14 de julho de 2025

Ler é sagrado!

O Espírito Santo Consolador

Octavius Winslow (1808–1878)

Muitos dos santos de Deus sofrem de um doloroso esquecimento a respeito do caminho que devem trilhar neste mundo. Esquecem que o caminho que lhes foi ordenado será de tribulação; longe de ser um caminho suave, florido e fácil, será duro, espinhoso e difícil. O crente geralmente espera viver o céu na terra. Ele esquece que, não importa o gozo espiritual que possa haver aqui, a condição atual da igreja não passa de um estado desértico, e que a vida presente é uma longa viagem, uma peregrinação.

O Senhor nos deixou uma gentil admoestação: “No mundo tereis tribulações” (Jo 16.33); da mesma forma, o apóstolo afirma: “em meio a muitas tribulações nos é necessário entrar no reino de Deus” (At 14.22). A aflição se apresenta de diversas formas e, dela, todo o povo de Deus tem uma cota reservada. Se não tivermos, carecemos da evidência de um verdadeiro relacionamento pai-filho, pois o Pai “castiga todo filho a quem aceita” (Hb 12.6). Não importa qual seja a prova ou aflição, o Espírito é o Consolador (Jo 14.26). E como ele conforta a alma aflita?

A revelação do amor de Deus

Ele revela o amor de Deus Pai na provação. Ele mostra ao crente que a tristeza, muito longe de ser consequência de ira, é fruto de amor; que ela vem do coração de Deus, enviada para levar o crente para mais perto dele, e para desvendar as profundezas da sua graça e bondade, pois “o Senhor disciplina a quem ama” (Hb 12.6). E, ah, como é incrível o conforto que acode o espírito ferido, quando o amor – profundo, imutável e fruto da aliança – se manifesta através da mesma mão que castiga, quando a aflição é proveniente da aliança, que por sua vez, nasce do coração de um Deus de aliança.

A revelação do propósito de Deus

Ele conforta ao revelar o objetivo da aflição. Ele convence o crente de que a disciplina, embora dolorosa, era necessária; de que talvez o mundo estivesse fazendo incursões no coração, ou de que o amor à criatura estivesse excluindo Jesus; talvez a tolerância a algum pecado estivesse crucificando Jesus novamente ou algum compromisso espiritual estivesse sendo negligenciado. O Consolador permite que o crente ouça a voz da vara e daquele que a ordenou. Dessa forma, ele começa a entender por que o Senhor precisou usar a vara, por que ele ordenou os fortes ventos, por que houve tempestade, por que houve ferimento.

O coração, disciplinado, retorna de seus extravios e, ferido, ensanguentado, padecido e, mais afeiçoado do que nunca, procura seu ferido, ensanguentado, padecido Salvador. Quem pode avaliar completamente o conforto que resulta da disciplina santificada da aliança? Quando o objetivo que se procurava com a prova é alcançado, seja pela descoberta de algo a ser deixado, seja a remoção de algo que impedia o crescimento da graça, de alguma atividade ou questão que ocultava a glória de Jesus e impedia a presença amorosa do Senhor no coração do crente, ele poderá declarar: “Bendita disciplina que produziu tanto bem – gentil punição que corrigiu tanto mal – doce remédio que proporcionou tanta saúde!”

A revelação da empatia de Cristo

Mas, ao revelar a ternura e a empatia de Jesus, o Espírito restaura conforto de maneira mais eficaz àquele que foi provado, tentado e afligido. Ele testifica de Cristo, especialmente pela empatia de sua humanidade. Não há dúvidas de que, ao assumir nossa natureza, Jesus tinha um importante objetivo em mente: uma afinidade mais próxima com o estado de sofrimento de seu povo, visando conforto e apoio mais imediatos.

É evidente que o grande objetivo de sua encarnação era o pleno cumprimento do preceito da lei e o sofrimento de sua penalidade em nosso lugar. Entretanto, ligado a tudo isso e como resultado, ele se propôs a abrir esse canal de ternura e compaixão de que os santos de Deus tão frequentemente necessitam, e que agora podem constantemente receber. Jesus é o irmão “nascido na angústia” (Pv 17.17); “Por essa razão era necessário que em tudo se tornasse semelhante a seus irmãos, para que viesse a ser um sumo sacerdote misericordioso e fiel” (Hb 2.17); “Porque não temos um sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas, mas alguém que, à nossa semelhança, foi tentado em todas as coisas, porém sem pecado” (Hb 4.15).

Aqui vemos a verdadeira e bendita fonte de conforto na hora e na circunstância da tristeza. O povo do Senhor é um povo provado – Jesus, igualmente, foi um Salvador provado. O povo do Senhor é um povo afligido – Jesus bebeu o cálice amargo até o final. O povo do Senhor é uma família sofrida – Jesus foi um “homem de dores e experimentado nos sofrimentos” (Is 53.3). Ele se colocou no mesmo nível das circunstâncias de seu povo. Ele se identificou completamente com eles. Ele tomou sobre si a humanidade em sua forma mais sofrida e era profundamente familiarizado com a tristeza; e, dessas duas circunstâncias, tornou-se apto para socorrer, sustentar e compreender seu povo triste e afligido, não importando o motivo da aflição ou tristeza.

Para nós, é suficiente saber que ele era “osso de nossos ossos e carne de nossa carne”. É suficiente saber que seu coração era composto de toda ternura, compaixão e bondade da nossa natureza e, ao mesmo tempo, livre de tudo o que se origina da enfermidade do pecado, e que poderia enfraquecer, prejudicar e debilitar suas sensibilidades. É suficiente saber que a tristeza não era algo estranho a seu coração, que a aflição estava profundamente entalhada em sua alma e que o sofrimento deixou vestígios em cada linha de seu semblante.

De que mais precisamos? O que mais poderíamos pedir? Nossa natureza? Ele assumiu. Nossas enfermidades? Ele as tomou sobre si. Nossas tristezas? Ele as sentiu. Nossas cruzes? Ele as carregou. Nossos pecados? Ele os perdoou. Ele foi à frente de seu povo sofredor; percorreu o caminho; deixou suas pegadas; e agora os convida a não pegar qualquer caminho, a não sentir qualquer tristeza, a não carregar qualquer fardo nem a beber de qualquer cálice que ele mesmo não tenha experimentado antes.

Para ele, é suficiente saber que você é filho da tristeza, e que essa tristeza é o cálice amargo que você está bebendo. E ele não pede nada mais de você. No mesmo instante em que você é afetado, um acorde é tocado no coração do Senhor que vibra com o acorde que tocou no seu, seja uma nota de alegria ou de tristeza. Assim, lembremos sempre que Jesus sente as alegrias e as tristezas de seu povo. Ele se alegra com os que se alegram e chora com os que choram. Mas como Jesus demonstra sua empatia?

Comunhão com Jesus

Quando o crente sofre, a ternura de Jesus se manifesta. Sua força que sustenta, a graça que santifica e o amor que conforta são revelados nas experiências de seus filhos, quando passam pela fornalha. O Filho de Deus está com eles em meio às chamas. Jesus de Nazaré caminha com eles em meio às ondas. Eles têm o coração de Cristo. E isso é empatia – isso é comunhão – isso é ser um com Cristo Jesus.

Querido leitor, qual é a sua tristeza? A mão da morte atingiu alguém? A pessoa amada partiu? Um grande desejo de seu coração foi retirado de uma só vez? São seus pais, seu filho, um amigo, sua felicidade terrena? Sua cisterna está sem água? Seu vaso de barro se partiu em pedaços? As fontes de água se secaram? Ainda assim, Jesus é suficiente. Ele não se retirou da sua presença, e nunca, jamais o fará. Entregue a ele seu coração desolado, ferido, ensanguentado e descanse no coração de quem também já foi desolado, ferido, ensanguentado; porque ele sabe como remendar o coração quebrado, como curar o espírito ferido e como confortar os que pranteiam.

Qual é a sua tristeza? A sua saúde declinou? Suas posses minguaram? Os amigos se voltaram contra você? Tem sido provado em todas as circunstâncias? Anda perplexo em seu caminhar? As perspectivas ao seu redor estão se tornando escuras e sinistras? Você está com pressentimentos de provações que estão se aproximando? Você tem andado nas trevas, falta-lhe luz? Apenas busque a Jesus. Sua porta está sempre aberta. O Amigo terno, amoroso, fiel está sempre perto. Ele é o Irmão que nasce na adversidade. Sua graça e empatia lhe bastam.

Você agora deve andar por fé, não por vista. Este, portanto, é o maior segredo de uma vida de fé: depender de Jesus diariamente, buscá-lo em cada prova, lançar sobre ele cada fardo, entregar imediatamente a ele a enfermidade, o que estiver desmoronando, sua cruz. Coloque Cristo diante de si como um exemplo a ser imitado; como a Fonte em que se lavará; como a Fundação sobre a qual edificará; como a Plenitude de onde tirar o que precisar; busque-o em todo o tempo e em todas as circunstâncias como o Irmão e Amigo terno e amoroso em quem confia. Fazer isso diariamente constitui a vida de fé.

Que fôssemos como Paulo, capazes de dizer: “Portanto, não sou mais eu quem vive, mas é Cristo quem vive em mim. E essa vida que vivo agora no corpo, vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e se entregou por mim” (Gl 2.20). Ah, vida santa e feliz! Ah, vida celestial. A vida que o próprio Jesus viveu quando esteve aqui, a vida de todos os patriarcas, profetas, apóstolos, mártires, a vida que o espírito de homens justos aperfeiçoados viveu, a vida que cada verdadeiro filho de Deus foi chamado e tem o privilégio de viver, enquanto ainda estrangeiro e peregrino na terra.

– Extraído de The Work Of The Holy Spirit, Viewed Experimentally And Practically (A Obra do Espírito Santo, Vista de Maneira Prática e Experimental) de Octavius Winslow.

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