Por: Mateus Ferraz
Precisamos voltar a enxergar a visão que se perdeu no tempo, o propósito apaixonado que Cristo implantou em nós.
Por repetidas vezes falta-nos visão. Chegamos a tal conclusão ao olhar para experiências passadas nas quais percebemos que por falta de visão deixamos de marcar a história. Há quem diga que existem dois tipos de pessoas: homens de visão que marcam a história e cegos guiados pela visão de outros. Esses “cegos” normalmente são pessoas de potencial invejável, porém enterrado em uma montanha de medos, receios e obstáculos.
Será que existe alguém sem visão? Será que existe um ser humano sequer sem nenhuma perspectiva de vida que o leve adiante? Será que a visão é um tipo de dom especial predestinado a poucos privilegiados? Estas perguntas que passam pela cabeça de todos nós, nos levam a uma consideração final: O que leva os medíocres à mediocridade? Falta de visão, ou visão atrofiada? Para entender melhor esta questão, olhemos para uma situação narrada nas Escrituras em Marcos 8.22-26. Aparentemente, essa passagem bíblica fala de mais uma das inúmeras curas realizadas pelo nosso Mestre em seu ministério terreno, porém essa me pareceu bastante peculiar. Jesus, ao ser abordado por um cego, mais um dos muitos que se apresentavam diariamente com a esperança de voltar a ver, compadece-se da situação daquele homem e de uma maneira bastante curiosa, cospe nos olhos do cego (v. 23) e impõe suas ungidas mãos sobre ele. Posso imaginar que, já acostumados com esse tipo de milagre, os discípulos e os que o rodeavam esperavam ouvir o brado empolgado de um cego que via pela primeira vez. Contudo, ao ser indagado por Jesus se ele podia ver, o cego respondeu: “Vejo os homens como árvores que andam.” Algo havia de errado. Árvores são árvores e homens são homens, que semelhança poderia esse cego ver entre os dois? Nenhuma. O que acontecia ali era um caso de visão embaçada, confusa e atrofiada. Jesus, observando a confusão daquele homem, tornou a impor suas mãos sobre ele, e este, olhando firmemente, “…ficou restabelecido e já via ao longe e distintamente a todos” (v. 25).
Simbolicamente podemos interpretar de uma forma mais profunda esse texto bíblico. O homem sem Deus é cego. Vaga sem perspectiva alguma do futuro, a não ser as pobres perspectivas materialistas de um homem pagão. Ficar rico, conhecer o mundo, conhecer o amor, traduzido erroneamente em nossa sociedade como sexo, e depois de tudo isso levar sua cegueira para a sepultura. Esses são os verdadeiros cegos. Os cegos espirituais são vendados pela impressão de estarem felizes, mas basta alguns minutos de reflexão para se encontrarem em um poço escuro e sem perspectiva.
Ao encontrar-se com Jesus, o cego passa a ver. Alguém disse que a conversão é uma nova versão da vida. Tudo que uma pessoa deixou de sonhar, passa a sonhar em abundância depois de ter um encontro com Deus. A vida parece ter outro sentido. Lembro-me que após minha primeira experiência com Jesus, minha visão se abriu. Incrivelmente, em cerca de uma semana, inúmeros projetos de vida se estabeleceram.
Vontade de viver para Deus, de falar de Deus, de conhecer a Deus começou a brotar dentro de mim. Bem, isso não aconteceu somente Muitos cristãos, adaptados ao cristianismo, passam a se acomodar com a primeira visão. Acostumam-se com o evangelho, adaptam suas fraquezas ao cristianismo e aos poucos, paulatinamente, perdem a visão. O que no início era claro, definido e empolgante, passa a ser obscuro, embaçado e monótono. Não existe cristão que não tenha visão, porque essa visão e essa perspectiva são presentes que Deus concede a todos quantos o conhecem verdadeiramente. O que existe, isso sim, aos montes nos bancos das igrejas evangélicas, são cristãos com visão atrofiada, confusa e perdida comigo. Todos os que verdadeiramente passaram pela experiência de se tornar nova criatura sabem bem como é esse sentimento. Mas a visão não acaba aí.
É hora de passarmos de novo pela mão do “Restaurador de vistas”. É hora de clamarmos por um segundo toque do Mestre. É hora de pararmos de correr em direção a mediocridade, e começarmos a viver a empolgante vida cristã que enterramos com o passar do tempo. O tempo não pode ser inimigo do cristão. Temos que usá-lo como uma arma, pois quanto mais tempo tivermos mais possibilidade teremos de concretizar o sonho. “Portanto, vede diligentemente como andais, não como néscios, mas como sábios, remindo o tempo, porquanto os dias são maus” (Ef 5.15,16). Não é hora de enxergar homens como árvores, e sim enxergar distintamente tudo e todos. É hora de pedir que nossa visão espiritual seja restabelecida. Precisamos de discernimento, de palavra profética, de sonhos reveladores da vontade de Deus. Chega de usar dicionário humano para entender a linguagem dos Céus. Chega de disfarçar nosso ego semimorto com a máscara do legalismo. Deus procura homens de visão e você sem dúvida é um deles.
Talvez, diante de tão longo e árduo percurso de vida, você tenha se acostumado com a visão. Ou ainda, insistido em “miragens espirituais”, que fogem totalmente da visão que Deus tem para você. É muito comum as pessoas de visão atrofiada estabelecerem suas perspectivas baseadas na vida de outros “bem sucedidos”. A verdade é que a visão é pessoal. Deus nos criou seres distintos uns dos outros, para que tivéssemos vidas distintas. Esconder-se atrás da vida de outros para fugir da realidade pessoal é o início de uma grande frustração sem volta.
Faça uma análise. Avalie-se. Se você perdeu algo na sua caminhada cristã, volte pelo mesmo caminho a fim de obtê-lo de volta. Não importe-se com as abdicações necessárias. Importe-se com a visão que Deus tem para sua vida. Resgate-a, restaure-a, busque incessantemente até encontrá-la. Porque quando você a encontrar, só então passará a enxergar novamente.
Mateus Ferraz é membro do Conselho Editorial da Revista Impacto