Por: R. J. Rushdoony
Dívida, para o cristão, é violação do mandamento: “A ninguém fiqueis devendo coisa alguma” (Rm 13.8). Dívida resulta de cobiça, um desejo de possuir o que nosso próximo tem, mesmo que não tenhamos seus recursos.
Por causa da cobiça, o escravo deseja possuir uma casa, um carro, móveis, e roupas que vê entre os ricos, e o único meio de adquirir tudo isso é através da dívida. Mas Paulo declarou: “De fato, grande fonte de lucro é a piedade com o contentamento. Porque nada temos trazido para o mundo, nem coisa alguma podemos levar dele; tendo sustento e com que nos vestir, estejamos contentes” (1 Tm 6.6-8).
O homem ganancioso, ou a nação avarenta, entra em dívida a fim de conseguir mais poder, poder aquisitivo, prestígio, recursos, e outras formas de poder visível. Isto resulta, de fato, em mais poder, mas é poder a curto prazo comprado pelo preço de desastre a longo prazo. O devedor constantemente vê novos alvos, novos incrementos de poder possíveis de serem alcançados através de mais dívidas, e conseqüentemente se afunda cada vez mais em escravidão. Dever é um estilo de vida, uma forma gananciosa de viver, e uma forma de escravidão. O resultado final de uma economia baseada em dívidas, tanto para o indivíduo, como para a nação, é falência.
O poder que se adquire a curto prazo, porém, é impressionante. Os próprios devedores se impressionam profundamente com este poder, e por isto atribuem aos maiores devedores o maior grau de poder. Acreditam, ademais, que quando se tornam conscientes da pressão da dívida, que o mal está naquele que emprestou, e não em si mesmos por terem vivido gananciosamente. Assim, começam a esbravejar contra o “poder econômico oculto”, e muitas vezes reúnem fatos e dados sobre estas grandes forças financeiras. Os grãozinhos de verdade que descobrem a respeito das instituições econômicas ofuscam a dura realidade de que são os devedores que sustentam estas instituições, e que o verdadeiro mal é viver gananciosamente, não ser um banqueiro, por mais perniciosos que os princípios capitalistas hoje sejam.
A perspectiva daqueles que se preocupam com os “gestores do dinheiro”, portanto, está completamente falha. Acreditam no triunfo do mal, mas deixam de perceber que o mal fundamental da dívida vem da cobiça. Tais pessoas querem destruir os bancos, que representam uma atividade legítima, ao invés de abandonar a cobiça. Emprestar dinheiro não é pecado; a escravidão é um fato da vida, e aquele que está sob a escravidão da dívida não pode culpar quem lhe emprestou dinheiro de forma honesta e legítima.
A Bíblia reconhece tais transações como legítimas; o escravo não é rejeitado por Deus, mas simplesmente é considerado uma pessoa com uma vida extremamente limitada. A lei bíblica faz provisão para aquele que deseja viver na escravidão; apenas insiste em que publicamente reconheça que seu estilo de vida é um ato da sua própria vontade (Êx 21.1-6).
O crente que foge da dívida declara ao assim agir que se recusa a ser escravo, se recusa a viver gananciosamente, que reconhece que a terra inteira pertence ao Senhor e ao homem também, e que por esta razão só se pode viver a vida sob as condições da lei de Deus.
O cristão não tem direito de hipotecar nem a si mesmo, nem o seu futuro; pertencem a Deus, não a si próprio. Diante desta fé, e deste estilo de vida, o poder volta ao homem, que tem perdido sua liberdade e poder por causa da falta de fé e da mente gananciosa que é a raiz da escravidão por dívida. A origem do verdadeiro poder é sempre obediência a Deus.
Fonte: Christian History nº 14