21 de dezembro de 2024

Ler é sagrado!

Viajando pelo Deserto da Simplicidade

Por David W. F. Wong

A cena se desenrola de modo bastante previsível. No quadro final, a heroína rapa a cabeça, toma as vestes brancas e entra na irmandade. Nas histórias chinesas tradicionais, a heroína ou casa e passa o restante dos seus dias proporcionando alegrias ao seu marido e bênçãos aos pais dele com muitos netos, ou desaparece em um convento e passa o restante dos seus dias encontrando paz para sua vida atribulada e insatisfeita. Amor não correspondido ou a morte do prometido a impele a buscar o lado mais simples da vida. O outro lado tratou-a com crueldade, e ela precisa retroceder da complexidade de tudo isso para preservar sua dignidade e honra.

Entretanto, o anseio por simplicidade nem sempre brota dessas intenções nobres. Em nosso mundo de hoje, é mais provável que ela desponte da frustração com agendas atulhadas, prazos ameaçadores e cento e uma tarefas exigindo que sejam feitas. Não demora para apresentar-se a pergunta: Por que tenho uma vida tão corrida e tortuosa? Em momentos de desespero silente, quando os sentimentos tendem a anuviar o julgamento, repisamos os bons velhos tempos dos nossos antepassados e ansiamos por épocas em que “a vida era simples”.

Tudo isso, é claro, é ilusão. Nossos pais serão os primeiros a nos dizer que sua vida estava longe de ser simples. Na verdade, eles nos invejam por vivermos em uma época em que se faz as compras no conforto de um supermercado com ar-condicionado, e as refeições são preparadas em questão de minutos em um forno de microondas. Para nós é que a vida é fácil, com todas as conveniências modernas. Fácil, entretanto, não é sinônimo de simples. A tecnologia nos abençoou com muitos recursos que economizam tempo. Porém, não tornou a vida mais simples. Talvez até tenha complicado o processo de avançar pela vida. Agora passamos nosso tempo fazendo as coisas para poder fazer outras coisas.

APERFEIÇOANDO OS MEIOS, ERRANDO OS ALVOS

Deixe-me dar um exemplo. Ir ao banco hoje é como fazer um lanche. Você pode resolver seus assuntos bancários após o expediente e não precisa ficar horas na fila. É só ir até um dos muitos caixas automáticos colocados em lugares convenientes em seu bairro, a qualquer hora do dia ou da noite, e sacar o que precisa. Melhor ainda, você pode acionar seu banco do conforto do seu próprio lar. É só pegar o telefone, discar alguns números, ou conectar seu computador. Você pode conferir seu saldo, pagar suas contas ou pedir um extrato em questão de segundos.

A vida, portanto, ficou mais simples? Não. O processo de ir ao banco é tornado mais simples para dar lugar a uma multidão de outros processos. Pagar as contas é facilitado para que você possa pagar as dúzias de contas que aterrissam em sua caixa de correio a cada mês. Em contraste, quando eu cresci em um kampong (vilarejo da Malásia), meus pais se preocupavam apenas com uma conta – o pagamento mensal do arrendamento ao dono da terra (que incluía as ferramentas). Na vida no campo, não tínhamos caixa de correio e, muito menos, contas chegando nela. Meu pai guardava seu dinheiro debaixo do colchão e, portanto, também não precisava se preocupar com serviços bancários.

A ironia da vida moderna é: enquanto processos isolados são simplificados, o processo geral da vida se torna mais complexo. TV a cabo, fitas de vídeo e discos compactos fazem com que o entretenimento esteja disponível com mais facilidade – mesmo assim, estamos entediados. O aparelho de fax, o telefone celular e a Internet fazem com que a comunicação esteja dentro do alcance imediato – contudo, estamos mais solitários do que antes. Os computadores nos ajudam a fazer nosso trabalho com mais rapidez – entretanto, temos cada vez menos tempo. Ironia sobre ironia! Será que estamos aperfeiçoando os meios sem atingir o alvo? Tédio, solidão e correria são apenas sintomas da complexidade da vida. Não é de se estranhar que estejamos ansiando por simplicidade!

Em julho de 1974, perto de 2.000 cristãos, representando 151 nações, reuniram-se em Lausanne, na Suíça, para o Congresso Internacional Sobre Evangelização Mundial. Eles firmaram um pacto que incluiu um chamado à simplificação da nossa vida: “Nós que vivemos em circunstâncias de afluência aceitamos nosso dever de desenvolver um estilo de vida simples, de modo a contribuir com mais generosidade para operações de ajuda e de evangelização”.

Seis anos mais tarde, 85 líderes cristãos de 27 países encontraram-se em Hoddesdon para atender a esse chamado. Lembro-me dessa consulta por várias razões. Reunimo-nos em uma mansão bem grande, mas com os quartos parcamente mobiliados e mal aquecidos. A primavera ainda não chegara, e o frio do inverno mantinha-me acordado à noite. Confortei-me com o pensamento de que meu propósito em estar ali era, afinal de contas, viver de modo simples.

Descobri, porém, que viver de modo simples significava coisas diferentes para as diferentes pessoas. Quando falavam os irmãos das regiões afluentes do mundo, sua voz nunca estava sem um tom de culpa. Ronald J. Sider, autor de Cristãos Ricos em Tempos de Fome e um dos principais oradores, não conseguiu reter as lágrimas durante a sua palestra. Essa manifestação de emoções deixou impressões profundas. Um participante da Índia, porém, achou estranha a melancolia, e sugeriu uma solução: “Se vocês se sentem culpados por terem dinheiro demais, podem dá-lo para nós. Nós não temos esse problema. Faremos bom uso dele”.

É óbvio que ter ou não dinheiro não é a questão. O estilo de vida simples tem a ver com como você o gasta. Os assuntos que discutimos em Hoddesdon eram tão complexos que a declaração final, “Compromisso Evangélico com um Estilo de Vida Simples”, ficou sobre a mesa sem ser assinado, apesar de ter passado por debates acalorados. Os participantes sentiam que não podiam assiná-lo sem consultar os membros da sua família, pois o estilo de vida simples não pode ser um esforço individualista. (John Stott, um dos redatores do documento e solteiro, anunciou feliz que não tinha esses empecilhos.) Eu retornei para casa com a renovada resolução de implementar o Compromisso, parte do qual diz:

Alguns de nós foram chamados para viver entre os pobres, outros para abrir seus lares aos necessitados, mas todos nós estamos decididos a desenvolver um estilo de vida mais simples. Nós pretendemos reexaminar nossas receitas e despesas de modo a viver com menos e dar mais. Não estabelecemos regras ou regulamentos, nem para nós nem para outros. Porém, resolvemos renunciar ao desperdício e opor-nos às extravagâncias na vida pessoal, em termos de vestimenta e moradia, viagens e investimentos nos imóveis da igreja. Também aceitamos a distinção entre necessidades e luxos, hobbies criativos e símbolos de status vazios, modéstia e vaidade, celebrações ocasionais e rotinas normais, e entre servir a Deus e ser escravo da moda. Onde fixar a linha divisória exigirá de nós reflexão conscienciosa e determinação, em conjunto com membros da nossa família.

UM SÓ OLHO E O CORAÇÃO SINCERO

De volta ao belo sol de Cingapura, comecei um estudo sobre simplicidade nas Escrituras. Eu sabia que, se não baseasse o fundamento do estilo de vida simples sobre a Palavra de Deus, ele seria apenas mais uma idéia nova que passa com o tempo. Descobri que a simplicidade tem três facetas no Novo Testamento.

Primeiro, simples significa singular. Na biologia, dizemos que um organismo é simples quando tem apenas uma célula e que um organismo é complexo quando tem muitas células. Simplicidade é unicidade: ter somente um propósito ou ter o coração e a mente voltados para apenas uma coisa. Jesus fala do olho são, bom (“simples”, no grego; Mt 6.22), pensando no olho completo, sadio e saudável. Ele é sadio, vê com clareza e o corpo se beneficia. Jesus continua: “Ninguém pode servir a dois senhores” (Mt 6.24). Se o olho vê com clareza, o coração terá uma lealdade bem definida e nítida. Haverá apenas um mestre e um senhor.

Infelizmente, com freqüência evitamos a escolha que Jesus nos propõe e administramos um estilo de vida de lealdades conflitantes. Submetemo-nos a Cristo em momentos de entusiasmo religioso, porém essa submissão raramente se eleva acima do turbilhão transitório das emoções a ponto de dirigir todo nosso estilo de vida. Um dos efeitos dessa duplicidade de atenção é a ansiedade. Poderíamos ter-nos poupado esse flagelo da sociedade moderna se nosso olho estivesse concentrado em apenas uma coisa e nossa lealdade estivesse clara. “Não vos preocupeis”, Jesus ordena repetidas vezes (Mt 6.25,31,34). Em grego, “estar preocupado” deriva de uma raiz que significa “estar dividido em partes, ser puxado em direções diferentes”.

Em lugar da lealdade a um só senhor e de um estilo de vida integrado em torno de um só alvo, temos uma orientação fragmentada que nos puxa em todas as direções. Se ansiamos por simplicidade, temos de começar a simplificar nossas prioridades. Jesus, na continuação, nos ordena: “Buscai, em primeiro lugar, o reino de Deus e a sua justiça, e todas essas coisas vos serão acrescentadas” (Mt 6.33).

Em segundo lugar, ser simples significa ser sincero. O apóstolo Paulo, escrevendo aos crentes de Corinto, afirmou que sua conduta no mundo e entre eles fora “com simplicidade e sinceridade de Deus” (2 Co 1.12, ARC). A integridade de Paulo fora questionada por seus opositores em Corinto, e aqui ele defende a pureza da sua intenção e sua isenção de qualquer engano ou fingimento. O apóstolo Pedro incentivou a mesma coisa na comunidade cristã, o “amor fraternal sem hipocrisia”, sem fingimento (1 Pe 1.22). Simplicidade quer dizer não ter nenhuma segunda intenção, nenhum objetivo oculto, nenhuma hipocrisia. O estilo de vida simples exige transparência em nossos motivos e honra em nossas intenções.

Devo admitir que esse estilo de vida pode nos colocar em desvantagem em algumas situações. Fazer pose e enganar é tão comum no mundo dos negócios e da política que nos vemos tentados a agir da mesma forma. Nessas situações, temos de pedir sabedoria a Deus para sermos simples sem sermos simplistas, espertos sem sermos desonestos, gentis sem sermos ingênuos. Mesmo assim, é melhor, se necessário, perder em termos materiais se, com isso, honramos a Deus e preservamos nossa integridade. O custo do contrário seria muito alto.

Boa parte do stress da vida moderna é gerada por insinceridade e fingimento. Estamos constantemente tentando, conscientemente ou não, impressionar e iludir. Veja, por exemplo, as festas de casamento suntuosas que se tornam uma desculpa para ostentar riqueza e causar impressão. Alegrar-se junto com o casal está longe da mente de hóspedes que, apertados em um restaurante superlotado e barulhento, vêem a noiva e o noivo apenas de relance e apertam a mão deles na saída, antes de correr para casa para dormir e curar a ressaca. Onde está o valor dos relacionamentos? Está soterrado sob o grande número de mesas que o casal mal pode pagar, o excesso de comida que os convivas não conseguem consumir e um estilo de vida que todo mundo aparentemente tolera.

DAR COM SIMPLICIDADE

Em terceiro lugar, ser simples significa ser generoso. “Aquele que distribui seus bens, que o faça com simplicidade” (Rm 12.8), Paulo exortou seus leitores. A mesma palavra para simplicidade é usada em 2 Coríntios 8.2, onde Paulo elogia os macedônios em relação a dar: “No meio da mais severa tribulação, a grande alegria e a extrema pobreza deles transbordaram em rica generosidade” (NVI). Como a simplicidade vem a significar generosidade? A pessoa que é livre de distração, dúvida ou fingimento pode agir com liberdade, com um só propósito e de todo o coração. Quando dá, o faz sem reservas; dá com simplicidade ou generosidade.

Portanto, o estilo de vida simples começa no nosso relacionamento com Deus (lealdade única), influencia nosso relacionamento com as outras pessoas (amor e sinceridade sem fingimento) e termina no nosso relacionamento com nossas posses (generosidade).

É claro que as posses em si são neutras. Não são nem certas nem erradas. É o tipo de relacionamento que desenvolvemos com elas que as torna úteis ou prejudiciais. Na maioria das vezes, nosso relacionamento com as coisas é puramente funcional. Usamos máquinas fotográficas com flash e o valorizamos apenas quando cai a noite ou falta luz. Deixamo-lo de lado quando não é necessário. Nosso relacionamento com um objeto também pode ser sentimental. Uma aliança de casamento assume mais valor do que o preço que foi pago por ela. Nós a valorizamos não só como matéria, mas também pelo que simboliza.

Materialismo não é tanto a abundância de coisas como nossa escravidão a elas. O estilo de vida simples exige que administremos nossas posses de modo responsável, com um distanciamento tranqüilo delas. Lembramos a nós mesmos que elas não são nossas. Não somos donos, apenas administradores. Essa perspectiva nos permite repartir e dar facilmente aos que estão necessitados. A generosidade beneficia o recebedor, mas também enriquece o doador. Quando damos, libertamo-nos do espírito do vício, da posse. Será que nossa vida é mais complexa do que poderia, por termos acumulado demais? Se esse é o caso, temos de simplificar. Dando, simplificamos nossos desejos e reduzimos nossas preocupações.

COMO APLICAR ISSO EM NOSSAS VIDAS?

O caminho da simplicidade precisa passar pelo corredor polonês entre a ingenuidade e o cinismo. Depois que voltei da Consulta sobre o Estilo de Vida Simples, fui convidado a dar muitas palestras sobre o assunto. A maioria dos participantes demonstrou um interesse genuíno em cultivar a simplicidade bíblica, mas alguns a consideraram impraticável. Para eles, viver a simplicidade de modo a reverter para um estilo de vida ascético, monástico em uma sociedade acelerada, impelida pelo consumo não funciona.

Talvez meu erro tenha sido explicar o estilo de vida simples em termos específicos em tempo rápido demais. Lembro de como nos subdividimos em grupos e discutimos tópicos como “comer e comida”, “viajar e férias”, “casa e móveis”, “roupa e moda” etc. Em qualquer exercício acadêmico, as respostas vêm fáceis. As idéias fluem e as listas crescem. Alguns foram ingênuos, pensando que é possível cultivar um estilo de vida apenas fazendo uma lista de coisas. Outros foram cínicos e pensavam que não era possível cultivar um estilo de vida simples. Levei dez anos para chegar a um equilíbrio sobre esse assunto.

ESPIRITUALIDADE DO DESERTO

No quarto século da era cristã, com o Edito de Tolerância de 313 d.C, a perseguição oficial da igreja chegou ao fim. Até então, houvera muitos heróis da fé. Os cristãos tinham sido presos, torturados e mortos. Histórias inspirativas de mártires e martírios tinham movido o coração dos fiéis. Com o fim da perseguição, porém, a linhagem dos heróis também terminou. A igreja ficou morna e os fiéis ficaram inquietos. Outro modelo de heróis tornou-se necessário. Foi então que a vida ascética tornou-se popular. O ascetismo, afinal de contas, é uma variante do martírio. Neste, o corpo é entregue à morte. No ascetismo, o corpo é entregue à privação. O asceta, em pouco tempo, substituiu o mártir como herói da fé.

Nos desertos do Egito, da Arábia, da Palestina e da Síria, o movimento ascético floresceu. Homens e mulheres acorreram ao deserto e se tornaram eremitas. Vivendo sozinhos ou em comunidades, submeteram-se a grandes privações e expuseram-se aos limites da resistência humana. Eles rejeitaram os confortos da cidade e torturaram seu corpo com todos os tipos de dificuldades. Tentavam, com isso, encontrar Deus. O deserto ofereceu o contexto ideal para essas aspirações.

Os ascetas tornaram-se conhecidos como os Pais do Deserto, e seus ensinos divulgaram um novo gênero literário. Fiéis ao contexto da sua origem, os Ditos dos Pais do Deserto eram simples, incisivos e austeros. Muitas vezes consistiam de uma frase curta, direta e desafiadora. Outras vezes vinham em forma de uma breve história, com uma palavra sucinta de conselho no fim. A linguagem é simples, mas a sabedoria é profunda. Cada ensino é extraído de anos de disciplina e meditação monástica. O conselho dado é sempre prático e consegue penetrar através do que é periférico até o que é fundamental. Os Pais não gastaram nem tempo nem palavras no que não é essencial.

Os temas básicos dos ensinos dos Pais do Deserto são solidão, silêncio e pobreza. Todos esses temas combinam com o caráter do deserto, um habitat que gerou o que às vezes é chamado de espiritualidade do deserto. É interessante que, apesar de separado por um e meio milênio de tempo, o anseio por simplicidade no coração do antigo eremita e no coração do homem moderno é exatamente o mesmo. No primeiro caso, a perseguição parou e a igreja ficou complacente. No segundo, a afluência predomina e a igreja fica complacente.

Os cristãos do quarto século fugiram para o deserto; para onde os cristãos de hoje podem fugir? Estamos diante de um dilema. Vivemos em cidades apinhadas de gente; onde podemos ficar a sós? Clamores e barulho nos bombardeiam em cada esquina; onde podemos encontrar silêncio? Cercados por todas as coisas boas da vida, como podemos falar de pobreza? Pensar nisso tudo não é tempo perdido. Quando estudamos os ensinos dos santos do deserto, aprendemos também que a experiência do deserto acontece tanto dentro de nós como fora.

Mãe Sinclécia (sim, também havia mulheres) declarou: “Há muitos que vivem nas montanhas e se comportam como se estivessem em uma cidade, e estão perdendo seu tempo. É possível estar solitário na mente em meio a uma multidão, e é possível para aquele que vive sozinho estar em meio à multidão dos seus pensamentos” (140, 234).

O que vale para a solidão vale para o silêncio. O pai Poemen aconselhou: “Obtém-se a vitória sobre todas as aflições que nos acometem, mantendo silêncio”. Isso, no entanto, não é toda a verdade. Ele acrescentou: “Alguém pode parecer estar em silêncio, mas se seu coração está condenando outros, ele está falando sem parar. E pode haver outros que falam de manhã até à noite e, mesmo assim, estão em silêncio genuíno, isto é, não dizem nada que não seja aproveitável” (172, 171). O silêncio concerne não apenas aos lábios; se não vier do coração, não é silêncio de verdade.

Solidão e silêncio são algum tipo de privação: um se abstém de companhia; outro, de palavras. A vida ascética exige ainda outras privações: de comida, casamento, confortos etc. Os ascetas iam a extremos incríveis para negarem-se tudo, exceto as necessidades mais básicas. A fuga para o deserto representa a renúncia às posses mundanas e a libertação das preocupações mundanas.

Pobreza de posses, porém, não necessariamente é pobreza de espírito. Podemos ser escravizados por cem reais tanto quanto por um milhão. A pobreza vem de dentro, não de fora.

UM LUGAR PARA COMEÇAR

Portanto, não temos desculpa. Não precisamos de um deserto literal para cultivar a espiritualidade dos pais do deserto. Podemos fazê-lo em nossas cidades congestionadas, no meio do tráfego barulhento e apesar dos confortos que criamos. Quando Jesus ensinou sobre a oração, ele instruiu seus discípulos: “Tu, porém, quando orares, entra no teu quarto e, fechando tua porta, ora ao teu Pai que está lá, no segredo; e o teu Pai, que vê no segredo, te recompensará” (Mt 6.6). Apesar de falar de um lugar privado, temos de lembrar que Jesus estava se dirigindo a pessoas que viviam em casas de uma só peça, sem os quartos reservados que temos hoje em dia. A privacidade refere-se ao coração tanto quanto ao lugar.

Todavia, para começar, talvez tenhamos necessidade da disciplina externa para cultivar a interna. Talvez tenhamos de procurar um lugar solitário, ter algum tempo de silêncio e desvestir-nos de certas posses materiais. A simplicidade, porém, uma vez formada, será encontrada dentro do coração humano. Apenas então ela se torna um modo de vida. O estilo de vida simples não acontece simplesmente; ele é primeiro cultivado no deserto do coração. Quando a terra fica de pousio, vazia de atividade, deixada sozinha e em silêncio, ela dá muito fruto.

Ao rever esses dez anos que se passaram, vejo como cresceu minha compreensão da simplicidade. Ela cresceu para além da ingenuidade e amadureceu de fazer para ser. Não é mais fazendo coisas que mostramos que somos simples. É cultivando a simplicidade bem fundo dentro de nós e expressando-a em tudo o que fazemos. Talvez essa seja a coisa mais difícil de fazer para aqueles de nós que vivem em sociedades afluentes. Nossa meta é estar em atividade e fazer coisas. Definimos nossa vida por meio de agendas e programas. Cedo ou tarde, porém, nos deteremos em nossa caminhada e perguntaremos: Por que tenho de viver uma vida tão corrida e tortuosa? Quando isso acontecer, nossa busca da simplicidade terá começado.

Extraído e condensado do capítulo 6 de “Sabedoria Pastoral”, de David Wong, direitos autorais em português do Instituto Haggai do Brasil, edição atualmente esgotada. Em breve será relançado com o título “Sabedoria Espiritual”. Pedidos do livro original em inglês, “Journey Mercies”, podem ser feitos no site: www.owlnook.com. Maiores informações: Instituto Haggai do Brasil, Rua Buarque de Macedo, 320; Jd. Brasil – CEP:13081-060 Campinas/ SP Tel:. (19) 3741.6161 Site: www.haggai.com.br

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