8 de novembro de 2024

Ler é sagrado!

A Igreja e as Cosmovisões do Mundo

Por John MacArthur, Jr

Existe e sempre existiu uma incompatibilidade fundamental, irreconciliável entre a igreja e o mundo. O pensamento cristão é totalmente desarmônico com todas as filosofias da História. A fé genuína em Cristo implica uma negação de todo valor mundano. A verdade bíblica contradiz todas as religiões do mundo. O próprio cristianismo é, portanto, virtualmente contrário a tudo o que este mundo admira.

Contudo, virtualmente ao longo de toda a história cristã, tem havido gente na igreja convencida de que a melhor maneira de ganhar o mundo é satisfazendo os seus gostos. Tal tipo de abordagem tem sempre resultado em detrimento da mensagem do evangelho. As únicas vezes em que a igreja causou impacto significativo sobre o mundo foram quando o povo de Deus permaneceu firme, recusando-se a compactuar e proclamando ousadamente a verdade apesar da hostilidade do mundo. Quando os cristãos se desviam da tarefa de confrontar os enganos do mundo com as impopulares verdades bíblicas, a igreja invariavelmente perde sua influência e, impotente, mescla-se ao mundo. Tanto as Escrituras quanto a História atestam esse fato.

E a mensagem cristã simplesmente não pode ser torcida para se conformar com a instabilidade da opinião do mundo. A verdade bíblica é fixa e constante, não sujeita a mudança ou adaptação. A opinião do mundo, por outro lado, está em fluxo constante.

Ao que tudo indica, o mundo não abraçará por muito tempo qualquer das ideologias que estão atualmente em voga. Se a História servir como indicador, quando nossos netos se tornarem adultos, a opinião do mundo terá sido dominada por um sistema completamente novo de crenças e um conjunto de valores totalmente diferente. A geração de amanhã renunciará a todos os modismos e filosofias de hoje, mas uma coisa permanecerá imutável: até que o Senhor mesmo volte, seja qual for a ideologia que ganhe popularidade no mundo, ela será tão hostil às verdades bíblicas como o foram todas as precedentes.

Modernismo

Pense no que aconteceu no século passado, por exemplo. Cem anos atrás, a igreja estava ameaçada pelo modernismo. Modernismo era uma cosmovisão baseada na noção de que somente a ciência podia explicar a realidade. O modernismo, com efeito, começou com a pressuposição de que nada sobrenatural é real.

Deveria ter ficado instantaneamente óbvio que o modernismo e o cristianismo eram incompatíveis no nível mais básico. Se nada sobrenatural era real, então grande parte da Bíblia seria falsa e sem autoridade; a encarnação de Cristo seria um mito (anulando a autoridade de Cristo também); e todos os elementos sobrenaturais do cristianismo, incluindo o próprio Deus, teriam de ser totalmente redefinidos em termos naturalistas. O modernismo foi anticristão até a sua medula.

Não obstante, a igreja visível no começo do século 20 ficou cheia de gente que estava convencida de que modernismo e cristianismo podiam e deviam ser conciliados. Eles insistiam que se a igreja não acompanhasse o compasso dos tempos, abraçando o modernismo, o cristianismo não sobreviveria ao século 20. A igreja se tornaria paulatinamente irrelevante para o povo moderno, eles diziam, e logo desapareceria. Assim sendo, inventaram um “evangelho social” desprovido do verdadeiro evangelho da salvação.

Naturalmente, o cristianismo bíblico sobreviveu ao século 20 muito bem, obrigado. Nos lugares onde os cristãos permaneceram comprometidos com a verdade e autoridade das Escrituras, a igreja floresceu, mas, ironicamente, aquelas igrejas e denominações que abraçaram o modernismo foram as que se tornaram pouco a pouco irrelevantes e desapareceram antes do fim do século. Muitos edifícios de pedra, grandiosos, mas quase vazios, dão testemunho da fatalidade da conformação com o modernismo.

Pós-Modernismo 

O modernismo é agora considerado como um modo de pensar do passado. A cosmovisão dominante, tanto no círculo secular quanto no acadêmico, atualmente é chamada de pós-modernismo. Os pós-modernistas têm repudiado a confiança absoluta dos modernistas na ciência como único caminho para a verdade. Na realidade, os pós-modernistas perderam completamente o interesse pela “verdade”, insistindo que não existe tal coisa como verdade absoluta ou universal.

Ao contrário do modernismo, que estava ainda preocupado com a possibilidade de convicções básicas, crenças e ideologias serem objetivamente verdadeiras ou falsas, o pós-modernismo simplesmente nega que qualquer verdade possa ser objetivamente conhecida.

Para o pós-modernista, a realidade é o que o indivíduo imagina que seja. Isso significa que o que é “verdadeiro” é determinado subjetivamente por cada um, e não existe tal coisa como a chamada verdade objetiva, com autoridade que governa ou se aplica universalmente a toda humanidade. O pós-modernista acredita naturalmente que não faz sentido debater se a opinião A é superior à opinião B. No final das contas, se a realidade é meramente uma invenção da mente humana, a perspectiva de verdade de uma pessoa é afinal tão boa quanto a de outra.

Tendo desistido de conhecer a verdade objetiva, o pós-modernista se ocupa, em lugar disso, com a busca para “entender” o ponto de vista da outra pessoa. “Verdade” torna-se nada mais do que uma opinião pessoal, geralmente melhor se guardada para si mesma.

Esta é uma exigência essencial, não negociável, que o pós-modernismo faz a todo mundo: nós não devemos pensar que conhecemos qualquer verdade objetiva. Toda opinião deve receber igual respeito; com mente aberta, devemos procurar a harmonia e tolerância. Tudo soa muito caridoso e altruísta, mas o que realmente sublinha o sistema de crenças pós-modernistas é uma intolerância total por toda cosmovisão que faça alegações de qualquer verdade universal – particularmente o cristianismo bíblico.

Em outras palavras, o pós-modernismo começa com uma pressuposição que é irreconciliável com a verdade objetiva, divinamente revelada nas Escrituras. Da mesma forma que o modernismo, o pós-modernismo é fundamental e diametralmente oposto ao evangelho de Jesus Cristo.

Pós-Modernismo e a Igreja

Não obstante, a igreja atualmente está cheia de gente que advoga idéias pós-modernistas. Alguns fazem isso consciente e deliberadamente, mas a maioria o faz sem querer (tendo embebido demasiado do espírito dos tempos, simplesmente regurgitam opiniões do mundo). E poucos reconhecem o perigo extremo colocado pelo pensamento pós-modernista.

A influência pós-modernista claramente já infecta a igreja. Os evangélicos estão baixando o tom da sua mensagem para que as rígidas alegações de verdades do evangelho não soem tão desagradáveis aos ouvidos pós-modernos. Muitos evitam fazer afirmações inequívocas de que a Bíblia é verdadeira e todos os outros sistemas religiosos do mundo são falsos. Alguns que se intitulam cristãos foram ainda mais longe, determinadamente negando a exclusividade de Cristo e abertamente questionando sua alegação de ser ele o único caminho para Deus. (Confira as afirmações categóricas nas Escrituras: Jo 14.6; At 4.12; Jo 3.36; 1 Tm 2.5; 1 Jo 5.11,12.)

Cristianismo e Tolerância

A alegação da Bíblia de que Cristo é o único caminho da salvação está certamente em desarmonia com a noção pós-moderna de “tolerância”, mas é, no final das contas, exatamente o que a Bíblia ensina. E a Bíblia, não a opinião pós-moderna, é a autoridade suprema para o cristão.

Quando nossos avós falavam de tolerância como uma virtude, a palavra significava respeitar as pessoas e tratá-las com bondade mesmo quando acreditamos que estão erradas. A noção pós-moderna de tolerância significa que nunca devemos considerar a opinião de alguém como errada. A tolerância bíblica é para as pessoas; a tolerância pós-moderna é para idéias.

Aceitar toda crença como igualmente válida, embora não seja uma virtude, é praticamente a única virtude que o pós-modernismo conhece. As virtudes tradicionais (incluindo humildade, domínio próprio e castidade) são abertamente zombadas e até mesmo consideradas como transgressões no mundo do pós-modernismo.

Previsivelmente, a beatificação da tolerância pós-moderna vem exercendo efeitos desastrosos sobre a verdadeira virtude em nossa sociedade. Nestes tempos de tolerância, o que era proibido passou a ser encorajado. O que era tido como imoral é agora festejado. Infidelidade conjugal e divórcio foram normalizados. Impureza é o lugar-comum. Aborto, homossexualidade e perversões morais de todos os tipos são aclamados por grandes grupos e entusiasticamente promovidos pela mídia popular. A noção pós-moderna de tolerância está sistematicamente virando virtude genuína na cabeça deles.

Praticamente a única coisa a ser rejeitada pela sociedade como maligna é a noção simplória e politicamente incorreta que o estilo de vida, religião ou perspectiva diferente de outra pessoa são incorretos. Por isso, os pós-modernistas aceitam a intolerância somente se for contra aqueles que alegam conhecer a verdade, particularmente os cristãos bíblicos. Aqueles que se proclamam líderes de tolerância são freqüentemente os oponentes mais declarados do cristianismo bíblico.

Por que isso? Porque as alegações de verdade das Escrituras são diametralmente opostas às pressuposições fundamentais da mente pós-moderna. A mensagem cristã representa um golpe fatal à cosmovisão pós-modernista.

Se os cristãos se deixam enganar ou são intimidados a suavizar as alegações diretas de Cristo e a alargar o caminho estreito, a igreja não fará qualquer progresso contra o pós-modernismo. Precisamos recuperar a distinção do evangelho. Precisamos identificar as diversas formas com que o pós-modernismo tem infiltrado nossas mentes e atitudes. Temos visto o pecado, as idéias e opiniões através da lente da cosmovisão prevalecente e nos tornado tolerantes com as coisas que desagradam a Deus. Precisamos redescobrir a verdade absoluta e a perspectiva de Deus. Só assim voltaremos a pensar como Deus.

Extraído de “Princípios para uma Cosmovisão Bíblica”, John MacArthur, Jr., Editora Cultura Cristã. http://www.amx.com.br/cep

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