Por: Matt Peterson
Daniel tinha tudo para ficar amargurado e irado com Deus por causa da situação em que se encontrou em Babilônia, e das diversas ocasiões quando parecia que fora abandonado por ele. Mas a vida dele mostra o oposto, e podemos encontrar aqui o antídoto às amarguras e queixas que muitas vezes surgem no nosso coração.
Exausto depois de três semanas de lamentação e oração, não havia mais forças dentro de mim. Parecia mais um cadáver aquecido, e sentia-me assim também. As visões que vira foram estonteantes e consternadoras – virtualmente indescritíveis em termos humanos. Os que estavam orando comigo já tinham saído, deixando-me a sós. Debilitado e fraco, desmontei-me no chão, e caí num profundo sono.
Horas se passaram, e fui despertado por uma mão forte e calorosa que tocava no meu ombro. A força que passava através deste ser colocou-me tremendo sobre meus joelhos e as palmas das minhas mãos, enquanto ofegava, tentando respirar. Meus sentidos embotados, de repente foram renovados, e Gabriel começou a falar comigo: “Ó Daniel, homem muito amado, atende às palavras que te vou dizer, e levanta-te sobre os teus pés, porque te fui enviado” (Dn 10.11).
Você já teve experiências semelhantes a esta nos seus períodos recentes de oração? Nem eu! Imagine Gabriel tocando você, e dizendo estas palavras: “Tuas palavras foram ouvidas, e eu vim por causa das tuas palavras” (Dn 10.12).
Imagine oração com poder para iniciar o despacho imediato do mensageiro Gabriel lá do céu, e o disparo de alarmes no inferno desencadeando contramedidas. Imagine um coração em oração que move Deus a agir em favor da sua família, sua cidade, sua nação.
Este homem era mais do que um sonhador de sonhos, ou algum moço hebraico com alta sensibilidade para revelações. Daniel, homem muito amado (da forma como o anjo passou a usar esta expressão, parecia até um sobrenome dele), era um homem de devoção inquestionável e mais humilde que a maioria. Era um homem verticalmente em sincronismo com seu Deus, e que horizontalmente comunicava palavras de sabedoria e discernimento a reis.
O jovem Daniel, filho de nobres morando na cidade de seus ancestrais, foi pre so pelas forças babilônias que sitiaram Jerusalém em 605 a.C. Foi levado a centenas de quilômetros de Jerusalém para servir seus inimigos em Babilônia, recebeu um novo nome, e foi obrigado a aprender a língua e literatura dos caldeus. Nunca mais veria sua família. Com o passar dos anos, Daniel não só sobreviveu sob o domínio babilônio, mas no final chegou a governar um terço deste reino (2.48; 6.1-3). Conseguiram mudar seu nome, mas não puderam mudar sua natureza.
Líderes que se consideravam seus inimigos o honraram e se referiam a ele como o homem que tinha um “espírito excelente” (Dn 5.12). Deus não só concedeu a este jovem a interpretação de sonhos, mas revelou o próprio sonho que perturbava a mente do Rei Nabucodonosor. Daniel recebeu visões arrebatadoras e achou favor com comandantes. Anjos enviados do trono de Deus levavam-lhe mensagens, freqüentemente chamando-o homem muito amado (Dn 9.23; 10.11,19).
Jogado numa cova de leões famintos, Daniel viu um anjo fechar suas bocas, e depois seus acusadores sendo despedaçados pelos mesmos leões na manhã seguinte. Ele foi o recipiente de revelações sem paralelos de eventos tanto presentes como futuros, e foi usado para salvar as vidas de todos os sábios em Babilônia.
Daniel não era um jovem comum, nem um homem comum. Por que os céus foram abertos para Daniel? Por que até o mundo reconheceu seus talentos e integridade, promovendo-o às posições mais altas no governo? Por qual razão Deus resolveu enviar Gabriel a este cativo hebraico, confiando-lhe visões que não se cumpririam por milhares de anos?
Por trás das visitações de anjos, das visões deslumbrantes e dos momentos de crise, está o relato bíblico de um homem que fixou seu olhar para além das riquezas ou ofensas temporais, nos tesouros eternos que movem o coração de Deus.
Chaves profundas de como viver uma vida sobrenatural marcada por paz no meio da crise, por oração e jejum disciplinados, e por incrível favor, se encontram no relato bíblico de Daniel.
Uma chave que encontramos no início do seu cativeiro foi que Daniel nunca reclamou ou se magoou por causa das suas circunstâncias, mas dispôs seu coração para honrar a Deus em cada situação (1.8). Daniel conseguiu se ver como o representante de Deus nesta terra estranha, ao invés de se sentir vítima do inimigo que o capturou. Embora vivendo em Babilônia, esta civilização ímpia com suas paixões não cativou seu coração (1.8). Ele não entrava em pânico, mas inquiria do seu Deus e respondia “avisada e prudentemente” (2.14).
Daniel não recebeu glória para si mesmo. “Quanto ao mistério que o rei requer… há um Deus nos céus, o qual revela mistérios”, ele declarou, e depois continuou: “Quanto a mim, me foi revelado este mistério, não porque eu tenha mais sabedoria do que todos os viventes…” (Dn 2.27,28,30). Daniel era humilde.
Daniel permaneceu como escravo a Deus, ao mesmo tempo que era cativo do homem. Ele honrou e respeitou o rei que o arrancara da sua família e pátria, sabendo plenamente que é Deus que estabelece os reis. Daniel se submetia voluntariamente a autoridade e abençoava aqueles que estavam acima dele, indiferentemente da forma como era tratado (6.21).
Parte da razão por que Daniel nunca entrou em pânico ou preocupação era que conhecia as Escrituras. Daniel sabia dos escritos de Jeremias que Deus havia permitido este cativeiro do seu povo, e que logo terminaria (9.2). Daniel não temia ao homem. Arriscou sua vida e violou o edito do rei a fim de manter suas orações diárias, agradecendo a Deus e fazendo petição diante dele com as janelas bem abertas (6.10). Na verdade, orar abertamente
a Deus seria a única acusação registrada contra ele em toda sua vida. Em outra situação, também não temeu a um rei freqüentemente volátil, mas humilde e ousadamente o aconselhou a deixar seus pecados (4.19-27).
No capítulo 9 lemos o relato extraordinário de como este estadista e homem de Deus se colocou em pano de saco e cinzas, orando e se arrependendo pelos pecados dos seus ancestrais e do seu povo, e suplicando por perdão do Deus que conhecia intimamente. Daniel não apontou o dedo em acusação, mas se identificou com o pecado do seu povo e confessou que nós “pecamos” (9.11).
Daniel nunca se esqueceu da sua origem, nem abusou em momento algum do poder e autoridade que recebeu. Sua identidade estava em Deus. Ele foi um mordomo diligente de tudo que foi colocado sob sua responsabilidade, e não difamou nem falou mal de outros. Não se esqueceu de seus irmãos hebraicos, mas quando foi promovido, solicitou que Hananias, Misael, e Azarias fossem promovidos também. E assim a lista continua.
Agora, quando Deus está nos equipando para confrontar o mal em algumas das próprias situações que Daniel previu em visão, é essencial que procuremos entender e aprender estas chaves que Daniel tão notavelmente exemplificou. O céu e o mundo esperam por um povo extraordinário, com espírito excelente como o de Daniel, para surgir na igreja com sabedoria, percepção e poder. Conhecer nosso Deus, viver vidas dedicadas e santas diante dele, e viver na extremidade precária da fé, são requisitos para que avancemos além da nossa condição atual.
Com muita propriedade para nossos dias, o anjo disse a Daniel: “Mas o povo que conhece ao seu Deus se tornará forte e fará proezas” (Dn 11.32).
Texto extraído da revista Morning Star, vol. 9, nº 2.
Matt Peterson é diretor da Morning Star School of Ministry e pastor supervisor dos grupos nos lares do Morning Star Fellowship em Charlotte, NC, EUA.