que Jesus tem saudade do perdido, ele deseja o perdido imensamente. Deus está em busca das pessoas e, como revelam as parábolas de Lucas 15, ele não se satisfaz com a conta das que já encontrou, mas vai ao encalço daquela que se perdeu. Ele é obcecado como a mulher que faz questão de uma dracma e ágil como o pai que correu para abraçar o filho pródigo. Em retratos bem vívidos, Jesus nos mostra como o Deus Todo-poderoso é tomado pela alegria que faz trepidar as arquibancadas do céu quando encontra alguém que é seu e estava perdido!
É difícil conter as lágrimas sabendo que essa alegria potencial ainda não se realizou em tanta gente à nossa volta que não anda com Jesus. Experimente olhar o mundo com o olhar de Cristo. Fiz uma experiência dessas há algum tempo. Irritado com o metrô de São Paulo e os seus usuários, comecei a ler o livro “Praticando a Presença de Deus” e resolvi praticar mesmo! Pedi a Jesus que me mostrasse como ele vê as pessoas. No vagão lotado, antes um passageiro aborrecido, agora eu era um observador do perdido que Deus tão ardentemente deseja. No executivo altivo, de gravata sofisticada, eu via um homem carente de Deus para tomar decisões pessoais. No trabalhador braçal, cheirando a suor, vi a dor, a labuta, a falta de perspectiva quanto ao futuro. Na moça sensual, vestida de forma a chamar a atenção masculina, eu via a baixa auto-estima e a sede por um propósito maior.
Jesus não olha para as pessoas como nós olhamos; ele olha com um olhar tão diferente, cheio de expectativa e esperança, vendo valores que a gente não vê. Se você andar em sintonia com ele, vai olhar para o perdido e perceber a saudade que ele sente daquela pessoa.
A segunda coisa que você perceberá é que a busca pelo perdido é algo humilhante, podemos até dizer abaixo da dignidade do Deus Todo-poderoso. Pois no ribombar do vozerio dos profetas, século após século, Deus está dizendo: “Eu preciso de você!, eu quero você!, a minha felicidade não é completa sem você!”. Mas quem somos nós para atrair a atenção dele? Se pudéssemos, ouviríamos Deus gritando e chamando. No universo todo, a voz de Deus ecoa. As pessoas andam revoltadas e com raiva de Deus, contudo ele não se esqueceu delas e continua a chamar.
A terceira coisa que vamos ouvir é o grito do perdido. As pessoas no mundo têm um tipo de grito gutural, desesperado, primitivo que está profundamente enraizado na alma e escapa ocasionalmente, mesmo quando sufocado sob o mundanismo e o pecado.
O artista Edvard Munch (1863-1944) é um bom exemplo disso. Mesmo depois de passar seus melhores anos na boemia e promiscuidade, envolvido em tantos prazeres barulhentos desse mundo, ele não conseguia sufocar seu desespero e desejo de suicídio por falta de sentido. Nas suas obras percebe-se claramente esse grito do perdido; aliás, sua obra mais famosa chama-se “O Grito”. Ele o pintou após uma forte tentação para atirar-se de uma ponte em Oslo que era batizada como “Ponte dos Suicidas”. Ao sopé da colina, havia um abatedouro de porcos e um hospício. Os gritos dos loucos e dos porcos sendo abatidos somaram-se ao do pintor, e, nesse momento sombrio, ele resistiu ao ímpeto de se matar, correu para seu ateliê e pintou o quadro considerado a obra de arte mais reproduzida em todo o mundo. Os críticos de arte dizem que esse quadro é um retrato da condição humana; o grito do homem caído que ecoa por todo o universo; o homem defraudado de tudo.
Se você estiver em comunhão com Jesus Cristo, ele vai revelar o coração do perdido, e você passará a ouvir o que ele ouve todos os dias: o clamor das pessoas gritando e agonizando. Como disse Agostinho, em suas Confissões: “Fizeste-nos para ti, e inquieto está o nosso coração, enquanto não repousa em ti”.
Chorar sinceramente pelo perdido é uma excelente prática, de comprovada eficiência pelos numerosos intercessores, famosos e anônimos, que triunfaram ao chorar e pedir a Deus pela salvação das pessoas. A própria mãe de Agostinho, quando ele ainda não era convertido, insistia aos prantos com um bispo para que o visitasse e evangelizasse. O bispo disse que não iria, mas a consolou dizendo: “Mulher, vá em paz, porque é impossível que se perca o filho de tantas lágrimas!”.
2-Pelo tempo perdido
“Há bens mais perdidos e bens menos perdidos. O bem mais perdido e totalmente perdido é aquele que perdido uma vez não pode recuperar-se.
Perde um homem a Deus, e perde o tempo: qual é maior perda? Em razão de bem é Deus, em razão de perdido é o tempo; porque Deus perdido pode recuperar-se; o tempo perdido não se pode recuperar.”
(Padre Antonio Vieira)
Quem encontra Deus na idade madura tem um profundo sentimento de tristeza pelo tempo perdido: saúde perdida em maus hábitos, dinheiro desperdiçado, filhos não alcançados. Perder tempo também é perder a Deus, pois estou perdendo o tratamento e o desfrute de Deus naquele período.
Tempo bem utilizado sempre produz algo: crescimento espiritual, habilidades, boas obras (toda boa obra exige tempo), comunhão com Deus e com o próximo ou recursos financeiros. Tempo mal aproveitado é um tempo que não produz nada, um tempo em que não estou em comunhão com Deus. Se estamos em comunhão com Deus, nosso tempo é potencializado. Pois andar com Jesus minuto a minuto, em comunhão de mente e coração, não combina com desperdício de tempo.
Se o tempo está sendo desperdiçado, algo está errado em minha comunhão com Deus; de maneira semelhante, se estou obedecendo a ele, algum tipo de produção está acontecendo.
As lágrimas pelo tempo perdido só terão valor se nos conduzirem a uma nova sensibilidade à voz de Deus e a acertar nossa vida de acordo com as prioridades dele.
3-Pela revelação plena de Jesus
“Meu único desejo é contemplar o seu rosto… Se o visse apenas em um sonho, continuaria dormindo por toda eternidade.” Rabino Yehuda Halevi, citado por Abraham Joshua Heschel
O que se fez daquele entusiasmo jovial e alegre martírio que tomou os cristãos no primeiro século? Como recuperar o mesmo poder explosivo e colorido da Boa Notícia, de tal forma que nossas metrópoles tão sofridas sejam impactadas por amor, perdão, milagres e devoção como ocorreu através dos povos da antiguidade?
Tal como os afrescos de Michelangelo na Capela Sistina, o tempo e a fuligem oxidaram a pintura viva, alegre e celestial do evangelho, que hoje está escondido sob camadas e camadas de muitas tentativas de restauração. E há a nítida impressão, mesmo por parte de quem não é cristão mas tem sede, que a essência da mensagem de Jesus se perdeu. Tanto é verdade, que o assunto central do evangelho – a graça de Deus em Cristo – é novidade para muitos e motivo para francas discussões teológicas que nada resolvem.
Precisamos chorar por revelação, que é a experiência que nos possibilita, por iluminação divina, ver quem é Jesus.
Eu tive um sonho, como o rabino Yehuda; encontrei-me com Jesus de forma decisiva na adolescência após tentar o suicídio. Mas acordei, e isso me enche de sentimentos muito pouco religiosos, um misto de raiva e desapontamento. Eu quero ficar possuído pelo evangelho, por esta febre e paixão que não aceita outra coisa que não seja a verdade. Eu preciso da revelação, quero sonhar com ele e não acordar por toda a eternidade.
Peço a Deus para não ofender ninguém, mas estou desesperadamente sedento por ver o testemunho de Jesus avançar em nosso mundo pós-moderno, por isso padeço de um forte repúdio à religião organizada e um choro incontido para que Deus levante seu povo. Como diz a letra de uma música que fiz:
Tenho sede, tenho fome pela prática vivida, onde o evangelho seja um estilo de vida,
Mais militância, menos religião, vida real em três dimensões,
Vida abundante não pode ser só isso, deve haver uma mensagem oculta que nós não conseguimos entender.
Tenho raiva da história e das religiões porque sujaram a água que quero tanto beber.
Respostas prontas não servem para mim, faço a pergunta que o mundo faz, e a pergunta é assim:
Onde está a sociedade alternativa,
Cristo em seu corpo, amor, aceitação e perdão
Paternidade, segurança, autoridade e correção,
A família perdida nela vou encontrar,
Razão pra viver e viver pra valer