Por: M. Basilea Schlink
Meu Senhor e Noivo bateu carinhosamente, implorando: “Dê-me mais do seu tempo, quero mais de você, quero ter mais lugar no seu coração, quero que você seja minha por completo!” O que o Senhor queria? Quereria mais do que as horas já separadas para oração? Estas indagações continuavam dentro de mim, enquanto eu sentia o pedido de Jesus por mais amor. Eu sentia o seu pedido e o seu desejo, e sabia que ele queria ter comigo uma comunhão mais profunda. Queria que eu me separasse e me entregasse unicamente a ele.
Como resistir-lhe? Como resistir aos seus apelos? Ele é amor eterno, é o mais formoso dentre os filhos dos homens. Em sua majestade real ele se aproxima dos pecadores, querendo que, em amor, eles se entreguem totalmente a ele. Assim, separei algumas horas por dia para meditação, e o Senhor na sua graça ajudou-me a cumprir minhas tarefas mesmo assim, mas eu sentia que ele ainda não estava satisfeito, seu amor queria mais. Passei então a consagrar todas as sextas-feiras a ele, e quando deixava o meu trabalho e tantas outras coisas, ele me recompensava com sua presença amorosa de maneira até então desconhecida para mim.
Senti o seu amor que queima como fogo, que é mais forte do que qualquer amor humano, porque vem direto do trono de Deus. Ele parte do seu coração, cujo ardor abrange todo o universo. Senti este amor íntimo e terno como nenhum amor humano poderia ser. Senti o seu amor, que é chamado de “torrente das tuas delícias” no Salmo 36.8. Era irresistível, e me levava cada vez para mais perto dele, chamando-me a entregar-me a ele somente.
Se eu passasse tanto tempo com ele, isto não seria negligenciar as minhas filhas espirituais que se achavam sob os meus cuidados? Não teria Madre Martíria de arcar com uma responsabilidade maior? Não ficaria inacabada grande parte da tarefa que ele me dera? Ele ensinou-me que devemos permanecer nele, amá-lo sobre todas as coisas, de todo o coração, de todo o entendimento e com todas as forças, atendendo ao seu chamado de amor. Devemos ir aonde ele nos mandar. O fruto mais precioso só pode nascer de tal união de amor (Jo 15.5). Somente então é que poderão ser abençoados ao máximo aqueles que estão sob a nossa responsabilidade.
E foi exatamente isto que aconteceu, contrariando toda a expectativa humana. As minhas filhas espirituais choraram um pouco a princípio, porque eu passaria menos tempo com elas, mas depois de alguns meses não estavam mais tristes, estavam felizes, pois descobriram que, quando passei a seguir este novo caminho, uma nova fonte de vida jorrava para elas. Quando estávamos juntas, a presença de Jesus era mais real e significativa para elas, quer ele se manifestasse como o Menino na manjedoura, o Homem de Dores ou o Salvador ressurreto. Seu amor se manifestava em poder e elas sentiam-se mais enriquecidas do que antes. Jesus parecia empobrecer as minhas filhas, separando-me delas, mas ele o fez exatamente para enriquecê-las e torná-las mais felizes.
E quanto ao meu trabalho? Agora o Senhor permitia que eu escrevesse tudo, cartas ou livros, de maneira completamente diferente: unida a ele, eu alcançava cada vez mais o coração dos leitores. Aconteceu exatamente o que o Senhor dissera: do silêncio do meu quartinho, onde permanecia a sós com ele em oração, a mensagem ia cada vez mais longe, e o efeito foi muito maior do que teria sido se eu continuasse o meu trabalho normal. Neste período de clausura os meus escritos espalharam-se por toda a terra.
Desta maneira milhares de pessoas em muitos países foram alcançadas e abençoadas através de nossa missão, o que jamais teria ocorrido, se eu tivesse permanecido em meu trabalho normal entre as minhas Irmãs em Canaã.
Agora vejo a sabedoria de Jesus que é amor. Se ele chama alguém para si, ele fornecerá tudo o que for preciso. Se ele nos pedir: Sacrifique por amor a mim a comunhão daqueles que você ama, renuncie às coisas que você tem estado a fazer, é certo que ele nos retribuirá de maneira centuplicada. Temos experimentado isso enquanto vivemos juntas na Irmandade, com ele ao centro. E não é apenas isso; ele nos dará a vida eterna, o seu amor que é como um rio transbordante.
Extraído do livro “Para Ele Todo o Meu Ser”.
M. Basilea Schlink nasceu em 1904 em Darmstadt, Alemanha. Após um avivamen-to em 1947 fundou a Irmandade Evangélica de Maria, hoje com sede na pequena “Terra de Canaã”, situada em um subúrbio de Darmstadt e com mais de 20 filiais espalhadas pelo mundo.