Por: Harold Walker
“… transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus” (Rm 12.2).
Não basta fazer a coisa certa. É necessário fazer a coisa certa na hora certa e no lugar certo. Fazer a coisa certa na hora errada é tão errado quanto fazer a coisa errada. (Já para fazer a coisa errada, não existe hora ou lugar adequado!)
Nenhum servo sincero do nosso Senhor Jesus Cristo fica despreocupado quando o assunto é saber e fazer a vontade de Deus. Esse é um assunto “quente” para todo cristão verdadeiro. Será que estou fazendo o que Deus quer que eu faça? Não haveria algo melhor, mais acertado, para eu fazer? As provações ou fracassos indicam que não estou acertando o alvo? Se eu estivesse no centro da perfeita vontade de Deus, meus esforços não estariam produzindo muito mais fruto?
Para saber as respostas a essas perguntas, precisamos conhecer a voz de Deus. Além disso, temos de conhecer o momento em que estamos vivendo e a fase em que a Igreja se encontra. Não vivemos numa redoma. Nossa vida faz parte de um contexto. A vontade de Deus para nós individualmente se encaixa perfeitamente com a sua vontade para a Igreja como um todo.
O que você acharia de alguém ler a história de Noé e sentir-se inspirado a construir uma arca para preparar-se para um dilúvio inexistente? Ou de espelhar-se em Davi e praticar pontaria com estilingue para matar um Golias imaginário? Ou de admirar Lutero e colocar-se a elaborar teses para pregar na porta de alguma instituição histórica da igreja? Ou de ler histórias de grandes homens e mulheres do século passado que tinham o dom de sinais e milagres e ir para o monte jejuar 40 dias esperando descer de lá com a mesma unção? Ou olhar para os estilos diferentes de organizações e rituais que a igreja pratica hoje, escolher o que mais lhe agrada e colocar-se a fazer mais do mesmo?
Infelizmente, a maioria das pessoas concordará que as primeiras propostas são ridículas, mas poucas pensarão o mesmo sobre a última, justamente porque é o que quase todos nós fazemos. Penso, porém, que, para Deus, todas são igualmente absurdas. Não podemos definir nossa linha de ação, aquilo em que investiremos a maior parte de nosso tempo e energia, com base em algo que deu certo no passado, mas que já deixou de ser relevante.
Vivemos numa época em que a velocidade das mudanças é atordoante. No curto espaço de cinco anos, muitos aparelhos e sistemas atuais não apenas deixarão de ser usados, mas quase ninguém mais lembrará que existiram! Com exceção de algumas profissões permanentemente necessárias (como advogados, médicos, engenheiros), a maioria dos futuros trabalhadores estará exercendo atividades que ainda não existem. E as que existem hoje serão exercidas de formas completamente diversas das atuais. Por causa disso, qualquer bom sistema de formação profissional dedica-se mais à formação de habilidades multifuncionais do que ao ensino de processos e costumes atuais.
Não queremos dizer com isso que o mundo nunca passou por transformações radicais. Sempre houve mudanças que forçavam a humanidade a adaptar-se aos novos ambientes. A diferença é a velocidade atual das mudanças: coisas que demoravam séculos para mudar hoje levam menos de cinco anos!
Apesar de uma história longa, com aproximadamente 2 mil anos, a Igreja do Senhor Jesus não tem apenas sobrevivido, mas também se alastrado sobre a face da Terra. Isso não teria acontecido se ela não tivesse se adaptado, em cada geração e a cada nova mudança, aos ambientes diferentes que iam surgindo. Nunca lhe faltaram homens e mulheres corajosos e pioneiros que desafiassem a ordem estabelecida e propusessem novas formas de se viver o Evangelho.
Neste início de século e milênio, há um clamor crescente no coração de milhões de cristãos para o surgimento da versão 2.1 do Evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo. As velhas formas de se pregar e viver o Evangelho estão ficando cada vez mais obsoletas. Precisamos de uma nova reforma, uma renovação da nossa mente coletiva para experimentarmos a boa, santa e agradável vontade de Deus nesta geração do século 21.
Sinais de Mudanças Já Iniciadas
Deus está realmente levando a Igreja a mudar de estação, de modo de operação? A seguir, alguns indicadores que mostram que já estamos em fase de transição.
- Ser membro de igreja. No passado, deixar de ser membro de igreja era praticamente sinônimo de desviar-se da fé. Hoje, muitas pessoas estão saindo das igrejas, não porque sejam frias, mas porque buscam uma vida espiritual mais autêntica e estão com sede de verdadeira comunhão. Evidentemente, estão incorrendo em grandes perigos de independência do Corpo, falsas doutrinas, extremos etc. Porém, precisamos compreender o novo cenário espiritual e não tentar enquadrar essas pessoas nas regras antigas. Precisamos ensiná-las a valorizar alianças e ajudá-las a encontrar estruturas viáveis de relacionamento e comunhão.
- Dízimos e ofertas. É notório o abuso desse princípio bíblico por parte de muitas igrejas e ministérios. Está chegando a hora de mudar a perspectiva, de realmente aplicar a Nova Aliança em que as pessoas não mais contribuirão por causa de uma lei, uma campanha, um desejo de ser abençoado ou uma pressão manipuladora sobre sua consciência. Deveriam ter um coração voluntário e ofertar com generosidade e espontaneidade à obra de Deus. As igrejas, por outro lado, precisam buscar maior transparência e integridade na gerência desses recursos e direcioná-los mais a missões e obras sociais do que a construções de templos e benefícios dos próprios membros.
- Missões e obras sociais. Deus está começando a mostrar um novo caminho, dentro do movimento em direção à unidade, de maior cooperação e parceria entre as igrejas nessa área. Ao invés de cada igreja levantar seu próprio trabalho, deve haver uma disposição de somar recursos e energias para ajudar projetos válidos de outras igrejas ou missões. Deve haver também missões de curto prazo para envolver pessoas que não podem dedicar-se em tempo integral e jovens que precisam de experiências práticas para descobrir seu chamado.
- Padrões de santidade. Há algum tempo, a maioria dos cristãos tem entendido que santidade não é um conjunto de regras de comportamento exterior. Com isso, porém, tem havido uma tendência maior a licenciosidade, conformidade com o mundo e abertura a práticas e pecados desconhecidos no passado. Precisamos enfrentar esse desafio e orientar as pessoas a conhecer e obedecer ao Espírito Santo.
- Teologia viva. Cada tipo de igreja gera uma teologia semelhante a ela, e vice-versa. Se Deus está conduzindo a Igreja como um todo de volta para sua natureza original, naturalmente a teologia precisa mudar também. A teologia viva, em contraste com a teologia sistemática tradicional, busca ir além da compreensão intelectual da letra, embora não despreze o estudo e o conhecimento. Passa a ser mais ligada ao estudo da própria Bíblia do que a comentários sobre ela e é produto de busca e revelação comunitária (no contexto de oração e diálogo), não apenas de pesquisas e estudos individuais.
Uma resposta
Gostei desta matéria, já terminei um curso de teologia, e admiro um trabalho bem feito como este. Parabéns e muito abrigado.