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A escuridão que se aproxima

Sammy Tippit

Um arrepio percorreu minha espinha enquanto considerava a possibilidade de ir para um país onde os terroristas haviam acabado de decapitar um jornalista americano. O risco em jogo não poderia ter sido maior. Sete dos homens sentados ao redor da mesa já haviam me aconselhado anteriormente quando enfrentei esse mesmo tipo de escuridão, mas esta seria a primeira vez para os outros cinco darem uma contribuição sobre como lidar com esse mal horrível.

Limpei minha garganta para começar a falar com o Conselho Administrativo do nosso ministério. “Estou disposto a morrer por minha fé, mas eu…” Meus lábios tremiam. “Eu não quero passar pelo que tenho lido e visto nos meios de comunicação.” Súbitas lágrimas brotaram em meus olhos. “Eu amo minha esposa e quero passar muitos anos ainda com ela. Quero ver os meus netos crescerem.” Eu não sabia mais o que dizer. O silêncio que tomou conta do ambiente exigiu que a sabedoria de Deus assumisse a direção do restante da reunião.

Minha última visita ao Paquistão havia acontecido quase dez anos antes. Naquela ocasião, anunciei Jesus a grandes multidões em Faisalabad, Lahore e Karachi, e muitos aceitaram o evangelho. Foi maravilhoso poder encorajar os cristãos e explicar o amor de Deus.

Depois que voltei do Paquistão, os cristãos traduziram e produziram muitas das minhas mensagens em formato digital e as distribuíram por toda a nação. Os líderes cristãos as utilizaram para ensinar nas aldeias e comunidades no entorno das grandes cidades. Um deles as traduziu para pashto, um importante idioma no Afeganistão, onde muitos afegãos prontamente abraçaram o evangelho. Os líderes cristãos nativos do Paquistão já começaram a planejar uma segunda visita minha ao seu país.

Um ano depois, porém, meu tradutor de pashto sentiu que sua vida estava em perigo e nos pediu para contratar um guarda-costas. Nós concordamos e fizemos planos para um membro da equipe viajar para o Paquistão e fornecer assistência técnica. Encontramos uma casa segura para o trabalho, mas o nosso membro da equipe nunca conseguiu chegar ao Paquistão. Algumas semanas antes de sua partida, recebi um telefonema que me deixou atordoado. Terroristas haviam sequestrado meu colega paquistanês, juntamente com seu guarda-costas, exigindo um grande resgate. Eu não sabia como responder, fiquei sem palavras. Antes que eu pudesse tomar uma decisão, recebi outra ligação. Nosso colega e seu guarda-costas tinham acabado de ser brutalmente assassinados.

Senti um nó no estômago. Fiquei inundado com um sentimento de tristeza e culpa – tristeza pelo bárbaro assassinato de um amigo e colega, e culpa porque provavelmente tinha sido morto por causa de seu trabalho com o nosso ministério. Os terroristas levaram o laptop que tinha todas as minhas mensagens traduzidas. Pastores paquistaneses me enviaram uma mensagem urgente, mas simples: “Você está no radar deles. Não volte tão cedo. Espere até que as coisas se acalmem. Nós o avisaremos quando for seguro…”

Então, esperei – por sete anos. Finalmente, os líderes cristãos do Paquistão entraram em contato novamente, pedindo para que eu voltasse. Sentiram que havia passado tempo suficiente e que meu ministério era necessário. Depois de discutir várias possibilidades, decidimos que a melhor opção para o meu retorno seria no início de outubro de 2013.

Nosso Conselho Administrativo tinha agendado uma reunião para 23 de setembro de 2013, a semana anterior à minha partida para o Paquistão. Um dia antes da reunião do Conselho, dois homens-bomba se aproximaram de uma multidão de cristãos reunidos durante um almoço e detonaram as bombas, matando quase 100 pessoas e ferindo muitas outras. Foi um dos maiores assassinatos em massa de cristãos na história recente do Paquistão.

Depois de muita oração e algumas ligações via Skype com líderes cristãos paquistaneses, decidimos que era vontade de Deus que eu viajasse para o Paquistão para a conferência dos pastores e para falar em algumas grandes reuniões evangelísticas ao ar livre. O pastor que achou que deveríamos continuar com os nossos planos sentiu que esse era um momento crítico para os cristãos no país. Trevas estavam cobrindo a nação, e eles precisavam da Palavra de Deus para dispersá-las. Decidimos mudar a conferência de pastores de um lugar público, no centro de Karachi, para o Hotel Marriott. O hotel tinha vários níveis de segurança, o que tornaria o local muito mais seguro para os pastores. Isso também nos daria tempo para avaliar a situação e determinar se deveríamos continuar com as grandes reuniões evangelísticas.

Confiando na proteção de Deus

Em 6 de outubro de 2013, embarquei num voo para Karachi, Paquistão. Não havia nenhum companheiro de viagem, apenas a presença de Cristo comigo. Olhei pela janela enquanto o voo subia acima das nuvens e perguntei a mim mesmo se voltaria a ver minha família novamente. Ergui a cabeça e endireitei meus ombros. Deus havia me dado paz e direção através do Conselho Administrativo. Respirei fundo enquanto olhava para fora da janela. Oh, Deus, eu confio em ti para guiar cada passo do caminho e cada minuto do dia.

Um grande salão estava lotado no dia seguinte com pastores e líderes cristãos. O Espírito de Deus soprou como vento forte sobre a multidão. Os corações foram renovados e os espíritos restaurados. Lágrimas correram pelos rostos dos líderes cristãos paquistaneses. Uma faísca de reavivamento foi acesa em centenas de corações famintos. Eu sabia que havia tomado a decisão certa. Deus tinha quebrado a escuridão que estava envolvendo os corações desses líderes. O medo se transformou em fé, a sensação de desamparo em expectativa de esperança. Deus visitara o seu povo.

O verdadeiro teste veio durante as reuniões evangelísticas que ocorreram depois da conferência para pastores. Eu não sabia se alguém compareceria às sessões públicas por causa das ameaças terroristas contra os cristãos em todo o país. Será que as pessoas arriscariam assistir a um fórum público no qual o Evangelho de Jesus seria proclamado? Mais uma vez, fiquei surpreso. Milhares se reuniram num terreno da Igreja do Paquistão no centro de Karachi. Eu preguei e muitos responderam à mensagem, colocando sua fé em Jesus e fazendo compromisso para segui-lo.

A luz dispersa as trevas

Depois de voltar ao Hotel Marriott ao final da primeira reunião evangelística, passei algum tempo em oração – e em seguida liguei para minha esposa, Tex, para avisá-la que estava tudo bem comigo e contar o que Deus tinha feito. A adrenalina estava alta, e tive dificuldade para dormir. Tentei compensar a falta de sono com uma xícara de café forte na sexta-feira de manhã, 11 de outubro. O aroma me fez sentir como se estivesse de volta na minha terra numa cafeteria local. Esse sentimento se dissipou rapidamente quando o garçom me entregou um jornal local em inglês. As manchetes gritavam no topo da primeira página: “Explosões de bombas abalam quatro capitais provinciais”. A chamada abaixo do título continuava: “10 mortos, 60 feridos, três terroristas suspeitos morreram”. Depois de ler o artigo, perguntei ao garçom se ele tinha outros jornais em inglês. Ele me trouxe outros três. As manchetes eram as mesmas.

Os terroristas haviam matado e mutilado pessoas inocentes em cada capital provincial, exceto uma: Karachi, a cidade onde estávamos realizando nossas reuniões evangelísticas. Eles tentaram detonar suas bombas lá também, mas os três suspeitos morreram quando suas bombas explodiram a caminho do destino alvo. Balancei minha cabeça lentamente enquanto lia a notícia. Quem era o alvo? Ninguém tinha a resposta para essa pergunta, mas sem dúvida alguma o nosso encontro estaria no topo da lista. Os terroristas odiavam os americanos e os cristãos. Nossa reunião definitivamente qualificaria como um alvo.

O que aconteceu durante os dias seguintes foi muito além do que eu jamais poderia ter imaginado. Milhares de paquistaneses ouviram a boa notícia do amor de Deus e responderam à mensagem do evangelho. Meu coração ficou profundamente tocado pela grande aceitação dos jovens, moços entre as idades de 18 e 30 anos. Centenas deles eram da mesma idade dos terroristas recrutados para a Jihad. No entanto, o Espírito Santo cativou seus corações, e decidiram colocar sua fé em Jesus e segui-lo. A escuridão tentou impedir a luz de entrar no país, mas a luz a dispersou. Deus se moveu de maneira poderosa enquanto o resplendor de sua glória era visto na nação.

Quando voltei para os Estados Unidos, a esperança tomou conta do meu coração. Eu sabia que a escuridão nunca poderia extinguir a luz que habita nos seguidores de Jesus. Eu tinha testemunhado a presença da luz em um dos lugares mais perigosos do planeta e em um dos momentos mais sombrios. Pude conhecer preciosos cristãos que enfrentavam perseguição todos os dias, e aprendi muito com eles.

As trevas se movem para o oeste

Quase um ano depois da minha viagem ao Paquistão, eu estava mais uma vez me preparando para receber nosso Conselho de Ministério e informar-lhes sobre a gloriosa luz que eu havia testemunhado naquela ocasião. Enquanto me preparava para a reunião, assisti com horror às reportagens da decapitação de um jornalista americano por terroristas islâmicos que enchiam a internet e a televisão. Ouvi atentamente os experientes estudiosos, políticos e estrategistas militares falando sobre a ameaça do ISIS (Estado Islâmico no Iraque e na Síria) e da Al Qaeda, e sobre a resposta que precisava vir do mundo ocidental.

Eu respeito cada ponto de vista e pensamento sobre o assunto e acredito que são necessários debates e ações intensas. Não sou político, especialista militar nem perito em terrorismo islâmico. No entanto, estou cada vez mais consternado porque toda essa discussão está ignorando um dos elementos mais importantes sobre o movimento terrorista. Ele representa uma cruzada profundamente espiritual que tem-se envolvido em trevas durante séculos.

Existem, certamente, elementos militares, políticos e ideológicos dos jihadistas que devem ser abordados. Contudo, se não começarmos a enfrentar a dimensão espiritual destas crescentes nuvens escuras sobre o mundo inteiro, receio que nossos filhos e netos, do mundo ocidental, enfrentarão atos bárbaros de perseguição que nunca imaginaríamos ser possível. Os filhos de muitos dos meus amigos e colegas de outros países já enfrentam tal terror. Bombas inteligentes, debates ideológicos e o politicamente correto não podem quebrar as trevas que habitam no coração humano. Apenas uma manifestação da glória de Deus tem a capacidade de expor e iluminar os corações.

Precisamos de uma visitação sobrenatural do céu – um reavivamento muito parecido com os que os nossos antepassados experimentaram e que serviram de base para a civilização ocidental. Como exemplos disso, temos os avivamentos de John Wesley e George Whitefield na Inglaterra e os Grandes Despertamentos nos Estados Unidos no século 19. Cada um deles veio num momento muito crítico na história e mudou o rumo de nações.

A necessidade hoje de um grande mover de Deus no mundo ocidental não poderia ser mais gritante. Enquanto as trevas do Islã radical crescem, a igreja está sendo embalada para dormir na cama da apatia. Temos puxado as cobertas sobre a cabeça dizendo: “A noite está se aproximando. Precisamos do nosso descanso. Tudo vai ser melhor ao amanhecer”. Outros caminham na direção oposta e se juntaram a um coro que entoa apenas uma canção: poder político e poder militar.

Este pode ser o momento mais crucial não apenas na história da civilização ocidental, mas também de todo o mundo. Alguns podem achar um exagero dizer isso. No entanto, se você entender os objetivos de grupos como ISIS e Al Qaeda, reconhecerá que a barbárie vista em países como Iraque, Síria, Nigéria e Somália poderá facilmente se espalhar por todo o Oriente Médio e, em pouco tempo, engolir todo o planeta.

A escuridão que se aproxima

No momento da redação deste artigo, acredita-se que milhares de jihadistas do ISIS tenham vindo da Europa Ocidental, além de mais algumas centenas dos Estados Unidos e do Canadá. A grande preocupação para as autoridades ocidentais é que esses terroristas utilizam passaportes ocidentais que lhes permitem locomover-se facilmente em toda a Europa e América do Norte. Os Estados Unidos e a Grã-Bretanha já vêm presenciando assassinatos selvagens em suas ruas e em locais de trabalho por aqueles que afirmam ser jihadistas.

Se os cristãos entendessem o propósito desses grupos terroristas, seríamos levados a nos ajoelhar e a clamar a Deus por um poderoso derramamento do seu Espírito. Líderes terroristas do ISIS têm proclamado o estabelecimento de um “califado” na Síria e no Iraque. Conceitualmente, um califado representa um estado soberano de todos os fiéis muçulmanos governado por um califa sob a lei islâmica (sharia). O objetivo final do califado foi e é um mundo sob o controle do Islã, no qual a lei Sharia é o modo de vida.

A resposta cristã
Muitos cristãos se encontram confusos sobre a resposta necessária. A maioria parece satisfeita em dormir durante este tempo de trevas. Minha premissa é que as trevas estão no âmago da situação que enfrentamos hoje, e somente os seguidores de Jesus possuem a luz que tem o poder para destruí-las. Habita em nós aquele que é a esperança da glória de Deus. A comunidade cristã em todo o mundo, mas especialmente no mundo livre, precisa reunir-se para orar por um grande derramamento do Espírito de Deus, neste momento tão crítico da história.

Enquanto vemos as trevas se aproximando rapidamente, devemos colocar “toda a armadura de Deus” e deixar que a nossa “luz brilhe”. Uma batalha está sendo travada pelo coração de homens e mulheres ao redor do mundo. Estamos enfrentando aqueles que marcham no compasso do ódio. No entanto, o ódio se rende àqueles que carregam armas cheias de amor. Nossas armas não são carregadas de bombas que causam morte e destruição. Quando usamos as armas que nos foram dadas, o amor se espalha tão rapidamente que traz vida a todos em seu caminho e transforma o curso da história. As trevas são dispersas, e a luz da glória de Deus aparece. Os céus visitam a terra. Avivamento vem. O mundo é transformado.

O ódio nunca consegue vencer o amor quando esse amor é exercido no poder daquele cuja natureza é amor. A luz do amor de Deus dispersará a escuridão.

________________________

Extraído e condensado de Light In The Darkness” (Luz na Escuridão), por Sammy Tippit. Copyright © 2015 por Sammy Tippit. Publicado com permissão. Para mais informações sobre livros de Sammy Tippit, visite www.sammytippitbooks.com.

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2 respostas

  1. Extremamente despertador, isto é o mínimo que se pode dizer sobre este artigo, que certamente foi inspirado por Deus, trazendo à luz um problema no qual os cristãos ocidentais parecem evitar discutir, e até pensar que “não é problema nosso”. Oremos, peçamos a Deus discernimento, mais amor para com os irmãos que já são vítimas de perseguição, por nós mesmos para que “levantemos e despertemos” e pelo mundo. Que saiamos da nossa letargia espiritual, e entremos no campo de batalha usando as armas espirituais que o Senhor nos disponibilizou.

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