Richard Owen Roberts
Existe uma relação muito forte entre o que alguém pensa de Deus, o que pensa de si mesmo, o que pensa do pecado e o que pensa da salvação.
Muitos toleram uma visão de Deus que é incrivelmente inferior à revelação que ele nos dá de si mesmo nas Escrituras Sagradas. Deus se descreve na Bíblia usando expressões tais como: “EU SOU O QUE SOU” (Êx 3.14); “Eu, o Senhor, não mudo” (Ml 3.6); “Eu sou santo” (1 Pe 1.16); “Porventura não encho eu os céus e a terra?” (Jr 23.24); “Farei toda a minha vontade” (Is 46.10); “Eu me livrarei dos meus adversários” (Is 1.24); e “Conheço as tuas obras” (Ap 2.2).
Deus nunca se retrata como alguém que é tolerante ou “mole” em relação ao pecado, ou que continua amando perpetuamente pecadores não arrependidos. Ele não se compara favoravelmente com o homem, mas insiste que, de incontáveis maneiras, os pensamentos e caminhos dele são superiores aos nossos.
Não vemos indicações nas Escrituras de que Deus precise do homem (no sentido essencial de existência ou carência sentimental), porém há ênfase abundante na nossa necessidade dele. Ele não se ajusta ao nosso estilo de vida, mas exige que conformemos os nossos caminhos ao seu caráter. Em contraste com o pensamento de muitos, Deus não está “evoluindo” num Ser mais amigável, mais “fofinho” ao longo dos séculos; pelo contrário, está tão cheio de indignação justa agora quanto o estava quando enviou o dilúvio sobre a Terra, destruindo a civilização do tempo de Noé, ou quando choveu fogo e enxofre do Céu sobre Sodoma e Gomorra.
O manso e bondoso Jesus é o mesmo Deus que proclamou: “Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas!”, e perguntou: “Serpentes, raça de víboras! Como escapareis da condenação do inferno?” (Mt 23.23,33). Esse mesmo Cristo declarou às cidades de Corazim e Betsaida: “No Dia do Juízo, haverá menos rigor para Tiro e Sidom do que para vós outras” (Mt 11.21,22). E advertiu: “Tu, Cafarnaum, elevar-te-ás, porventura, até ao céu? Descerás até ao inferno; porque, se em Sodoma se tivessem operado os milagres que em ti se fizeram, teria ela permanecido até ao dia de hoje. Digo-vos, porém, que menos rigor haverá, no Dia do Juízo, para com a terra de Sodoma do que para contigo” (Mt 11.23,24).
Nunca esqueça: “Porque assim diz o Alto, o Sublime, que habita a eternidade, o qual tem o nome de Santo: Habito no alto e santo lugar, mas habito também com o contrito e abatido de espírito, para vivificar o espírito dos abatidos e vivificar o coração dos contritos” (Is 57.15).
Uma visão correta de si mesmo
Toda pessoa que mantiver uma visão de Deus tão elevada quanto aquela que é exposta na Bíblia será obrigada a adotar uma visão proporcionalmente baixa de si mesma. Ninguém pode se considerar grande aos próprios olhos quando seu olhar está focado naquele que é Alto e Sublime, cujo nome é Santo e que é o único que é Grande.
De forma inversa, uma visão degradada de Deus estimula uma visão excessivamente elevada de si mesmo. O problema do orgulho humano jamais será tratado adequadamente – nem haveria motivação para alguém se humilhar – sem que haja uma visão correta do Deus exaltado.
O orgulho gera uma quantidade tão enorme de transgressões e atitudes erradas que é conhecido como “o criador de pecados”. Poderia ser chamado também de “pecado-barreira”, porque é responsável por levantar muros intransponíveis entre pecadores orgulhosos e outros pecadores orgulhosos, entre pecadores orgulhosos e santos humildes e entre pecadores orgulhosos e o próprio Deus.
Uma visão correta do pecado
Uma visão elevada de si mesmo inevitavelmente produz uma visão distorcida do pecado. O pecador orgulhoso exige o direito de determinar para si mesmo qual comportamento lhe é aceitável e qual é inaceitável. Seu orgulho o impede de curvar-se diante da definição que Deus dá ao pecado, e sua arrogância lhe dá condições de desprezar as ameaças e advertências divinas.
Como seria de se esperar, sem capacidade de render-se a Deus e aceitar o que ele determina como certo e errado, o pecador orgulhoso não tolera regras escritas como as que encontramos nos Dez Mandamentos e não tem disposição de receber de outro ser humano – seja profeta, sacerdote ou pregador – conselhos sobre o que deve ou não deve fazer.
No seu orgulho, ele desdenha as terríveis consequências do pecado comprovadamente experimentadas em todas as gerações anteriores e traça seu percurso libertino em desrespeito quase total a todas as verdades que homens mais sábios e mais santos de séculos anteriores já demonstraram como válidas.
Já que sua condenação muitas vezes é retardada enquanto ainda termina de encher a medida de seus pecados (1 Ts 2.16), e pelo fato de a ira de Deus ainda não ter caído em plenitude sobre ele, outras pessoas são atraídas aos seus caminhos perniciosos e imitam suas transgressões e iniquidades. Como o orgulho prevalece tanto no mundo quanto na igreja, novas definições de pecado são criadas, e a degradação avança como exército de gafanhotos sobre a Terra.
Uma visão correta da salvação
Uma visão distorcida do pecado leva naturalmente a uma visão corrompida da salvação. Se, por definição humana, o pecado é de pouca consequência, então a necessidade de uma salvação do tamanho de Deus é eliminada. Se o pecado é uma questão insignificante, então uma medida pequena de salvação já é considerada suficiente. Tragicamente, há evidência esmagadora de que, para multidões de cristãos professos hoje, sua salvação não passa de um mero “retoque de maquiagem”.
Quando nossa visão de Deus estiver correta, a visão de nós mesmos será tão baixa que reconheceremos que somos absolutamente nada diante dele. Esse senso de nulidade, ao invés de causar desespero, nos impelirá a ansiar por ele com todo o coração. A intensa sensação de distância do Pai que nos criou para si mesmo gerará em nós um anseio por intimidade com ele que nunca será satisfeito com nada menos que uma verdadeira experiência com a sua graça.
Quando a fome e a sede por Deus forem forças predominantes dentro de nós, nenhum preço nos será alto demais para encontrar seu favor e para alcançar proximidade e intimidade com ele. Nessas circunstâncias, jamais ousaremos medir o pecado por nossos próprios padrões ou pelos conceitos independentes dos que estão à nossa volta. O pecado nos será totalmente repugnante, e ansiaremos por libertação com muito mais intensidade do que uma criança paralítica desejaria um novo corpo.
Ninguém que tenha paixão por Deus se contentará com uma religião frouxa, nem encontrará tolerância no coração por qualquer plano de salvação que seja inferior ou diferente daquele que o Deus Todo-poderoso nos proveu.
Diante disso, a nossa maior prioridade atual deve ser um retorno pleno ao Deus da Bíblia inteira.
Extraído de “Salvation in Full Color” (Salvação em todas as cores), por Richard Owen Roberts. Usado com permissão.