Por Kent Carlson
Há mais de seis anos, a Igreja de Oak Hills, em Folson, Califórnia (EUA), trocou seus métodos de marketing religioso pela busca da edificação espiritual e do aprofundamento das relações comunitárias entre os membros. Desiludidos com o estilo consumista de grande parte do movimento evangélico hoje (descobrir o que o povo quer e oferecer-lhe com qualidade para que sempre venha buscar mais) e com as estruturas de células das mega-igrejas (que geram muita burocracia e relacionamentos artificiais que não funcionam), a liderança de Oak Hills começou a perguntar: “Se Deus não aparecesse no nosso meio, como iríamos saber?”
“Éramos tão bons em dirigir a igreja que Deus podia se ausentar totalmente, e ainda continuaríamos crescendo”, diz Kent Carlson, um dos dois pastores titulares de Oak Hills. “Então resolvemos buscar uma outra forma de viver a igreja, de tal forma que se Deus não aparecesse, estaríamos em grandes apuros.”
“Estamos no processo de buscar a experiência da transformação de Deus em nossas próprias vidas”, diz Carlson, “e de simplesmente convidar outras pessoas para nos acompanhar. Realmente não sabemos como fazer isso e nem sabemos se é possível fazê-lo numa igreja grande – mas, neste momento, estamos no meio desta aventura.”
“Sentimos que devíamos centrar nossa igreja nos feridos e naqueles que são os mais necessitados de todos no nosso mundo”, continua Carlson. “Você ensina aos outros o que sabe, mas reproduz o que você é. O importante é prestar atenção no que você está se tornando.”
Um dos aspectos mais importantes do ministério, de acordo com Carlson, é cuidar de sua própria alma. “Há uma síndrome intoxicante e espiritualmente perigosa nas igrejas que alcançaram grande sucesso, que faz com que você seja levado pelo simples entusiasmo e pelo sucesso do que está fazendo, sem perceber o que está acontecendo com sua alma”, ele diz.
Hoje, a liderança de Oak Hills está satisfeita com a mudança radical que adotou, apesar do redemoinho que provocou e da perda de milhares de membros. Kent Carlson discute neste artigo a mudança dos valores pastorais ocorrida nas últimas décadas e o processo que levou os líderes da igreja a encarar a ambição como um valor positivo e não como pecado.
Quero falar sobre ambição pastoral. E confesso-me apreensivo ao abordar esse tema.
Há alguns anos, graças ao “sucesso” de nossa congregação, fui convidado a ingressar no seleto e elitizado grupo de dirigentes de mega-igrejas, mentoreado por um dos mais talentosos e bem-sucedidos pastores do país. Foram dias inebriantes para mim. Vi meu nome ao lado de algumas das estrelas de primeira grandeza dentro da vasta subcultura eclesial. Senti-me importantíssimo.
Ao final da conferência, fui para o aeroporto na companhia de um pastor que se situava no extremo inferior da cadeia alimentar desse grupo de reverendos de grande porte. O homem era um poço de insegurança, mas possuía suficiente autenticidade para admitir sua condição para mim. Fazia três anos que iniciara sua igreja e só conseguira 750 pessoas freqüentando seus cultos! Achava que ainda não tinha o direito de juntar-se àqueles gigantes. Mesmo naquela época, no auge da minha avassaladora ambição, lembro-me de ter pensado: alguma coisa devia estar errada em nossa cultura eclesial, para um pastor como aquele se sentir inseguro.
Durante as três últimas décadas, alguma coisa fez a ênfase de nossa ética pastoral dar uma guinada da fidelidade para a produtividade e o sucesso. E isso fez arder a fogueira de nossa ambição. O que não é de surpreender, dada a natureza da nossa cultura ocidental. Assim como não me surpreenderá a ferocidade da guerra que teremos com a ambição, uma vez que a tendência à egolatria inoculou cada um de nós. Somente me pergunto por que um assunto de tal magnitude nunca é tratado com maior intensidade na mídia evangélica. Seria tão alentador vermos nossos líderes cristãos em uma mesa redonda admitindo que lutam com esse problema e que muitas vezes é sua verdadeira motivação no ministério. Todos nós sabemos que a ambição está presente ali. Se ao menos pudéssemos falar dela com honestidade…
A ambição pastoral não é um problema recente. Paulo, na carta aos Filipenses, diz para nada fazermos “por ambição egoísta ou por vaidade, mas humildemente considerem os outros superiores a si mesmos. Cada um cuide, não somente dos seus interesses, mas também dos interesses dos outros” (Fp 2.3, NVI).
Grandes líderes espirituais, ao longo dos séculos, insistiram enfaticamente com esse tema. Por exemplo, o teólogo puritano Richard Baxter o expressou da seguinte forma: “Vigiai para que, movidos pela pretensa diligência ao vosso chamado, não vos torneis carnais e excessivamente cuidadosos de vossas ambições de sucesso mundano”.
É com grande apreensão que abordo este assunto. Não há como discorrer sobre ambição pastoral sem dar a impressão de estar julgando os outros, e ponho logo em mim essa carapuça. Afinal, quem sou eu para conhecer os pensamentos e intenções que moram no coração de outra pessoa? As motivações internas que nos dirigem formam uma confusa teia em que entram tanto a sinceridade quanto a preocupação egoísta, a nobreza de caráter e o narcisismo. Estamos, portanto, em uma briga de foice no escuro, onde a qualquer momento podemos ser alvejados por mentes preguiçosas ou simplistas, que sentem prazer em transformar os que delas discordam em bonecos de papelão, para melhor rasgá-los publicamente.
Devo declarar também, com toda clareza, que prefiro seguir um pastor ambicioso a um preguiçoso. Acho melhor acompanhar quem quer mudar o mundo do que quem só deseja atirar pedras. E, embora haja muitos pastores à frente de ministérios frutíferos que são apaixonados, sinceros, famintos por Deus e inquestionavelmente íntegros, não posso deixar de fazer a pergunta a cada um de nós: nossa ambição vem de Deus?
Há mais de 20 anos, freqüento conferências sobre liderança e crescimento na igreja. Tenho observado como ficamos avaliando uns aos outros, procurando saber quem tem mais membros, a maior equipe, o maior orçamento, a maior propriedade. O segredo que cada um de nós carrega, e não revela a ninguém, é que queremos ganhar o jogo de “quem tem a maior igreja”. Ou, pelo menos, dar uma boa demonstração de grandeza. Estou convencido, por experiência própria, e também por ter perscrutado atentamente as trevas do meu próprio coração, que se aqueles pensamentos que surgem repentinamente no nosso íntimo aparecessem visivelmente em balões por cima de nossas cabeças, cairíamos todos de joelhos em profunda vergonha e arrependimento.
Estou convencido também de que a ambição pastoral e uma ética pastoral centrada em produtividade e sucesso terão um efeito devastador sobre nossas almas e sobre as almas das nossas ovelhas. Acredito que haja um caminho melhor; esse caminho, porém, requer que confrontemos diretamente os nossos corações ambiciosos e que estejamos prontos a morrer para essas ambições. Precisamos nos tornar peritos em detectar o mau odor da ambição pessoal e fugir dela como se o futuro da igreja dependesse disso. E creio mesmo que dependa.
Traduzido e publicado de “Leadership Blog, Out of Ur”, 3/10/2006 (blog.christianitytoday.com/outofur), com permissão de Christianity Today International, Carol Stream, Illinois USA (www.christianitytoday.com)