Por: Mateus Ferraz
É tempo de reavaliarmos nossa identidade. Até que ponto a natureza cristã faz diferença em sua vida?
A vida é constituída de momentos marcantes. Alguns marcam positivamente, outros negativamente, mas de alguma forma marcam nossa passageira existência nesse planeta.
Um dos momentos mais marcantes da vida do ser humano é quando começamos a ser reconhecidos pela sociedade. O momento em que a desacreditada criança começa a tomar espaço nas conversas e no sistema.
Eu me lembro claramente quando recebi minha Cédula de Identidade (RG). Foi incrível como um documento tão simples, cujo uso hoje em dia é tão comum, marcou tanto a minha adolescência. A sensação era que a minha existência começara naquele momento. A sociedade me conhecia, afinal, eu tinha uma identidade. Daí por diante, vários momentos como esse surgiram, mas nada se compara à emoção que aquele pequeno documento verde causou no coração de uma criança.
Refletindo sobre esse acontecimento da minha vida, passei a pensar em algo que aflige quase todos nós em algum momento de nossas vidas. A questão da identidade. Mais do que um simples documento, ou um devaneio de criança, essa questão parece trazer imensas crises emocionais e psicológicas em cada um de nós. Quem sou eu? Por que nasci? Qual o verdadeiro propósito de minha existência?
Para alguns, tais perguntas parecem apontar drasticamente para um imenso vazio: Crise de identidade. Esse é o tipo de problema que não parece estar explícito na Bíblia. Durante anos de minha vida cristã, nunca alguém abordou biblicamente esse assunto.
Harold Híll, um escritor norte-americano, escreveu a seguinte frase: “A Bíblia é o manual do fabricante”. Sendo assim, Deus, o grande fabricante, não se esqueceu de nenhum detalhe ao escrever o manual.
Estudando um pouco mais a respeito da identidade, me deparei com a chocante história de Daniel (Dn 1). Imagine um jovem judeu, criado no temor do Senhor, educado nas leis e tradições judaicas, que é levado em cativeiro para uma outra terra, permeada de idolatria, paganismo e perversão.
Sendo um jovem de boa aparência e inteligente, Daniel é levado ao palácio do Rei Nabucodonosor, para ser educado nos costumes caldeus. A primeira atitude do rei é alterar seu nome. Daniel, cujo nome significa “Deus é meu juiz”, agora passaria a ser chamado Beltessazar, que traduzido é “Que Bel (deus principal da Babilônia) te proteja”.
Em seguida, seus hábitos alimentares são alterados. O rei manda servir seus manjares, que em sua essência contradiziam todos os costumes judaicos. Imagine Daniel sentado àquela mesa. Como em tão pouco tempo, sua vida tomara um rumo tão diferente? O que fazer agora? Como deixar toda sua essência para se tornar alguém que nunca havia sido? Penso que uma crise de identidade se estabelecera por alguns momentos em sua mente.
Sociologicamente, o homem é fruto das influências do meio em que vive; sendo assim, Daniel poderia escolher tranqüilamente mudar sua existência e viver como um caldeu. Mas que glorioso é saber que isso não aconteceu. No versículo 8, lemos: “Daniel, porém, propôs no seu coração não se contaminar com a porção das iguarias do rei, nem com o vinho que ele bebia.”
A essência foi preservada, a natureza foi conservada e nem mesmo a esmagadora cultura paga pôde mudar um coração voltado a Deus. Com esse servo do Senhor aprendemos algumas verdades sobre identidade.
1. Deus, através de seu Filho Jesus, nos concede uma identidade.
Não somos fruto de um desastre cósmico da natureza. Temos uma Origem, e a partir do momento em que o Espírito Santo habita em nós, a essência divina passa a ser parte de nós (Jo 1.12; Gl 4.3-7; I Jo 5.18).
2. A identidade cristã é imutável e invariável.
Ser filho de Deus é um direito que nunca pode ser retirado por força, apenas renunciado por vontade própria.
Deus nos fez seus filhos, e o fez com um objetivo eterno. Somos frutos do amor incondicional de Deus, e ninguém nos céus, nem na terra nem debaixo da terra pode tirar a essência que Deus determinou nos conceder. Somente nós mesmos podemos renunciá-la.
O mundo e seu sistema tentam sutil-mente envolver-nos em uma vida pagã.
Todos os dias somos tentados a deixarmos os valores de Deus em nossas vidas para viver uma vida fácil nos moldes iníquos da humanidade. Mas se propusermos em nosso coração não nos contaminarmos com as finas iguarias mundanas, ninguém pode tirar-nos o poder de sermos filhos de Deus (Jo 1.12). Não é maravilhoso saber que nossa essência está segura nas mãos de Deus?
3. A identidade cristã é um diferencial em relação ao contexto mundano.
Luz que não brilha não é luz (ver Mt 5.14). O homem marcado pelo selo da identidade e da essência divina é uma testemunha viva do poder de Deus entre os homens. Jesus não veio ao mundo apenas para ser famoso nos livros de história antiga. O Filho de Deus se manifestou como homem, para revelar aos homens que é possível viver como filho de Deus em uma sociedade paga. Ele foi o modelo, o molde, e deve ser o alvo de todos nós. Como nós, ele foi tentado, perseguido, amaldiçoado, provado e pior, foi morto. Mas em momento algum deixou de ser homem e em momento algum deixou de ser Filho de Deus. O apóstolo Paulo declarou com extrema responsabilidade: “Sede meus imitadores, como também eu o sou de Cristo”(\ Co 11.1). Será que podemos dizer essa frase hoje em dia para os que se encontram em trevas? Se não podemos, é hora de reavaliar nossa identidade.
Quem é você? Filho de Deus ou fruto da influência do mundo?
É tempo de reavaliarmos nossa origem. É tempo de pensarmos sobre o chamado de Deus em nossas vidas. Aquele que tem o Espírito de Deus tem dentro de si a essência de Deus. O que falta é deixar essa essência se tornar mais do que uma simples parte do nosso homem interior, para se tornar a totalidade do nosso ser. Viva como filho e não como criatura! Viva a identidade cristã!
Mateus Ferraz é membro do Conselho Editorial da Revista Impacto.
Uma resposta
Devemos reavaliar nossos comportamentos e vermos se estamos provando das iguarias do mundo e deixando de participar do banquete do nosso Mestre. Precisamos realmente estar atentos e convictos de quem somos. Deus tem o melhor para nós. Deus em Cristo vos abençoe.