Por Jesus Ourives
Pouco antes da meia-noite de 1° de junho de 2001, um grupo de adolescentes estava numa fila, conversando, rindo e se divertindo, ansiosos para entrar na Dolphinarium (ou Dolphi), uma discoteca popular de Tel Aviv. No meio desse grupo de judeus, estava também Saced Hotari, um palestino envolto em explosivos e fragmentos metálicos que, ao explodirem, deixaram um saldo de 21 mortos e 132 feridos. Era o quarto atentado suicida em menos de três meses, mas foi classificado, em virtude do número de vítimas, como “massacre” e não atentado suicida. Os vizinhos de Hotari na Cisjordânia felicitaram o pai dele. “Espero que meus outros três filhos façam o mesmo”, declarou o Sr. Hotari a um repórter.
O que está no parágrafo anterior vem de um trecho do livro Filho do Hamas, escrito por Mosab Hassan Yousef, filho do xeique Hassan Yousef, um dos fundadores do grupo terrorista Hamas. O livro está sendo publicado em português pela Editora Sextante.
Para comentar o livro, cuja leitura IMPACTO recomenda, preciso dividir este texto em duas partes a seguir.
1. O Conflito
Apesar dos horrores de alguns dos fatos narrados no livro – atentados, prisões, torturas, assassinatos –, a leitura do texto torna-se interessante por se assemelhar a uma obra de ficção: parece uma novela policial embora sejam fatos reais. A partir dos seus 18 anos, o autor Mosab agiu dentro do Hamas, por dez anos, como um espião a serviço de uma agência israelense de contraespionagem – o Shin-Bet. Isso aconteceu depois de ter vivido uma infância e uma adolescência típicas das crianças palestinas: jogar pedras em soldados israelenses, participar de passeatas e movimentos políticos, ensaiar o uso de armas e até adquiri-las, se possível.
As experiências que o fizeram largar o profundo ódio pelos judeus e passar a trabalhar em favor deles aconteceram dentro de uma prisão israelense, onde viu seus companheiros do Hamas torturarem barbaramente os próprios colegas, muitas vezes sem motivo algum.
Vários acontecimentos de que se tinha notícia somente pela imprensa internacional agora nos são revelados por quem estava do lado de dentro. Personagens conhecidos, como Yasser Arafat e Yitzhak Rabin (ambos já mortos, o segundo assassinado), e organizações, como OLP (Organização pela Libertação da Palestina) e ANP (Autoridade Nacional Palestina), além do próprio Hamas, fundado em 1986 por um grupo de palestinos, dentre os quais o pai do autor, fazem parte da narrativa deste livro. Mosab teve o cuidado de inserir, no fim do livro, algumas páginas auxiliares para melhor compreensão do texto: uma lista de personagens, um glossário e uma cronologia, além de fontes das notas de rodapé incluídas no texto.
O livro impressiona também pela atualidade – os acontecimentos narrados por Mosab vão até o ano 2006. São fatos bem recentes. Dá até para usar a expressão comum “parece que foi ontem”. No primeiro dia do ano de 2007, depois de liberado pelas autoridades israelenses, Mosab conseguiu sair do território palestino e refugiar-se nos Estados Unidos, onde vive atualmente aos 32 anos.
Minha visão do conflito do Oriente Médio mudou radicalmente após a leitura do livro; deixou de ser um problema distante de dois povos que não se entendem. O autor tem o condão de colocar-nos lá dentro, sentindo a angústia que ele sentia quando tinha conhecimento de mais um ataque suicida que precisava ser evitado. Embora o problema das relações palestino-israelenses e o conflito resultante já durem muito tempo, percebe-se que tanto judeus quanto palestinos são povos que têm o direito à vida (essencial) e a um pedaço de terra onde se estabelecer.
O conflito não será resolvido enquanto a violência for utilizada como instrumento. Como Mosab diz no final do livro: “O desafio não é encontrar solução. O desafio é ser o primeiro com coragem para abraçá-la”.
2. Mosab e Jesus Cristo
Num certo dia, no fim do ano de 1999, em que Mosab diz que se sentia entediado, ele aceitou o convite de um desconhecido inglês para participar de um estudo bíblico na sede da ACM. Lá, ele recebeu um exemplar do Novo Testamento. De acordo com a cultura árabe, os presentes devem ser honrados e respeitados. Por isso, o mínimo que ele podia fazer era lê-lo.
“Comecei do início e, quando cheguei ao Sermão da Montanha, pensei: ‘Nossa, esse tal Jesus é realmente impressionante. Tudo o que ele diz é lindo’. Eu não conseguia largar o livro. Cada verso parecia tocar uma ferida profunda em minha vida, transmitindo uma mensagem muito simples, mas que, de alguma maneira, tinha o poder de curar a minha alma e me dar esperança.”
Já no final do livro, ele afirma: “A mensagem de Jesus, ‘amai os vossos inimigos’, foi o que finalmente me libertou”.
Cabe aqui uma observação que deixará muitos cristãos sinceros alegres com a conversão de Mosab: ELE SE ENCONTROU COM JESUS POR MEIO DA PALAVRA. Quem fez a obra foi o Espírito Santo. A pessoa que o convidou para o estudo bíblico foi um humilde instrumento nas mãos de Deus. E o jovem Mosab foi apresentado a Jesus diretamente pela leitura do Evangelho.
Numa entrevista concedida ao jornalista Jorge Pontual, da Globo, (http://globonews.globo.com/platb/milenio/2010/06/09/video-extra-mosab-hassan-yousef/), Mosab diz, com muita simplicidade, que se converteu a Jesus Cristo, algo que também afirma no livro. Ele não se converteu a uma religião ou igreja, mas ao próprio Jesus. Sua vida começou a tomar outro rumo quando ele passou, em suas próprias palavras, “a adotar o padrão de Jesus”.
Mosab sabe que o fim do conflito pode ainda estar muito longe, mas de uma coisa ele está convicto: só haverá solução quando palestinos e judeus puderem amar um ao outro.
Obs. O irmão Asher Intrater pede à igreja brasileira para orar para que este livro, que foi publicado recentemente em hebraico, cause impacto nos israelenses. Pode ser um caminho para abrir o coração deles a Jesus como Messias por ser o testemunho de alguém que salvou a vida de muitos compatriotas de ataques terroristas – e que se converteu a Jesus de todo o coração!