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A Âncora Sagrada

Por Thomas Watson (1620-1686)

“Aguardando a bendita esperança e a manifestação da glória do nosso grande Deus e Salvador Cristo Jesus” (Tt 2.13).

A maior felicidade do cristão está no futuro. Um santo nesta vida é alguém que vive na esperança do reino eterno; ainda que tenha pouco de concreto em suas mãos, vive fundamentado na esperança. Como diz a Palavra: “aguardando a bendita esperança”.

O que é esperança?

Esperança é uma graça sobrenatural plantada no coração pelo Espírito de Deus, por meio da qual um cristão recebe uma expectativa viva daquilo que foi prometido. “Se esperamos o que não vemos, com paciência o aguardamos” (Rm 8.25).

A esperança se preocupa com o bem. Olha para algo bom que vai acontecer, e isso a afasta do medo. O medo olha para o mal, enquanto a esperança contempla o bem.

A esperança se preocupa com um futuro positivo. Olha para algo bom que está por vir, o que a torna diferente da alegria, que se relaciona com algo no presente.

A esperança se interessa por um bem que é difícil de alcançar, o que a distingue do desejo. O desejo é fraco e transitório; logo acaba. A esperança é resoluta e duradoura, luta contra as dificuldades e não desiste até obter aquilo que espera.

A esperança se interessa pelo que é bom, disponível para ser conquistado e com potencial real de ser obtido. Isso a distingue do desespero que olha para as coisas com óculos escuros e desiste como se tudo estivesse perdido. A esperança é como a cortiça que faz a rede flutuar, evitando assim que o coração afunde em desespero.

Como a esperança difere da fé?

Essas duas graças, fé e esperança, são tão parecidas que podem ser confundidas. Mas, embora andem juntas como as duas asas dos querubins no propiciatório, não são a mesma coisa. É verdade que, em certos aspectos, elas tratam do mesmo assunto. Ambas se alimentam da promessa e dão suporte para a alma que está em apuros. Fé e esperança são como duas boias que impedem o cristão de se afundar nas águas da aflição. As duas graças, como um remédio, consolam a alma que está desfalecendo.

Entretanto, em outros aspectos, diferem uma da outra, tanto na ordem quanto na prioridade. A fé precede a esperança. A fé mostra para um cristão a terra da promessa, enquanto a esperança navega pacientemente para lá. Assim, apesar das diferenças, essas gêmeas não devem ser separadas. A fé fortalece a esperança, e a esperança conforta a fé.

O que o cristão espera?

Enfaticamente, um cristão aguarda “aquela bendita esperança”. Sua esperança não está nesta vida, senão ele ficaria desiludido. Nada nos espera aqui senão altos e baixos. Tudo o que há no mundo reverbera transitoriedade, no meio da qual podemos aguardar essa bendita esperança. A diferença entre a âncora do marinheiro e a do crente é a seguinte: o marinheiro lança sua âncora para baixo, enquanto o crente lança sua âncora para cima, no reino eterno, em busca da bendita esperança. O crente tem uma herança fabulosa (Hb 6.17) e espera que a coroa real seja colocada em sua cabeça.

O objetivo da esperança cristã é definido explicitamente: “o aparecimento da glória do nosso grande Deus e Salvador Cristo Jesus”.

Características da verdadeira esperança

A verdadeira esperança é vivificante. É chamada de esperança viva (1 Pe 1.3). Infunde vida no homem. Esperança é um estímulo ao dever, uma pedra que afia a dedicação. A esperança da vitória faz o soldado lutar; a esperança do ganho torna o comerciante diligente. A esperança divina é como o vento para as velas, como as rodas para a carruagem, pois torna o cristão atuante na vida espiritual e capaz de andar nos caminhos de Deus. Esperança atravessa rochas, luta contra dificuldades, despreza perigos, avança mesmo diante da morte! A verdadeira esperança nunca recua até obter o que se espera. Aquele que tem a esperança divina terá Cristo, ainda que esteja numa fornalha. Ele professará a verdade, mesmo sabendo que será lançado aos leões.

A verdadeira esperança é purificadora. “E a si mesmo se purifica todo o que nele tem esta esperança…” (1 Jo 3.3). A esperança age na alma como o relâmpago no ar, purificando-a. Aquele que tem esperança em Cristo toma posição contra todo pecado, tanto na intenção quanto na prática. Torna-se uma pessoa consagrada. Está gravado em seu coração: “Santidade ao Senhor!” (Êx 28.36). A esperança é uma graça pura que habita no coração. Benard compara a santidade à raiz, e a esperança ao ramo. A verdadeira esperança floresce quando brota da raiz da santidade.

Prove a sua esperança com o teste das Escrituras. O hipócrita diz que tem esperança, mas será que é uma pessoa purificada? O quê!? Uma pessoa insincera que espera habitar na presença de Deus? Nada entrará na cidade de Deus que possa contaminá-la com mentiras e abominações (Ap 21.27).

A verdadeira esperança é uma boa esperança. E o próprio Jesus Cristo, nosso Senhor, e Deus, nosso Pai, que nos amou e pela graça nos deu uma eterna consolação e boa esperança” (2 Ts 2.16).

A verdadeira esperança é perseverante. “…a qual casa somos nós, se guardarmos firme, até ao fim, a ousadia e a exultação da esperança” (Hb 3.6). A esperança nos faz resistir, portanto, é comparada a uma âncora que segura o navio durante uma tempestade. Em tempos de calamidades públicas, a esperança impede que a alma afunde. “O Senhor brama de Sião e se fará ouvir de Jerusalém, e os céus e a terra tremerão; mas o Senhor será o refúgio do seu povo” (Jl 3.16). Embora os céus e a terra tremam, a esperança do crente permanece.

Um crente nunca lança fora sua âncora. Os judeus eram prisioneiros na Babilônia, mas prisioneiros da esperança: “Voltai à fortaleza, ó presos de esperança” (Zc 9.12). Mesmo que um cristão esteja no seu leito de morte e toda esperança de vida lhe seja tirada, ainda assim sua esperança em Deus não desvanece.

Que conforto inefável para um filho de Deus é descobrir que, mesmo durante uma provação severa, sua esperança permanece bem sólida. Quando Cristo voltar, será uma aparição gloriosa para aqueles que continuam firmes na esperança.

Se os confortos externos de um cristão lhe fossem tirados, e alguém lhe perguntasse o que ainda lhe sobrava, ele diria: “a âncora da esperança”. Ele tem uma esperança irredutível nas moradas eternas que Jesus Cristo foi preparar (Jo 14.2). Quando Cristo, que é sua vida, voltar, então ele também se manifestará em glória (Cl 3.4). Quão grande é esse conforto que é capaz de tornar sua cruz leve e suave! Depois das águas amargas de Mara, vem o vinho do paraíso! Depois de uma primavera chuvosa, vem a alegria da colheita!

Meu desejo é encorajar você a cultivar uma disposição de esperança. Pois “gloriamo-nos na esperança da glória de Deus” (Rm 5.2). O medo gera tristeza, mas a esperança gera alegria. A esperança divina, disse Agostinho, não pode existir sem um elemento de alegria. Um cristão que tem esperança da vida eterna não se regozijará? “A esperança dos justos é alegria” (Pv 10.28).

Nossa esperança está próxima

Talvez alguns digam: Mas demorará muito antes de entrarmos definitivamente no reino eterno, “e a esperança que se adia adoece o coração” (Pv 13.12).

Não tardará. “Eis que eu [Jesus] venho depressa, e minha recompensa está comigo…” (Ap 22.12). Essa gloriosa recompensa que esperamos entra rapidamente na conta da fé; e fé faz com que as coisas futuras se tornem presentes. A vinda de Cristo está próxima; a estrela brilhante da manhã começa a surgir. Como um telescópio faz com que coisas distantes pareçam próximas aos olhos, assim a fé faz com que Cristo, o céu e o dia da recompensa pareçam próximos. Isso dá uma sensação de posse dos mesmos, já nesta vida. Portanto, cristão, regozije-se! Transforme suas lamentações em “aleluias”. Logo você participará das coisas benditas que aguarda. Pense na certeza da manifestação de Cristo, “Eis que venho”, e pense na rapidez, “sem demora”.

Persista na esperança!

Mantenha sua esperança firme diante de todo desânimo, seja por medo ou tentação. Cristão, não deixe o diabo roubar sua esperança. Um soldado, que já tenha conquistado uma posição mais elevada e que alcançou o alto da colina, não deixará que o inimigo o expulse dali; se manterá firme em combate até o último suspiro. Deus já o colocou em uma posição mais alta? Elevou sua esperança às alturas do céu? Não seja expulso de lá, mantenha sua esperança até o último suspiro. Ore para que Deus abra ainda mais seu caminho para que chegue perto dele e seja como o Monte Sião que não se abala.

Sem dúvida, isso deveria nos tornar frutíferos na obra do Senhor! Aquele que tem uma esperança bem fundamentada no reino de Deus será fervoroso nas suas ações, zeloso na causa de Deus! A esperança da glória dá espírito e vida ao discípulo de Jesus. Que a esperança divina seja como azeite para a lâmpada ou como vento para as velas, para nos incentivar e nos impulsionar em ações originadas pelo próprio Deus! Semeamos em esperança. “E não nos cansemos de fazer o bem, porque a seu tempo ceifaremos, se não desfalecermos” (Gl 6.9).

Vivamos de acordo com nossa esperança, andando em santidade. Aqueles que têm o reino de Deus como sua esperança terão a realidade dele presente em sua vida. Andemos de acordo com aquele padrão perfeito que Cristo nos deixou: “Aquele que diz que permanece nele, esse deve também andar assim como ele andou” (1 Jo 2.6). Comporte-se de maneira digna do Evangelho de Cristo (Fp 1.27).

– Texto adaptado. Thomas Watson foi puritano inglês, pregador e autor.

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