Por: João A. de Souza Filho
“Nem haja algum impuro ou profano, como foi Esaú, o qual, por um repasto, vendeu o seu direito de primogenitura. Pois sabeis também que, posteriormente, querendo herdar a bênção, foi rejeitado, pois não achou lugar de arrependimento, embora, com lágrimas, o tivesse buscado” (Hb 12.16-17).
Esse texto da carta aos Hebreus descreve o momento em que Esaú, percebendo que perdera a bênção, chora copiosamente.
Como ouvisse Esaú tais palavras de seu pai, bradou com profundo amargor e lhe disse: Abençoa-me também a mim, meu pai! (…) Disse Esaú a seu pai: Acaso, tens uma única bênção, meu pai? Abençoa-me, também a mim, meu pai. E, levantando Esaú a voz, chorou (Gn 27.34,38).
Para entender o texto de Hebreus, é preciso deixar de lado algumas idéias muito comuns entre as pessoas e até mesmo entre o povo de Deus nos dias de hoje. Primeiramente, reciclar o conceito de que Deus é amoroso e fofo, de que trata todo o mundo sempre com graça e misericórdia. As pessoas esquecem que Deus é também justiça. Em segundo lugar, as pessoas acham que lágrimas derramadas em profusão são sinais ou sinônimo de arrependimento. Em terceiro, as pessoas questionam e arrazoam da seguinte maneira: Se Esaú chorou copiosamente, por que não alcançou misericórdia? Por que Deus foi tão duro com ele? Deus é que diz: “Amei a Jacó, porém aborreci a Esaú” (Ml 1.2-3).
É necessário também identificar o que é um profano, pois a recomendação apostólica é: “Nem haja algum impuro ou profano, como foi Esaú”. O contrário de profano é sagrado. Santo. A pessoa é profana quando viola ou trata com irreverência ou desprezo alguma coisa sagrada ou venerável. Essa palavra se aplica a pessoas que rejeitam tudo o que é de Deus; tudo que é da esfera divina. Uma pessoa se torna profana – mesmo sendo um crente – quando conscientemente deixa Deus de lado, por saber a opinião dele sobre determinado tema. Ela não aceita a opinião de Deus; no entanto não abandona sua fé. Nesse sentido, Saul também se tornou profano. Ele sabia a vontade de Deus e decidiu fazer a sua. Esaú sabia a vontade de Deus e decidiu seguir a sua. Depois chora copiosamente pelo erro, mas não pela ofensa a Deus.
Esaú, ao negociar seu direito de primogenitura por um prato de comida, zombou de Deus, pois este estabeleceu a lei da primogenitura como um princípio espiritual. É nesse sentido que se deve entender os textos de Gênesis e de Hebreus. João Calvino comentou o texto de Hebreus na seguinte perspectiva:
Enquanto estava faminto, Esaú preocupou-se apenas com seu estômago. Depois de se alimentar, riu de seu irmão e o julgou um tolo porque voluntariamente se absteve de uma refeição. Esse é o comportamento dos ímpios que ardem em depravadas paixões ou se entregam aos prazeres da carne: depois de um tempo, entendem como lhes foram fatais as coisas que desejavam com tanta intensidade.
E continua:
A pergunta é: O pecador tomado de arrependimento não obtém perdão? O apóstolo parece dizer exatamente isso, quando afirma que o arrependimento de Esaú não lhe valeu nada. Minha resposta é que o arrependimento, nesse caso, não era uma sincera conversão a Deus. Era apenas aquele terror que o Senhor usa para castigar o ímpio, depois de ele se entregar por tanto tempo à iniqüidade. Na verdade, o único tormento que sente é o senso do próprio castigo. As lágrimas de Esaú eram lágrimas atrasadas; ele não as derramou por ter ofendido a Deus, mas por ter perdido a esperança.
O comentarista John Gill teceu o seguinte comentário sobre o texto:
Inda que anelasse a bênção e derramasse copiosas lágrimas para obtê-la, Esaú não teve verdadeiro arrependimento do pecado de desprezar a primogenitura. Lágrimas não são sinais infalíveis de arrependimento. As pessoas podem estar mais preocupadas com as perdas e os danos decorrentes do pecado do que com a maldade que nele reside. Tal arrependimento não é sincero. Não é fruto do amor a Deus nem da preocupação com sua glória.
A interpretação, a seguir, praticamente resume o que os demais comentaristas dizem desse texto:
Não achou lugar de arrependimento. O que Esaú queria com seu arrependimento era mudar a determinação do pai que decidiu dar a bênção para Jacó. Se tivesse buscado o arrependimento verdadeiro, certamente o teria encontrado. Mateus 7.7 diz: “Pedi, e dar-se-vos-á; buscai e achareis; batei, e abrir-se-vos-á”. Ele não o encontrou, porque não era isso que buscava. A prova de que suas lágrimas não eram de arrependimento está no fato de que, logo a seguir, prometeu vingança de morte a seu irmão. Ele derramou lágrimas, não por haver pecado, mas por saber a penalidade que o pecado lhe traria. Suas lágrimas inúteis foram de tristeza e de remorso, não pelo pecado que cometera. (Jamieson, Fausset & Brown Commentary).
Lágrimas, portanto, não servem como sinal de verdadeiro arrependimento. O seguinte comentário resume o que o texto quer afirmar:
A escolha feita por Esaú fora irrevogável (Gn 27.33). É um exemplo trágico de uma pessoa que pratica um pecado voluntarioso que não permite uma segunda chance (Hb 6.6 e 10.26). O texto apresenta o caso de Esaú como alerta aos cristãos que estavam sendo tentados a abandonarem a Cristo (Robertson’s N T Word Picture).
Veja que tipo de lágrimas você derrama! Lágrimas de verdadeiro arrependimento por haver ofendido a Deus ou lágrimas de pesar pelo efeito dos males que cometeu?
Respostas de 13
Excelente reflexão!
Linguagem clara e direta, sem rodeios. Um tema muito pouco pregado, mas, essencial para uma vida de comunhão com Deus e com o nosso próximo.
Parabéns.
Este texto é Bíblia pura na veia. Se mais pregações como essa fossem anunciadas todos os dias, haveria muito mais crentes convertidos verdadeiros, ao invés dos convencidos. Louvado Seja DEUS por esta palavra e pelo autor.
Eu também pequei e hoje me arrependo e com sinceridade não sei dizer mais nada além disso, estou arrependida, preciso da presença de Deus! Como é ruim ficar sem te sentir Senhor! Me perdoa, cria em mim um coração puro, e renova em mim um espírito reto não me lances fora da tua presença e não retires de mim o teu Espírito Santo, torna a dar-me a alegria da tua salvação e me sustenta com o espírito voluntário.
bênção.
Concordo com Afonso Martins, se mais desse tipo de pregação estive se nos púlpitos teríamos mais cristãos impactando o mundo.
O texto peca quando diz que “o pai decidiu dar a bênção a Jacó”.
O pai foi enganado pela esposa e pelo filho por isso deu a bênção.
Mas não foi Jacó que roubou a bênção de Esaú? Esaú talvez chorou de raiva, ou angustia – se formos nos colocar no lugar de Esaú ele sofreu porque obedeceu o seu pai mas foi enganado, mesmo assim Esaí não deixou de ser próspero, então no meu ver Deus fez justiça também, é complexo porque se nos formos ver Jacó errou feio, e enganou a seu pai, mas no decorrer dos capítulos ele foi enganado também por Labão que em vez de dar Raquel a Jacó quem é dada é sua filha Lia.
Louvado seja o nome do Senhor Jesus pela excelente exortação! Estou tremendamente impactado pela forma como a palavra foi pregada e de como a recebi no meu coração. Eu oro para que Deus te dê vida longa com saúde, paz e prosperidade no Caminho, e que Ele continue a te encher de sabedoria para impactar e levar o mundo ao verdadeiro arrependimento e conversão. Amém!
Amém. Que Deus crie em mim o verdadeiro arrependimento com frutos do Espírito Santo. Que o senhor abençoe sua vida.
Eu escutei numa pregação essa semana, que a atitude de Esúu foi tomada diante de um momento de exaustão, cansaço, assim uma pessoa que tenha ansiedade, depressão às vezes toma decisão precipitada. Assim acho que Esaú agiu de forma sem pensar.
Excelente observação Paulo, ela leva a gente a crer que não somos perfeitos e que o simples querer “arrepender-se” verdadeiramente, sempre dependerá do quanto temos de “fraquezas e doenças mentais” impregnadas em nós. Rogo a Deus para que Ele, em sua infinita “Misericórdia”, me cure da minha doença mental para que eu possa ter “autenticidade” em meus arrependimentos. Sem a ação Dele em minha psique, me sinto como Esaú, impotente na verdade.
Linda reflexão,isso nos mostra que tem ser mais agradecido com as bençãos que Deus tem preparado pra cada um de nós.E não abrir mão por nada , pois as Bençãos são única para cada um de nós
Deus tem me incomodado com está passagem, motivo este que a procurei e fico muito feliz com a explanação vinda do Espírito de Deus de forma precisa e bem didática. Serve para nos alertar quanto a ceder às tentações do nosso adversário, achando que por causa da misericórdia de Deus seremos perdoados,ou que é só pedir perdão a Deus e tudo volta ao normal, não é assim que funciona meus queridos, o arrependimento sincero é operado pelo próprio Deus na pessoa do Espírito Santo quando há em nós mudança de atitudes e de comportamentos. Primeiro Deus vê o coração quebrantado e contrito, aí o Espírito Santo vem e faz aquilo que não temos a capacidade de fazer que é nos convencer do pecado, da justiça e do juízo de Deus, para finalizar cito o exemplo de Davi, que cometeu um homicídio mandando matar Urias e um adultério com Bate Seba, esposa de Urias, ele se arrependeu, porque ele gozava de uma íntima comunhão com Deus, mas depois do pecado sentiu o vazio da presença de Deus, esta é a pior coisa que pode acontecer com alguém que um dia gozou verdadeiramente da presença de Deus, ele verdadeiramente se arrependeu porque Deus viu que o seu coração anelava pela sua presença, esta é a diferença, ter sede de Deus, querer Deus em sua vida novamente, este é o maior tesouro.