Por: R. A. Torrey
O que a Bíblia diz a respeito do Espírito Santo como pessoa? Não há como se relacionar corretamente com o Espírito Santo nem entender sua obra ou conhecer o maravilhoso trabalho que realiza em nossas almas sem primeiro conhecê-lo como pessoa.
Importância da Doutrina da Pessoalidade do Espírito Santo
Em primeiro lugar, a doutrina da pessoalidade do Espírito Santo é da mais alta importância para a adoração. Se o Espírito Santo é uma pessoa, e uma pessoa divina – como de fato é –, e nós não o conhecemos como tal, pensando que é apenas uma força ou uma influência impessoal (como acontece muito), então estamos roubando de uma pessoa divina a adoração que lhe é devida, o amor que lhe é devido, e a fé, a confiança, a entrega e a obediência que lhe são devidas.
Em segundo lugar, a doutrina da pessoalidade do Espírito Santo é da mais alta importância do ponto de vista prático. Se você pensa no Espírito Santo como uma mera influência ou força, então estará sempre perguntando: “Como posso apossar-me do Espírito Santo para poder usá-lo?” Ou: “Como posso conseguir mais do Espírito Santo?”
Mas se você o vê tal como a Bíblia o apresenta – uma pessoa de divina majestade e glória –, seu pensamento será: “Como o Espírito Santo poderá apossar-se de mim e usar-me?” “Como pode o Espírito Santo usufruir mais de mim?”
Se você vê o Espírito Santo como uma influência ou força a ser obtida e da qual se deve tirar proveito, no momento em que achar que já o recebeu, fatalmente se tornará orgulhoso, andará com altivez, como se fizesse parte de alguma elite cristã. Mas se, ao contrário, você vê o Espírito Santo segundo o conceito bíblico, como uma pessoa divina de infinita majestade que vem habitar em nossos corações, apossando-se de nós e nos usando segundo a sua vontade e não segundo a nossa – o resultado será a renúncia de si mesmo, o humilhar-se e a abnegação.
Não conheço nenhum pensamento que tenha mais poder para nos levar à humildade e à despretensão do que essa grande verdade bíblica, que nos apresenta o Espírito Santo como uma pessoa divina que vem habitar em nossos corações e tomar posse de nossas vidas para usá-las conforme aprouver à sua infinita sabedoria.
Em terceiro lugar, a doutrina da pessoalidade do Espírito Santo é da mais alta importância no que concerne à nossa experiência pessoal. Milhares, dezenas de milhares de cristãos, homens e mulheres, podem testemunhar da completa transformação de vida e de serviço a Deus que experimentaram depois que passaram a conhecer o Espírito Santo como uma pessoa.
Provas da Pessoalidade do Espírito Santo
Uma das provas da pessoalidade do Espírito Santo é que todas as marcas distintivas que caracterizam as pessoas são atribuídas a ele na Bíblia. Quais são essas marcas distintivas? Conhecimento, sentimento e vontade. Qualquer ser que conhece, sente e tem vontade é uma pessoa.
Quando se afirma que o Espírito Santo é uma pessoa, pode-se entender que se está querendo dizer que ele tem mãos e pés, olhos e ouvidos, nariz e boca. Não é nada disso. Essas não são, de forma alguma, marcas de pessoalidade; são evidências de substância corporal.
Qualquer ser que conheça, pense, sinta e exerça uma vontade é uma pessoa, quer tenha corpo, quer não tenha. Tanto eu como você, caso nossa vida aqui na Terra acabe antes da volta do Senhor, deixaremos de ter corpo, temporariamente; estaremos “ausentes do corpo” e habitando com o Senhor (2 Co 5.8). Entretanto, ainda assim seremos pessoas, mesmo sem corpo.
1) “Porque, qual dos homens sabe as coisas do homem, senão o seu próprio espírito que nele está? Assim também as coisas de Deus ninguém as conhece, senão o Espírito de Deus” (1 Co 2.11). Aqui se revela como o conhecimento é atribuído ao Espírito Santo. Ele não é uma mera iluminação que vem à nossa mente, pela qual somos capacitados a conhecer a verdade que de outra forma não descobriríamos. O Espírito Santo é uma pessoa que conhece as coisas de Deus e nos revela o que ele próprio conhece.
2) “Mas um só e o mesmo Espírito realiza todas estas coisas, distribuindo-as como lhe apraz, a cada um, individualmente” (1 Co 12.11). Este verso mostra que o Espírito Santo não é meramente um poder divino – que podemos captar e usar de acordo com a nossa vontade –, mas sim uma pessoa divina. É ele que se apossa de nós e nos usa segundo sua vontade. Inúmeros cristãos honestos e bem-intencionados estão se equivocando nesse ponto. Querem apropriar-se de algum poder divino e usá-lo de acordo com seus desejos. Agradeço a Deus, do fundo do meu coração, pelo fato de não existir nenhum poder divino do qual eu possa me apropriar, para usar a meu talante. E fico ainda mais grato pelo fato de existir uma pessoa divina que pode apoderar-se de mim e usar-me segundo sua vontade, que é infinitamente mais sábia e amorosa.
3) “E aquele que sonda os corações sabe qual é a mente do Espírito, porque segundo a vontade de Deus é que ele intercede pelos santos” (Rm 8.27). Preste atenção nestas palavras: “a mente do Espírito”. A palavra grega aqui traduzida como “mente” é “phronema”, termo abrangente que engloba essas três idéias: conhecimento, sentimento e vontade. É a mesma palavra usada no verso 7 deste capítulo, que em uma versão foi traduzida como “pendor”, em outra como “inclinação”, em outra ainda como “desejo”: “O pendor (inclinação, desejo) da carne é inimizade contra Deus”. Ou seja, não apenas o pensamento da carne, mas toda a sua vida intelectual e moral é inimizade contra Deus.
4) “Rogo-vos, pois, irmãos, por nosso Senhor Jesus Cristo e também pelo amor do Espírito, que luteis juntamente comigo nas orações a Deus a meu favor” (Rm 15.30). Observe particularmente estas quatro palavras: “pelo amor do Espírito”. Que pensamento magnífico! Ele nos ensina que o Espírito Santo não é uma mera influência ou poder cego, ainda que bondoso, que entra em nossos corações e vidas. Pelo contrário, é uma pessoa divina, que nos ama com o mais terno amor.
Quantas pessoas, porventura, já agradeceram ao Espírito Santo por seu amor? Alguma vez, você já dobrou os joelhos, olhou para o Espírito Santo e orou: “Espírito Santo, eu te dou graças pelo teu grande amor por mim”? No entanto, nós devemos nossa salvação ao amor do Espírito, tanto quanto ao amor do Pai e do Filho.
Se não fosse o amor de Deus Pai, que lá do alto me viu atolado em minha perdição, sim, que se antecipou à minha queda e ruína e enviou seu próprio Filho para descer à Terra e morrer na cruz em meu lugar, hoje eu seria um homem perdido. Se não fosse pelo amor de Jesus Cristo, o Filho, que desceu a este mundo, por obediência ao Pai, e entregou sua vida em sacrifício perfeito, na cruz do Calvário, para que eu fosse salvo, hoje eu seria um homem perdido. Mas, também, se não fosse o amor do Espírito Santo por mim, que o fez descer a este mundo, em obediência ao Pai e ao Filho, para procurar-me diligentemente até me encontrar na minha perdição; para seguir-me dia após dia, semana após semana, mês após mês, ano após ano, sempre ao meu lado, mesmo quando eu ainda não o queria ouvir, quando eu deliberadamente voltava a cabeça para o outro lado, quando o insultava; para ir atrás de mim a lugares que lhe devem ter causado agonia em sua santidade, até que conseguisse abrir a minha mente e fazer-me compreender a minha miséria, minha condição totalmente perdida, e revelar o Senhor Jesus como meu Salvador e Senhor – se não fosse a paciência, a longanimidade, o inesgotável amor do Espírito de Deus por mim, eu hoje seria um homem perdido.
5) “E lhes concedeste o teu bom Espírito, para os ensinar; não lhes negaste para a boca o teu maná; e água lhes deste na sua sede” (Ne 9.20). Aqui, tanto a inteligência quanto a bondade são atribuídas ao Espírito Santo. Essa passagem não acrescenta nada ao que lemos antes, mas resolvi citá-la porque está no livro de Neemias, que pertence ao Velho Testamento. Há quem diga que a doutrina da pessoalidade do Espírito Santo está no Novo Testamento, mas não no Velho. Porém, aqui vemos claramente que está tanto em um como no outro. É claro que não vamos encontrar referências ao Espírito Santo com a mesma freqüência em ambos, porque o Novo Testamento é a dispensação do Espírito Santo, mas a doutrina de sua pessoalidade está também no Velho Testamento.
6) “E não entristeçais o Espírito de Deus, no qual fostes selados para o dia da redenção” (Ef 4.30). Este versículo fala que podemos entristecer o Espírito Santo. Ele é uma pessoa que nos ama, uma pessoa santa, que é intensamente sensível ao pecado, que se horroriza com o pecado, mesmo naquelas formas que podemos achar menos nocivas. Ele vê tudo que fazemos, não somente à luz do dia, mas também nas trevas da noite. Ele ouve todas as palavras que proferimos, cada palavra ociosa que escapa dos nossos lábios. Ele vê cada pensamento que abrigamos em nossa mente, cada fantasia fugaz que deixamos ficar por um instante que seja em nosso interior. E se há alguma coisa ímpia, impura, vaidosa, impiedosa, imprópria, cruel, desagradável, amarga, irônica, crítica ou de alguma forma contrária à fé cristã, em pensamento, palavra ou obra, ele a vê, e isso o entristece inimaginavelmente.
Quantas vezes tem chegado à minha mente algum pensamento ou fantasia, cuja procedência desconheço, mas que não posso e não devo abrigar – e justamente quando já estava a ponto de acolhê-lo, veio o pensamento: “O Espírito Santo está vendo e ficará triste com isso”! Com essa intervenção, o pensamento foi embora.
Diante de tantas questões que surgem, e com as quais temos tanta dificuldade em lidar, esse pensamento do Espírito Santo nos ajudará a ter o comportamento correto em relação a elas. A condição é que desejemos mesmo a solução dele, e não fazer aquilo que nos agrade e, ao mesmo tempo, entristeça o Espírito Santo.
Extraído de “The Holy Spirit: Who He Is and What He Does” (O Espírito Santo: Quem Ele é e o Que Ele Faz), de R. A. Torrey.