30 de dezembro de 2024

Ler é sagrado!

Uma Única Semente

Aggie Hurst

Em 1921, os missionários David e Svea Flood foram com seu filho de dois anos da Suécia para o coração da África – para o então chamado Congo Belga. Lá, uniram-se a outro jovem casal escandinavo, os Erickson, e os quatro buscaram a orientação de Deus. Naqueles dias de muita ternura, devoção e sacrifício, sentiram-se conduzidos pelo Senhor a deixar o principal posto missionário local e levar o Evangelho a uma área remota.

Foi um grande passo de fé. Foram rejeitados pelo chefe da aldeia de N’dolera, que os proibiu de entrar em sua cidade por medo de indispor os deuses locais. Os quatro optaram por construir suas próprias cabanas de barro numa ladeira a cerca de oitocentos metros do vilarejo.

Os missionários oraram por crescimento espiritual, que não aconteceu. Seu único contato com os moradores era um menino que tinha autorização para vender galinhas e ovos duas vezes por semana. Svea Flood – uma pequena mulher de apenas 1,42m de altura – decidiu que, se ele seria o único africano com quem falaria, tentaria levá-lo a Jesus. E, de fato, conseguiu.

Mas não houve outros eventos positivos. Enquanto isso, os membros do pequeno grupo foram sucessivamente acometidos por malária. Após um tempo, os Erickson decidiram que haviam sofrido o suficiente e retornaram para a sede da missão. David e Svea Flood permaneceram perto de N’dolera e continuaram o trabalho sozinhos.

Então, como não bastasse, Svea se viu grávida naquela região tão primitiva. Quando chegou a hora de dar à luz, o chefe da aldeia sensibilizou-se e permitiu que uma parteira a ajudasse. Svea teve uma menina, que recebeu o nome de Aina.

O parto, no entanto, foi exaustivo, e Svea Flood já se encontrava debilitada em decorrência dos surtos de malária. O trabalho de parto foi um duro golpe para sua saúde. Ela sobreviveu apenas por mais 17 dias.

Naquele momento, algo quebrou dentro de David Flood. Ele cavou uma sepultura simples, enterrou sua esposa de 27 anos e, então, levou seus filhos montanha abaixo de volta ao posto missionário. Ao entregar sua filha recém-nascida aos Erickson, vociferou: “Vou voltar para a Suécia. Perdi minha esposa e, obviamente, não posso cuidar deste bebê. Deus arruinou minha vida”. E assim, partiu para o porto, rejeitando não somente o seu chamado, mas o próprio Deus.

No período de oito meses, os Erickson foram acometidos por uma misteriosa enfermidade e morreram poucos dias um do outro. A bebê, então, foi entregue a uns missionários americanos, que adaptaram seu nome sueco para “Aggie” e, eventualmente, levaram-na consigo para os Estados Unidos; Aggie tinha três anos de idade.

A família amava a menina e tinha medo de que, se tentassem voltar para a África, algum obstáculo legal pudesse separá-los. Então, decidiram ficar em seu país de origem e trocaram o trabalho missionário pelo ministério pastoral. Foi assim que Aggie cresceu no estado de Dakota do Sul. Quando jovem, ela frequentou o instituto bíblico North Central, na cidade de Mineápolis. Lá, ela conheceu e casou-se com um jovem chamado Dewey Hurst.

Anos se passaram. O casal Hurst desfrutava de um ministério frutífero. Aggie deu à luz primeiro a uma filha, depois a um filho. Com o tempo, seu marido se tornou presidente de uma universidade cristã na região de Seattle, e Aggie ficou curiosa ao se deparar com um grande legado escandinavo no meio das pessoas que encontrou ali.

Um dia, uma revista religiosa sueca apareceu em sua caixa de correio. Ela não tinha ideia de quem a enviara; e, claro, não sabia ler as palavras. Mas ao folhear as páginas, de repente uma foto a paralisou. Era um cenário primitivo, onde havia uma sepultura com uma cruz branca – e na cruz estavam as palavras SVEA FLOOD.

Aggie pegou seu carro e foi procurar um membro do corpo docente da faculdade que ela sabia que poderia traduzir o artigo. “O que está escrito aqui?”, perguntou.

O professor resumiu a história, que falava de missionários que viveram em N’dolera há muito tempo; do nascimento de um bebê branco; da morte da jovem mãe; do único menino africano que fora levado a Cristo; e de como, depois que os homens brancos partiram, o menino cresceu e, finalmente, convenceu o chefe a deixá-lo construir uma escola na aldeia. O artigo dizia que, aos poucos, ele ganhou todos os seus alunos para Cristo, os filhos conduziram seus pais a Cristo – até o chefe se tornara cristão. Na época da reportagem, havia 600 cristãos fiéis naquela aldeia…

Tudo isso em consequência do sacrifício de David e Svea Flood.

Reuniões

No vigésimo quinto aniversário de casamento dos Hurst, a universidade os presenteou com uma viagem de férias para a Suécia. Ali, Aggie procurou encontrar seu verdadeiro pai. Descobriu que David Flood se casara novamente e tivera mais quatro filhos, mas que se tornara escravo do alcoolismo. Recentemente, já com idade avançada, sofrera um AVC. Ainda amargurado, havia uma regra em sua família: “Nunca mencionem o nome de Deus – porque Deus tirou tudo de mim”.

Depois de um encontro emocionante com seus meios-irmãos, Aggie mencionou que gostaria de ver seu pai. Seus irmãos hesitaram. “Você pode falar com ele,” responderam, “embora ele esteja muito doente. Mas você precisa saber que sempre que ouve o nome de Deus ele fica furioso”.

Aggie não se intimidou. Ela entrou no apartamento deplorável, com garrafas de bebida espalhadas por todo o lugar, e se aproximou do homem de 73 anos deitado numa cama toda amarrotada.

“Papai?”, disse ela hesitante.

Ele se voltou para ela e começou a chorar: “Aina, nunca tive a intenção de dar você embora a outra família”.

“Está tudo bem, papai”, respondeu ela, tomando-o gentilmente nos braços. “Deus cuidou de mim.”

Imediatamente o homem enrijeceu. As lágrimas pararam.

“Deus se esqueceu de todos nós. Nossas vidas mudaram por causa dele.” Virou o rosto e voltou-se para a parede.

Aggie acariciou seu rosto e continuou, destemida.

“Papai, eu tenho uma história para lhe contar, e é uma história verdadeira. Vocês não foram para a África em vão. Mamãe não morreu em vão. O garotinho que você ganhou para o Senhor cresceu e alcançou toda aquela aldeia para Jesus Cristo. Vocês plantaram uma única semente, e ela não parou de crescer. Hoje, há 600 africanos servindo ao Senhor porque você foi fiel ao chamado de Deus em sua vida.

“Papai, Jesus te ama. Ele nunca o odiou.”

O homem idoso virou-se e olhou nos olhos de sua filha. Seu corpo relaxou. E ele começou a falar. Antes do anoitecer ele havia voltado para o Deus contra quem se ressentira por tantas décadas.

Nos dias seguintes, pai e filha desfrutaram de ternos momentos juntos. Aggie e seu marido precisaram voltar para os Estados Unidos – e, poucas semanas depois, David Flood passou para a eternidade.

Alguns anos mais tarde, os Hurst participavam de uma conferência internacional de evangelismo em Londres, Inglaterra, onde ouviram um relatório sobre a nação do Zaire (antigo Congo Belga). O superintendente da igreja nacional, representando cerca de 110.000 crentes batizados, falou eloquentemente sobre a propagação do Evangelho em seu país. Aggie se sentiu compelida a perguntar se ele já havia ouvido falar de David e Svea Flood.

“Sim, senhora”, respondeu o homem em francês, tendo suas palavras traduzidas para o inglês. “Foi Svea Flood quem me levou a conhecer Jesus Cristo. Eu era o menino que levava comida para seus pais antes de você nascer. Aliás, até hoje todos nós honramos o túmulo e a memória de sua mãe”.

Soluçando, ele a envolveu em um longo abraço. E acrescentou: “Você precisa ir à África para ver em primeira mão, pois sua mãe é a pessoa mais famosa de nossa história”.

E foi exatamente o que Aggie Hurst e seu marido fizeram. Foram recebidos por multidões de moradores. Ela chegou a conhecer o homem que seu pai contratou para transportá-la quando bebê, da cabana na ladeira para o posto missionário, numa espécie de rede-berço.

O momento mais emocionante, claro, foi quando o pastor acompanhou Aggie para que ela pudesse ver a cruz branca no túmulo de sua mãe. Ela se ajoelhou para orar e agradecer. Mais tarde naquele dia, na igreja, o pastor leu João 12.24: “Em verdade, em verdade vos digo: Se o grão de trigo não cair na terra e não morrer, ficará só; mas, se morrer, dará muito fruto”. Em seguida, leu Salmos 126.5: “Os que semeiam em lágrimas colherão com cânticos de júbilo”.

– Trecho do livro Aggie: The Inspiring Story of A Girl Without a Country (Aggie: a História Inspiradora de uma Garota sem Pátria), by Aggie Hurst [Springfield, MO: Gospel Publishing House, 1986].  Usado com permissão.

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