Por: Francis Frangipane
Lembro-me muito bem daquele dia. Eu estava preparando a mensagem para domingo de manhã e já passara algumas horas trabalhando com a concordância bíblica e o léxico grego e hebraico, anotando pensamentos num caderno.
Eu amo a Palavra de Deus. Tenho uma ardente paixão para que minhas palavras sejam extraídas daquele santo rio que flui “brilhante como cristal” do trono de Deus (Ap 22.1).
Ocorre, porém, que eu passara tempo demais preparando aquele sermão. De repente, o Senhor interrompeu meu estudo prolongado e abriu meus olhos para a perspectiva mais ampla.
“Eu o chamei”, ele me disse, “não meramente para preparar mensagens, mas para preparar pessoas.”
Sim, existe de fato uma grande diferença entre preparar uma mensagem sobre Deus e preparar um povo para Deus. Obviamente, a preparação de sermões é muito importante, mas não como um fim em si mesmo. O alvo é equipar e treinar pessoas para representar Jesus.
Ao chegarmos ao fim desta era, creio que o coração do Pai está intensamente envolvido no treinamento de pessoas que o possam representar antes do período de tribulação mundial. Por isto, mais do que em qualquer outra época da história, precisamos ser pessoas que, de forma autêntica e precisa, revelem a Jesus Cristo. Precisamos saber, não só que ele cura, mas a quem ele quer curar. Devemos possuir sua sabedoria, não somente o seu poder; sua mansidão junto com sua autoridade; seu amor e também seu juízo. Está na hora da igreja crescer em todos os aspectos naquele que é o Cabeça, Cristo (Ef 4.15).
Muitas nações, até mesmo o mundo como um todo, estão numa encruzilhada hoje. Há decisões portentosas sendo tomadas por líderes mundiais e nacionais que afetarão o rumo da história e a vida de todos nós. Na nossa nação, será que veremos despertamento ou destruição e ruína?
Sabemos que coisas angustiosas acontecerão, mas estou convencido de que se tomarmos uma posição diante de Deus em favor das nossas cidades e regiões – se um remanescente na igreja realmente se tornar semelhante a Jesus na oração, no caráter, e nas motivações – poderemos ver a glória de Deus na terra outra vez.
Porém, a fim de podermos novamente transmitir a glória de Cristo como igreja, precisaremos, entre outras coisas, de líderes consagrados que possam mentorear e treinar discípulos nos caminhos do Senhor. Simplesmente não temos tempo suficiente para esperar que todos amadureçam no ritmo atual e normal, para cumprirmos nossa missão como povo de Deus. Não só precisamos da revelação do potencial de Cristo em nós, mas também da comunicação de vida por meio de líderes que já estão andando em alguma medida na imagem de Cristo ( veja Rm 1.1; 1 Ts 2.8). Os pais espirituais na igreja também precisam aceitar que, embora ainda não tenham alcançado a perfeição, Deus pode usá-los para mentorear e treinar pastores, intercessores e futuros líderes da igreja.
O Propósito de Liderança
O principal motivo de Deus colocar ministros na igreja é para treinar e equipar. Como Paulo escreveu, os ministérios foram dados por Cristo “com vistas ao aperfeiçoamento dos santos, para o desempenho do seu serviço, para a edificação do corpo de Cristo” (Ef 4.12). É uma coisa libertar alguém da opressão, e outra totalmente diferente treiná-lo para libertar outros. Na verdade, é importante levar pessoas a Jesus, mas é muito mais importante ensiná-las a levar, elas próprias, inúmeras outras a ele.
Temos feito da “salvação” (ou conversão) uma experiência final, quando na realidade é um começo, um primeiro passo para alcançar “a medida da estatura da plenitude de Cristo” (Ef 4.11-13). Este versículo que fala da nossa transformação, não foi dado como esperança de uma vida após a morte com Jesus, mas para mostrar a vida de Jesus que está disponível agora.
Considere isto seriamente, pois não há verdade mais profunda do que esta: A vontade expressa de Deus para nós é nada menos do que a plenitude de Cristo! Tudo que Jesus fez, tudo que Jesus era no seu caráter terreno, e tudo que Jesus comprou – ou seja, Cristo na sua plenitude divina – constitui o padrão que Deus determinou para a igreja.
Como Ele É
Como pastores, geralmente achamos que temos sucesso se as pessoas sob nossos cuidados são simpáticas. Porém, Deus não nos criou para revelar a “plenitude da simpatia”, mas a plenitude de Cristo. Nossa tarefa, como ministros, não é meramente garantir que a igreja fique longe do pecado, mas lutar para que a igreja seja semelhante a Jesus. No cerne do nosso destino há somente uma fonte de realização e poder: Cristo em nós.
Indiferente da nossa tarefa específica – seja liderança ou apoio, seja evangelística ou intercessória – todos derivamos nossa vida de Cristo. A tarefa não é o importante; nosso alvo é ser conforme à natureza de Cristo.
João confirma isto quando diz: “qual ele é, somos nós também neste mundo” (1 Jo 4.17). E outra vez: “E nisto conhecemos que estamos nele.
Aquele que diz que está nele, também deve andar como ele andou” (1 Jo 2.5,6). O próprio Jesus afirmou que deveríamos ser alunos (discípulos), cujo alvo é ser plenamente instruídos, até se tornarem “como o seu mestre” (Lc 6.40).
Como mais uma testemunha à veracidade das Escrituras, posso dizer com toda autoridade: Não há realização duradoura na vida sem transformação à imagem de Cristo; nenhum outro sucesso pode verdadeiramente satisfazer, nenhuma realização pessoal trará satisfação permanente. Davi disse: “Em retidão contemplarei a tua face; quando acordar, eu me satisfarei com a tua semelhança” (Sl 17.15).
Seja qual for o curso, estudo, ou processo de crescimento que você porventura empreender na sua jornada espiritual, pergunte a si mesmo: “Será que isto me levará à semelhança de Cristo?”
O alvo de Deus para nós não é que saibamos preparar mensagens ungidas, mas pessoas ungidas – discípulos que revelarão a plenitude de Cristo ao chegarmos à plenitude dos tempos.
Francis Frangipane é ministro do River of Life Ministries. Seus livros e artigos têm edificado milhões de pessoas mundialmente. Para outras mensagens do mesmo autor em inglês acesse o site www.inchristsimage.org.