Por: Kevin D. Miller
Ler a introdução ao livro mais recente do psicólogo Larry Crabb é como dar uma espiada no diário particular de alguém: “Cheguei a um ponto na minha vida em que precisava conhecer melhor a Deus ou não daria mais para continuar. A vida, às vezes, tem uma maneira de lançar-me em tal confusão nebulosa e dores agudas, que me faz perder toda esperança. A alegria desaparece. Nada me anima.”
Uma confissão de um dos pacientes de Crabb? Mais ou menos. Em Encontrar a Deus, Crabb procura diagnosticar a falta de paixão por Deus na sua própria vida. Ao escrever o livro, torna-se uma espécie de conselheiro de si mesmo, enquanto o texto passa a ser sua ficha terapêutica.
O mal que Crabb diagnostica em Encontrara Deus é algo mais comumente associado com ateus do que com cristãos: a incredulidade. A maioria dos cristãos transferiu o foco de encontrar a Deus para tentar encontrar a si mesmos, ele adverte. “Ajudar as pessoas a se sentirem amadas e valorizadas tornou-se a missão central da igreja. Em lugar de aprender a adorar a Deus com o alto preço de sacrifício e abnegação, propomos abraçar nossa criança interior, curar nossas memórias, vencer nossos vícios, sair de nossas depressões, melhorar nossa auto-imagem.”
Embora não seja a primeira pessoa a oferecer tal crítica, suas “inúmeras horas oferecendo terapia para centenas de pessoas” torna a conclusão de Crabb mais digna de ser ouvida: “Focalizar num conhecimento maior de si mesmo raramente leva a um conhecimento mais rico de Deus”. A obsessão de muitos cristãos com aconselhamento e livros de auto-ajuda, ele acredita, revela sua resistência a abraçar o remédio mais doloroso — porém, o único realmente eficaz: o arrependimento.
A partir deste conceito bíblico, Crabb apresenta sua contribuição mais original, um perfil descritivo e psicológico do pecado. A lei do pecado citado pelo apóstolo Paulo é nossa “inclinação para acreditar que Deus não é bom, ou pelo menos não suficientemente bom para que se confie totalmente nele”. Isto, de acordo com Crabb, forma o fundamento para uma estrutura de incredulidade, que tem cinco níveis: primeiro, viramo-nos para outros para conseguir deles o que não conseguimos receber de Deus; segundo, odiámos aos outros quando deixam de suprir nossas necessidades; terceiro, odiámos a nós mesmos, da mesma maneira que os outros nos odeiam por os ter odiado; quarto, resolvemos sobreviver, ainda que seja sozinhos; e quinto, tomamos quaisquer medidas para garantir nossa sobrevivência.
Uma miríade de exemplos é oferecida para ilustrar cada um desses níveis, muitos dos quais foram incidentes nada positivos da própria experiência de Crabb. Uma história especialmente comovente é de 1991, quando o irmão dele morreu num acidente de avião. Enquanto falava no serviço funerário dele, Crabb recorda: “Notei que uma frase que usei foi especialmente bem colocada… Fiz uma pausa para criar um impacto maior. Durante aquela pausa de três segundos, ouvi estas palavras passarem por minha mente: ‘Estou me saindo bem. Foi uma boa pausa.'” Este egoísmo no funeral do próprio irmão voltaria para assombrá-lo.
Qual o propósito destas histórias? Podemos dizer que é a psicologia da confissão. “Contar nossas próprias histórias requer que enfrentemos verdades doídas sobre nós mesmos,” diz Crabb. E com isto o profeta Isaías ou o apóstolo Pedro concordariam prontamente, pois ver a verdade nua e crua sobre nossa condição pecaminosa está intimamente relacionado com a visão de Deus como ele realmente é.
Mas Crabb não pára aí. “Uma vez que tenhamos enfrentado estas verdades,” ele escreve, “sentiremos novamente as paixões nobres do amor,… paixões plantadas nos nossos corações pelo Espírito de Deus.” Então, Deus é encontrado e a alegria redescoberta.