Por: Harold Walker
Podemos resumir a história do mundo em apenas nove palavras e adquirir, assim, uma visão panorâmica de todo o seu percurso, começando antes da criação do mundo e chegando até o final de todas as coisas.
1. SONHO
Talvez a melhor expressão do sonho de Deus encontre-se em Efésios 1.3-14. Paulo estava tão inspirado e empolgado que, de um só fôlego (sem usar pontos ou terminar a frase), usou uma riqueza de palavras e expressões equivalentes para o explicar e descrever: “elegeu, predestinou, beneplácito de sua vontade, mistério da sua vontade, predestinados, propósito, conselho da sua vontade”. Ele fala sobre o período anterior à fundação do mundo (v.4) e o da plenitude dos tempos (v.10), ou seja, sobre o início e o fim do mundo.
Perceba a grandeza de nosso Deus: antes da fundação do mundo, ele já estava planejando o que aconteceria no fim. Ou seja, Deus viu o fim do mundo antes de criá-lo. Que coisa impressionante! E, durante o processo da história, ele continua escolhendo, propondo, amando, querendo, planejando, sonhando.
Veja no versículo 10 como Paulo expressou o alvo final do sonho de Deus: “fazer convergir em Cristo todas as coisas, tanto as do céu como as da terra”.
O que existia antes do início do mundo? Só Deus. Mas não devemos dizer “Deus” levianamente, como se fosse pouca coisa. Existia DEUS – e isso tem grande significado! Ele é tão grande que não cabe nem no imenso universo que criou; não conseguimos sequer conceber a extensão de sua infinitude. E este Deus onipotente, onisciente e onipresente não estava lá, parado e inerte, contente consigo mesmo. Ele estava sonhando, pensando e imaginando de que forma criaria todas as coisas.
O sonho de Deus não é um sonho de alguém que está dormindo. Seu sonho é um projeto, um plano, uma idéia, uma vontade. Em sua mente, tudo já está pronto e arquitetado; não aconteceu ainda no tempo e no espaço, mas vai acontecer. Na verdade, Deus nada faz sem sonhar primeiro. E o mesmo acontece com o homem feito à sua imagem. Como homem, se você sonha, talvez seu sonho não se realize; porém se você não sonha, é certeza que nada acontecerá. Este princípio que vemos no mundo material – de tudo acontecer no pensamento antes de se concretizar – é apenas um reflexo da criatividade de Deus: tudo o que existe, quer seja no mundo visível, quer no invisível, aconteceu primeiro no pensamento de Deus.
O primeiro aspecto que precisamos entender sobre Deus é que ele é invisível, mas real. Se fosse visível, poderíamos dar uma olhada nele e compreender e dominá-lo. Poderíamos divisar seus limites e ver onde começa e termina. Nesse caso, deixaria de ser Deus. O fato é que, por ser tão grande, Deus é invisível, mas nem por isso irreal.
Em segundo lugar, o fato de ser invisível não significa que seja um Deus desmiolado, abstrato, sem lógica, coerência, alvo ou propósito. É invisível, mas não é uma energia cósmica impessoal. É um Deus que pensa de modo semelhante a nós, só que muito melhor. Pensa com proposições verbalizadas, com sujeito e predicado. Seus pensamentos têm lógica, com início, meio e fim. Se nossa capacidade de pensar pudesse chegar perto da capacidade de Deus, entenderíamos que os pensamentos dele têm lógica.
Por sermos finitos, há coisas que vão além da nossa capacidade de compreensão. Por exemplo: como, num piscar de olhos, nosso corpo haverá de tornar-se glorioso e imortal? Como os céus e a terra vão desaparecer e de onde virão os novos céus e nova terra? Não compreendemos como tudo acontecerá, mas não podemos negar que tudo faz sentido, pois os pensamentos de Deus são claros, concretos e definidos.
Finalmente, devemos entender que Deus não passa direto do sonho para a ação. Deus, além de eficiente, aprecia a interação. O mundo moderno, cada vez mais mecanizado e automatizado, é que procura funcionar com mais eficiência e menos relacionamento. Há cada vez menos funcionários nas fábricas e empresas porque o pensamento que impera hoje é de que as coisas funcionam melhor sem gente – onde há gente, há confusão! Porém Deus gosta de sonhar e gosta de gente. É essa característica que nos leva à segunda palavra…
2. COMUNHÃO
A Bíblia não nos mostra um Deus solitário, introvertido e narcisista, mas um Deus em três pessoas, em amor e comunhão constantes. E o fator mais importante na comunhão é o outro. Eu, sozinho, vivendo em função de mim mesmo, produzo solidão, mas, quando entra o outro, há comunhão. Qual é a principal característica da vida eterna? É a doação total de um para o outro, e a devolução integral do outro para o primeiro. É esse tipo de vida que sempre existiu na Trindade.
Portanto, antes da fundação do mundo, havia uma família celestial: Pai, Filho e Espírito Santo. Deus é eternamente Pai e eternamente tem Filho. Nunca houve uma época em que o Pai existiu sem o Filho; do contrário, não seria Pai. O Pai sempre amou o Filho, confiou nele e o achou o máximo. O Filho nunca quis tomar o lugar do Pai e, por sua vez, também sempre o achou o máximo. Os dois se doam um para o outro. Tal relação pode ser comparada a um maravilhoso e interminável rali numa partida de vôlei. A bola nunca cai no chão, e o movimento da bola no ar, ligando um time ao outro, é o Espírito Santo. Há tanta harmonia e glória no relacionamento entre o Pai e o Filho que entra em cena uma terceira pessoa: o Espírito Santo. Com uma comunidade divina e tão espetacular, não havia necessidade de mais nada.
Na verdade, o Filho não é só ele mesmo, ele também está no outro que, por sua vez, também está nele. E o mesmo acontece com o Pai. Afinal, se você ama tanto o outro a ponto de lhe dar tudo, e ele lhe dá tudo de volta, existe muito de você dentro do outro e muito do outro dentro de você. No fim, fica difícil saber quem é quem. A Trindade é algo misterioso, impossível de ser captada por nossa mente finita, porque está em outra dimensão – na dimensão da eternidade onde três são um sem, por isso, serem três deuses. Três pessoas, mas um só Deus; três pessoas, mas uma só essência, uma só vontade e conselho.
Interessante que o filósofo grego Platão, sem revelação dessas coisas sobre Deus, por meio de matemática e lógica, provou a existência da Trindade. Declarou que para existir 1 tem de haver 3. O 1 sozinho não existe porque não há nenhum outro para conhecê-lo. É necessária a existência do 2 para que o 1 seja conhecido. Mas só o 1 e o 2 também não existem se não houver o 3 para fazer a ligação entre os dois. O que nos liga uns com os outros aqui na Terra? O ar, a luz, o som, as palavras e muitas outras coisas. Sem esses elementos, não perceberíamos uns aos outros.
Filosoficamente falando, para existir 1 tem de haver 3. E, quando se chega ao 3, abre-se uma porta para todos os outros números: 4, 5, 6…, infinitamente. De modo semelhante, a Trindade abre a porta para que toda a humanidade participe desse mirabolante sonho de Deus.
É importante que entendamos a vida dinâmica da Trindade para perceber que o sonho de Deus é uma grande obra de arte. Tudo já estava muito bom, mas ele achou que poderia ficar ainda melhor. O sonho de Deus é de um idealismo desvairado. E, se você é cristão, tem de decidir se o abraça ou não. Existem uns loucos idealistas que pregam um mundo de paz, sem guerra ou maldade – um paraíso na Terra sem Deus. No entanto, Deus é mais louco do que eles, pois leva seu sonho a extremos inimagináveis. E você precisa decidir se vai crer ou não nesse sonho de Deus, porque é o que determinará o rumo de sua vida.
Deus sonhou que a comunhão que tinha com o Filho pelo Espírito Santo poderia ser multiplicada com muitos outros seres à sua imagem. Que a vida eterna de amor e comunhão desfrutada pela Trindade antes de o mundo começar cresceria em quantidade e qualidade com a criação de seres semelhantes a ele. Que a confiança total de absolutamente nunca duvidar do outro nem invejá-lo, a disposição de dar sem esperar nada em troca, o desejo de só procurar o bem do outro – que todas essas facetas do amor divino seriam multiplicadas de forma inimaginável.
Basicamente, este era o sonho de Deus: criar seres que vivessem o mesmo tipo de vida que há na Trindade. Uma expressão que resume tudo isso é amor divino – total ausência de inveja, desconfiança, medo, egoísmo, nem um pingo de orgulho. E entenda uma coisa: Jesus não voltará enquanto não existir uma igreja que pratique esse tipo de amor. Para Jesus voltar, o sonho de Deus tem de se cumprir. Portanto, além de sonhar, Deus conversou sobre seu sonho e apostou tudo nele. Jamais desistirá enquanto não realizá-lo de fato na Terra.
3. CRIAÇÃO
Coloque-se, por um instante, no lugar de Deus para perceber o que poderia ser feito. Só existia ele e nada mais. O Todo-poderoso poderia criar qualquer coisa, do jeito que quisesse, e nada seria capaz de impedi-lo. É como se houvesse diante de você uma folha de papel em branco na qual pudesse escrever, desenhar, rabiscar, fazer qualquer coisa: feia, bonita, certa, errada. Porém, a partir do momento em que fizesse algo, você estaria comprometido porque, automaticamente, teria limitado sua liberdade de criar. Se quisesse manter a liberdade, bastaria deixar a folha em branco – contudo nada iria acontecer.
Ou, então, imagine aquele jovem solteiro, livre para casar-se com qualquer moça, que nunca se decide porque tem medo de perder a liberdade. Sabe que, se escolher uma, terá de dizer adeus para as outras. Por outro lado, se permanecer solteiro e mantiver sua liberdade, será obrigado a passar o resto da vida sozinho.
Portanto, se você tem uma folha em branco e escreve algo nela, jamais tornará a ser branca. Você pode até usar corretivo ou borracha, mas será uma folha rabiscada e manchada – e um problema! De modo semelhante, Deus se autolimitou quando criou o mundo.
É por não entender isso que sempre perguntamos: por que Deus permite tanta maldade no mundo se ele é todo-poderoso e absolutamente bom? Por que não dá um fim a tanta crueldade? Das duas uma: ou ele não é todo-poderoso ou não é bom! Como conciliar os dois pensamentos?
Precisamos entender que, quando fez a criação, Deus decidiu limitar-se para alcançar seu sonho. O Deus todo-poderoso quis seguir certas regras e princípios. Ao criar o mundo, ele se arriscou ao envolver-se com coisas materiais. Poderia ter feito tudo caindo para cima, mas quis que tudo caísse para baixo. Poderia ter permitido que dois corpos ocupassem o mesmo lugar no espaço ao mesmo tempo. Nesse caso, seria como naqueles filmes de fantasmas em que um passa por dentro do outro. Não haveria problema de trânsito e, muito menos, necessidade de estradas, pois os carros cruzariam o mesmo espaço ao mesmo tempo.
Pare e pense: os fabricantes de carros têm o objetivo de matar os outros com o seu produto? Não, certamente não. Mas cada carro novo que sai da fábrica tem o potencial de causar a morte de muitas pessoas. Podemos dizer que o dono da fábrica é mau porque fabrica carros? Não. Contudo sabemos que o carro permite a destruição de muitas pessoas – simplesmente porque dois corpos não podem ocupar o mesmo lugar no espaço ao mesmo tempo.
Na verdade, Deus precisou de muita coragem para criar o mundo. Ao invés de ficar na sua, para evitar acontecimentos ruins, ele se arriscou e, para cumprir seu sonho, criou o mundo com limitações – tudo cai para baixo, e dois corpos colidem se ocupam o mesmo lugar ao mesmo tempo. Deus criou todas as coisas como as conhecemos: borboletas, bichos, aves, plantas, planetas, estrelas, galáxias. Criou os céus e a terra – e, no meio de tanta riqueza e variedade, um ser especial, que é nossa quarta palavra…
4. HOMEM
O homem, criado à imagem e semelhança de Deus, é a peça-chave no plano divino. Há implicações sérias nisso. Imagine que você, com duas orelhas, se coloque à frente de um espelho e veja uma imagem com apenas uma orelha. Há algo errado! A imagem está imperfeita.
Ou, talvez, você esteja com as mãos abaixadas e, ao se olhar no espelho, uma delas apareça erguida! Certamente achará que algo muito estranho e perigoso está acontecendo! Mas é exatamente isso o que ocorre no mundo hoje. Deus tem bilhões de imagens aqui na Terra – fazendo tudo ao contrário do que ele faria. Na igreja, cada um faz o que quer, sem se importar se representa o que Deus está fazendo ou não.
Ser feito à imagem de Deus significa ter o potencial para fazer tudo o que ele faz: pensar, criar, sentir, imaginar, sonhar, relacionar-se, ficar bravo, ter ciúmes. Tudo o que temos, Deus tem, e vice-versa.
Quando Deus fez o homem à sua imagem, criou um problema seriíssimo. Sua criatura era alguém livre como ele – livre para amá-lo ou desprezá-lo. Ele não quis criar um robô que fosse manipulado por ele, porque, no fim, sempre se despreza tudo o que se controla. Você gostaria de ter um filho-robô que só dissesse “eu te amo” quando nele se apertasse um botão? Seria monótono e cansativo. Com o tempo, você ficaria entediado e o deixaria de lado. O amor, para ser autêntico e verdadeiro, precisa correr o risco e dar à outra pessoa a liberdade de ser espontânea, criativa, original. Amor programado impede comunhão e amizade.
Há muitos aspectos da imagem de Deus em nós, e um deles é a liberdade que temos para, espontaneamente, amá-lo e obedecer-lhe. Uma pergunta que sempre fazemos é: por que Deus colocou a árvore do conhecimento do bem e do mal no jardim do Éden? A resposta é óbvia: porque ele não queria a obediência do homem na marra. Do contrário, seria como dizer ao filho pequeno: “Não toque na tomada da sala” quando, na realidade, nem existia tal tomada!
Alguns pais criam os filhos numa redoma e não lhes dão a liberdade de errar. Mas Deus correu o risco e criou o homem à sua imagem, com liberdade de fazer escolhas erradas. É por isso que existe um Deus que suporta tanta maldade no mundo e ainda é bom e todo-poderoso: porque é um Deus que não vai “meter a mão” e mudar a regra do jogo. O homem foi criado à sua imagem para, voluntariamente, amá-lo e cuidar da criação. Esse era o sonho que ele continua perseguindo até hoje.
O homem foi criado para ter a vida plena de Deus – mas somente mediante constante contato com ele. A vida que recebesse de Deus, pela comunhão e amizade com ele, seria transmitida para outros, e, assim, o mundo seria governado pelo homem dependente da vida de Deus.
O que é amor? É a vida de dar sem cobrar coisa alguma, sem esperar nada em troca. O amor é semelhante ao sol, que dá energia para todo ser vivente sem nunca cobrar conta de luz. Todas as formas de vida na Terra dependem dessa energia gratuita do sol. O buraco negro é o contrário do sol: como um gigantesco aspirador de pó, suga tudo para dentro de si, até mesmo a luz, e não permite que nada saia. Esses dois princípios – o do sol e o do buraco negro, ou seja, do amor e do egoísmo – estão em funcionamento no universo. E o sonho de Deus é multiplicar o sol e derrotar o buraco negro. Qual dos dois vencerá?
Para entender o buraco negro, precisamos passar para a quinta palavra…
5. PECADO
Esse foi o elemento estranho que entrou na criação por intermédio do homem e atrapalhou o funcionamento do sonho de Deus. Imagine um maquinário que, por meio de um pequeno motor, faz coisas complicadas – como a impressão de jornais e revistas ou a preparação e embalagem dos mais variados tipos de produtos. Coloca-se a matéria-prima numa ponta e, pelo funcionamento de inúmeras engrenagens e correias, o produto acabado sai do outro lado. Algo complicado e complexo, funcionando em perfeita harmonia. O que é necessário para quebrar o maquinário? Basta enfiar um ferrinho em qualquer engrenagem e o estrago está feito. A engrenagem emperra, trava as demais e todo o equipamento geme e pára.
De modo semelhante, o pecado é como um ferrinho que entrou no mundo e travou todo o plano de Deus. Ele inverteu a ordem estabelecida por Deus, afetando tanto o interior do homem quanto a criação ao redor. É como se alguém malvado entrasse numa fábrica e colocasse um ferrinho na engrenagem da máquina. Basta um ferrinho minúsculo para produzir uma quebradeira! Foi isso o que Satanás fez e, depois, convenceu o homem a fazer o mesmo: “Ao invés de transmitir a energia proveniente do motor para as outras engrenagens, procure tomar tudo para si mesmo”. E assim o sonho de Deus virou um pesadelo.
A origem desse pesadelo foi uma mentira de Satanás: “Deus está usando de segundas intenções; ele quer ser o tal e não quer que vocês cheguem a ser iguais a ele”. Mentira deslavada! Deus criou o homem para ser igual a ele. Satanás jogou sujo, enlameou o caráter de Deus e atribuiu-lhe a mesma motivação que havia dentro de si – egocentrismo. Antes, era um anjo que ministrava louvores a Deus, mas ficou incomodado com o fato de o louvor passar por ele e não parar nele. Travou tudo no andar de cima (nos céus) e conseguiu travar tudo no andar de baixo (na Terra), porque o homem tinha liberdade de crer ou não nessa terrível e vil mentira.
Imagine se Deus precisava querer ser o tal. Ele é o tal! Ele é o cara! Deus não possui um pingo de desconfiança ou ambição. Não pratica esse espírito absurdo de competição que existe hoje nas igrejas nas quais a exaltação de um é motivo de tristeza do outro. Infelizmente, ninguém percebe hoje que, quando se nasce de novo, esse espírito deve ser expurgado. Ao contrário, os líderes usam essa força egoísta de motivação própria para promover crescimento numérico, para aumentar o “reino de Deus”. E ninguém prega contra isso nem percebe como contraria o sonho de Deus. Deus diz: “Eu sou contra essa atitude, minha obra não é baseada em princípios satânicos. Meu sonho é amor: é dar sem esperar nada em troca, é confiar sem duvidar. Esse é o meu sonho, e ainda terei um povo na Terra que aja dessa forma; um povo que aja baseado no princípio do sol e não no do buraco negro”.
Jesus ensinou que não se pode ter o reino de Deus e sua vida própria ao mesmo tempo. Quem quisesse segui-lo teria de negar a si mesmo. Hoje, prega-se que é possível ter o reino de Deus e o meu também. É uma coisa ser próspero porque minha vida pertence a Deus, e ele está me fazendo prosperar; outra bem diferente é ser próspero para poder realizar meu sonho, mesmo que este tenha de competir com o sonho de Deus.
O sonho de Deus é multiplicar a vida de doação. O sonho de Satanás é sugar, tirar vantagem de tudo. Permita que o Espírito de Deus sonde seu coração e perceba qual força ou motivação está atuando em você e na sua igreja.
6. REDENÇÃO
Redimir significa comprar de volta. Se você penhora uma jóia valiosa no banco, por exemplo, é preciso pagar um valor para recebê-la de volta. Da mesma forma, Deus, a quem já pertencíamos, teve de pagar um alto preço para nos comprar de volta. Ele mandou seu Filho para resgatar o que já era seu por direito. E não adianta pôr a culpa da situação em Adão nem dizer que teria agido de modo diferente se fosse ele. Na verdade, você teria feito a mesma coisa. Aliás, para Deus não existe tempo. Ele olha tudo do ponto de vista da eternidade e vê você como parte integral de Adão. Você é Adão! Ele olha para você e o vê fazendo a escolha errada. Todo homem tem culpa moral diante de Deus e necessita de salvação.
O que Deus fez na encarnação de Cristo foi como se um homem se transformasse numa formiguinha para ver o mundo sob a ótica das formigas. Se continuasse como Deus, ele não conseguiria fazer o que fez como homem. Jesus, o homem-Deus, veio não apenas para morrer por nós, mas também para abrir a porta a um novo tipo de vida; não a vida egocêntrica do buraco negro que suga tudo para si e nunca se satisfaz, mas a vida de se doar aos outros, representada pelo sol.
O homem sem Deus, por mais que tente, só consegue ser um buraco negro disfarçado. E Deus, lá do céu, também não conseguiria consertá-lo. Por isso, Deus encarnou, virou homem como um de nós para ver as coisas do nosso ponto de vista. Como homem, foi tentado de todas as formas, teve sede e fome, precisou orar noites inteiras. Viveu e morreu como homem para abrir o caminho para que toda a humanidade pudesse viver a mesma vida divina de se doar aos outros.
Você já parou para pensar como Jesus é um herói diferente de todos os outros? Super-Homem, Batman, Homem-Aranha, Zorro, todos eles têm algo em comum: matam os perversos. Todo mundo vibra quando eles defendem os bons e destroem os maus. O problema é que, na realidade, ninguém é bom. Um herói de verdade teria de matar todos (até ele mesmo!) como se mata a barata mais nojenta. Entretanto, se Deus fizesse isso, acabaria com o seu sonho. Por isso enviou um herói tão diferente. Ele não mata, mas morre. Ele não ganha, mas perde. Não propaga seus feitos, mas faz questão de ficar no anonimato. Não se enriquece, mas perde dinheiro (dá sua tesouraria para um ladrão!). Jesus é um herói que faz tudo ao contrário dos outros. No entanto tem um nome acima de todo nome que toda língua confessará e diante do qual todos os joelhos se dobrarão!
Portanto, a igreja está terrivelmente enganada se pensa que o caminho de Deus é obter cada vez mais sucesso e poder. Nosso Rei ensina o contrário – ele ganha perdendo. Ele vive morrendo. Jesus veio e praticou outra lei. Não veio apenas para morrer pelos pecados do mundo, mas também viver a vida de doação e nos ensinar outra atitude e motivação. Veio abrir a porta para que você e eu vivêssemos a vida do sol – de dar sem esperar nada em troca.
Redenção significa que ele se enfiou debaixo da máquina e tirou o ferrinho que a estava impedindo de funcionar – o ferrinho que estava, não no sistema do mundo ou nas coisas do mundo, mas no coração do homem: o maldito orgulho ou egocentrismo. Tornou-nos livres para entrar na vida do sol, amando a Deus e ao próximo mais do que a nós mesmos. Jesus já veio e tirou o ferrinho, foi embora e está esperando que a máquina volte a funcionar para que ele possa voltar e receber os louros pela vitória que obteve.
7. MENSAGEM
Neste ponto, eis alguns questionamentos que podem surgir: o que tudo isso tem a ver conosco? Se a morte e ressurreição de Jesus aconteceram há mais de 2000 anos, como saber se é verdade? Qual foi o propósito de tudo isso? Por que o Filho de Deus não ficou na Terra?
Primeiramente, Jesus escolheu doze homens e dedicou três anos e meio de sua vida a eles. Um era ladrão e traidor, e os outros, caipiras covardes e miseráveis. O mais corajoso (pois os outros correram de medo!) negou-o três vezes diante de uma empregada. E, mesmo assim, Jesus falou antes de ir para cruz: “Eu venci o mundo”. Depois, ele foi embora e, com apenas doze homens (outro foi escolhido para substituir Judas), revolucionou o mundo!
Sem sua presença física, Jesus fez muito mais do que se tivesse permanecido na Terra, pois seu plano começou a funcionar. Agora, o que aqueles homens realmente fizeram? Simplesmente falaram do que haviam visto e ouvido. A redenção virou uma mensagem, algo muito mais poderoso do que a presença física de Jesus.
A mensagem atravessou os séculos, e hoje estamos aqui com nossa vida transformada por ela. Os fatos da vida, morte e ressurreição de Jesus foram transformados em uma palavra. O sonho de Deus foi encarnado. A palavra, quando transmitida, entra na mente da pessoa e a obriga a tomar uma posição. Não é uma palavra irresistível (apesar de, às vezes, quase o ser), mas desce ao coração de quem lhe diz sim e gera uma nova vida – a vida de Jesus dentro de nós. Você crê nisso? Crê que a vida da mensagem é poderosa para reproduzir a vida de Jesus em nós?
No início, essa palavra foi pregada e passou a chamar-se Evangelho, as Boas Novas. Como os primeiros apóstolos anunciaram-na às multidões que foram ver o que estava acontecendo? Porventura disseram: “Temos boas novas. Hoje Deus vai salvar todo mundo!”? Não! Pedro falou: “Assassinos, vocês estão enrolados porque mataram o Autor da vida, o Filho de Deus. Seus pais mataram os profetas, mas vocês crucificaram o ‘Cara’, o filho do Dono do Universo!”. Foi um jeito muito estranho de pregar as boas novas – chamar os ouvintes de assassinos! E de que forma eles reagiram? Ficaram apavorados e disseram: “E agora, o que faremos?”.
Pedro os instruiu a se arrependerem: “Mudem de idéia e desistam de querer ser bons. É impossível! Vocês são uns trastes miseráveis que devem ser batizados no nome de Jesus para serem perdoados e receber o Espírito dele e, assim, serem aceitos por Deus”. Essas foram as boas novas que a multidão ouviu, e três mil pessoas as aceitaram naquele dia. A mensagem foi pregada e produziu resultado rapidamente. Hoje enfrentamos problemas porque temos acrescentado a ela uma série de outras coisas (como filosofia e interpretação humana), mas, se ela for pura, é poderosa para reproduzir a vida de Jesus na Terra.
Em Atos 7, Estêvão prega a mesma mensagem e finaliza seu discurso de modo semelhante a Pedro: “Homens rebeldes, vocês mataram o Filho de Deus”. Havia tanta vida e convicção na mensagem que eles tiveram de tapar os ouvidos para não se converterem. Do contrário, não lhe poderiam resistir. Não sei como conseguiram tapar os ouvidos e, ao mesmo tempo, pegar pedras para apedrejar o primeiro mártir da história da igreja. Se a mensagem será aceita ou não, não há garantia. A única garantia é que todo aquele que a recebe é transformado em filho de Deus.
Pode parecer que a morte de Estêvão tenha sido um prejuízo para a causa divina, mas um fato curioso sobre Deus é que, quando perde, aí é que ele ganha muito mais. A morte de Estêvão e a perseguição à igreja primitiva abriram a porta para o evangelho alcançar as nações. Deus nunca perde! No final, ele sempre ganha.
Estêvão foi infectado pelo mesmo vírus de Jesus e, em sua morte, proferiu as mesmas palavras: “Perdoa-lhes, Pai, eles não sabem o que fazem”. A mesma reação de Jesus: total ausência de amargura ou raiva. Uma atitude irresistível! Muçulmanos pensam que podem abalar o mundo com homens-bomba, mas a igreja dos últimos dias vai, de fato, abalar o mundo com a atitude de Jesus e de Estêvão. A força que vence o mundo é o amor. Ele não mata, ele morre; não pratica vingança, perdoa. O mundo é incapaz de compreender a força do amor de Deus.
8. FRACASSO
Deus tem todo o poder; no entanto, a história do seu plano com a humanidade é uma seqüência de fracassos. Se olharmos para a Terra agora, teremos de admitir que Deus está perdendo de goleada.
Quero lhe oferecer um pequeno resumo desse fracasso. Primeiro, a partir de Abraão, ele deu dois mil anos para os judeus. Durante esse tempo, enviou profetas para convocar o povo ao arrependimento, o último dos quais foi João Batista, que anunciou o Messias. Israel natural, porém, matou os profetas e selou o seu fracasso quando rejeitou Jesus. Jerusalém foi destruída no ano 70 d.C., e o povo de Deus ficou disperso entre as nações.
Veio, então, a Igreja Católica, que tomou o lugar do Império Romano e reinou absoluta durante aproximadamente 1.200 anos. Se a história dos judeus foi terrível, muito pior foi a da Igreja Católica.
A seguir, no início do século 16, surgiu o protestantismo com Lutero e outros, e tivemos mais uma sucessão de fracasso, confusão e divisão durante cerca de 400 anos. A história da Igreja Protestante é tão desagradável quanto a história da Igreja Católica (ou mais!).
Finalmente, no início do século 20, Deus resolveu dar uma chance aos pentecostais (nesse ponto estou incluindo todos os que crêem no batismo no Espírito Santo). Muitos pensaram: “Agora, sim, com os dons do Espírito Santo, vamos ter uma igreja gloriosa”. Que nada! Hoje, depois de mais 100 anos dos pentecostais, só temos mais fracasso e confusão.
Espero que agora ninguém mais se candidate, e todos se declarem cansados, culpados e miseráveis. Só assim Deus poderá dizer: “Cansaram-se? Agora vocês verão o que tenho para fazer”. Só então será possível chegarmos à última palavra…
9. VITÓRIA (a grande virada)
Deus tem nervos de aço. No final, ele vai ganhar. Podem faltar dez minutos para o final do jogo, e Deus pode estar perdendo de dez a zero – mas, mesmo assim, ele virará o jogo. Se tiver de fazer onze gols em dez minutos, ele os fará, pois no fim Deus sairá vencedor. Nunca duvide disso.
Antes, porém, que isso aconteça, Deus precisa levar a igreja ao pó. Ela precisa reconhecer seu fracasso e aceitar o veredicto do mundo e da história. Humilhação e quebrantamento se fazem necessários. Ninguém é melhor do que ninguém – nem judeus, nem católicos, nem protestantes, nem pentecostais. Todos precisam se arrepender e dizer: “Deus, estamos totalmente enrolados. Tem misericórdia de nós, pois reconhecemos nosso fracasso”. Aí, sim, Deus entrará em cena e dirá: “Saiam da frente e deixem-me fazer a obra. Abandonem esse maldito orgulho e autoconfiança para que eu faça com que aquela semente que enviei efetue o que tem capacidade de realizar”.
Eu creio, de todo o coração, que essa semente é capaz de levantar uma igreja gloriosa na Terra antes da volta de Cristo. Talvez não seja visível aos olhos carnais, mas será uma igreja diferente. Quem entrar nela haverá de sentir que Jesus está presente de novo na Terra. Não estou dizendo que isso já não tenha acontecido ou esteja acontecendo, de alguma forma, nos países perseguidos, mas a igreja verdadeira precisa aparecer e ser reconhecida mundialmente pela natureza de Jesus presente nela. Para isso, precisa vir primeiro o Dia de Expiação, dia de quebrantamento, pois a semente maldita de Satanás tem de ser expurgada.
É natural que a semente que Deus enviou por meio de Jesus não tenha se manifestado em plenitude durante toda a história. Depois de plantada, a semente produz uma planta que dá folha, flor e, no fim, o mesmo tipo de semente que a originou. Estamos nos aproximando da época em que Jesus vai aparecer e manifestar-se na Terra – concretizando o sonho de Deus. As opções estão chegando ao fim, o cenário mundial está sendo bem preparado, e as profecias dos profetas bíblicos estão se cumprindo.
Não sabemos a hora exata, mas estamos bem próximos. Não sei quando Deus vai rejeitar Saul e estabelecer Davi, quando se colocará no caminho e acabará com a bagunça do pentecostalismo. Alguma hora, ele dirá “basta” e trará o reino de Davi e a restauração de Jerusalém.
Conclusão
Essas nove palavras resumem a história do mundo, do início ao fim. Meu encargo é que você medite sobre elas e entre em intercessão profética para entender o que podemos fazer a fim de cooperar com Deus para o levantamento da igreja gloriosa e, assim, apressar a vinda de Jesus. O que podemos fazer para que Deus tenha o prazer de dizer a Satanás: “Veja, ali na Terra, o povo que cumpriu meu sonho”? Nossa tarefa é mergulhar no sonho de Deus, comprá-lo de todo o coração e parar de atrapalhar a sua causa com nossas boas intenções. Precisamos descobrir como contribuir para que o reino de Deus surja, de fato, na face na Terra.
Esse artigo foi escrito por Elenir Eller Cordeiro a partir das gravações de ministrações de Harold Walker no seminário “Cristo para as Nações” em Belo Horizonte, MG. Na verdade, as idéias para este tema nasceram originalmente de uma palestra para os alunos de 7ª e 8ª séries da Escola Cristã de Jundiaí em 2006.