Por: Luiz Montanini
Na falta de uma batalha de verdade para lutar e uma aventura memorável para viver (dois dos três principais desejos do fundo do coração de um homem, apontados por John Eldredge no livro Coração Selvagem – o terceiro seria uma linda mulher para conquistar), um grupo de onze homens cristãos, alguns acompanhados por filhos jovens ou adolescentes, acampou recentemente por três dias, à beira do rio Jacaré-Pepira, no município paulista de Itaju, próximo a Jaú e Ibitinga.
Muito embora não cavalgaram nem lutaram como William Wallace em sua saga para libertar a Escócia (veja o filme Coração Valente) e tampouco singraram 7 mil quilômetros de oceano em barcos a remo, como Amyr Klink, o que fizeram juntos teve valor tão ou mais significativo a julgar pelos relatos posteriores dos participantes.
O plano do grupo era simples. Os profissionais e estudantes deixariam seus afazeres e até o restante da família por algum tempo, desligariam os celulares e partiriam para um momento raro em que ouviriam Deus e teriam lazer e relacionamento de amizade com toda a liberdade, acampados à beira de um rio, totalmente fora de sua zona de conforto.
Os 11 homens estavam dispostos a não manter nenhum segredo diante de Deus e até uns dos outros durante esse tempo, especialmente a respeito de suas aspirações e frustrações. Haviam entendido, por meio de conversas anteriores no grupo, pela Palavra de Deus e por livros como Para além dos limites, de David Wong, que, fora da zona de conforto, estamos mais abertos a mudanças e encontramos oportunidades de crescimento – só para ficar nesses dois itens.
E lá foram eles. O local escolhido foi o Chalés Corvinaré (www.chalescorvinare.com.br), à beira do rio Jacaré-Pepira, um dos mais limpos do Estado. Ali, o grupo pernoitou em um dos chalés, comeu à beira de um fogão à lenha na casa do dono da propriedade e amanheceu ao som de uma canção cristã acompanhada por violão. Era o toque de alvorada para todos se levantarem e juntos terem um tempo de adoração e compartilhar – como, aliás, aconteceria nos dias seguintes.
Homens voltam a olhar as aves do céu e os lírios do campo
Após um café animado, o grupo partiu em três barcos rumo ao local escolhido. Um dos botes, puxado por outro, levou as barracas e apetrechos do acampamento. Depois de meia hora de navegação, alguém brincou: mata à vista. Ali, engenheiros de computação e construção civil, advogado, motorista de caminhão, jornalista, contabilista e estudantes localizaram a clareira na mata, limparam-na e montaram as barracas.
Alguns foram pescar, outros saíram para explorar o local, outros ainda foram atrás de lenha para a fogueira da noite; tudo de forma alegre e natural. À noite, após o peixe pescado e frito, em volta da fogueira acesa, cantou-se a Deus, houve bate-papo e compartilhar de palavra relacionada à igreja simples que Deus almeja e à nossa ação como alguns dos muitos homens que Deus quer levantar nesse processo.
Hombridade foi o tema principal das conversas em volta da fogueira. Observou-se que, hoje, há algo fora do lugar com os homens, o gênero masculino, e que, definitivamente, eles vivem em função da própria criação e não da de Deus. Em razão disso, têm-se esquecido de “olhar as aves do céu e os lírios do campo” como Jesus ensinou.
Jesus, o padrão de homem feito, foi, é claro, também o padrão em todo aquele tempo. A respeito de Jesus e do que ele transfere aos seus, alguém compartilhou: “À direita de Deus, nesse exato instante, está um homem. Ele é Deus, mas é também verdadeiramente homem. É uma pessoa que alcançou a plenitude como homem e, em decorrência, como tal e pelo Espírito Santo, transforma outros em verdadeiros homens, plenos como ele. A nós, compete descobrir quais são essas pisadas e segui-las”. A esse respeito, o jovem Renato Avelar abordou, em resumo, nas manhãs dos três dias, a nossa dificuldade de ouvir e obedecer a Deus – e o corre-corre, é claro, encabeça a lista.
A busca de Deus precede a do lazer
O acampamento do grupo de 11 homens e seus segredos ao rio Jacaré-Pepira foi ótimo, etc. Em outros tempos, não passaria disso, um agradável momento, e ficaria circunscrito ao próprio grupo e a seus familiares e amigos e, talvez, fosse apenas mencionado em um boletim de igreja local.
Mas pensamos em publicá-lo em razão do caráter inusitado, uma vez que o grupo decidiu acampar não apenas pelo lazer em si, mas na expectativa de aproximar-se mais de Deus e de sua criação, de entender melhor o que significa a igreja e, sobretudo, de como descobrir seu chamado e cumprir seu destino e vocação durante o restante da vida.
Por causa do encontro, alguns renunciaram às exigências do próprio trabalho. Lauzier Araújo, por exemplo, engenheiro de processos de uma grande indústria de telefones, desligou o celular e confiou. Ao final do acampamento, quando o religou, em vez da costumeira centena de chamadas da equipe de filipinos que liderava o trabalho no Estado de São Paulo, havia apenas uma ligação na caixa postal e fácil de ser resolvida. Lauzier voltou para casa decidido a mudar seu estilo de vida. E o fez: deixou a empresa que tomava muito de seu tempo e migrou para outra, próxima à sua casa, que já lhe proporciona o desejado maior tempo com Deus, com a família e com o serviço à obra de Deus.
Um dos jovens participantes, Lucas, 22 anos, passou o tempo em busca de Deus. Com chamado missionário, para usar o esporte (futebol) na evangelização, estava sem perspectivas. O grupo, incluindo seu pai, Paulo, orou por ele. Lucas viajou alguns dias depois para a África do Sul a fim de aprender inglês. Iria aperfeiçoar-se na língua e voltaria para trabalhar como administrador de uma empresa a pedido do antigo chefe. Mas não era bem isso o que ele queria, e Deus atendeu o desejo de seu coração. Na África do Sul, em Cape Town, acabou encontrando-se com um missionário que viera ao Brasil, em um encontro de evangelização pelo esporte no Rio de Janeiro. Dali foi levado à Universidade de Stellenbosch, a 50 quilômetros de Cape Town, fez um teste na equipe, que disputa o campeonato metropolitano, passou, foi aceito na universidade e integrado ao time. Em quatro jogos, até o final de outubro, já tinha feito nove gols e estava utilizando as tardes para evangelizar jovens e crianças em escolinhas de futebol. Vai passar os próximos anos jogando e ensinando futebol e estudando línguas.
O encontro ajudou-o? O próprio Lucas responde: “Foi uma experiência única. Deus não só direcionou o meu caminho, mas também usou irmãos para revelar palavras que hoje vivo aqui na África do Sul. Ensinando e aprendendo a como ser um varão perfeito aos olhos de Deus. O Espírito Santo realmente se moveu em nosso meio naquele tempo e nos abençoou como homens e cabeças de famílias.”
A busca do grupo – que apenas se iniciou, sejamos realistas – é por algo que o ajude a alcançar todo o potencial como homens para torná-los cada vez mais semelhantes a Cristo, como diz Paulo Junior no livro a “Alegria de Ser”. É a busca de uma mente renovada, cuja sabedoria vem do alto e é frontalmente contrária a esse sistema reducionista de pensar. E, para isso, não raro é necessário acampar à beira de um rio ou sair para três dias de meditação solitária nas montanhas, porque Deus – como disseram Lauzier e Lucas – parece ter predileção por falar-nos em lugares ou situações inusitadas.
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Testemunhos
Que Deus mude o foco da minha vida
Renato, engenheiro civil
“O contato com a natureza (criação) e o envolvimento com a realização da obra de Deus nos trazem pra perto do próprio Deus. Foi como me senti naquele final de semana, quando, integrado e em sintonia com o Corpo de Cristo, por meio dos queridos mais do que irmãos que participaram, e em contato com a criação divina, estive acampado por dois dias podendo desfrutar da presença de Deus nos mais simples detalhes de sua criação, nos gestos dos amados, e compartilhar das suas bênçãos! Essa tem sido minha oração após esse passeio: que Deus mude o foco da minha vida, e que eu esteja centralizado na propagação do Evangelho do Reino e não mais na subsistência.”
Contato puro com Deus e sadio entre os homens
Paulo, dos Chalés Corvinaré
“O cotidiano nos faz esquecer a verdadeira essência do ser. A quebra da rotina, ao contrário, de modo saudável como foi nosso passeio, aproxima as pessoas: pais, filhos, amigos e até quem nunca se viu. Encontros assim, integrando homem e natureza, deveriam repetir-se com mais freqüência, pois levam a um contato puro com Deus e sadio entre os homens.”
O melhor da minha vida
Nilo, caminhoneiro
“Já fiz muitos passeios e tive muitos momentos de lazer. Antes de conhecer a Deus, fui ao Rock in Rio e fiz diversas viagens. Mas esse foi o melhor passeio de toda a minha vida – e já estou perto dos 50 anos.”
Foi realmente coisa de homem
Lauzier, engenheiro de sistemas
“Foi uma experiência muito interessante. Quero mais é poder experimentar coisas diferentes, além do convencional. Ousar mais. Precisamos resgatar a nossa hombridade, recuperar a coragem pra ir à frente. Fazer as coisas para as quais o homem foi criado. Desbravar. E ali, naquele local, desbravamos, limpamos, organizamos e tornamos aquilo habitável, com pessoas exercitando dons e talentos que nem sequer imaginávamos. Foi também muito bom o tempo ao redor da fogueira, o compartilhar, abrir o coração sem muitas reservas, sem mulheres por perto. Foi realmente coisa de homem.”
Revelação à luz da fogueira
Daniel, estudante
“Deus revelou-se a nós à luz da fogueira, na comunhão dos irmãos. Chegamos mais próximos dele através da intimidade que desenvolvemos uns com os outros na simplicidade natural que nos rodeava.”