Por: John Walker
Você acredita que um rabino judaico que nega a Trindade pode ser mais aceito por Deus do que um cristão com a doutrina correta? Eu acredito. A razão? Relacionamento é muito mais importante para Deus do que consentimento mental. Deixe-me explicar. O próprio Jesus disse que todo tipo de blasfêmia proferida contra ele poderia ser perdoado, mas a blasfêmia contra o Espírito Santo não pode ser perdoada (Mt 12.31-32). O que significa isso? A Trindade é menos uma doutrina do que um relacionamento. (Leia cuidadosamente e em espírito de oração os capítulos 14 a 17 do evangelho de João.)
O Pai ama o Filho, e o Filho honra o Pai. O Espírito Santo é esse relacionamento. No livro Espaço para Deus, Henri Nouwen escreve: “Este amor envolvente, que sintetiza o relacionamento entre o Pai e o Filho, é uma Pessoa divina, co-igual com o Pai e o Filho. Tem um nome pessoal. É chamado Espírito Santo. O Pai ama o Filho e se derrama no Filho. O Filho é amado pelo Pai e devolve tudo que ele é ao Pai. O Espírito é o próprio amor em si, eternamente envolvendo o Pai e o Filho. “Portanto, podemos estar errados em doutrina e certos em relacionamento, e agradar a Deus. Por outro lado, não podemos estar certos em dou trina e errados em relacionamento, è agradara Deus.
O Espírito Santo não só é o relacionamento entre o Pai e o Filho no céu, mas é também a chave para o relacionamento correto entre pais e filhos na terra. (Veja o livro Paternidade escrito por Derek Prince.) De fato, o Espírito Santo é a ligação espiritual entre quaisquer duas pessoas na terra. Quando Jesus orou em João 17.21, “para que todos sejam um; assim como tu, ó Pai, és em mim, e eu em ti, que também eles sejam um em nós; para que o mundo creia que tu me enviaste”, devemos entender que o agente neste processo é o Espírito Santo.
Portanto, parece-me que o pecado contra o Espírito Santo deve ser o persistente desprezo de verdadeiros relacionamentos, substituindo-os com fatores como orgulho, interesses egoístas e zelo por doutrina em vez de amor e humildade. Pecar contra relacionamento, então, é pecar contra o Espírito Santo. (Obviamente, de forma deliberada e habitual.)
Para entender isso melhor, precisamos voltar ao nosso rabino. Descobri um livreto intitulado Eu e Tu por Martin Buber (1878-1965), um rabino e filósofo judeu-alemão. A tese de Buber é que em todo relacionamento existe uma escolha entre duas alternativas: “Eu-Tu” ou “Eu-aquilo”.
Se o relacionamento é do tipo “Eu-Tu”, há vida. Se é do tipo “Eu-aquilo”, só há morte. Podemos tratar uma outra pessoa, ou até mesmo Deus, como um objeto, algo a ser usado para nosso próprio benefício. Infelizmente, quase todos os relacionamentos humanos encaixam nesta categoria. Mas se, pela graça de Deus, temos um relacionamento com Deus ou com alguma outra pessoa que trata aquela pessoa como tendo valor intrínseco (ou seja, se a valorizamos pelo que ela é em si e não pelo que ela faz por nós), e os dois têm verdadeira comunhão, então há vida.
Ao ler este livreto (precisei fazer isso duas vezes em seguida em profunda concentração para conseguir entendê-lo), tive uma nova compreensão do que é “vida eterna”. Francamente, eu nunca tinha dado muita importância à “vida eterna”. Minha paixão era dar tudo para Jesus e não me importava com o que aconteceria comigo. Mas este irmão judeu ajudou-me a entender que vida eterna é relacionamento, comunhão com Deus; que eu havia sido criado para este relacionamento, e que isso era muito importante para Deus. Era ele quem estava me procurando, e assim grandemente valorizava este relacionamento comigo.
Antes disso, quando lia em Lucas 10.20: “Alegrai-vos por estarem os vossos nomes escritos nos céus”, não sentia nenhuma emoção. Agora, porém, eu podia verdadeiramente me regozijar porque meu destino é comunhão eterna com a pessoa mais maravilhosa que existe (e com todos os outros santos). Ele está me procurando muito mais do que eu o procuro. Será um relacionamento “Eu-Tu” para sempre!
Portanto, estou esperando ansiosamente encontrar este precioso irmão judeu na vida porvir (e muitos outros como ele). Ele teve uma profunda revelação do funcionamento da Trindade, apesar de rejeitá-la como doutrina. Mas não tenho tanta certeza sobre muitos “cristãos” que são tão corretos em sua doutrina, mas não têm cultiva do relacionamento, ou comunhão no Espírito, com outras pessoas, nem com o próprio Senhor.
Leiamos agora 1 João, capítulos 1 e -2.1-10. Meditando nesta passagem, podemos perceber que comunhão (pelo Espírito Santo) produz vida. Esta vida produz luz e esta luz produz amor. “Aquele que não ama não conhece a Deus, porque Deus é amor” (1 Jo 4.8).
Ao terminar, podemos dizer que nossos irmãos judeus estão cegos em relação à doutrina correta, enquanto nós cristãos temos enfatizado doutrina ao mesmo tempo que fracassamos nos relacionamentos, e conseqüentemente no amor. Se não temos amor, nada somos (1 Co 13.2).
A respeito dos judeus, há dois fatores que têm contribuído à sua cegueira. Em primeiro lugar, seu grande profeta, Moisés, proclamou que há somente um Deus (Dt 6.4). Eles consideram a doutrina da Trindade como blasfêmia. Em segundo lugar, a longa história de atrocidades cometidas pelos “cristãos” contra os judeus no nome de Jesus e com o sinal da cruz tem causado uma profunda alienação dentro deles contra todas as doutrinas cristãs.
Entretanto, vemos em Efésios 2.11-22 e em Romanos 11 que Deus prometeu uma reconciliação entre judeu e gentio e que haverá, no fim, um novo homem, um corpo em Cristo. Creio que a restauração da igreja e a volta de Cristo dependem do cumprimento dessas promessas.